Existe no sistema político galego umha formaçom política que, apesar de ser segunda força nas eleições galegas de julho de 2020, é percebida por determinados setores sociais qualificados, como o que os britânicos denominam "nasty party"; isto é, umha organizaçom antipática, rígida e pouco atrativa que, de resto, nom é capaz de incentivar convenientemente a inclusom de nova filiaçom e na que também se podem dar sérios problemas para admitir o pluralismo e ideias entre os filiados.
O BNG é o nasty party do sistema político galego |
Dito fenômeno nom é alheio ao facto de o BNG estar hegemonizado por um partido politico, a UPG, autodefinido de "partido comunista patriótico" de tendência estalinista, ao jeito do PCP. Em 2012 abriu alegremente as portas para que saísse umha notável parcela da militância "bloqueira" sob a tese de "os expurgos afortalarem a organizaçom".
Essa rigidez e radicalidade extrema, mais do que nunca, está a ser percebida nos últimos tempos pola sociedade galega. Em primeiro lugar, polo apoio dado pola UPG/BNG e o seu "holding" à agressom imperialista da Rússia à Ucrânia ou, como referido aqui, ter apoiado a "Resistência" palestiniana logo depois do massacre da populaçom civil do sul Israel o passado 7 de outubro.
A concepçom marxista-leninista de partido de vanguarda e a impotência de nom ter recebido nunca o suficiente apoio desse povo galego que alveja libertar fazem com que a política internacional se torne um refúgio e ser "mais papistas que o Papa", postura muito espanhola, por outro lado.
De facto, o palestinismo mítico é o valor refúgio mais prezado destes anti-imperialistas, mesmo quando o nacionalismo árabe da Palestina nada fez em defesa do direito de independência dos povos sob o jugo espanhol. Assim sendo, iniciado o processo independentista na Catalunha, o embaixador da Autoridade Palestiniana em Madrid nom hesitou a afirmar que "umha Espanha unida apoia melhor a causa palestiniana" (sic).
Cientes dessa falta de solidariedade internacionalista, o Junts por Catalunha (JxC) é um partido independentista coerentemente pró-israelita. Nom por acaso, Israel foi um dos últimos estados relevantes a apoiar a unidade de Espanha após a crise de outubro de 2017. Demoraram cinco semanas! A ERC, outro partido independentista catalão, tambem nom poupou fazer escárnio desse palestinismo mágico.
Vejamos como a defesa da causa palestiniana está a ser instrumentalizada entre nós para espalhar posições políticas que coclamam o ódio a Israel na linha do mais pútrido e fétido antissemitismo.
Antecedentes
No 2007 a UPG/BNG iniciou umha perseguiçom política contra o militante Pedro Gómez-Valadés, membro do Conselho Comarcal de Vigo do BNG, por ter umha visom dissidente da oficial a respeito do conflito árabe-israelita e por ter fundado, em dezembro de 2006, a Associaçom Galega de Amizade com Israel (AGAI) com o objecto de reivindicar a herança judaica da Galiza e defender o direito à existência e autodeterminaçom do povo judeu no Estado de Israel lado a lado com o povo árabe.
A 29 de março de 2007 a direçom comarcal de Vigo tomava a decisom de expulsar esse militante pró-israelita. Apesar de fazerem parte da AGAI meio cento de filiados, de mesmo haver um posicionamento em contra de significativos setores da opinom pública galega e da intelectualidade afim ao nacionalismo e de que o entom vice-presidente do Governo galego, Anxo Quintana, ter sido requirido por 200 militantes e simpatizantes para que se respeitasse o pluralismo interno e o direito as minorias a manter posições dissidentes da oficial, o resultado foi a definitiva expulsom de Pedro Gómez-Valadés em abril de 2008 logo dum processo em que chegou a praticar-se um autodafe contra o judeu/sionista dissidente.
O BNG negou-se a condenar o Holocausto em 2007 e 2008 |
Em janeiro de 2008, com motivo do Dia Internacional de Memória das Vítimas do Holocausto, comemorado a cada 27 de janeiro desde o ano 2005, o BNG impediu que o Parlamento galego condenasse o nazismo e se honrasse a memória das vítimas. Para aprovar-se essa declaraçom institucional, que exigia a unanimidade de todos os partidos representados no Parlamento (37 do PP, 25 do PSOE e 13 do BNG), os deputados nacionalistas exigiram que se emitisse tamém umha condena do Estado de Israel a respeito do povo palestiniano. Esta atuaçom motivou a acusaçom ao BNG de antissemita em certos foros e meios galegos do resto do mundo.
Perante os ataques terroristas jihadistas a Israel
Com estes precedentes nom admira a posiçom política da UPG/BNG perante o ataque jihadista do Hamas à populaçom civil de Israel que a seguir descrevemos:
7 de outubro
Logo depois de se divulgarem as imagens das atrocidades cometidas polos jihadistas que dominam a Faixa de Gaza e que os terroristas filmaram para que visse todo o mundo o que fizeram, as reações foram -em repetidas ocasiões- de cumplicidade e apoio à "resistência" palestiniana. Vejamos devagarinho.
13:28 Xavier Abalo, militante histórico da UPG, ex-presidente da câmara municipal de Moanha e funcionário do BNG durante muito tempo, anuncia publicamente a "rutura de relações" com o president Carles Puigdemont (@KLRS), líder independentista catalão exilado na Bélgica, acusando-o de imperialista. O motivo? O MHP n°130 da Catalunha perseguido por Espanha e único que fez abalar o régime do 78 que a UPG afirma combater acabava de retuitar umha postagem de Ariel Kanievsky, israelita de origem catalã, quem, indignado, rejeitava o apoio das CUP à "resistência palestiniana".
Non sabía, @KRKS , da túa profundidade e sensibilidade diante de procesos imperialistas, sempre pensei que eras un nacionalista vítima do imperio español, mais esa empatía cos Pizarro ou Cortés... mellor deixar a nosa relación.
— Xabier Abalo Costa (@AbaloXabier) October 7, 2023
Minutos antes, o Ariel Kanievsky referia-se às CUP como "hijos de la gran puta" por terem divulgado isto:
Un estat que ha perpetuat el genocidi d’un poble durant dècades. Un poble que resisteix i lluita contra la misèria i la injusticia.
— CUP Països Catalans (@cupnacional) October 7, 2023
🇯🇴✊🏾 Amunt el poble palestí! Fins la victòria #FreePalestine pic.twitter.com/8rZ2jPWTZz
14:40 Galiza Nova, organizaçom juvenil do BNG manifesta-se em prol da "resistência palestiniana e a sua legítima autodefesa"
Coa comunidade internacional cómplice dos crimes de israel cometidos contra o pobo palestino no marco da ocupación ilegal, seremos firmes: sempre coa resistencia palestina, a súa lexítima autodefensa e a loita pola súa liberdade.
— Galiza Nova (@galizanova) October 7, 2023
Palestina vencerá! ✊🏻 pic.twitter.com/xXSzghJiLo
15:27 A UPG, o partido guia, apoia o Hamas com a seguinte expressom: "um povo oprimido tem sempre direito a resistir até conquistar a liberdade". Nessa altura as únicas imagens da "opressom" eram jovens chacinados, os corpos violentados de mulheres semi-espidas expostas como troféus nas ruas de Gaza e atos sádicos ao jeito do ISIS.
Un povo oprimido ten sempre dereito a resistir até conquistar a liberdade. #FreePalestine #FreePalestineNow #PalestinaVencerá #Palestina pic.twitter.com/xjJyk2Nnax
— UPG (@GalizaUPG) October 7, 2023
15:40 Nestor Rego, secretário geral da UPG e deputado do BNG no Parlamento espanhol, acusa Israel de terrorismo:
Opresión e apartheid permanente; ocupación de territorio; destrución de vivendas, campos e mananciais; asasinatos continuos… Terrorismo por parte de Israel. #FreePalestine #PalestinaLibre pic.twitter.com/Dram6p7hMS
— Néstor Rego (@NestorRego) October 7, 2023
18:03 O BNG manifesta o seu "apoio ao povo palestiniano", exigindo "na situaçom atual" (sic) "o cessamento do fogo" e o "início de negociações para evitar mais mortes":
Desde BNG queremos, unha vez máis, manifestar o noso apoio ao pobo palestino. Reclamamos que se cumpran os acordos de paz entre Palestina e Israel, así como as resolucións da ONU que condenan a ocupación de territorios palestinos e súa política de Apartheid. Na situación actual,… pic.twitter.com/kjD5UMcKaw
— BNG - Bloque Nacionalista Galego (@obloque) October 7, 2023
20:39 Perante o espanto causado o BNG emite um breve tuite em que se mostra horrorizado polas "imagens que nos chegam dos centos de mortes causadas polos ataques do Hamas produzidos a passada noite" e "pola açom militar indiscriminada de Israel contra o povo palestiniano". Qualquer um acharia que foi Israel que declarou primeiro a guerra total ao HAMAS.
8 de outubro
O BNG apoia as concentrações "pola liberdade da Palestina" numha convocatória que mostra umha Palestina "do rio ao mar" e em que Israel é varrido do mapa. Eis as soluções de "paz e diálogo" defendidas polo palestinismo galego e o respeito polas resoluções da ONU.
Este Luns 9 de outubro ás 20 h na Praza do Toural de Santiago de Compostela. Mobilízate pola liberdade para #Palestina 🇵🇸 pic.twitter.com/OjbBN4wPsZ
— BNG - Bloque Nacionalista Galego (@obloque) October 8, 2023
Num discurso anti-Israel, tanto a UPG quanto o BNG mostram apoio às convocatórias das organizações anti-israelitas operantes na Galiza (BDS Galiza, Mar de Lumes, Jenin, Galiza por Palestina) ou a hispánica "Palestina Hoy", bem como indivíduos em prol da vitória (militar?) da Palestina.
Nas suas mensagens, para além de mostrar o apoio à "legítima Resistência palestiniana", o BNG rejeita a chamada "comunidade internacional"; isto é, os "decadentistas" países democráticos do Ocidente.
Posteriormente, as posições anti-judias da UPG/BNG saltaram à tona da atualidade ao mostrar umha recusa absoluta a condenar os massacres cometidos polos islamitas palestinianos.
11 de outubro
O BNG nega-se a apoiar no Parlamento Galego a declaraçom de apoio a Israel e de condenaçom "da açom terrorista levada a cabo polo grupo HAMAS contra o povo de Israel" alegando o contexto do conflito israelo-palestiniano.
13 de outubro
O partido-guia emite umha declaraçom política perante a situaçom na Palestina em que som contextualizados os bárbaros ataques islamo-nazistas do Hamas/Jihad Islâmica Palestiniana (descritos como "aumento da tensom e da atividade armada entre Palestina e Israel") com as "décadas de conflito motivado pola ocupaçom israelita".
Declaración da UPG ante a situación en Palestina.#FreePalaestine #FreeGaza #PalestinaLibre #PalestinaLivre #PalestinaVencera https://t.co/BeTISgZua1
— UPG (@GalizaUPG) October 13, 2023
Na sua declaraçom surpreende que um partido declarado marxista-leninista chegue mesmo a justificar os ataques jihadistas, chamados de "atuaçom militar palestiniana", como umha resposta a "provocações como o ataque à mesquita de Al Aqsa em Jerusalém" (sic).
No mesmo dia o seu deputado no Parlamento espanhol, Nestor Rego, reage aos acenos da UE com Israel qualificando o órgão comunitário de "estrutura nada democrática ao serviço das oligarquias e o imperialismo". Para o secretario geral da UPG, defensor da política imperialista da Rússia de Putin, as instituições da UE são "o rosto da infámia e a indignidade". No furor antissionista (=antissemita) o mesmo nome de Israel é substituído pola fórmula "entidade sionista".
15 de outubro
O sindicato do "holding" adere às mobilizações convocadas em contra da guerra de Israel contra o Hamas com as consignas genocídio, limpeza étnica, apartheid:
Participa nas mobilizacións en demanda de "Liberdade para #Palestina" convocadas para o luns 16 de outubro nas sete cidades
— CIG (@galizaCIG) October 15, 2023
‼️A CIG denuncia o xenocidio e limpeza étnica que está a sufrir o pobo palestino e exixe a fin da ocupación e o apartheid pic.twitter.com/c1s2C2YCKc
19 de outubro
Ana Miranda Paz, membra do Parlamento Europeu eleita polo BNG, junta-se a 21 eurodeputados para votar em contra da resoluçom de condena dos "ataques terroristas do Hamas e reconhecer o direito de Israel de se defender em conformidade com o direito internacional humanitário". Apesar de contar com 500 votos em prol e 24 abstenções, o BNG no parlamento europeu juntou os seus votos com partidos nazbol e da extrema-direita da Holanda, Itália ou Eslováquia.
A eurodeputada Ana Miranda recusou-se a condenar os ataques terroristas hediondos do Hamas |
A narrativa do "nosso" antissionismo
Para além da exigência de estatutos de "pureza de sangue" à sua militância ou chegar, como os grupos neonazistas, a negar-se a reivindicar a memória das vitimas do Holocausto nazista, a forma em que se manifesta o antissemitismo com mais força na nossa terra é o antissionismo, que nom proclama abertamente o ódio contra os Judeus, mas que aparece difarçado doutra cousa.
Os nossos antissionistas apresentam falsamente Israel como um estado colonial, ilegitimo e que nom deveria existir porque são invasores ou mesmo o braço do imperialismo americano. Polo contrário, os Palestinianos são apresentados como um povo com direito a fazer qualquer cousa no quadro do combate a esse opressor, identificando os israelitas como sujeitos que merecem a violência por estarem onde nom deviam estar. Esta narrativa nom apenas desumaniza os israelitas, mas também a todos os que apoiam esse Estado, que são assinalados como cúmplices indignos de compartilhar militância por umha Galiza livre.
Destarte, a sociedade galega está a ser desensibilizada por estes libertadores da terra fracassados relativamente ao ódio contra os Judeus porque os Judeus deixam de ser vistos como umha minoria oprimida e passam a ser concebidos como umha categoria de privilégio e de opressom. Entom o ódio contra eles mesmo aparece como algo bondoso, como algo necessário para lutar pola libertaçom, fazendo com que a violência contra eles pareceria estar justificada e mesmo desejável porque supõe lutar contra o opressor.
Quando se vende propositadamente nestes termos a narrativa sobre o conflito do Próximo Oriente como a aqui denunciada muita gente está a adotar umha narrativa que desumaniza os Judeus sem dar por isso porque acham que estão a lutar contra a opressom, o apartheid, o genocídio, a limpeza étnica... e todo esse tipo de consignas. Esta é a forma em que esta parcela minoritária e sectária da esquerda está a reproduzir o antissemitismo entre nós sob o guarda-chuva mais abrangente do nacionalismo galego.
Em consequência, mal passou um mês dos ataques jihadistas a Israel a organizaçom maioritaria do nacionalismo galego foi incapaz de condenar o massacre que todo o mundo viu ou de pedir a libertaçom das 240 pessoas sequestradas polo Hamas (crianças, mulheres, idosos...). Polo contrário, estamos a ver umha narrativa alicerçada na deslegitimaçom total e absoluta de Israel, cuja existência lado a lado com a Palestina nem mesmo é tolerada.
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