domingo, 9 de fevereiro de 2025

RESISTÊNCIA GALEGA À SANTA INQUISIÇOM CASTELHANA

 Carlos Barros

A Inquisiçom medieval nasce no século XIII por iniciativa de Gregório XIII para combater as heresias; espalha-se por toda a Europa, incluída a Coroa de Aragom. No resto da Península Ibérica, a Inquisiçom é mais bem um fenômeno moderno. Sob reinado dos Reis Católicos começam a atuar inquisidores em várias cidades de Castela, a partir de 1478 (bula de Sixto IV), estendendo-se a nova instituiçom cara a periferia da Coroa de Castela e Aragom posteriormente, nom sem resistências. No Reino da Galiza pode-se considerar instalada a Santa Inquisiçom em 1574 (1), quase um século depois da sua fundaçom em Castela. Um reflexo seródio, pois, do desfase medieval entre umha Galiza tolerante e umha Castela medieval com umha tendência mais marcada polo antijudaísmo.

 

O racismo antijudaico castelhano/espanhol da Inquisiçom impôs-se na Galiza (1574) mais tarde que nas colónias americanas do Peru (1570) e no México (1571)

A imposiçom da Inquisiçom batia na Galiza com a tradiçom medieval de tolerância respeitante a crenças e etnias. Está-se perante um conflito de mentalidades, e um conflito, assim mesmo, dum poder jurisdicional forâneo com os poderes locais; por todo isso a resistência galega ao Santo Oficio será global, duradoura e num principio bastante efetiva. Para além dumha constante e difusa resistência popular (2), a Inquisiçom que vinha de Castela encara múltiplos problemas com os concelhos, os oficiais reais e a Igreja (3). De facto, o Tribunal nom encara claramente na Galiza o problema dos judaizantes até que os imigrantes portugueses obrigam a tomar medidas no século XVII (4). Durante o último terço do século XVI, a perseguiçom centra-se nos luteranos (5), de jeito que a tolerância dos cristãos-vellos na Galiza face os seus vizinhos judeus de sempre, agora conversos judaizantes, segue a atuar quase um século depois da conversom forçosa. Esta retardada e laboriosa implantaçom da mentalidade inquisitorial -percebida como “pedagogia do medo” (6)– na Galiza, junto com um dilatado costume medieval de admisom do outro, avaliza umha característica da tradicional mentalidade galega apontada por diversos autores: a tolerância.

 

 

Carlos Barros, historiador galego especialista em história medieval da Galiza, exerce como professor de História Medieval na Universidade de Santiago de Compostela.

 

Traduçom livre para o galego-português da versom galega atualizada de “El otro admitido. La tolerancia hacia los judíos en la Edad Media gallega”, Xudeus e conversos na historia. I. Mentalidades e cultura (Congresso de Ribadávia, outubro 1991), Carlos Barros (ed.), Santiago, 1994, pp. 85-115; “O outro admitido”, ¡Viva El-Rei! Ensaios medievais, Vigo, 1996, pp. 75-115.

 

1 Jaime CONTRERAS, El Santo Oficio de la Inquisición en Galicia (poder, sociedad y cultura), Madrid, 1982, p. 60.

2 Jaime CONTRERAS, op. cit., pp. 681-685; Carmelo LISÓN TOLOSANA, op. cit., pp. 27 ss.

3 Jaime CONTRERAS, op. cit., pp. 23 ss., 35-39, 57 ss.

4 ídem, 467, 591-592, 599-604.

5 ídem, pp. 590-591, 609 ss.

6 Ángel ALCALÁ e outros, Inquisición española y mentalidad inquisitorial, Barcelona, 1984, pp. 174-182.

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