sábado, 2 de janeiro de 2021

NOVO MANIFESTO ANTISSIONISTA GALEGO

 Nos países de cultura religiosa cristã, como a Galiza, o período natalício é aproveitado para manifestar os sentimentos mais piedosos. Assim sendo, motivados polo "sentido da justiça", deu-se a conhecer um Manifesto Galego pola Integridade da Palestina promovido pola Asociación Galaico-Árabe Jenin, BDS Galiza e polo Comité Galego de Solidariedade Internacionalista "Mar de Lumes".

Logo a seguir, aderiram ao manifesto umha quarentena de organizações políticas, sociais e sindicais situadas nas coordenadas políticas do nacionalismo galego institucional (BNG/UPG), do independentismo de esquerdas (Agora Galiza-Unidade Popular e Causa Galiza) e da esquerda espanhola operante na Galiza (Anticapitalistas Galiza, Comité Galego do PCE-ML, Izquierda Unida, Partido Comunista de Galicia, Partido Comunista do Povo Galego e Partido Comunista dos Traballadores da Galiza).

Entidades promotoras do Manifesto

O Comité Galego de Solidariedade Internacionalista "mar de lumes" é umha entidade que, de forma sistemática, aplica o duplo critério relativamente a Israel; isto é, criticar Israel e apenas Israel em certas questões, optando por ignorar situações semelhantes ou piores noutros países. Assim sendo, nunca se ouviu nengumha crítica às políticas de colonizaçom aplicadas pola China a respeito do Turquestám Oriental (regiom autónoma de Sinquiám) ou ao Tibete, onde, em consequência do processo de substituiçom étnica continuada, a populaçom nativa foi superada polos colonos chineses. No caso dos palestinianos esta discriminaçom é maior, ao chegar a ignorar completamente mesmo as vítimas palestianas assassinadas polo regime sírio da dinastia al-Assad, que chegou a atacar os campamentos de refugiados palestinianos de Yarmouk, Daraa ou Husseinieh, controlados pola organizaçom da Resistência Hamas.

A “Asociación Galaico-Árabe Jenin” é umha entidade vinculada à Fundación Araguaney Puente de Culturas. Esta Fundaçom, promovida polo Grupo Araguaney, faz parte do projeto empresarial do empreiteiro Ghaleb Jaber Ibrahim. De origem palestiniana, este empresário do setor hoteleiro e da produçom audiovisual, tem-se caracterizado por espalhar um discurso demonizador de Israel.

Assim sendo, com motivo dos últimos atentados islamistas de Barcelona de 17 de agosto de 2017, numha entrevista ao jornal El Correo Gallego, Ghaleb Jaber Ibrahim chegou a acusar os israelitas de organizar esses atentados na Catalunha para desestabilizá-la. "Porque na Catalunha? Porque desde o início do processo de independência contam com o assessoramento israelita, seguem a mesma metodologia", referiu o empresário de origem palestiniana, residente na Galiza desde há 50 anos. Esta grave acusaçom, que visa deslegitimar o movimento nacional catalão, foi noticiada pola agência de propaganda iraniana HispanTV.

O BDS é a delegaçom na Galiza desse movimento anti-Israel cujas ações lembram os boicotes históricos contra os Judeus. Nom por acaso, em maio de 2019, o Bundestag alemao aprovou umha resoluçom afirmando que o BDS era "umha reminiscência do capítulo mais terrível da história alemã" que lembra o slogan nazista "Nom compre de Judeus”.

Retórica do novo antissemitismo

Com certeza, a escrita desse Manifesto Galego está cheia de estereótipos sinistros e traços de caráter negativos sobre Israel. Eis alguns exemplos:

Nas terras da Palestina, o sionismo, o racismo, o apartheid, que levam décadas a avançar reptando sobre as vítimas que sementam...

dentro da lógica do supremacismo israelita, dentro da lógica do seu funcionamento como ponta de lança do imperialismo contra os povos árabes

a entidade sionista [fórmula usada pola teocracia iraniana em referência a Israel]

plano de substituiçom étnica

Gaza como campo de concentraçom para dous milhons de pessoas

A ocupaçom da Palestina é um crime contra a humanidade.

afirmamos a nossa adesom completa aos princípios da campanha internacional de boicote, desinvestimentos e sançons (BDS) contra o estado de Israel

e afirmamos o nosso compromisso com o povo palestiniano e com o seu direito à resistência.

Estes elementos confirmam que nom estamos perante a crítica das políticas dum estado, mas num exemplo de como o antissionismo frequentemente acocha o chamado novo antisemitismo definidos no Teste 3D de identificaçom do antissemitismo.

Estranhos companheiros de viagem

Para atacar Israel as organizações do nacionalismo institucional e do independentismo galego assinantes do referido manifesto nom duvidam em colaborar lado a lado com organizações políticas e sociais da esquerda espanholista operante na Galiza. Todo um leque de organizações que historicamente se têm caracterizado por negar o direito de autodeterminaçom da Galiza. Paradoxalmente, essas organizações dizem apoiar movimentos de libertaçom de nações fora do domínio de Madrid no que é um exercício de hipocrisia politica muitas vezes denunciada polo independentismo catalão.

 

Galiza-Palestina: umha história de amor nom correspondida

Do ponto de vista nacionalitário, nom deixa de surpreender a solidariedade militante das organizações nacionalistas e independentistas galegas com o movimento árabe da Palestina. Polo contrário, em repetidas ocasiões os representantes da Palestina mostraram o seu apoio à unidade do Reino de Espanha, quer os seus diplomatas em Madrid, quer as suas principais lideranças.

Umha dessas manifestações em prol da unidade de Espanha produziu-se com motivo do processo independentista protagonizado pola Catalunha no ano 2017. Nessa ocasiom, o Presidente da Autoridade Nacional Palestiniana apoiou explicitamente a unidade de Espanha perante o “desafio” do independetismo catalão. Aquela proclamaçom espanholista provocou o protesto formal do porta-voz de ERC no Parlamento espanhol.

Polo contrário, nessa altura o Estado de Israel foi um dos poucos países que rejeitou condenar a declaraçom unilateral de independência da Catalunha de 27 de outubro de 2017 e um dos poucos a nom aderir ao pedido, formulado polo Reino de Espanha, de defesa pública da unidade territorial de Espanha. A neutralidade de Israel no quadro do processo independentista catalão provocou, tal como noticiou recentemente o jornal El País, um prolongado distanciamento diplomático entre Espanha e o Estado judeu. 

Cada povo é que escolhe o seu caminho cara a liberdade. Nesse sentido, para o nacionalismo catalão, tal como referiu o Presidente catalão no exilo, Carles Puigdemont, a experiência de Israel é um modelo a seguir para a sobrevivência das pequenas nações como a Catalunha ou a Galiza. 

Presidente Puigdemont sobre Israel

Presidente Torra sobre Israel

Mágoa que o antissionismo, talvez máscara do novo antissemitismo, dos atuais representantes do movimento nacional galego seja mais forte do que a vontade de construir umha naçom livre.


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