A referência académica mundial para o estudo da Inquisiçom Espanhola, criada por ordem da Coroa, tem sido o estudioso Benzion Netanyahu. Benzion, filho dum rabino sionista, nasceu em Varsóvia, entom sob domínio russo. Em 1920, a família fez aliá a Ertz Israel (o Mandato Britânico da Palestina), onde estudou História na Universidade Hebraica de Jerusalém.
Academicamente, Benzion teve umha intensa atividade ao longo da sua vida, principalmente nos Estados Unidos, nas universidades de Denver e Cornell. Foi também o editor da Enciclopédia Hebraica. Benzion conquistou grande prestígio académico polos seus estudos sobre a Inquisiçom Espanhola e o antissemitismo.
Benzion Netanyahu (1910-2012), sionista revisionista, foi um dos maiores especialistas sobre a história dos Judeus em Espanha |
Motivações da criaçom da Inquisiçom espanhola
A principal das suas obras foi "The Origins of the Inquisition in Fifteenth Century Spain" (As Origens da Inquisiçom na Espanha do Século XV), onde muda muitos paradigmas sobre as motivações da criaçom deste órgão ao serviço da Coroa e nom sob o controlo papal. De todas as razões, vale a pena focar-se em duas.
> Perseguiçom racial
A primeira é sobre a causa da perseguiçom aos Judeus conversos ou cristãos-novos, chamados pejorativamente de "marranos", que define como racial e nom religiosa, como era considerada até há pouco tempo.
Benzion explica que umha grande parte dos Judeus já tinha fugido dos reinos peninsulares quando a Inquisiçom foi fundada (1478-81) e recebeu o golpe definitivo em 1492. A maioria dos Judeus que se converteram ao cristianismo fizeram-no voluntariamente e nom praticou umha dupla vida religiosa.
Por outro lado, o que magoou o resto da sociedade foi o avanço social da comunidade de cristãos-novos, que retirou os “velhos cristãos” de muitos lugares de poder, como resultado da sua formaçom, capacidade de escrever e ler, experiência empresarial... Com a possibilidade de aceder e estudar umha infinidade de documentos em língua hebraica da época, até entom desconhecidos, preservados nas comunidades judaicas do Magrebe, estabeleceu que a inveja, a ganância e o ressentimento para com a "raça" judaica eram as causas reais da perseguiçom aos marranos, e nom a motivaçom religiosa, que foi apenas a desculpa.
A causa real da perseguiçom dos Judeus e cristãos-novos pola monarquia hispânica foi racial.
> A judeufobia como germe da consciência nacional espanhola
O segundo raciocínio interessante tirado da obra-prima de Benzion é o facto de a perseguiçom contra os "marranos", na que convergiam os "cristãos-velhos", os habitantes das cidades, as oligarquias, a nobreza e os cristãos anti-conversos, significou o surgimento “dumha certa ideia de Espanha” (sic), dumha incipiente consciência nacional que até entom nom existia.
O ódio generalizado contra os Judeus, que era racial e nom religioso (a maioria dos "marranos" eram bons cristãos) é um factor importante na formaçom da incipiente "naçom espanhola" nos séculos XV-XVI e mais além. Em relaçom a Espanha, Benzion é creditado com a frase: “Nem esquecimento nem perdom”.
O ódio aos Judeus foi um factor fulcral na formaçom da consciência nacional espanhola a fim de unificar racial e religiosamente os reinos sob o domínio castelhano
O fracasso do assimilacionismo
Os trabalhos académicos de Benzion mudaram o paradigma estabelecido na Inquisiçom e tiveram umha importância significativa para o estudo do movimento de assimilaçom empreendido polos Judeus na Europa Central, conhecido por Haskalá (Iluminismo) a partir do final do século XVIII, quando numerosos Judeus abandonaram o judaísmo para se integrarem plena e voluntariamente na sociedade alemã. Contudo, apesar desta integraçom, foram igualmente diferenciados por motivos raciais ao longo dos séculos, tal como ocorreu com os “marranos”, até ao extermínio levado a cabo pola “Soluçom Final” implementada polo nazismo.
Da experiência fracassada de ambos os processos de integraçom judaica voluntária, levados a cabo na Península e na Alemanha, com o abandono até da religiom, tanto Benzion como o sionismo em geral tiraram a conclusom de que a integraçom nom é umha salvaguarda para a perseguiçom racial contra os Judeus e que, por isso, é essencial criar umha pátria onde os Judeus se possam defender do antissemitismo, o ódio mais antigo da humanidade, ou como dizia o pensador alemão Theodor Mommsen (século XIX): “O ódio ao judeu e o incitamento contra ele são tão antigos como a própria diáspora”.
A criaçom dum Estado judeu
A resposta a este ódio racial enraizado ao longo dos séculos e em todo o mundo é a criaçom dum Estado Judeu, onde nunca foram umha minoria, para se salvaguardarem tanto da assimilaçom como do extermínio ou da discriminaçom. Este Estado, ao mesmo tempo, tinha de ser forte, militarmente preparado e sempre vigilante, sem ilusões de que a ameaça de extermínio desapareceria.
Benzion, um judeu secular, lembrava-se frequentemente dum parágrafo lido na noite de Páscoa: "Em cada geraçom, um inimigo levantar-se-á para destruir o povo judeu. No entanto, o Santo, Bendito seja Ele, nos livrará das suas mãos." É também dele a frase: “Quem nom conhecer o passado nom pode compreender o presente e quem nom compreender o presente nom pode prever o futuro".
Benzion, apesar de ser o braço direito de Zeev Jabotinsky, o pai do sionismo revisionista oposto a Ben-Gurion e à elite socialista asquenazita, sempre se afastou de qualquer cargo público e teve umha importante carreira universitária nas universidades de Denver e Cornell, onde foi professor emérito. Ao mesmo tempo, foi editor da Enciclopédia Hebraica. Em vez disso, foi rejeitado como professor na Universidade Hebraica de Jerusalém polas suas posições políticas revisionistas.
Netanyahu sabe que a promoçom do antissemitismo é umha forma muito espanhola de reunir o sentimento nacional de Espanha, no século VI, nos séculos XV-XX e no século XXI.
Benzion era pai de Jonathan Netanyahu, comandante-chefe da Operaçom Entebbe no Uganda que permitiu o resgate dos passageiros do aviom sequestrado da Air France em 1976. O seu filho morreu nesta açom de combate e dedicou o livro sobre as origens da Inquisiçom (1995). Em 1966 dedicou outro livro ao seu filho Benjamín, "Os Marranos de Espanha", mas, sobretudo, deixou-lhe um pensamento político baseado na desconfiança no mundo árabe, na necessidade dumha maioria judaica na pátria para garantir a sua identidade, na criaçom dum Estado forte e militarmente preparado e de vigilância permanente contra o perigo de extermínio (hoje, o Irão).
Muito provavelmente, Benjamin Netanyahu conhece e sabe mais sobre o carácter profundo de Espanha do que o atual presidente espanhol imagina, e a opiniom que tem, com certeza, nom é nada favorável, e sabe que a promoçom do antissemitismo é um jeito muito espanhol de aglutinar o sentimento nacional de Espanha, no século VI, nos séculos XV-XX e no século XXI.
Nunca falha, o antissemitismo une a Espanha. É pena que muitos galegos mordam o isco.
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