Junho-agosto
A
UNSCOP reune-se em Nova Iorque e visita a Palestina durante o mês de junho,
reunindo-se com as organizações sionistas. O Alto Comité Árabe boicotou a
Comissom, explicando que os direitos naturais dos árabes palestinianos
"eram evidentes” e nom podiam ser objecto de investigaçom, mas sim
mereciam ser reconhecidos com base nos princípios da Carta das Nações Unidas.
Porém, a UNSCOP sim encontrou-se com a Liga Árabe, que mantinha a defesa dos
direitos dos árabes palestinianos.
Em
seguida, dirigiu-se a Genebra, donde enviou umha subcomissom para investigar os campos de refugiados na Alemanha e na Áustria. A subcomissom informou que
a maioria dos refugiados entrevistados declarou que nom estaria pronta a se
estabelecer noutro país que nom fosse a Palestina. Avaliou que a razom disso
era o temor ao antissemitismo europeu e o efeito da propaganda sionista.
Nalguns centros de refugiados era evidente a propaganda sionista influenciando
os refugiados a reivindicar a Palestina. Consoante as informações de Dr.
Sommerfelt, representante da Comissom Preparatória da Organizaçom Internacional
de Refugiados, a "Agência Judaica fazia umha propaganda considerável nos
campos de pessoas desalojadas, com o objetivo de induzir os judeus a emigrarem
para Palestina". No entanto, afirmou que "os que permaneciam nos campos
aceitariam dirigir-se a lugares distintos, se lhes oferecessem tal
oportunidade".
11
de julho
O
navio Exodus abandona o porto de Sète (França) rumo à Palestina cargando 4.515
refugiados judeus.
18
de julho
Quando
o Exodus estava aportando em Gaza é interceptado polas forças britânicas e
levado para Haifa. Embora até entom a política britânica tinha sido deportar
refugiados ilegais apresados para campos de detençom instalados no Chipre, o ministro
dosnegócios estrangeiros britânico, Ernest Bevin, decidiu empregar umha nova
tática para desencorajar a imigraçom clandestina: os refugiados seriam enviados
de volta ao seu ponto de partida original. De acordo com esta política, os
passageiros do Exodus foram reunidos em três navios-prisom britânicos e
enviados de volta para Sete.
Alguns
membros da UNSCOP, que estavam a acompanhar o desenvolvimento do Exodus, estám
presentes no porto de Haifa quando os imigrantes judeus som removidos à força
do navio e deportados de volta para a Europa. O testemunho ocular do reverendo
John Stanley Grauel, que estava no Exodus, teria convencido à UNSCOP de
reverter umha decisom anterior.
Mais
tarde, o reverendo J. Stanley deu um depoimento perante a UNSCOP. O seu
testemunho em primeira mão, foi extremamente eficaz em provocar simpatia e
compreensom pola causa das restrições à imigraçom de refugiados judeus para a
Palestina. Posteriormente Golda Meir referiu-se ao este testemunho como o
primeiro apelo por um "padre, um gentio perfeitamente digno, a priori,
umha testemunha nom judia tinha de ser acreditado".
29
de julho
À
sua chegada ao porto de Sète, os refugiados rejeitam abandonar os navios-prisom
ficando lá encerrados até 22 de agosto.
Julho
O
chefe do ramo europeu da Agência Judaica, Dr. Moshe Sneh (um destacado membro
do centrista Partido Sionista Geral que mais tarde se tornaria no chefe do
Partido Comunista de Israel) faz umha visita para a Checoslováquia, ficando surpreso com a simpatia para com o sionismo e polo interesse na exportaçom de
armamento por parte desse Governo. Sneh reuniu-se com o vice-chanceler Vladimir
Clementis, que sucedeu o nom-comunista e definitivamente pró-sionista Jan
Masaryk.
Sneh
e Clementis discutiram a possibilidade da disposiçom de armamento checo para o
Estado judeu. Masaryk deu a sua aprovaçom, mas ainda havia alguns obstáculos: antes
de mais, ainda nom estava claro que curso levaria a questom Palestina na ONU,
pois o Governo checo apenas estava disposto a vender a umha naçom soberana.
Mas,
durante o verão, os diplomatas soviéticos enviaram alguns sinais positivos aos
representantes sionistas. Assim sendo, o primeiro secretário da embaixada soviética
em Washington, M. Vavilov afirmou a E. Epstein que o governo soviético estava
bem ciente da estrutura social capitalista do Yishuv, mas acreditava que os
judeus estavam a construir umha comunidade pacífica, democrática e progressista
na Palestina. Ele também enfatizou que o governo soviético estava satisfeito
com a reaçom dos judeus em todo o mundo ao discurso de Gromyko. Ao igual que
durante a Segunda Guerra mundial, Moscovo esperava ganhar influência na opiniom
pública judaica mundial, especialmente na judria americana, num momento de
tensom crescente entre o Leste e Ocidente iria levar à divisom do mundo em dous
grandes blocos.
31
de agosto
A
UNSCOP dá a conhecer o seu relatório expondo a tese judia e a árabe:
A
tese judaica defendia o estabelecimento dum Estado judeu na Palestina. Segundo
esta tese, "a fundaçom do Estado judeu e a imigraçom sem restrições estám
ligadas indissoluvelmente". Por um lado, defendeu que o Estado judeu era
necessário para dar abrigo aos judeus refugiados da Europa. Por outro lado,
argumentou que um Estado judeu teria necessidade urgente dos imigrantes para
compensar a diferença numérica em relaçom à populaçom árabe. Os sionistas
reconheciam na sua tese a "dificuldade de transformar toda a Palestina num
Estado judeu, onde os judeus seriam apenas umha minoria, ou de fundar um Estado
judeu numha parte da Palestina, em que, na melhor das hipóteses, teriam quando
muito, umha pequena preponderância. Portanto, a tese judia insiste no direito à
imigraçom por razões tanto políticas quanto humanitárias". A tese judia
fundamentou-se nos direitos que conquistou polos termos do Mandato britânico
que continha a Declaraçom de Balfour.
A
tese árabe defendia a independência imediata da Palestina, reivindicando o
direito "natural" da maioria árabe de "permanecer na posse
indiscutível do seu país, posto que está e tem estado durante muitos séculos em
posse daquela terra". Fundamentaram a sua tese nos direitos "naturais"
do povo que habitou a Palestina, sem interrupçom, desde os primeiros tempos
históricos e nos direitos "adquiridos" através dos acordos feitos
durante a Primeira Guerra mundial, considerando que esses compromissos
reconheciam os direitos políticos dos árabes palestinianos, os quais a Gram
Bretanha teria a obrigaçom contratual de aceitar e defender, e que, até o
momento, nom cumprira. Os árabes também declararam considerar o Mandato, o
qual incorporou a Declaraçom de Balfour, ilegal, negando-se a reconhecer a sua
validade.
Além
dos seus relatórios, a UNSCOP devia emitir as suas recomendações para a soluçom do problema. Por unanimidade recomenda que a Gram Bretanha devia
dar cabo do seu mandato na Palestina e conceder-lhe a independência na data
mais próxima possível. Porém, nom conseguiu chegar a um consenso quanto à
soluçom territorial da questom e umha maioria de 7 membros (Canadá,
Checoslováquia, Guatemala, Países Baixos, Peru, Suécia e Uruguai) contra 3
(Índia, Irám e Jugoslávia) recomendou que a Palestina tinha de ser partilhada
num Estado judeu e num Estado árabe. A Austrália nom aprovou nengumha das duas
propostas.
3
de setembro
No
início do segundo período de sessões, a Assembleia Geral da ONU converteu-se em
comissom ad hoc (com presença de todos os estados membros), a fim de examinar
as duas propostas da UNSCOP.
A
proposta apresentada pola maioria dos países da UNSCOP defendia, em síntese, a
partiçom da Palestina num Estado árabe independente e um Estado judeu
independente, com unidade económica, além da internacionalizaçom de Jerusalém
após um período de transiçom de dous anos. De acordo com esta proposta, umha
parte da populaçom árabe deveria permanecer dentro do Estado judeu (45% de
905.000 habitantes) e umha parte da populaçom judia dentro do Estado árabe
(1,36% de 735.000 habitantes), por ser inviável transferir milhares de pessoas
espalhadas por todo o território. A nacionalidade e cidadania seriam árabe ou
judia, de acordo com o local de residência.
A
proposta da uniom económica era tida como fundamental para o Plano da Partiçom
devido ao facto de 60% da melhor parte do território da Palestina estaria sob
controle do Estado judeu.
A
proposta apresentada pola minoria dos integrantes da UNSCOP recomendava a
fundaçom dum Estado federal da Palestina independente, após um período de
transiçom de no máximo três anos, e que esse Estado federal se compusesse dum
Estado árabe e um Estado judeu, havendo umha só nacionalidade e cidadania
palestiniana concedidas aos árabes, judeus (30% da populaçom) e outras pessoas.
Jerusalém deveria ser a capital do Estado federal, compreendendo duas
municipalidades separadas, umha incluindo os setores árabes (105.000
habitantes), mesmo a parte interna aos muros, e outra incluindo os setores
judeus (100.000 habitantes).
Foram
intensos os protestos árabes quanto à partilha e também os protestos sionistas
relativamente a um Estado federal. No final do debate geral o presidente da
Assembleia, o brasileiro Oswaldo Aranha, propôs o estabelecimento de duas
subcomissões para informarem sobre as propostas à Comissom ad hoc e umha
terceira subcomissom para promover a conciliaçom entre as posições árabe e
judia. O representante da Síria propôs a criaçom dumha outra subcomissom
"composta por juristas que tratariam da questom da competência da
Assembleia Geral para adoptar e aplicar umha decisom, bem como o aspecto
jurídico do Mandato. No caso de o informe de tal comissom nom ser satisfatório,
poderia considerar-se a transferência de todo o assunto para a Corte
Internacional de Justiça". Porém, o presidente descartou essa proposta.
Novamente
foram ouvidos a Agência Judaica e o Alto Comité Árabe. Os líderes
defensores da proposta da maioria da UNSCOP, favorável às teses sionistas,
foram Garcia Granados, da Guatemala, e Rodríguez Fabregat, do Uruguai.
9
de setembro
Os
três navios-prisom com os refugiados do Exodus aportam em Hamburgo. Os
refugiados a bordo do Empire Rival deixaram o navio rapidamente, porque fora
deixada umha bomba no seu porão. Os outros dous carregamentos de pessoas
tentaram permanecer a bordo dos navios, resistindo a qualquer tentativa de
deslocá-los. Eventualmente, todos os três navios foram esvaziados de sua carga
humana e entregue para os braços dos alemães que os internaram em campos de
refugiados.
16
de setembro
Numha
reuniom entre representantes da Agência Judaica e Azzam Pasha, o secretário da
Liga Árabe, este último disse: "O mundo árabe nom está disposto a fazer
concessões. É possível, senhor Horowitz, que o seu plano seja racional e
lógico, mas o destino das nações nom é decidido nos critérios da lógica
racional. As nações nunca concedem, combatem. Os senhores nada vam obter pola
paz ou o compromisso. Talvez obtenham algo, mas apenas pola força das armas.
Vamos tentar vencer-vos. Eu nom tenho a certeza de que o consigamos, mas vamos
tentar. Nós fomos capazes de livrar-nos dos cruzados, mas, por outro lado,
perdemos a Espanha e a Pérsia. Talvez perdamos a Palestina. Mas é tarde de mais
para falar em soluções pacíficas”.
17
de setembro
O
Secretário de Estado George Marshall, num discurso nas Nações Unidas, indica
que os Estados Unidos estám relutantes em endossar a partiçom da Palestina.
22
de setembro
Loy
Henderson, diretor da Agência para o Próximo Oriente do Departamento de Estado,
encaminha um memorando para o Secretário de Estado G. Marshal no qual ele
argumenta contra a defesa por parte dos EUA da proposta da Organizaçom das
Nações Unidas para dividir a Palestina.
30
de setembro
Nessa
altura Epstein pediu a um membro da delegaçom soviética na ONU, S. Tsarapkin,
se Moscovo iria votar na soluçom binacional apoiada pola minoria da UNSCOP (em
particular a teor da postura da Jugoslávia). "Nom necessariamente",
respondeu Tsarapkin. Na verdade, a decisom tinha sido tomada no começo de
abril, tal como o ministro Molotov declarou ao diplomata Andrei Vishinski em 30
de setembro de 1947. Ele instruiu o seu vice-ministro dos Negócios Estrangeiros
para "nom levantar qualquer objeçom à opiniom da maioria do Comitê sobre a
partiçom da Palestina" e "nom se opor às recomendações aprovadas por
unanimidade polo Comitê sobre o mandato, a concessom da independência para a
Palestina". No mesmo dia, Molotov enviou mais instruções num telegrama
codificado: Vishinski deveria "apoiar a opiniom da maioria (da UNSCOP), o
que corresponde à nossa opiniom básica sobre esta questom", e devia levar
em conta que Gromyko tinha sugerido a criaçom dum Estado binacional apenas para
"considerações táticas, já que nom queríamos tomar a iniciativa na criaçom
de um Estado judeu." O telegrama do Molotov deixa claro que a decisom
soviética para apoiar a criaçom dum Estado judeu tinha sido tomada no final do
abril 1947. No entanto, nom é possível saber se Estaline e Molotov tomou essa
decisom antes. O aparelho do MID tinha sido informado disso alguns dias antes do
discurso de Gromyko, obrigando a reconsiderar quase completamente a sua linha
anterior.
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