sexta-feira, 5 de abril de 2013

A ESQUERDA E O CONFLITO ISRAELO-ÁRABE


Albert Memmi

Contra Israel existem acusações de direita e de esquerda. Eu vou deixar de lado as acusações das pessoas de direita... som em geral tanto oposições nacionalistas quanto  místicas. Às primeiras nada tenho a responder: trata-se, com efeito, dumha luta de interesses. Às segundas nom sei o que responder, já que nom falamos na mesma linguagem, nom vivemos no mesmo mundo e nom temos o risco de nos encontrar. Na verdade, apenas me importo com as críticas das pessoas de esquerda: som os meus, compartilhamos ética e desejo construir com elas um mundo comum; é entre eles onde se acha o maior número de intelectuais judeus; e é bom. Os intelectuais devem impedir que a consciência do grupo adormeça e a juventude é o fermento das sociedades.

Muitas pessoas de esquerda fazem umha interpretaçom do conflito israelo-árabe como um antagonismo entre o socialismo (representado polos árabes) e o imperialismo (representado polos judeus).

Há pouco dous delegados dum partido socialista francês, o PSU, assinaram, no congresso de Kuwait, umha aberrante declaraçom reclamando mais umha vez a destruiçom pura e simples do Estado de Israel. Acreditarám eles próprios nisso? Podemos pensá-lo apesar da leveza e gravidade desta posiçom. Mas, entom, a que realidade se referem, a que equilíbrio de forças? E se se tratar dumha táctica, como  me sugeriu um deles, Serge Mallet, para o chamar polo seu nome, quantos sem sentidos e crimes se realizaram em nome da táctica!!

Ou ainda, mais umha vez, a explicaçom é tam trivial e contrária a um simples exame dos factos que um se pergunta por que umha tam grande parte da opiniom de esquerda assume padrões claramente tam inadequados. O inventário de forças socialistas árabes é eloquente: Hussein de Jordânia, apoiado também polos americanos? O rei Fayçal da Arábia? O coronel Boumediene, ditador militar que derrubou Ben Bella, no mínimo mais socialista do que ele? O rei do Marrocos? Bourguiba? Mesmo o Egito e a Síria som mais socialistas do que Israel?

É certo que aqui acha-se a pirueta famosa: objetivamente os árabes, mesmo feudais, som socialistas porque eles vam no senso da história. Quantas vezes mudou o vento da história nos últimos tempos! A Jugoslávia, contra a qual soprou tam forte, encontrou-se na boa posiçom; a Checoslováquia pareceu hesitar perigosamente; a Hungria, preste esteve de ser esmagada para fazê-la calar; a China, esperança da revoluçom mundial, nom é hoje o entrave principal, diz-se, para a unifircaçom do mundo comunista? E amanhã o Vietname? E Cuba? A verdade mais mundana nom é o sentido próprio da história, e o do vento nom seria o indicado polas pancartas russas, seja qual for a realidade da história e da meteorologia? O mundo árabe foi batizado socialista simplesmente porque a URSS assim o quis, a mesma razom pola que Israel é chamada de imperialista. E a questom suplementária que nos colocamos entom foi a mesma que nós colocamos acima: porque os russos apoiam os Árabes e condenam Israel? A verdadeira razom, está nesse padrom simplista e manifestamente falso do socialismo árabe contra imperialismo israelita, ou nos interesses atuais russos de tomar posições no Mediterrâneo? Porque, alguém pode afirmar seriamente que a URSS nom procura os seus interesses nacionais? A URSS apoiou Israel quando achava poder contar com o Estado hebraico para a sua penetraçom no Próximo Oriente; agora apoia os países árabes porque acha que esta táctica é hoje melhor. Eu nom estou desesperado polas minhas posições socialistas; acho simplesmente ter em conta os egoísmos espontâneos dos povos, os quais nom irám desaparecer tam cedo.

O que pode desejar um socialista judeu ou nom judeu de Israel?

Relativamente a Israel

No interior do país, três cousas, acho eu: a justiça social, umha paz justa com os vizinhos, o reconhecimento dos direitos dos palestinianos como umha das minorias nacionais na procura dumha integraçom mais completa. Mas é preciso que este socialista considere as condições concretas dum programa desse tipo: nom existe dúvida de que o esforço de guerra prolongado, a tensom entre Israel e os seus vizinhos, a perturbaçom que esta suscita na vida das minorias árabes, a desconfiança contra todos os habitantes dos campos tornam caótica e desaceleram consideravelmente a construçom do socialismo. Negligenciar estas dificuldades é cair nesse virtuoso verbalismo que nom deixa de causar destruiçom. Eis por que dizemos: é preciso começar por fazer a paz; o resto talvez virá depois, mas se nom houver paz, o resto é ilusório. Eis por que dizemos: um socialista deve combater pola paz; caso contrário, o socialismo nom encontrará a sua conta.

Os minoritários som, dumha certa maneira, dominados, sim, dominados, nunca tive o medo de o dizer. Como que nom? Eu notei-o na minha primeira viagem a Israel, há muito tempo. Mas nom é umha conjuntura especificamente israelita; ao contrário, infelizmente é o fado de todas as minorias. Nós, os judeus, sabemos algo disso. No Egito existe umha minoria cristã copta: os recentes incidentes, com incêndios de igrejas, revelam aos que nom o sabiam que existe um problema copto. Sem esquecer a terrivel maneira e com a que a Nigéria resolveu o problema da Biafra. Nós somos socialistas, isto é, queremos lutar pola plena igualdade da minoria árabe no seio da naçom israelita. Mas nom podemos dissimular que esta empresa vai ser longa, na medida em que a naçom israelita, como naçom ainda nova receia das suas minorias e, talvez merecidamente, precisa afirmar a sua identidade, etc, bem como a Argélia ou a Líbia, que saquearam simplesmente todas as minorias. A maneira em que agiu Israel nom me parece a pior, comparada à da maior parte das nações jovens. Nom devemos considerar-nos satisfeitos, devemos zelar sem cessar ao que a moral política, isto é, em definitiva, o socialismo. Mas seria absurdo exigir a Israel mais do que a qualquer outra naçom nova.

Relativamente aos refugiados

Por outro lado, no exterior, para os habitantes dos campos: nós devemos lutar naturalmente polo reconhecimento dos seus direitos nacionais. Mas é preciso reconhecer e ter em conta que é difícil lutar polos direitos nacionais de pessoas que negam os vossos. Existe umha ocupaçom israelita? Claro que sim! Mas a Rússia também ocupou territórios como resultado da guerra e mesmo sem guerra! Nom se pode demandar aos israelitas que sejam totalmente invisíveis e que tudo o suportem. Nengum exército no mundonom pode nem deve consentir isso. Nós simplesmente desejamos e lutamos para que cesse um dia esta ocupaçom, como todas as ocupações, ou seja, que devemos lutar para que cessedm as condições globais desta ocupaçom: caso contrário é falar para nada dizer.

Conclusões


Relativamete aos outros países árabes os palestinos nom contêm no seu seio elementos sociais mais avançados. Do ponto nacionalitário eles também nom som mais instáveis, o que os tornaria mais susceptíveis de contribuir para a transformaçom do mundo árabe (embora, já agora, discreta mas com firmeza, os diferentes governos árabes se defendam deles). Porém, nom existe qualquer dúvida de que o seu maior desejo é antes de mais realizar-se nacionalmente; e apenas depois disto é que eles contribuirám para a construçom eventual do socialismo. O sionismo é também um movimento de reconstruçom social e cultural dum povo; talvez mais socialista do que a grande maioria dos regimes árabes. O que estes mesmos homens de esquerda negam ou minimizam com a mesma fixidez nos seus padrões esclerosados; como nom vem que se o sionismo fosse destruído, seria um golpe ao socialismo nom apenas nesta regiom, mas no mundo?

Mais umha vez o que nos parece ser a única interpretaçom correta dos acontecimentos atuais:
  1. Os movimentos de libertaçom nacional som, como tais, progressistas, já que tendem a suprimir umha opressom.   
  2. Os povos árabes iniciaram, para completar, as suas libertações nacionais. E isto, como tal, parece-nos legítimo. Do mesmo jeito que encontramos legítimas as descolonizações como movimentos nacionais. Nom é preciso as baptizar como socialistas para reconhecer os seus méritos. Basta com que devolvam aos povos a sua livre disposiçom.
  3. O sionismo é igualmente o movimento de libertaçom nacional dos judeus. E nós achamo-lo também legítimo. Por isto, longe de suspeitar dele ou de o condenar por imperialista, achamos que deve ser defendido como tal por todos os progressistas do mundo. Porque, nom é o sionismo mas que o esforço mais coerente jamais realizado para responder à opressom sofrida polos Judeus no mundo?


Este texto, redigido na língua dumha minoria, é o resultado da fusom de quatro textos do autor: "Por umha soluçom socialista do conflito israelo-árabe" (Élements, Paris, dezembro 1968), "Por um franco reconhecimento do facto nacional" (Élements, Paris, março 1971), "Verbalismo e socialismo" (nº 40-41 dos Cadernos Bernard Lazare, maio 1973) e "A terra reencontrada " (recolha de fotografias, janeiro de 1974).

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