7
de fevereiro
O
governo britânico anuncia que vai terminar o seu mandato na Palestina.
Com
efeito, a multiplicaçom de fatores de pressom sobre a administraçom colonial
britânica na Palestina, com a insistência do governo americano para a imigraçom
de 100 mil judeus, inaceitável para os britânicos diante da já delicada
situaçom com os árabes, a nova política americana, os ataques e sabotagens das
organizações sionistas armadas às suas instalações e o aumento da imigraçom
ilegal, levaram a esta decisom da Gram Bretanha.
14
de fevereiro
O
governo britânico anuncia que irá encaminhar o problema do futuro da Palestina
às Nações Unidas para que fossem formuladas "recomendações relativas ao
futuro Governo da Palestina".
Nesta
altura, todos os países árabes que estiveram sob ocupaçom colonial já eram
independentes, com exceçom da Palestina: o Iraque (Mesopotâmia) conquistou a
sua independência em 1932, o Líbano em 1943, a Síria em 1944 e o Reino da
Jordânia (Transjordânia) em 1946.
Logo
que a Gram Bretanha anunciou a transferência do problema palestiniano para a
ONU, a Organizaçom Sionista Mundial (OSM) solicitou aos EUA que assumissem a
defesa das aspirações nacionais judias, utilizando-se, para isso, a rede de
apoios que constituíra anteriormente junto a numerosos membros do Congresso e
Senado americanos.
Nesta
altura o movimento sionista modificou um pouco o seu discurso, abandonando
temporariamente a reivindicaçom explícita por um Estado judeu, para a
substituir por outra que enfatizava o "cumprimento do Mandato", isto
é a Declaraçom de Balfour, e o apoio às "aspirações nacionais dos
judeus". Antes do tratamento pola ONU da questom palestiniana, diplomatas
soviéticos em Washington e Nova Iorque solicitaram informaçom e material às
organizações judias americanas e sionistas.
12
de março
Harry
S. Truman pronuncia diante do Congresso Nacional um violento discurso assumindo
o compromisso de “defender o mundo livre contra a ameaça comunista”. Desta
maneira estava lançada a Doutrina Truman e iniciada a Guerra Fria que propagou
para todo o mundo o forte antagonismo entre os blocos capitalista e comunista.
Logo
a seguir o Secretário de Estado, George Catlett Marshall anuncia a disposiçom
dos EUA de efetiva colaboraçom financeira para a recuperaçom da economia dos
países europeus, propondo a concessom de créditos para a Grécia e a Turquia a
fim de sustentar governos pró-ocidentais.
Março
Num
memorando elaborado polo departamento de Próximo Oriente da delegaçom soviética
na ONU, a URSS nom prevê a criaçom dum Estado judeu, mas “umha única Palestina
independente e democrática que assegurasse que os povos que a habitam
disfrutassem dos mesmos direitos nacionais e democráticos”.
Noutras palavras, a
URSS defende a soluçom do Estado binacional, que era rejeitada polos
sionistas, salvo os palestinos judeus comunistas, o Hashomer Hatsair e alguns
vultos. Os palestinianos árabes comunistas também eram em favor da coexistência
com os judeus num único estado, mas rejeitavam o poder compartilhado num quadro
binacional.
Moscovo
confiava na soluçom de tutela da ONU, já que "nem os árabes, nem os judeus
irám concordar". Nos dias anteriores ao discurso de Andrei Gromyko, o embaixador soviético da URSS no Conselho de
Segurança, a posiçom soviética nom se alterou, mesmo na questom da imigraçom.
Segundo a doutrina soviética, a questom judaica na Europa nom pode ser resolvida
pola imigraçom para a Palestina, mas "apenas com a completa erradicaçom de
todas as raízes do fascismo e a democratizaçom plena dos países da Europa
Ocidental ".
2
de abril
O
governo britânico envia para a Assembleia Geral das Nações Unidas um relatório
da sua administraçom da Palestina sob o mandato da Liga das Nações, pedindo à
Assembleia Geral para fazer recomendações sobre o futuro governo da Palestina.
28
de abril
Inauguraçom
em Nova Iorque do primeiro período de Sessões Especiais da Assembleia Geral da
ONU para examinar a questom da Palestina, tendo como presidente o brasileiro
Oswaldo Aranha. O seu propósito é constituir um Comité Especial para preparar
a questom e apresentá-la, alguns meses mais tarde, nas sessões regulares da
Assembleia.
O
embaixador soviético na ONU, Andrei Gromyko, que recebera novas instruções de
Moscovo para preparar o seu discurso, na sua intervençom assume completamente
umha nova linha. Considerando que durante a Segunda Guerra mundial "o povo
judeu experimentou desastre e sofrimento sem precedentes, deve-se levar em
conta as necessidades dum povo que experimentou tal sofrimento". Gromyko
disse que se devem valorizar duas soluções diferentes: primeiro, a criaçom de
um estado binacional ou, segundo, a partiçom da Palestina se o primeiro se
mostrar inviável em vista da deterioraçom das relações judaico-árabes.
3
de maio
A
delegaçom soviética apoia a demanda da Agência Judaica de ser ouvida na Assembleia
da ONU como representante da populaçom judia da Palestina.
13-14
de maio
Inicia-se
o debate no seio da Assembleia Geral da ONU para o estabelecimento dum Comité
Especial Sobre a Palestina (UNSCOP).
A
Primeira Comissom, presidida polo canadiano Lester Pearson, tinha a incumbência
de definir a composiçom da Comissom Especial das Nações Unidas para a Palestina
(UNSCOP) e o seu mandato, para os quais havia propostas bastante diferentes. A
Arábia Saudita, Egito, Iraque, Líbano e a Síria tentaram em conjunto conduzir a
agenda das discusões para o tema da independência da Palestina. Solicitavam que
fosse estabelecido na agenda o tema "A terminaçom do Mandato na Palestina
e a declaraçom da sua independência", sob o argumento de que tendo a
Sociedade das Nações reconhecido a independência provisória dos Mandatos da
Classe tipo A, e sendo a Palestina a única naçom ainda sob tutela, as Nações
Unidas nom podiam demorar o exame desse tema. As comissões árabes justificaram
o pedido expondo os títulos jurídicos conquistados polos palestinos através da
correspondência Husayn-McMahon e do texto constitutivo do Sistema de Mandatos do
Pacto da Sociedade das Nações.
Um
outro aspecto central das discusões sobre a Comissom, era vincular ou nom o
problema dos refugiados judeus da Segunda Guerra mundial ao problema
palestiniano. O representante sírio reafirmou a posiçom árabe baseando-se numha
das resoluções relativas aos refugiados e pessoas desalojadas da Europa: "A
organizaçom criada para ocupar-se dos refugiados já está estabelecida e
desempenha o seu trabalho. Essa é a organizaçom que deve ocupar-se do
restabelecimento ou repatriaçom dos refugiados da Europa, e nom a comissom
especial que se criará aqui [...] Os árabes da Palestina nom som responsáveis
de forma algumha pola perseguiçom dos judeus na Europa. Essa perseguiçom é
condenada por todo o mundo e os árabes figuram entre os que simpatizam com os
judeus perseguidos. Nom obstante, nom se pode dizer que a soluçom desse
problema incumbe à Palestina, país pequeno que já recebeu um número suficiente
desses refugiados e outros desde 1920. Qualquer delegaçom que deseje demonstrar
simpatia possui no seu país mais espaço do que o que existe na Palestina e
dispõe de maiores facilidades para receber esses refugiados e prestar ajuda".
Nese
sentido, no dia 14 o representante soviético dá um dos discursos mais
surpreendentes da história da diplomacia da URSS. O representante dum regime de
ideologia absolutamente antissionista faz um discurso, que poderia ter sido
feito por um brilhante defensor da causa sionista. Além disso, este apparatchik
da burocracia soviética descreve a situaçom dos judeus na Europa dumha forma
altamente emocional:
“Durante
a última guerra, o povo judeu sofreu excepcional tristeza e sofrimento. Sem
qualquer exagero, essa tristeza e sofrimento som indescritíveis. É difícil
expressá-los nas estatísticas secas sobre as vítimas judias dos agressores
fascistas. Os judeus em territórios onde os hitleristas dominaram foram
submetidos a quase completa aniquilaçom física. [...] Um grande número de
judeus sobreviventes da Europa foram privados dos seus países, as suas casas e
seus meios de existência. Centenas de milhares de judeus estám a vagar em
vários países da Europa, em busca de meios de existência e em busca de abrigo.
Um grande número deles estám em campos de deslocados e ainda continuam a sofrer
de grandes privações”.
Entom,
Gromyko explicou por que o povo judeu tinha o direito de estabelecer o seu
próprio Estado: “A experiência do passado, particularmente durante a Segunda
Guerra mundial, mostra que nengum estado da Europa Ocidental foi capaz de
prover assistência adequada para o povo judeu na defesa de seus direitos e a sua
própria existência da violência dos hitleristas e os seus aliados. Este é um facto
desagradável, mas, infelizmente, como todos os outros fatos, deve-se admitir.
[Este fato] (...) explica as aspirações dos judeus para estabelecer o seu
próprio Estado. Seria injusto nom levar isso em consideraçom e negar o direito
do povo judeu a realizar esta aspiraçom".
Assim,
Gromyko expôs a posiçom soviética sobre a Palestina: a criaçom dum Estado
árabe-judeu democrático ou a partiçom da Palestina em dous estados
independentes. Embora, oficialmente a URSS nom era em favor da partiçom, o
discurso do Gromyko foi um movimento inesperadamente radical. O diplomata
soviético e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros usou tais expressões como
"povo judeu" negado por Lenine e Estaline desde o início do POSDR.
Finalmente,
embora as manifestações em contrário, decidiu-se excluir dos debates da UNSCOP
o tema da independência da Palestina, tomando o seu lugar a discusom sobre um
Estado árabe-judeu ou a divisom em dous Estados, um árabe, outro judeu. O
problema dos refugiados judeus acabou vinculando-se à questom palestiniana. Foi
umha vitória importante para os sionistas.
Os representantes árabes protestaram fortemente e
impugnaram a competência da Assembleia Geral para decidir o futuro da
Palestina, alegando que, mesmo após a promoçom da imigraçom em massa de judeus,
a populaçom árabe da Palestina ainda representava a significativa maioria de
70% e, por isso, tinha direito à independência e à determinar, por conta
própria, a sua constituiçom política.
Líderes
sionistas como Abba Eban saudam a nova orientaçom soviética: "Tal posiçom
foi umha oportunidade incrível, num momento todos os nossos planos em discussom
na ONU foram completamente alterados". Mas eles nom têm qualquer garantia
quanto ao facto de a URSS iria realmente defender finalmente para a partiçom.
15
de maio
Depois
dos debates, aprova-se a constituiçom da UNSCOP (Resoluçom 106), formada por
onze estados (Canadá, Checoslováquia, Guatemala, Países Baixos, Peru, Suécia,
Uruguai, Índica, Irám e Jugoslávia).
Logo
do debate na ONU, David Ben Gurion considerou a compra de armamento como umha
prioridade absoluta da comunidade judia da Palestina e ordenou aos agentes do
Hagana para comprar equipamentos militares a fim de preparar as forças judias
para a guerra.
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