Finou em Vigo, onde vivia nos últimos 15 anos, umha mulher judia sobrevivente do Holocausto. Até o final tinha lembranças daquela época escura que viveu em primeira pessoa junto com a sua família
A última sobrevivente do Holocausto que vivia na Galiza, Micheline Wolanowski, falecia em janeiro de 2024 em Vigo, cidade donde morava desde 2009 com a sua familia, após umha odisseia vital que a levou dum lado para o outro do mundo. Embora nascida na França de pais judeus polacos, após a Segunda Guerra mundial emigrou para o Uruguai. Antes, Micheline foi testemunha direta de dous sucessos que fazem parte da História: o início da Segunda Guerra mundial com a ocupaçom de Paris e o Holocausto judeu, onde perdeu a sua irmã e os seus pais quando era umha rapariga de 18 anos.
Micheline Wolanowsky (1925-2024) |
Dias atrás lembramos o 80º aniversário da libertaçom do campos de extermínio, que lamentavelmente conheceu de primeira mão. Foi umha sobrevivente que depois pudo gozar dumha longa vida, até abeirar o século, talvez pola resistência dela ao limite, como lembrou Pedro Valadés, fundador da Associaçom Galega de Amizade Galiza-Israel (AGAI). “Foi um autêntico luxo poder tratar e conhecer Micheline em Vigo, um bocado vivo dessa história negra da Europa e do mundo. Agora que celebramos o 80º aniversário da libertaçom do campo de extermínio [de Auschwitz], foi um privilégio tratá-la e conversar com ela e receber a sua visom vital e otimista, é um risco que observei noutros sobreviventes dessa época terrível do Holocausto, que ficaram como vacinados contra muitas cousas e tiveram longas vidas. Acho que essa longevidade tem umha explicaçom, saber discernir o que é de verdade importante da vida”.
O jornal "La Región" teve em duas ocasiões conversações com Micheline, a última nove anos atrás. A memoría dela da tragédia era ainda muito certa, desde setembro de 1939 na França, um país do que gostava de todo “os costumes, a vida, mesmo a comida, todo, vivíamos bem, sem problemas”. Depois começou a guerra, e a rendiçom da França, em 1940. “Tínhamos medo a que bombardearam Paris, assim que fugimos para a Bretanha, mas foi inútil, porque ao pouco tempo foi ocupada polos alemães, assim que voltamos a Paris, que nom sofreu as bombas e regressamos à nossa vida. Ao princípio, durante todo 1940, nom se passou nada, e todo parecia tranquilo. Em 1941 começaram a virar-se as cousas, cada vez pior”, explicava com clareza. “A 14 de maio de 1941 o meu pai recebeu umha carta na que o mandaram para ir trabalhar a um campo, encerrado. No final de ano obrigaram-nos a levar umha estrela de David com a palavra judeu (juif) para identificar-nos. Logo depois, em junho de 1942 chegaria o pior, quando o levaram num comboio de gado para Auschwitz. Os alemães cada vez eram piores com os judeus, acho que tinha a ver com que começavam a perder a guerra e estavam furiosos, inclusivamente os soldados eram cada vez piores”. Depois daquilo, foram para a zona controlada por Vichy para tentar evitar a sua deportaçom. “Fomos embora, refugiamo-nos num hotel, íamos a um colégio de meninas, e achávamos estar salvas, mas nom foi assim”. Um dia os alemães entraram e pegaram da mãe dela e da sua irmã. Micheline safou graças a que um home a ocultou.
“Nom sabíamos o que se passava, ninguém o sabía, pensávamos que iam trabalhar, porque a Alemanha ficara sem homens, mas quando começaram a levar mulheres e crianças percebemos que se passava algo. Logo depois começamos a duvidar porque era tão violento todo, cada vez mais. Mas até o fim da guerra nom sabíamos nada, todo estaba organizado e escondido, ninguém podia imaginar o que acontecia", contava ela. “Tive muito ódio contra a Alemanha, mas com o tempo percebi que nom tinham nada a ver com o que fizeram os seus avós”, dizia. E alertava: “No mundo atual tenemos outros inimigos: os jihadistas querem acabar com a civilizaçom. É um perigo para o mundo”.
Micheline nasceu em 1925 em Vigneux Sur Seine (França). O pai dela foi um dos primeiros judeus da França a cair numha rusga, em maio de 1941 e deportado para Auschwitz depois de ter ficado confinado durante mais dum ano no campo francês de Beaune-la-Rolande.
Suportando humilhações e carências, Micheline, a mãe dela e a sua irmã ficaram em París até a Gran Rusga de julho de 1942, quando passaram para a denominada "Zona Livre".
Micheline, em contato com a OSE (Obra de Socorro para as Crianças), umha instituiçom judaica que trabalhava clandestinamente para salvar crianças judias, logrou viajar a Limoges. Na OSE participou do ensino destas crianças, primeiro como aluna e depois como ajudante.
Após a guerra, Micheline casou com Charles Papiernik Z'L, sobrevivente de Auschwitz. Emigraram para o Uruguai e depois à Argentina onde foram muito ativos a dar testemunho. Micheline teve duas filhas, duas netas e quatro bisnetas.
A memória de Micheline está presente em cada tarefa do Museu do Holocausto de Buenos Aires, com o compromisso de honrar o legado dela.
Fonte: Jornal La Región (Ourense)
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