Simone de Beauvoir, umha das pensadoras mais importantes de todos os tempos, nunca teve inconveniente em mostrar-se em prol da existência do Estado de Israel. A seguir reproduz-se parcialmente umha palestra que deu em meados da década de 70:
"Acompanhei com paixom a luta dos Judeus para poder estabelecer-se numha terra que lhes pertencia, na terra de Israel. Amigos meus de entom participaram diretamente nessa luta e por isso, quando finalmente, em 1948, o Estado de Israel foi reconhecido polas Nações Unidas, senti como se a sua vitória tivesse sido pessoalmente minha.
Israel é um Estado religioso; com efeito, para a gente de esquerda, há algo de incomodo no facto de que, por exemplo, os casamentos devam contrair-se necessariamente numha sinagoga, ou que o casamento dum judeu com umha mulher nom judia nom lhe permita ter filhos judeus. A religiom tem bastante importância e demasiado peso lá e compreendo que isso incomode as pessoas com conceições de esquerda, orientadas para a liberdade de pensamento e de açom...
Como integrante da esquerda fiz parte de todas as lutas da mesma, na medida das minhas possibilidades. Estive de lado da FLN durante a guerra da Argélia e ninguém pode acusar-me portanto de ter sustentado o colonialismo (de resto, para mim Israel nom é umha colónia, nom existe nela metrópole, nom se faz trabalhar os indígenas para os explorar,...). Posso afirmar, pois, que sou de esquerda e precisamente por ser da esquerda é que desejo afirmar a minha solidariedade com Israel em geral e com a esquerda israelita em particular. Que esse país deve viver, é para mim umha cousa evidente.
Acho que há também, sobretodo entre os jovens, um certo romantismo que lhes faz tomar partido a priori, quase incondicionalmente, polo povo palestiniano, porque ainda nom é um país. Trata-se dum país inexistente, o que faz possível projetar muito nele. Dele pode-se esperar quase tudo; pode-se pensar que nom terá defeitos, que será perfeitamente socialista, que será totalmente justo e igualitário. O que acontece com Israel é que nom se trata dumha encarnaçom: a ideia do Estado de Israel encarnou-se e toda encarnaçom supõe defeitos, imperfeições, desgraças, erros. É verdade que os pioneiros do Estado de Israel pensaram numha sociedade perfeita, pura, justa, num país jamais visto, que de nengum modo seria como os demais. Pois bem, de facto, Israel é um país como muitos outros porque há nele desigualddes, injustiças, é um país que nom comporta um ideal puro, como sucede com o país inexistente. Quando existir a encarnaçom do Estado Palestiniano, sem dúvida será presa das contradições, dos rasgões e dos erros...
Nom baseio os direitos dos israelitas -carecendo de qualquer inclinaçom religiosa- sobre a sua presença doutrora nessa terra nem sobre a tradiçom invocada por muitos Judeus; para eles a situaçom é distinta: essa ligaçom quer dizer algo muito profundo: sei-o; muitos Judeus pensam nisso. Nom é sobre isso que eu alicerçaria os direitos de Israel, mas, como o fizeram muita gente de esquerda e em particular Brecth em "O círculo de giz" que é umha formosa peça teatral, sobre o facto de que a terra "pertence a quem a torna melhor", quer dizer, de quem a trabalha... Eles foram os que a trabalharam, que enraizaram nela as suas familias. Sobre esta terra viveram, a ela vincularam-se e, precisamente polo seu trabalho, por todo o que nela fizeram, polas crianças que sobre criaram. No que a mim respeita, nom preciso qualquer necessidade de procurar outras razões. Para mim essa é a razom fundamental pola qual eles têm o direito e devem viver sobre essa terra, e já nom novamente como umha minoria mais ou menos oprimida, mas sentindo-se em casa, vivendo sobre umha terra que lhes pertence".
Palestra no Cercle Bernard Lazare, Paris, 7/5/1975
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