Para Israel as últimas eleições foram nas que "nada mudou, mas tudo muda". Nengumha mudança no sentido que o resultado parece nom ter sido concludente, como as três eleições anteriores nos últimos dous anos. Mas também todo muda, porque, pola primeira vez desde a criaçom do Estado de Israel em 1948, assiste-se ao início da normalizaçom política entre Judeus e Árabes israelitas.
E isso apesar de estas quartas eleições legislativas em dous anos serem tudo à volta se Binyamin Netanyahu, o primeiro ministro com mais anos no poder e que encara um julgamento por corruçom e abuso de confiança, iria conservar o poder. Destarte, as políticas a longo prazo ficaram à marem da campanha. Netanyahu tinha um objetivo, seguir a ser o primeiro-ministro acima de tudo enquanto os seus oponentes de centro-esquerda e centro-direita tentavam dar cabo dele.
Afinal Netanyahu nom conseguiu assegurar a maioria para o seu bloco e o Likud perdeu 300.000 votos e 6 mandatos. Mas a sua aliança com os partidos religiosos judeus e com os denominados Sionistas Religiosos de extrema direita formam um bloco de 52 mandatos.
Além disso, o bloco oposicioinista conta com 57 lugares, o que deixa a formaçom do novo governo em mãos da direita Yamina e do islamita Ra'am (ou Lista Árabe Unida). Nengum terá os 61 mandatos precisos para formar governo se nom conseguir persuadir a Mansour Abbas, líder da Lista Árabe.
Mansour Abbas, líder da Lista Árabe (Ra'am), tem a chave da governabilidade de Israel |
Por isso, ao pouco de conhecer-se os resultados definitivos, os políticos dos bocos pró e anti-Bibi reuniram-se com Abbas. Ayoub Kara, membro saínte do Likud no Knesset, logo de se reunir com Abbas tuitou sobre "o novo Ra'am pragmático que nom nega a existência de Israel e quer ser um parceiro nas decisões nacionais". Um outro deputado do Likud, David Bitan, comentou que "poderíamo-nos entender com a Lista Árabe Unida".
Por enquanto, Yair Lapid, o líder do principal partido da oposiçom, Yesh Atid, iniciou negociações com Abbas sobre a formaçom dum novo governo. Estes pasos, nas duas bandas do leque parlamentar, simplesmente nom têm precedentes. No passado, os lideres dos partidos judeus evitaram sempre depender dos votos árabes, mas estes dias parece que isso acabou. Esta mudança nom teria sido possível se partidos árabes nom tivessem decidido envolver-se nas políticas do Estado de Israel.
Durante a campanha eleitoral Netanyahu tentou captar o voto árabe, referindo-se a si próprio como Abu Yair (o Pai de Yair). Paradoxalmente, Yair, o primogénito dele, de vinte e nove anos, é conhecido polas suas publicações anti-árabes nas redes sociais.
Com esta operaçom o Likud finalmente ganhou poucos votos árabes, mas, em troca, colocou Netanyahu para que pudesse tentar atrair os políticos árabes a fim de que apoiassem a sua liderança logo depois das eleições. E agora que a Lista Árabe tem a chave do equilíbrio do poder, será interessante ver se esta estratégia funciona.
A ideia de que possa haver um governo israelita comandado por Netanyahu ou Lapid, mas com o suporte dos votos dum partido islamita, teria parecido tola há dous anos. Nengum dos dous blocos, na realidade, o vai ter fácil para o implementar. Os aliados do Likud, a extrema direita religiosa e sionista, descartaram qualquer governo deste tipo. Interpreta-se que Netanyahu vai trabalhar para fazê-los mudar de opiniom estes dias. Logo dum depoimento de Abbas, na sexta-feira 2 de abril o rabi Chaim Kanievsky, o líder espiritual da maioria do Judaismo Unido da Torá, afirmou que era preferível cooperar no governo com aqueles que respeitam a religiom (em referência à Lista Árabe, de tendência islamita conservadora) que com os partidos da esquerda sionista cujas posições nom ligam aos valores religiosos.
Entretanto, Lapid tenta criar o seu "bloco de mudança", mas os possíveis sócios do partido de centro-direita Nova Esperança também som contrários a qualquer aliança com a Lista Árabe.
Seja como for, resulta surprendente para os observadores da cena política israelita a simples hipótese de estas conversas terem lugar.
A situaçom é ainda mais dramática levando em conta a entrada no Knesset de seis membros do grupo Sionismo Religioso, umha coaligaçom de três partidos de extrema direita racistas e homofobos: o Partido Sionista Religioso, Otzma Yehudit e Noam. Esta aliança eleitoral recebeu o suporte de Netanyahu, que temia que candidatando-se separadamente nom chegariam ao limiar de 3,25%, contribuindo para enfraquecer a posiçom do primeiro-ministro.
Mas a questom agora é que, entre outras cousas, este grupo de racistas quer expulsar os cidadãos árabes israelitas se nom demonstrarem lealdade ao Estado, querem anexar a Cisjordânia para criar e "limpar" Israel de homossexuais. Sera interessante ver, portanto, se Netanyahy consegue perduadi-los a travar a coaligaçom com a Lista Árabe.
A representaçom árabe no Parlamento de Israel
Segundo refere Xosé Luís Mendes Ferrim, político e um dos escritores mais representativos da literatura galega contemporânea, em Israel "os Árabes (cristãos, muçulmanos ou ateus) gozam da plena cidadania israelita, votam nas eleições e têm os seus partidos bem representados num parlamento pluralista".
Nesta ocasiom a Lista Árabe de Abbas separaram-se da Lista Unificada dos partidos árabes no inicio da campanha eleitoral. Esta lista estava formada originalmente por très partidos: o comunista Haddash e os nacionalistas Balad e Ta'al.
A Lista Unificada conseguiu 15 mandatos nas eleições de 2020 e o seu líder, Aimand Odeh, converteu-se pouco depios no primeiro político árabe na história de Israel a dar suporte a um candidato a primeiro-ministro, o entom líder da oposiçom Benny Gantz.
Quando Abbas removeu o Ra'am da Lista Unificada achava-se que o seu partido nom iria superar o limiar de 3,25%, mas finalmente obteve 4 lugares face os 6 da Lista Unificada. E esta queda de 15 para 10 mandatos da representaçom política árabe torna mais notável o aumento da força política da Lista Árabe. Cabe referir, aliás, que a representaçom árabe no novo Knesset viu-se impulsada também polos cidadãos árabes eleitos nas candidaturas trabalhistas (um) e do Meretz (dous). Tradicionalmente estes dous partidos de esquerda procuraram o voto árabe, mormente o Meretz, herdeiro dumha tradiçom politica que coloca o acento na cooperaçom entre as duas comunidades.
Enquanto Lapid e Bibi lutam para criar umha coaligaçom a partir de forças políticas tam contraditórias, pola primeira vez em 73 anos, as preocupações da comunidade árabe-israelita irám ter um valor destacado nas negociações. E isso poderia ter implicações nas negociações com os Palestinianos. As novas relações diplomáticas entre quatro estados árabes e Israel, a partir dos Acordos de Abraám promovidos por Donald Trump e Jared Kushner, parece que tiveram um profundo impacto na política israelita.
Se calhar a negociaçom com os árabes de fora de Israel está a abrir o caminho para ver os árabes também como socios legítimos dentro de Israel.
ATUALIZAÇOM/5 de abril
Os partidos começaram a reunir-se com o presidente Reuven Rivlin para recomendar o mais indicado para formar o governo. Rivlin provavelmente dará o mandato a quem tiver mais recomendações, embora ele já tenha admitido que pode lançar mão doutros fatores.
Por agora temos de certo as seguintes posições:
- Likud (30 lugares): indica Benjamin Netanyahu, do seu mesmo partido, para montar o governo.
- Shas (9 lugares): indicará Netanyahu.
- Judaísmo da Tora (7 lugares): indica Netanyahu.
- Sionismo Religioso (6 lugares): indica Netanyahu.
- Yesh Atid (17 lugares): indica Yair Lapid, do seu mesmo partido, para formar o governo.
- Azul e Branco (8 lugares): indica Yair Lapid.
- Partido Trabalhista (7 lugares): indica Lapid.
- Israel Nossa Casa (7 lugares): indica Lapid.
- Meretz (6 lugares): indica Lapid.
- Lista Unificada (6 lugares): a lista formada por três partidos árabes nom indica ninguém. Os partidos Balad (1 mandato) e Hadash (3 mandatos) anunciaram que nom recomendam ninguém. Falta a decisom do partido Ta'al.
- Nova Esperança (6 lugares): nom anunciaram nada nesta semana. A única certeza é de que nom indicam Netanyahu. Gideon Sa'ar, líder do partido, trabalhava para que bloco anti-Netanyahu indicasse Naftali Bennett do Yamina, mas nom obteve suficiente apoio.
- Yamina (7 lugares): nom anunciaram, mas provavelmente indicam o seu líder, Naftali Bennett.
- Ra'am (4 lugares): nom anunciaram. Qualquer posiçom deve ser considerada.
De certo agora temos:
- Netanyahu: 52 indicações
- Lapid: 45 indicações
Se Lapid nom conseguir em breve as indicações do Nova Esperança e de parte da Lista Unificada, é muito provável que Netanyahu receba a prioridade para formar o governo. Mas isso nom indica que ele conseguirá formá-lo (nem Lapid), umha vez que ele precisa ser aprovado por maioria (mínimo de 61 parlamentares).
ATUALIZAÇOM/6 de abril:
O presidente Reuven Rivlin deu a Netanyahu o mandato para armar a coaligaçom de governo. Ele disse que foi eticamente uma decisom difícil, referindo-se ao facto de Netanyahu estar, neste momento, sendo julgado por corrupçom enquanto tenta formar o governo.
O anúncio produz-se após o fracasso das negociações de última hora entre Lapid (45 mandatos) e Bennett (7 mandatos) para unir forças para um “governo de mudança” no qual Bennett seria o primeiro como primeiro-ministro sucedido após dous anos por Lapid. Gideon Saar, outro membro do campo da oposiçom (6 mandatos), recusou-se a endossar qualquer candidato, a menos que Lapid e Bennett fizessem um acordo.
Netanyahu terá 28 dias, com possibilidade de duas semanas de prorrogaçom, para formar o governo. Ele deve conseguir a aprovaçom de, polo menos, 61 deputados.
Fonte: Postagem elaborada a partir da análise de John Strawson publicada em VilaWeb
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