Moishe Postone
Estas considerações levam-nos ao conceito marxiano de fetiche, cuja intençom estratégica era de fornecer umha teoria sócio-histórica do conhecimento alicerçada na distinçom entre a essência das relações sociais capitalistas e as suas formas manifestas. Subjazente ao conceito de fetiche está a análise marxiada da mercadoria, do dinheiro e do capital, nom enquanto simples categorias económicas, mas antes como formas de relações sociais específicas que caracterizam essencialmente o capitalismo. Nesta análise, as formas capitalistas das relações socias nom aparecem como tal, mas apenas se exprimem sob umha forma objetivada. No capitalismo, o trabalho nom é apenas umha atividade produtiva social ("trabalho concreto"), mas atua igualmente, no lugar das relações sociais abertas, como mediaçom social ("trabalho abstrato"). Assim sendo, o seu produto, a mercadoria, nom é apenas um produto no qual está objetivado o trabalho concreto; é também umha forma de relações sociais objetivadas. No capitalismo, o produto nom é um objeto mediado socialmente por formas transparentes de relações sociais e de dominaçom. A mercadoria, enquanto objetivaçom das duas dimensões do trabalho no capitalismo, é a sua própria mediaçom social. A mercadoria possui, portanto, um "duplo carácter": valor e valor de uso. Enquanto objeto, a mercadoria expressa e ao mesmo tempo oculta relações sociais que nom possuem qualquer outro modo "independente" de expressom. Este modo de objetivaçom das relações sociais é a sua alienaçom. As relações sociais fundamentais do capitalismo adquirem umha vida própria quase-objetiva. Elas constituem umha "segunda natureza", um sistema de dominaçom e de constrangimento abstratas que, embora social, é impessoal e "objetivo". Estas relações nom parecem ser sociais de todo, mas naturais. Ao mesmo tempo, as formas categoriais exprimem umha concepçom particular, socialmente constituída, da natureza em termos dum comportamento objetivo, regrado e quantificável dumha essência qualitativamente homogênea. As categorias marxianas expressam simultaneamente relações sociais particulares e formas de pensamento. O conceito de fetiche refere-se a formas de pensamento baseadas em percepções que ficam prisioneiras às formas de aparência das relações sociais capitalistas (7).
Estas considerações levam-nos ao conceito marxiano de fetiche, cuja intençom estratégica era de fornecer umha teoria sócio-histórica do conhecimento alicerçada na distinçom entre a essência das relações sociais capitalistas e as suas formas manifestas. Subjazente ao conceito de fetiche está a análise marxiada da mercadoria, do dinheiro e do capital, nom enquanto simples categorias económicas, mas antes como formas de relações sociais específicas que caracterizam essencialmente o capitalismo. Nesta análise, as formas capitalistas das relações socias nom aparecem como tal, mas apenas se exprimem sob umha forma objetivada. No capitalismo, o trabalho nom é apenas umha atividade produtiva social ("trabalho concreto"), mas atua igualmente, no lugar das relações sociais abertas, como mediaçom social ("trabalho abstrato"). Assim sendo, o seu produto, a mercadoria, nom é apenas um produto no qual está objetivado o trabalho concreto; é também umha forma de relações sociais objetivadas. No capitalismo, o produto nom é um objeto mediado socialmente por formas transparentes de relações sociais e de dominaçom. A mercadoria, enquanto objetivaçom das duas dimensões do trabalho no capitalismo, é a sua própria mediaçom social. A mercadoria possui, portanto, um "duplo carácter": valor e valor de uso. Enquanto objeto, a mercadoria expressa e ao mesmo tempo oculta relações sociais que nom possuem qualquer outro modo "independente" de expressom. Este modo de objetivaçom das relações sociais é a sua alienaçom. As relações sociais fundamentais do capitalismo adquirem umha vida própria quase-objetiva. Elas constituem umha "segunda natureza", um sistema de dominaçom e de constrangimento abstratas que, embora social, é impessoal e "objetivo". Estas relações nom parecem ser sociais de todo, mas naturais. Ao mesmo tempo, as formas categoriais exprimem umha concepçom particular, socialmente constituída, da natureza em termos dum comportamento objetivo, regrado e quantificável dumha essência qualitativamente homogênea. As categorias marxianas expressam simultaneamente relações sociais particulares e formas de pensamento. O conceito de fetiche refere-se a formas de pensamento baseadas em percepções que ficam prisioneiras às formas de aparência das relações sociais capitalistas (7).
Quando considerarmos as características específicas do poder atribuido aos Judeus polo antissemitismo moderno (abstraçom, intangibilidade, universalidade e mobilidade) é impressionante que as mesmas sejam todas características da dimensom de valor das formas formas sociais analisadas por Marx. Aliás, esta dimensom, tal como o suposto poder dos Judeus, nom aparece como tal, mas sempre na forma dum veículo material: a mercadoria.
Chegados aqui, gostaria de começar por umha análise breve da maneira como as relações sociais se apresentam. Vou portanto tentar explicar a personificaçom descrita acima e esclarecer o porque de o antissemitismo moderno, que se opôs a tantos aspetos da "modernidade", ser manifestamente omisso, ou mesmo otimista, no tocante ao capital industrial e à tecnologia moderna.
Chegados aqui, gostaria de começar por umha análise breve da maneira como as relações sociais se apresentam. Vou portanto tentar explicar a personificaçom descrita acima e esclarecer o porque de o antissemitismo moderno, que se opôs a tantos aspetos da "modernidade", ser manifestamente omisso, ou mesmo otimista, no tocante ao capital industrial e à tecnologia moderna.
Comecemos com um exemplo da forma-mercadoria. A tensom dialéctia entre valor e valor de uso da forma-mercadoria implica que este "duplo carácter" seja exteriorizado materialmente na forma-valor. Assim sendo, aparece "duplicado" enquanto dinheiro (a forma manifesta do valor) e enquanto mercadoria (a forma manifesta do valor de uso). Embora a mercadoria seja umha forma social que expressa tanto o valor como o valor de uso, o resultado desta exteriorizaçom é que a mercadoria aparece apenas como a sua dimensom de valor de uso, como algo puramente material e "corpóreo". O dinheiro, por outro lado, aparece entom como o único depósito do valor, como a manifestaçom do puramente abstrato em vez de se apresentar como a forma manifesta exteriorizada da dimensom de valor da própria mercadoria. A este nível de análise, a forma de relações sociais materializadas específicas do capitalismo, aparece como a oposiçom entre o dinheiro, a natureza abstrata e a natureza "corpórea".
Um dos aspectos do fetiche é, portanto, o facto de as relações sociais capitalistas nom aparecem como tal e, para além disso, apresentam-se de forma antinómica, como a oposiçom entre o abstrato e o concreto. Dado que, adicionalmente, ambos os lados da antinomia som objetivados, cada um deles parece ser como quase-natural. A dimensom abstrata aparece sob a forma de leis naturais abstratas, "objetivas" e universais; a dimensom concreta aparece como natureza puramente "corpórea". A estrutura das relações sociais alienadas que caracterizam o capitalismo apresenta a forma dumha antinomia quase-natural, na qual o social e o histórico nom aparecem. Esta antinomia acha-se na oposiçom entre o modelo de pensamento positivista e o romântico. A maior parte das análises críticas do pensamento fetichizado tem-se concretado naquela corrente da antinomia que hipostasia o abstracto como trans-histórico, o chamado pensamento positivo "burguês", e, portanto, mascara o carácter social e histórico das relações existentes. Neste ensaio, centrar-me-ei na outra corrente, aquela que inclui as formas romantismo e revolta que, achando-se antiburguesas, na realidade hipostasiam o concreto e, portanto, ficam cativas da antinomia produzida polas relações sociais capitalistas.
As formas de pensamento anticapitalista cativas da imediateza desta antinomia tendem a encarar o capitalismo, e tudo aquilo que é específico a essa formaçom social, apenas em funçom das manifestações da dimensom abstrata da antinomia. Assim, por exemplo, o dinheiro é considerado como a "raíz de todo o mal". A existência da dimensom concreta é-lhe entom positivamente oposta como o "natural" ou ontologicamente humano, que presumivelmente se situa para além da especificidade da sociedade capitalista. Deste modo, tal como sucede em Proudhon, por exemplo, o trabalho concreto é compreendido como um momento anti-capitalista por oposiçom ao carácter abstrato do dinheiro (8). O facto de o próprio trabalho concreto corporificar as relações sociais capitalistas nom é compreendido.
Com a evoluçom posterior do capitalismo, da forma-capital e do fetiche ligado a ele, a naturalizaçom imanente ao fetiche-mercadoria adota novas dimensões. Do mesmo jeito que a forma-mercadoria, a forma-capital é caracterizada pola relaçom antinómica entre o concreto e o abstrato, ambos aparecendo como algo de natural. Mas a qualidade do "natural" é diferente. Ligada ao fetiche-mercadoria está a noçom do carácter de legalidade, em última análise, das relações entre unidades individuais autónomas, tal como som expressas, por exemplo, pola economia política clássica ou pola teoria da lei natural. O capital, consoante Marx, é o valor que se autovaloriza. É caracterizado por um processo contínuo, incessante, de autoexpansom do valor. Este processo submete-se a ciclos rápidos, em grande escala, de produçom e consumo, criaçom e destruiçom. O capital nom possui umha forma definitiva, mas aparece em diferentes etapas do seu percurso em espiral, quer sob a forma de dinheiro, quer sob a forma de mercadorias. Enquanto valor que se autovaloriza, o capital aparece como processo puro. A sua dimensom concreta muda em conformidade. Os trabalhos individuais já nom constituem unidades independentes. Eles tornam-se a cada vez mais componentes celulares dum enorme sistema dinâmico e complexo que abrange as pessoas e as máquinas e que está direcionado para um fim, nomeadamente, a produçom pola produçom. Esta totalidade social alienada torna-se maior do que a soma dos seus indivíduos constituintes e possui um fim externo a si mesma. Esse fim é um processo nom finito. A forma capital das relações sociais tem um carácter cego, processual, quase-orgânico.
Com a crescente consolidaçom da forma capital, a visom do mundo mecanicista dos séculos XVII e XVIII começa a ceder; um processo orgânico começa a suplantar a estase mecânica enquanto forma do fetiche. A teoria orgânica do Estado e a proliferaçom de teorias raciais e a ascensom do darwinismo social no final do século XIX som exemplos desta tendência. A sociedade e o processo histórico som a cada vez mais compreendidos em termos biológicos. Nom vou desenvolver mais este aspecto do fetiche do capital. Para o que nos interessa, o que deve ser notado som as implicações da maneira como o capital é apreendido. Como indicámos anteriormente, no nível lógico da análise da mercadoria, o "duplo carácter" permite à mercadoria aparecer como umha entidade puramente material e nom como a objetivaçom de relações sociais mediadas. Dum modo semelhante, permite ao trabalho concreto aparecer como um processo puramente criativo, material, separável das relações sociais capitalistas. No plano lógico do capital, o "duplo carácter" (processo de trabalho e processo de valorizaçom) permite que a produçom industrial apareça como um processo puramente criativo, material, separável do capital. A forma manfiesta do concreto é agora mais orgânica. O capital industrial pode, portanto, aparece como o descendente linear do trabalho artesanal "natural", como estando "enraizado organicamente", por oposiçom ao capital financeiro "desenraizado" e "parasitário". A organizaçom do primeiro aparece relacionada com aquela da guilda; o seu contexto social é apreendido como umha unidade orgânica superior: Comunidade, Povo, Raça. O próprio capital, ou aquilo que é entendido como o aspecto negativo do capitalismo, é entendido apenas em termos da forma manifesta da sua dimensom abstracta: a finança e o capital que rende juros. Neste sentido, a interpretaçom biológica, que contrapõe a dimensom concreta (do capitalismo), como "natural" e "saudável", à negatividade do que é assumido ser o "capitalismo", nom contradiz a glorificaçom do capital industrial e da tecnologia. Ambos constituem o lado "corpóreo" da antinomia.
Habitualmente todo isto é compreendido de jeito errôneo. Por exemplo, Norman Mailer, ao defender o neo-romantismo (e o sexismo), escreve em "O Prisioneiro do sexo" (9) que Hitler falava em sangue, com certeza, mas construiu a máquina. A questom é que, neste tipo de "anticapitalismo" fetichizado, tanto o sangue quanto a máquina som vistos como os contra-princípios concretos do abstrato. O acento positivo na "natureza", no sangue, no solo, no trabalho concreto e na Comunidade, pode ser facilmente acompanhada por umha glorificaçom da tecnologia e do capital industrial (10). Esta forma de pensamento, portanto, nom se deve conceber como anacrónica, como a expressom dum nom-sincronismo histórico (11), do mesmo jeito que a ascensom das teorias raciais no final do século XIX nom se deve ser encarada como atávica. Historicamente trata-se de formas de pensamento novas que nom representam a renascença dumha forma anterior. É por causa da sua ênfase na natureza biológica que elas aparem como atávicas ou anacrónicas. Porém, este acento na natureza biológica está ligado ao fetiche-capital. A viragem para a biologia e o desejo dum retorno às "origens naturais", combinados com umha afirmaçom da tecnologia, que aparecem em inúmeras formas no início do século XX, devem ser entendidos como expressões do fetiche antinómico que dá origem à ideia de que o concreto é "natural", e que apresenta crescentemente o socialmente "natural" de tal maneira que é apreendido em termos biológicos.
A hipostasiaçom do concreto e a identificaçom do capital com o abstrato manifesto subjaz a umha forma de "anticapitalismo" que procura superar a ordem social existente dum ponto de vista que, na verdade, permanece imanente a essa mesma ordem. Na medida em que esse ponto de vista é a dimensom concreta, esta ideologia tende a apontar para umha forma de síntese social capitalista aberta, mais concreta e organizada. Esta forma de "anticapitalismo", portanto, apenas parece ser um olhar saudosista em relaçom ao passado. Enquanto expressom do fetiche do capital, o seu verdadeiro impulso é para a frente. Surge na transiçom do capitalismo liberal para o burocrático e torna-se virulenta numha situaçom de crise estrutural.
Esta forma de "anticapitalismo", entom, é baseada num ataque unilateral ao abstrato. O abstrato e o concreto nom som vistos como constituintes dumha antinomia em que a superaçom do abstrato, da dimensom do valor, envolve a superaçom histórica da própria antonimia, assim como de cada um dos seus termos. Ao invés, existe um ataque unilateral à razom abstrata, ou, num outro nível, ao dinheiro e ao capital financeiro. Neste sentido, é completamente antinómica ao pensamento liberal, onde a dominaçom abstrata permanece incontestada e a distinçom entre a razom crítica e positiva nom é efectuada.
O ataque "anticapitalista", contodo, nom permaneceu limitado a um ataque contra a abstraçom. Ao nível do fetiche do capital, nom é apenas o lado concreto da antinomia que pode ser naturalizado e biologizado. A dimensom abstrata manifesta foi igualmente biologizada, equiparada aos Judeus. A oposiçom fetichista entre o material concreto e o abstracto, entre o "natural" e o "artificial", traduziu-se na oposiçom racial entre os arianos e os Judeus historicamente conhecida. O antissemitismo moderno envolve a biologizaçom do capitalismo -que apenas é entendido em termos da sua dimensom abstrata manifesta- enquanto Judaísmo Internacional.
De acordo com esta interpretaçom, os Judeus foram identificados nom apenas com o dinheiro, com a esfera da circulaçom, mas com o próprio capitalismo. Todavia, em virtude da sua forma fetichizada, o capitalismo nom parecia incluir a indústria e a tecnologia. O capitalismo aparecia apenas como a sua dimensom abstrata manifesta que, pola sua vez, era responsável polas vastas mudanças sociais e culturais concretas associadas ao rápido desenvolvimento do capitalismo industrial moderno. Os Judeus nom eram encarados como meros representantes do capital (situaçom em que os ataques antissemitas teriam sido muito mais específicos em termos de classe). Eles tornaram-se personificações do domínio intangível, destrutivo, imensamente poderoso e internacional do capital enquanto forma social alienada. Certas formas de descontentamento anticapitalista foram direcionadas contra a dimensom abstrata manifesta do capital personificado na forma dos Judeus, nom em virtude de os Judeus serem conscientemente identificados com a dimensom do valor, mas porque, dada a antinomia entre as dimensões abstrata e concreta, o capitalismo aparecia-lhes dessa maneira. A revolta "anticapitalista" foi, consequentemente, também umha revolta contra os Judeus. A superaçom do capitalismo e dos seus efeitos sociais negativos foi associada à supressom dos Judeus (12).
(7) A crítica feita por Marx abrange umha dimensom epistemológica que atravessa todo "O Capital" mas que apenas se explicita no quadro da sua análise da mercadoria. A ideia que as categorias exprimem à vez as relações sociais "reificadas" específicas e formas de pensamento difere essencialmente da principal corrente da tradiçom marxista, que concebe estas categorias em termos de "base económica" e o pensamento em termos de superestrutura, derivada de interesses e de necessidades de classe. Esta forma de funcionalismo nom pode, como tenho dito, explicar de maneira adequada a nom-funcionalidade do extermínio dos Judeus. De maneira mais geral, ela nom pode explicar porque umha forma de pensamento -que, com efeito, pode servir o interesse de certas classes ou grupos sociais-, reveste esse conteúdo e nom outro. Isto serve igualmente para a ideia saída do Iluminismo segundo a qual a ideologia (e a religiom) seria o produto dumha manipulaçom deliberada. Para que umha determinada ideologia alastre, é preciso que possua umha resonância cuja origem seja a explicar. De resto, a ótica marxiana, desenvolvida por Lukács, a Escola de Francoforte e Sohn-Rethel, opõe-se às reações unilaterais contra o marxismo tradicional, que renunciaram a qualquer tentativa séria de explicaçom historica das formas de pensamento, e considera qualquer aproximaçom deste tipo como "reducionista".
(8) Proudhon, que na sua perspectiva pode ser considerado como um dos precursores do antissemitismo moderno, achava entom que a aboliçom do dinheiro, da mediaçom fenomenal, bastaria com abolir as relações capitalistas. Mas o capitalismo caracteriza-se polas relações sociais mediatizadas, objetivadas nas formas categoriais das quais o dinheiro é umha das expressões e nom a causa. Noutros termos, Proudhon confundiu a forma fenomenal do capitalismo, o dinheiro como objetivaçom do abstrato, com a essência do capitalismo.
(9) Norman Mailer, Prisioneiro do Sexo, Robert Laffont, 1971.
(10) As teorias que apresentam o nacional-socialismo como "antimoderno" ou "irracionalista" nom podem explicar a interaçom destes dous momentos. A noçom do "irracionalismo" tende a nom pôr em causa o "racionalismo" dominante e nom pode, portanto, explicar a relaçom positiva que umha ideologia "irracionalista" e "biológica" tem com a rácio da indústria e da tecnologia. A noçom de "antimoderna" ignora os aspetos muito modernos do nacional-socialismo e nom pode explicar por que este apenas ataca certos aspectos da "modernidade" e negiglencia outros. Na verdade, estas duas análises som unilaterais e representam apenas umha dimensom, a dimensom abstrata da antinomia/contradiçom descrita acima. Estas tendem a defender de forma acrítica a "modernidade" e a "racionalidade" nom fascistas dominantes. Estas também abrim a porta para o surgimento de novas críticas unilaterais (de esquerda desta vez), como as de Michel Foucault ou de André Glucksmann, que apenas representam a civilizaçom capitalista moderna em funçom do abstrato. Nom apenas todas essas abordagens impedem umha teoria do nacional-socialismo que possa fornecer umha explicaçom adequada da relaçom do "sangue" e da "máquina", mas ainda, som incapazes de mostrar que a oposiçom do concreto e do abstrato, da razom positiva e da "irracionalidade" nom define os parâmetros dumha escolha absoluta, mas que os termos dessas oposições estám interrelacionados como as expressões contraditórias/antinómicas de formas fenomenais duais da mesma essência: as relações sociais características da formaçom social capitalista. (Neste sentido, a destruiçom da Razom, escrita por Lukács sob o choque da brutalidade indizível dos nazistas, mostra umha regressom em relaçom às visões críticas sobre as contradições (antinomias) do pensamento burguês que ele desenvolvera na História e consciência de classe Vinte e cinco anos antes). Essa abordagem mantém a antinomia em vez de a ultrapassar teoricamente.
(11) Este conceito utilizado por Ernst Bloch em "Héritage de ce temps" explica o antissemitismo moderno por um embate entre as formas de consciência atrasadas, arcaicas, inadaptadas à sociedade moderna, por umha parte, e as formas de consciência massificadas, reificadas, típicas da sociedade moderna, por outro lado.
(12) Para explicar por que o antissemitismo moderno alcançou níveis tam diferentes entre um país e outro, e por que se tornou hegemônico na Alemanha, caberia naturalmente substituir a argumentaçom acima desenvolvida no contexto histórico e social de cada país. No que diz respeito à Alemanha, um ponto de partida seria o desenvolvimento extremamente rápido do capitalismo industrial e o crescimento dos deslocamentos sociais que isto causou, bem como a ausência dumha revoluçom burguesa anterior com os seus valores liberais e a sua cultura política. A história da França, do caso Dreyfus ao regime de Vichy, no entanto, mostra que umha revoluçom burguesa precedente da industrializaçom nom parece ser umha condiçom suficiente de "imunidade" contra o antissemitismo moderno. Além disso, o antissemitismo moderno nom alastrou muito na Grã-Bretanha, embora as teorias raciais e o darwinismo social tenham lá sido também dominantes como no continente. Umha das diferenças pode ser o grau e o tipo de dominaçom do abstrato social no início da industrialização. Entom poder-se-ia conceituar a forma de socializaçom na França colocando-o entre a da Grã-Bretanha e a da Prússia. Esta caracteriza-se por umha forma particular de "dominaçom dupla", a da mercadoria e a da burocracia estatal. Embora as duas sejam formas racionalizadas, porém, diferem no nível de abstraçom com que mediatiza a dominaçom. Talvez exista lá umha relaçom entre a concentraçom institucional e a dominaçom concreta, como a burocracia estatal (incluindo militares e policiais) e a Igreja, no primeiro capitalismo e o grau em que a dominaçom abstrata do capital foi entom vista nom apenas como umha ameaça, mas como algo misterioso e estranho.
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Este ensaio foi publicado por Moishe Postone em 1986 (em "Germans and Jews since the Holocaust: The Changing Situatin in West Germany", edições Holmes&Meier, pp. 302-314).
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