domingo, 12 de setembro de 2021

INAUGURADO MEMORIAL DO POVO JUDEU EM VILARINHO DOS GALEGOS

 Hoje foi inaugurado um monumento em memória do povo Judeu de Vilarinho dos Galegos (Mogadouro) em honra à herança judaica e o património cultural da terra, ficando a memória judaico transmontana mais rica e avivada.

O monumento consiste numha Menorá localizada na entrada da povoaçom e mostra o texto dumha oraçom judia recolhida em Vilarinho dos Galegos em 1933 ou 1934 por Moisés Abrantes, Moreh, publicada no Jornal Ha-Lapid em 1934 (de Antero Neto 2016).


Em memória do Povo Judeu de Vilarinho

O senhor me dê bons dias

e boas manhãs e boas horas alvas,

claras, ricas e boas.

Paz e liberdade a todo o mundo!

Assim como o  senhor apartou o dia da noite,

aparte nossa alma de manchas e pecados,

o corpo de inquisições e trabalhos.

De todos os trabalhos e perigos me queira

livrar

pela nossa misericórida santa do senhor.

Ámen.

No evento houve intervenções de vários historiadores, habitantes e representantes da Rede de Judiarias, músicas e mais. Entre os oradores estiveram o Presidente da Junta de Freguesia, Jorge Alves Ferreira, António Júlio Andrade e Antero Neto, bem como Maria Colzelmann (mecenas do monumento), Isabel Ferreira Lopes e Afonso Maganeta.


Como referido, entre os convidados esteve António Júlio Andrade, vereador na Câmara Municipal de Torre de Moncorvo. 

A seguir reproduzimos um resumo do seu breve depoimento:

Possivelmente, nengumha regiom de Portugal tem desenvolvido e publicado estudos sobre as suas raizes judaicas como o noreste transmontano.

Para além de muitas obras antigas e modernas, de Alexandre Herculano até Barros Basto, Elvira Mea e muitos outros estudosos contemporâneos, alguns dos quais estám hoje aqui. 

Devo dizer que para a publicaçom dumha dúzia de livros, duas dúzias de artigos em revistas e sobre quatrocentas páginas de jornais, Fernanda Guimarães e eu tivemos de ler cerca de 1500 processos da Inquisiçom, durante vinte anos.

Ao mesmo tempo, o Nordeste Transmontano está a ser dotado de centros de documentaçom, espaços museísticos e monumentos em memória dos seus Judeus.

Lembro:

- O Museu Judaico de Carção. O mais genuino e autêntico de todos. Foi desenhado e construído pola gente do povo, sem qualquer ajuda. Todos os objetos expostos pertencem ao povo, foram oferecidos pola gente da terra, que os guardaram religiosamente durante séculos, junto com orações, canções, hábitos alimentares e costumes judaicos. E o Museu nasceu e cresceu a partir do estudo dos processos da Inquisiçom e a publicaçom do livro Carção Capital do Marranismo, em 2007.

- O Centro de Interpretaçom da Cultura Sefardita no Nordeste Transmontano e o Memorial Bragança Sefardita, ambos na cidade de Bragança, inaugurados no verão de 2016, durante um congreso de estudos sefarditas.

- A Rota dos Judeus, em Torre de Moncorvo, que se desenrola entre a antiga Sinagoga e a Casa dos Jesuitas, onde se instalou o inquisidor Jerónimo de Sousa em 1583, durante a primera grande embestida do santo oficio em Torre de Moncorvo e outros locais no Nordeste Trasmontano, inaugurado oficialmente no verão de 2021.

E hoje, em Vilarinho dos Galegos, estamos a criar outro monumento desta Rota dos Judeus em Trás-os-Montes.

Tenho grandes esperanças de que os exemplos dêm os seus frutos e que umha verdadeira Rede de Centros de Documentaçom anime umha Rota de Turismo Cultural que achegue a pessoas do Brasil e do exterior a este Trasmontano Patológico 

Sim, disse: Nordeste Transmontano Patológico, porque, carregando umha grande história, umha herança cultural tam importante, ainda nom podemos traçar umha Rota de Turismo Cultural a partir desta memória e deste património que coloca a nossa comarca no mapa de viagens turísticas.

Meus caros amigos. Os transmontanos levamos lembranças da maravilhosa aventura dos sefarditas que construiram o mundo moderno.

Os Judeus que fugiram de Trás-os-Montes foram grandes em todo o mundo.

Chegou o momento de que os sefarditas de todo o mundo descubram esta terra "prometida" de Sefarad, que os seus antepassados ​​se viram obrigados a abandonar devido à intolerância religiosa e política.

Depende de nós ter a casa arrumada para os poder receber. É assim que se constrói um futuro de cultura e progresso.


Sem comentários:

Enviar um comentário