Moishe Postone
Embora a ligaçom íntima entre o tipo de "anticapitalismo" que impregnou o nacional-socialismo e o antissemitismo tenha sido indicada, resta a questom do porque de a interpretaçom biológica da dimensom abstrata do capitalismo se ter centrado nos Judeus. No contexto europeu, esta "escolha" nom foi de jeito algum fruto do acaso. Os Judeus nom poderiam ter sido substituídos por qualquer outro grupo. As razões disso som múltiplas. A longa história do antissemitismo na Europa e a respetiva identificaçom do judeu ao dinheiro som muito conhecidas. A rápida expansom do capital industrial ao longo dos três últimos decênios do século XIX coincidiu com a emancipaçom política e cívica dos Judeus na Europa Central. Assistiu-se a umha verdadeira proliferaçom dos Judeus nas universidades, as profissões liberais, o jornalismo, as belas-artes e o comércio a retalho. Os Judeus tornam-se rapidamente visíveis na sociedade civil, particularmente em esferas e profissões em expansom e que eram associadas à nova forma que a sociedade estava a adoptar.
Poder-se-iam referir ainda mais outros factores, mas há um que pretendo realçar. Tal como a mercadoria, entendida enquanto forma social, exprime o seu "duplo carácter" na oposiçom exteriorizada entre o abstracto (dinheiro) e o concreto (mercadoria), também a sociedade burguesa se caracteriza pola divisom entre o Estado e a sociedade civil. Para o indivíduo, esta separaçom apresenta-se como umha entre o indivíduo como cidadão e a pessoa. Como cidadão, o indivíduo é abstrato. Isto exprime-se, por exemplo, na ideia da igualdade de todos perante a lei (abstrato) ou no princípio "um homem, um voto". Como pessoa, o indivíduo é concreto , inserido nas relações de classe reais que som consideradas "privadas", quer dizer, pertencentes à sociedade civil que nom possuem qualquer expressom política. Porém, na Europa o conceito de naçom enquanto entidade puramente política, abstraída da substancialidade da sociedade civil, nunca foi plenamente realizada. A naçom nom era apenas umha entidade política, era também concreta, determinada por umha comunidade de língua, de história, de tradições e de religiom. Neste sentido, o único grupo na Europa que cumpria a determinaçom de cidadania como abstraçom política pura, eram os Judeus emancipados politicamente. Eles eram cidadãos alemãos ou franceses, mas nom eram realmente Alemãos ou Franceses. Eles pertenciam abstratamente à naçom, mas raramente em concreto. Aliás, eles eram cidadãos da maioria dos países europeus. A qualidade de abstraçom, característica nom apenas da dimensom do valor no seu imediatismo, mas também, mediatamente, do Estado e lei burgueses, tornou-se intimamente associada aos Judeus. Numha época em que o concreto era exaltado contra o abstrato, contra o "capitalismo" e o Estado burguês, esta identificaçom tornou-se numha associaçom fatal. Os Judeus eram desenraizados, cosmopolitas e abstratos.
Embora a ligaçom íntima entre o tipo de "anticapitalismo" que impregnou o nacional-socialismo e o antissemitismo tenha sido indicada, resta a questom do porque de a interpretaçom biológica da dimensom abstrata do capitalismo se ter centrado nos Judeus. No contexto europeu, esta "escolha" nom foi de jeito algum fruto do acaso. Os Judeus nom poderiam ter sido substituídos por qualquer outro grupo. As razões disso som múltiplas. A longa história do antissemitismo na Europa e a respetiva identificaçom do judeu ao dinheiro som muito conhecidas. A rápida expansom do capital industrial ao longo dos três últimos decênios do século XIX coincidiu com a emancipaçom política e cívica dos Judeus na Europa Central. Assistiu-se a umha verdadeira proliferaçom dos Judeus nas universidades, as profissões liberais, o jornalismo, as belas-artes e o comércio a retalho. Os Judeus tornam-se rapidamente visíveis na sociedade civil, particularmente em esferas e profissões em expansom e que eram associadas à nova forma que a sociedade estava a adoptar.
Com a emancipaçom política e cívica, os Judeus sairam das trevas. |
_______________________
Este ensaio foi publicado por Moishe Postone em 1986 (em "Germans and Jews since the Holocaust: The Changing Situatin in West Germany", edições Holmes&Meier, pp. 302-314).
Sem comentários:
Enviar um comentário