A
Inquisiçom medieval nasce no século XIII por iniciativa de Gregório XIII para
combater as heresias; espalha-se por toda a Europa, incluída a Coroa de Aragom.
No resto da Península Ibérica, a Inquisiçom é mais bem um fenômeno moderno. Sob
reinado dos Reis Católicos começam a atuar inquisidores em várias cidades de
Castela, a partir de 1478 (bula de Sixto IV), estendendo-se a nova instituiçom
cara a periferia da Coroa de Castela e Aragom posteriormente, nom sem resistências.
No Reino da Galiza pode-se considerar instalada a Santa Inquisiçom em 1574 (1),
quase um século depois da sua fundaçom em Castela. Um reflexo seródio, pois, do
desfase medieval entre umha Galiza tolerante e umha Castela medieval com umha
tendência mais marcada polo antijudaísmo.
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O racismo antijudaico castelhano/espanhol da Inquisiçom impôs-se na Galiza (1574) mais tarde que nas colónias americanas do Peru (1570) e no México (1571) |
A imposiçom
da Inquisiçom batia na Galiza com a tradiçom medieval de tolerância respeitante
a crenças e etnias. Está-se perante um conflito de mentalidades, e um conflito,
assim mesmo, dum poder jurisdicional forâneo com os poderes locais; por todo isso
a resistência galega ao Santo Oficio será global, duradoura e num principio
bastante efetiva. Para além dumha constante e difusa resistência popular (2), a
Inquisiçom que vinha de Castela encara múltiplos problemas com os concelhos, os
oficiais reais e a Igreja (3). De facto, o Tribunal nom encara claramente na
Galiza o problema dos judaizantes até que os imigrantes portugueses obrigam a
tomar medidas no século XVII (4). Durante o último terço do século XVI, a perseguiçom
centra-se nos luteranos (5), de jeito que a tolerância dos cristãos-vellos na
Galiza face os seus vizinhos judeus de sempre, agora conversos judaizantes,
segue a atuar quase um século depois da conversom forçosa. Esta retardada e
laboriosa implantaçom da mentalidade inquisitorial -percebida como “pedagogia do
medo” (6)– na Galiza, junto com um dilatado costume medieval de admisom do
outro, avaliza umha característica da tradicional mentalidade galega apontada
por diversos autores: a tolerância.
Carlos Barros, historiador galego especialista em história medieval da Galiza, exerce como professor de História Medieval na Universidade de Santiago de Compostela.
Traduçom livre para o galego-português da
versom galega atualizada de “El otro admitido. La tolerancia hacia los
judíos en la Edad Media gallega”, Xudeus e conversos na historia. I.
Mentalidades e cultura (Congresso de Ribadávia, outubro 1991), Carlos Barros
(ed.), Santiago, 1994, pp. 85-115; “O outro admitido”, ¡Viva El-Rei! Ensaios
medievais, Vigo, 1996, pp. 75-115.
1 Jaime CONTRERAS, El Santo Oficio de la Inquisición en Galicia (poder, sociedad y cultura), Madrid, 1982, p. 60.
2 Jaime CONTRERAS, op. cit., pp. 681-685; Carmelo LISÓN TOLOSANA, op. cit., pp. 27 ss.
3 Jaime CONTRERAS, op. cit., pp. 23 ss., 35-39, 57 ss.
4 ídem, 467, 591-592, 599-604.
5 ídem, pp. 590-591, 609 ss.
6 Ángel ALCALÁ e outros, Inquisición española y mentalidad inquisitorial, Barcelona, 1984, pp. 174-182.
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