domingo, 15 de setembro de 2024

O VIÉS DA IMPRENSA PORTUGUESA

 A CNN Portugal publicou ontem um extenso artigo online sobre a guerra no Próximo Oriente, carregado de imprecisões e propaganda, no intuito de sustentar a mensagem que a assinatura do acordo com vista ao fim da guerra se deve ao facto do mesmo não ajudar nas eleições americanas e beneficiar Trump. Desde o ataque de 7 de Outubro que a propaganda contra Israel tem intensificado na imprensa portuguesa, resta averiguar a quem interessa e beneficia dela. Vale a pena ler a resposta de Shimshon Zamir ao artigo colocando em causa as premissas com que sustentam a tese, a começar pelo título do mesmo:



Li com muita atenção o artigo publicado pela CNN, segundo o qual Netanyahu não pretende chegar a um acordo para favorecer a eleição de Trump.

O conteúdo do artigo baseia-se em diversas premissas, as quais passo a refutar.

Primeiro, a suposição de que os eventos no Médio Oriente influenciarão a decisão de voto do eleitorado nas eleições dos EUA, como se os problemas de imigração, tensão interna, custo de vida, etc., os que realmente incomodam os eleitores americanos, ao deslocarem-se às urnas fossem desprezados pelo que está a acontecer a dez mil quilómetros de distância.

Segundo, o pressuposto (diria que um pouco "anti-semita") de que os judeus tem uma influência “mágica" manipulando tudo ao redor. Parece uma versão moderna da velha ideia “os judeus governam o mundo”.

Terceiro, a esperança de que a repetida propaganda da “solução” dos dois Estados garanta que o que falhou durante 31 anos irá subitamente (como num passe de magia) tornar-se algo viável. Não. Para que existam dois Estados, é necessário dois povos comprometidos com um acordo entre eles. Quando em ambos os povos a maioria da população não deseja essa alternativa, como poderá ser possível esse compromisso?

Entre os palestinianos em Gaza, 80% da população apoia o Hamas, a alternativa fundamentalista que não reconhece o direito de existência de Israel.

Da mesma forma, sabe-se que, se houvesse eleições na Cisjordânia, seria o Hamas a ganhar, exactamente o motivo pelo qual a Fatah não convoca eleições.

Mas não só entre os palestinianos, também em Israel, depois das amargas experiências causadas pelos Acordos de Oslo (que o artigo da CNN elogia) com milhares de mortes de ambos os lados, a maioria da população Israelita não apoia a ideia dos dois Estado e também aqueles que estariam dispostos a considerar alguma entidade palestiniana "autónoma", colocaram tantas condições à sua aceitação que nenhum palestiniano as pode aceitar.

Porque a realidade é que ambos participam (embora com relutância) há 31 anos numa tentativa condenada ao fracasso, que só as enormes quantidades de dinheiro concedidas pelos EUA e pela Europa a mantêm a respirar. E também isto acabará, como qualquer tentativa de "ressuscitar os mortos”.

Os palestinianos não querem aceitar a existência de uma entidade judaica independente à sua custa, a sua recusa assenta na ideologia muçulmana assim como na questão territorial.


E os judeus não querem aceitar a existência de uma entidade palestiniana hostil ao seu lado, que terá sempre de ser vigiada, devido à suspeita de que cometerão actos semelhantes, ou piores, que os do ataque de 7 de Outubro.

Dado que ambas as comunidades vivem bastante misturadas, as tensões intercomunitárias influenciam diariamente o crescimento da suspeita mútua.

E enquanto isso, a milhares de quilómetros de distância, diplomatas profissionais, entre um copo de whisky e outro, em hotéis de 5 estrelas, continuam a falar e a escrever sobre temas que não compreendem (ou se sentem confortáveis ​​em não compreender) baseado em pressupostos que a realidade há muito se encarregou de enterrar.

Voltando ao artigo que pede a Netanyahu para “mudar de rumo”. Por que o deveria fazer? O que mudou para melhor no território que nos obrigue a pensar que é necessário fazê-lo? Houve uma invasão traiçoeira ao território israelita, 1300 mortos, 250 reféns e um ano de combates... E que mais? Uma crueldade inconcebível, que nem sequer permite que a Cruz Vermelha visite os reféns para verificar o seu estado de saúde, que publica regularmente vídeos destinados a acentuar o sofrimento das famílias dos reféns na esperança que "Netanyahu muda de rumo” devido à pressão pública dentro de Israel, e que perante a derrota iminente, também os mata à queima-roupa e se gaba do feito.



Se há algo que muda, é precisamente para pior, porque o comportamento do Hamas cria na maioria do público Israelita a convicção certa de que todos os dias há menos reféns vivos, e permite ao governo israelita com menos pressão interna ponderar a sua estratégia e não apenas “mudar de rumo”.

Novamente, no artigo é possível perceber o quanto os observadores externos não compreendem o que realmente se passa em Israel. O que inicialmente eram mais de 200 mil manifestantes em todo o país que queriam chegar a um acordo que salvaria 250 reféns, tornaram-se manifestações de 60 a 80 mil pessoas na cidade de Telavive, cujos slogans, juntamente com o pedido lógico para a libertação dos reféns, é a demissão de Netanyahu, numa estranha combinação de interesses com os slogans difundidos no artigo publicado na CNN.



Será que alguém “cria” os mesmos slogans para ambos? As suspeitas crescem quando o título do artigo se refere a uma certa preferência de Netanyahu pela eleição de Trump e não de Harris. Será verdade? O que é permitido a Putin, Xi Jinping e Hamina, e outros líderes mundiais, “preferirem” esta ou aquela eleição, é proibido a Netanyahu?


Por Shimshon Zamir, Israel

Via: Sofia Afonso Ferreira

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