quarta-feira, 27 de maio de 2020

MORREU ALBERT MEMMI

Herdeiro dumha tripla cultura  (judaica, berber e francesa), o escritor, pesquisador e ensaista Albert Memmi finou no passado 22 de maio em Paris. O pensador da "judeidade" e dum sionismo de esquerda, durante a vida inteira tentou construir pontes entre o oriente e ocidente e entre Judeus e Árabes.

Albert Memmi (1920-2020)

Nascido em 15 de dezembro 1920 na Tunísia colonial, o seu talento foi reconhecido muito cedo por Albert Camus e Jean-Paul Sartre, que precederam os seus primeiros trabalhos. O primeiro romance, "The Salt Statue" (1953), ele maravilhava-se ao sofrer de várias identidades, como seu personagem principal, Alexandre Mordekhaï Benillouche.

O Retrato do colonizado, precedido polo "retrato do colonizador", um ensaio publicado em 1957, no qual expressava a interdependência existente entre o colonizador e o colonizado. Um livro, cuja vencedora do prêmio Nobel, a sudafricana Nadine Gordimer, escreveu o prefácio da traduçom para o inglês, e do qual o presidente senegalês Léopold Sedar Senghor disse estar "entusiasmado". "Um documento ao qual os historiadores da colonizaçom terão de se referir", frisou o o primeiro presidente senegalês.
Retrato do Colonizado precedido do Retrato do Colonizador

Albert Memmi nasceu em Tunes, o segundo filho de treze irmãos, numha família judia de língua árabe mas de cultura berber muito modesta. Ele frequentou umha escola rabínica muito jovem e depois a escola primária da Aliança Israelita, onde aprendeu francês. Estudante brilhante, recebeu umha bolsa de estudos que lhe permitiu ingressar no liceu francês de Tunes.

Durante a Segunda Guerra Mundial, logo após o desembarque dos Aliados na Argélia em 1943, os alemães invadiram a Tunísia e ele foi enviado para um campo de trabalhos forçados.

No final da guerra ele partiu para Argel para estudar filosofia, estudos que ele perseguiria na Sorbonne em Paris.

Casou-se com umha francesa e estabeleceu-se com ela em Tunes, onde dirigia um laboratório de psicossociologia, ensinou filosofia e dirigiu as páginas culturais do semanário L'Action (a futura Jeune Afrique).

Mas após a independência da Tunísia em 1956, e apesar de apoiar o movimento de emancipaçom do seu país, Memmi nom consegue mais encontrar o seu lugar nesse novo estado que se tornou muçulmano.

Ele entom partiu para Paris, onde se tornou professor de psiquiatria social na École Pratique des Hautes Etudes e pesquisador do CNRS.

Exclusão e compromisso

Na França, dividido entre suas diferentes culturas, ele também nom encontrará seu lugar, ele, a criança pobre, o magrebino desprezado.

Ele descreve esse doloroso "entre dous mundos" numha passagem de "A estátua de sal" enquanto ele passa o Grau em Filosofia, o seu estômago grita fome e ele sente-se desconfortável, desamparado, excluído, entre todos esses filhos burgueses abastados que falam num tom pedante de perguntas abstratas ... Ele entom percebe que estará "em casa", mas nunca "um dos seus".

Ele recebeu reconhecimento internacional ao publicar o seu ensaio Retrato do colonizado em 1957, um dia após a independência da Tunísia. Nesta obra-prima deixa umha elaboraçom teórica que permite explicar as consequências últimas da dominaçom dum povo por outro. Analisa os efeitos sociológicos e psicológicos da opressom para abrir caminhos de liberdade e achega categorias doutrinais decisivas na conformaçom do pensamento de movimentos de libertaçom nacional como o galego.

Capa da traduçom para o galego do Retrato do Colonizado | Laiovento

Na altura da publicaçom d'O Retrato a França estava mergulhada na guerra da Argélia e ele encontrou sérias dificuldades com o governo, que o censurava polo seu envolvimento com os "colonizados" e recusava a naturalizaçom francesa. Ele só a conseguiu em 1973, com a ajuda de Edgar Pisani, também nascido em Tunis.


Com o editor Maspéro, ele dirige a coleçom "Domaine maghrébin". Memmi também publicará a partir de 1965 uma "Antologia das literaturas do Magrebe".

No início da década de 1970, ele refletiu sobre suas origens judaicas e, em seguida, fundou o conceito de judaidade (em francês judéité) como alicerce do seu trabalho exploratório, um conceito que mais tarde seria usado por muitos intelectuais.

Ele também fundou o conceito de heterofobia, que ele desenvolve no seu livro "Racismo", como "a recusa de outros em nome de qualquer diferença".

Ele também publicou vários ensaios: "Retrato de um judeu", "A libertação do judeu", "O homem dominado", "Judeus e Árabes", "Dependência".

Mais recentemente, Albert Memmi nom compartilhara o entusiasmo de muitos de seus contemporâneos relativamente ao o surgimento da "Primavera Árabe" em 2011. "Se os muçulmanos árabes nom querem o secularismo, e o problema nunca é resolvido, nom vai ser sério (...) e se nom combatermos a corrupçom, serão fofocas ", afirmou ele em entrevista na televisão, rindo do" tipo de delírio que 'agarrou intelectuais e jornalistas ".

Para o jornal galego NÓS DIARIO o seu passamento produz-se num contexto de silêncio da oficialidade mas tamén das correntes políticas e de pensamento devedoras dos seus importantes contributos e dos seus esforços por ofrecer um quadro de compreensom da condiçom dos dominados. A sua obra teórica contextualiza-se num movimento da história da humanidade no que as nações exploradas polo colonialismo iniciam um novo caminho libertadas dos grilhões das metrópoles. O seu contributo doutrinal liga à produçom de autores como Frantz Fanon, Aimé Cesaire ou Paul Baran, e responde à mesma preocupaçom de dotar de razões os movimentos de libertaçom nacional.


Albert Memmi, referente sionista deste blogue, sempre defendeu a existência de Israel a partir do humanismo. A suas reflexões aparecem recolhidas nos seguintes artigos:

Israel por Albert Memmi


A esquerda e o conflito israelo-árabe


Teses e antiteses sobre o sionismo
Tese 1ª: O sionismo é um movimento reacionário e imperialista
Tese 2ª: Israel recebe dinheiro americano
Tese 3ª: Israel desenvolve-se mais rapidamente
Tese 4ª: Israel é um posto avançado, umha consequência do imperialismo americano
Tese 5ª: Israel é um guerreiro agressor com o melhor exército do mundo
Tese 6ª: Israel ocupa territórios árabes e existem refugiados

Sem comentários:

Enviar um comentário