sábado, 23 de dezembro de 2023

JESUS PALESTINIANO


Nestas datas, quando nos aproximamos do Natal, reaparece nas redes sociais e meios de comunicaçom a mentira habitual de que "Jesus era um palestiniano". Mais ainda agora, na sequência da guerra que Israel está a travar contra o Hamas logo depois dos ataques islamo-nazistas do passado 7 de outubro.

Jesus era palestiniano?

A experiência judaica está ver como desaparece repentinamente no espaço dumha década um dos principais impulsionadores do antissemitismo durante 1900 anos ("Jesus era o Messias judeu, mas os Judeus mataram-no"), a fim de atacar os judeus dumha maneira diferente: "Jesus era palestiniano, os Judeus nom tem ligaçom com aquela terra".


Com esta postagem queremos desmontar a falsidade desta propaganda, espalhada polos ativistas anti-Israel, consistente em atribuir-lhe a Jesus um passado que nom lhe pertence numha tergiversaçom brutal das fontes históricas a fim de desligar, mais umha vez, os Judeus da Terra de Israel.


Antes de Cristo

Por volta de 1400 antes de Cristo (AC) as crônicas egícias relatam que os Habiru (Hebreus) que trabalhavam como escravos no Egito decidiram retornar para Canaã, sendo todo o territorio conquistado durante duzentos anos depois. Umha das cidades conquistadas foi Jericó, fundada no Neolítico.

Por volta de 1200 AC, coincidindo com a Guerra de Troia, os povos do mar saquearam o Mediterrâneo oriental e atacaram o Egito. Os Filisteus, que nom eram de origem semítica, mas sim grega, e odiavam os Hebreus, assentam na costa de Canaã (atual Gaza).

Mapa do reino de Davi e estados vassalos

Por volta de 1000 AC, David derrotou os Filisteus e criou o Reino de Israel. Assim, Israel nom nasceu em 1948, mas há três mil anos. O sábio Salomom negociou com a rainha de Sabá, com os Árabes e com os Fenícios do Líbano. Após a sua morte, o Reino de Israel foi dividido entre Roboão (Judá) e Joroboão (Israel). Divide et impera.

Reinos de Israel (norte) e Judá (sul)

Em 722 AC o Reino de Israel foi conquistado polos Assírios e o de Judá polos Babilônios em 586 AC. Muitos Judeus foram deportados, mas outros ficaram em Israel ou na Judeia, que agora estavam sob jugo estrangeiro.

Em 539 AC os Persas conquistam a Assíria e a Babilónia, permitindo o regresso dos Israelitas e Judeus à satrapia persa de Samaria e à de Yehud, onde o resto dos Hebreus continuou a viver.

Em 331 AC os Persas foram derrotados por Alexandre da Macedónia e, após a sua morte, Israel e Judá foram anexados ao Reino de Selêucia (Síria), que fundiu a cultura semítica e grega.

Em 164 AC o movimento independentista judeu dos Macabeus assume o controlo de partes da Terra de Israel, até entom dependente do Império Selêucida. Os Macabeus fundam umha linhagem real (os Hasmoneus) no Reino da Judeia, conseguindo restaurar a religiom judaica e a expansom das fronteiras de Israel.

Extensom do Reino da Judeia

Em 63 AC, o general romano Pompeu derrotou Mitrídates da Síria. Logo a seguir, cria a provincia romana da Judeia, havitada polos Judeus, com o estatuto de reino cliente subordinado a um procurador romano. No ano 37 AC Marco António entrega esse Reino da Judeia a Herodes, o Grande, um príncipe filho dum procurador romano que se legitima casando com a única filha e herdeira de Antigono, o último sumo sacerdote Hasmoneu.

Tempos de Cristo

No ano 4 AC Jesus nasceu "em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes" (Mateus 2,1). Sabemos disso porque coincidiu com a morte do rei Herodes. Maria (Miriam) teve-o em Belém da Judeia porque essa era terra originária do pai dele, José, descendente do rei David, aonde se deveram deslocar por causa dum recensamento.

O evangelho nom causa dúvidas: "eis que vieram uns magos do oriente a Jerusalém, dizendo 'Onde está o rei dos Judeus que nasceu? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo'. Ao ouvir isto, o rei Herodes perturbou-se, e toda a Jerusalém com ele. Reunindo, entom, todos os chefes dos sacerdotes e os doutores da lei do povo, procurava saber junto deles onde nasceria o Cristo. E eles disseram-lhe: 'Em Belém da Judeia, pois assim está escrito por meio do profeta'. (Mateus 2, 1-6)"

Segundo os evangelhos (Lucas 2, 21): "Quando se cumpriram os oito dias para o circuncidar, foi chamado com o nome de Jesus, o que fora dado polo anjo antes de ter sido concebido no ventre materno".

Acrescenta: "Quando se cumpriram os dias da purificaçom deles, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: 'Todo o primogénito macho será consagrado ao Senhor', e para oferecer um sacrifício segundo o que está dito na Lei do Senhor: um par de rolas ou duas pequenas pombas" (Lucas 2, 22-24)

Mas Jesus foi conhecido como Jesus de Nazaré, o local onde se criou "Foi a Nazaré, onde fora criado" (Lucas 4,16). Com efeito, Nazaré era umha povoaçom localizada na Galileia, outro território histórico judeu que fazia parte do Reino da Judeia do rei Herodes. 

"Entrou em dia de Sábado (Sabbath) na sinagoga (de Nazaré) e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando-o, encontrou a passagem onde estava escrito: 'O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anuncia a boa nova' [...]. Depois de enrolar o livro e de o devolver ao ajudante, sentou-se. Os olhos de todos na sinagoga estavam fixos nele. Começou, entom, a dizer-lhes: 'Hoje aos vossos ouvidos cumpriu-se esta escritura'." (Lucas 4, 16-22)

Jesus era rabi (Mestre) e sabia hebraico

"E, aproximando-se um dos doutores da lei, que os tinha ouvido debater, ao ver que Ele (Jesus) lhes tinha respondido bem, interrogou-o: 'Qual é o primeiro de todos os mandamentos?'. Jesus respondeu: 'O primeiro é: Escuta, Israel! O Senhor nosso D'us é o único Senhor; amarás o Senhor teu D'us com todo o teu coraçom, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com toda a tua força'. O segundo é este: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Nom há outro mandamento maior que estes". Disse-lhe o doutor da lei: 'Muito bem, Mestre, disseste a verdade: É único e nom existe outro além dele, amá-lo com todo o coraçom com toda a inteligência e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios'." (Marcos 12, 28-33).

A última ceia de Jesús é descrita como um Seder de Pessach.

Remake anti-Israel do mito antissemita do "povo deicida"

Por volta do ano 30 DC, as crónicas romanas registam a crucificaçom de Jesus polo legado Pôncio Pilatos em Jerusalém, capital da Judeia romana. Ele foi acusado de blasfêmia e morreu como judeu sob o lema "Iesus nazarenus rex iudaeorum"; isto é, "Jesus nazareno rei dos Judeus" nom como "rex palestinorum".

Portanto, Jesus era judeu, nom apenas de naçom ou por ter nascido numha família judia, mas por cumprir as manifestações culturais e religiosas do povo judeu: foi circuncidado, leu em hebraico a Torá na sinagoga, era reconhecido como Mestre da Torá (Rabi) e reconheceu o Shemá Israel, o alicerce doutrinal da fé judaica. Afirmar o contrário é típico apenas de ignorantes.

Após a crucifixom de Jesus os seguidores dele acharam que tinha ressuscitado. Hoje, os seus fieis são conhecidos como cristãos. As crenças cristãs têm a sua origem no judaismo dos Judeus da Judeia e em Jesus, bem como os que acompanharam a sua mensagem.


Depois de Cristo

Entretanto, os Judeus, que ainda esperavam polo seu Messias. rebelaram-se várias vezes contra Roma através dum movimento independentista da fasquia descrita no filme "A Vida de Brian" dos Monty Python. 

Província da Judeia e seu entorno no século I

Em 66 DC os Judeus da província de Judeia revoltaram-se contra o Império Romano, conseguindo derrotar o governador da província de Síria e forçado a retirar-se de Jerusalém. Nero designou Vespasiano para esmagar a rebeliom, que se uniu a Tito. Com umha força de 60.000 soldados profissionais de três legiões, os romanos dispuseram-e a varrer a rebeliom através da Galileia e marchar sobre Jerusalém. A cidade de Jotapata da Galileia, após um duro sítio de 47 dias, caiu, deixando cerca de 40.000 prisioneiros, que foram assassinados, enquanto o restante dos residentes se suicidaram. Durante 68 DC toda a costa e o norte da Judeia cairam sob o controlo romano. Dous anos depois Tito destruia o templo de Jerusalém. 

Em 136, após o fracasso da revolta de Barcoquebas contra o Império romano, Hadriano cometeu um genocidio e fez umha expulsom dos Judeus em larga escala. Durante este tempo, como castigo coletivo, os romanos deram o nome de Síria Palestina à Judeia, numha tentativa de apagar os laços judaicos da Terra de Israel. No entanto, a presença judaica na Palestina manteve-se, com o deslocamento de Judeus da Judeia para a cidadade de Tiberíades, na Galileia.

Em 638, o califa árabe Umar, um seguidor de Maomé, arrebatou Jerusalém do Império Romano Oriental (Bizâncio) e submeteu-a à vassalagem. A partir de entom, inciar-se-ia o processo de arabizaçom  derivado da invasom e assimilaçom das populações autóctones.

Durante as Cruzadas, os cristãos conquistaram a Terra Santa do Islã e criaram o Reino de Jerusalém, que seria reconquistado em 1187 polas forças do general curdo Saladino. Os cruzados permaneceriam no Acre até serem derrotados polos mamelucos em 1291.

Em 1517, Jerusalém foi conquistada polo Império Otomano, que seria desmantelado após a Primeira Guerra Mundial. A Terra Santa foi segregada da Turquia e transformada em abril de 1920 no protetorado britânico chamado de Mandato da Palestina. A populaçom que vivem lá são agora chamados de palestinianos. Mormente são os Judeus que mais se identificam com esse nome, já que os britânicos encetaram planos para facilitar a restauraçom dumha pátria judaica nessa regiom denominada Palestina (o Jewish National Home da declaraçom Balfour).

Mapa do Mandato britânico da Palestina (1920-47)

Na Palestina britânica seguiam a conviver Judeus (sabras), cristãos e muçulmanos (Árabes palestinianos). Porém, o maior número de Judeus estava espalhado por todo o mundo desde a Diáspora decretada por Hadriano. Seis milhões deles foram exterminados durante o Holocausto nazista.

Como compensaçom e em resposta às reclamações que o movimento sionista vinha fazendo desde o seculo XIX, em 1947 a ONU aceitou a criaçom do Estado de Israel na Palestina, para o qual Judeus de todo o mundo poderiam emigrar. Em 14 de maio de 1948 é estabelecido o Estado de Israel como pais moderno sob o nome reutilizado do reino judeu do norte.

A Liga Árabe nom aceitou e declarou a primeira guerra, que perdeu em 1949. Como também perdeu as guerras de extermínio contra Israel declaradas em 1967 e 1973. Em 15 de dezembro de 1988, a Resoluçom 43/177 da Assembleia Geral da ONU reconheceu a Declaraçom de Independência Palestiniana de novembro de 1988 e substituiu a designaçom "Organizaçom para a Libertaçom da Palestina" por "Palestina" no sistema das Nações Unidas.

Em 2005 Israel retirou-se da Faixa de Gaza, que nom é, portanto, um território ocupado. Os ataques palestinianos nom pararam antes, durante ou depois, ceifando muitas vidas como aconteceu o passado 7 de outubro.

O Israel moderno abrange apenas umha parcela da terra pertencente aos reinos originais dos Judeus.

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