Nos estados saídos do desmantelamento do Império russo com notável presença de comunidades judaicas, nomeadamente na Polónia, Lituánia e Letónia assim como na Roménia (1), constituem-se organizações do Bund. É na Polónia onde se forma o principal partido herdeiro do Bund da Rússia, Polónia e Lituánia.
Enquanto os sionistas defendiam que os Judeus deviam emigrar para a Palestina, o Bund, apelava à «Doikayt», isto é, Viver Aqui e Agora. A problemática dos Judeus teria de resolver-se Aqui e Agora, através dum programa político e cultural.
Fiel à sua missom e com umha conceiçom de partido-comunidade, o Bund polaco cria umha mesta rede de organizações culturais, educativas e sociais para os trabalhadores judaicos. A infraestrutura bundista de escolas, editoras, bibliotecas, grupos teatrais, juvenis, clubes desportivos e sanatórios de saúde contribuirom para o florescimento da cultura iídiche na maior comunidade judaica da Europa.
Enquanto os sionistas defendiam que os Judeus deviam emigrar para a Palestina, o Bund, apelava à «Doikayt», isto é, Viver Aqui e Agora. A problemática dos Judeus teria de resolver-se Aqui e Agora, através dum programa político e cultural.
Fiel à sua missom e com umha conceiçom de partido-comunidade, o Bund polaco cria umha mesta rede de organizações culturais, educativas e sociais para os trabalhadores judaicos. A infraestrutura bundista de escolas, editoras, bibliotecas, grupos teatrais, juvenis, clubes desportivos e sanatórios de saúde contribuirom para o florescimento da cultura iídiche na maior comunidade judaica da Europa.
O período reconstituinte
Prevendo a invasom alemá, em novembro de 1914 o CC do Bund designou um Comité separado na Polónia para dirigir o partido nesse território. Num congresso de ativistas celebrado em Varsóvia nessa altura, alguns veteranos (2) enxergam que a guerra suporá a independência polaca do Império russo e que o partido deixaria de operar como umha organizaçom única. O membro mais importante do grupo era V. Medem, que se refugiara na Polónia após o triunfo bolchevique na Rússia.
A ocupaçom alemá da Polónia a partir de maio de 1915 durante a Primeira Guerra mundial, rompe de vez o contato com a estrutura central do partido na Rússia. A ascendência de Medem como teórico e líder político e o clima de relativa liberdade que reinava na Polónia ocupada fixerom com que a Polónia se convertesse num centro independente de atividade do partido. Se bem na teoria os bundistas da Polónia e Rússia eram membros da mesma organizaçom, na prática o bundistas polacos agirom como se fosse um partido separado. Finalmente, em dezembro de 1917 a divisom formaliza-se quando os bundistas polacos se reúnem em Lublim para eleger un CC independente e constituir-se como partido político separado.
Com a queda do Império alemao em 11 de novembro de 1918, a Polónia recupera a sua independência e proclama-se a República polaca. O novo estado, que procura recuperar os seus antigos territórios ocupados polos Impérios russo, alemao e austro-húngaro, traça a suas fronteiras ao ritmo da guerra (3). O Bund é perseguido polas novas autoridades polacas por causa da sua oposiçom à guerra contra a Rússia soviética.
Com a anexaçom dos novos territórios, a Polónia converte-se no Estado da Europa com a maior comunidade judaica (10,5% da populaçom e 2,8 milhões de pessoas em 1921). Aliás, o Tratado de Riga permite a repatriaçom de até 400.000 judeus russos, juntando-se à numerosa populaçom judaica existente. Os Judeus, espalhados ao comprido do país, constituem a segunda minoria nacional após os Ucranianos. O resultado da preocupaçom das potências ganhadoras da Primeira Guerra mundial polo seu destino foi umha série de cláusulas específicas do Tratado de Versalles a respeito da proteçom dos direitos das minorias na Polónia. Como condiçom para o seu reconhecimento internacional, a Constituiçom polaca de março de 1921 tivo que outorgar aos Judeus os mesmos direitos legais que o resto de cidadaos.
Como partido legal no Estado polaco independente, o Bund moldou as suas posições ideológicas. Paralelamente ao desenvolvimento do Kombund na Rússia, o Bund na Polónia é palco dumha continuada pugna interna entre fações pró e anti-comunistas. O partido divide-se em fações permanentes, que estavam representadas proporcionalmente na sua direçom central, nomeadamente a centrista (Einser), a esquerdista (Tsvayer) e a pró-comunista no Kombund.
Com motivo das primeiras eleições locais (1919) o setor pró-comunista exige a nom participaçom do partido argumentando que um movimento revolucionário nom deveria participar no jogo institucional cujas regras eram marcadas pola burguesia reacionária que dominava a vida política do novo Estado. Porém, a maioria de ramos do Bund decidirom concorrer elegendo até 160 representantes nalgumhas cámaras municipais. Em Varsóvia e Lodz o Bund consegue 30% do voto judaico, um logro notável para um partido que acabava de reorganiza-se.
Em resposta à intensificaçom da campanha sionista (4), o Bund da Polónia, fiel à sua ideologia tradicional, opom-se ao sionismo por considerar que representava os interesses da burguesia judaica e incorpora um novo elemento à sua ideologia: a Doikayt (neologismo que significa Viver Aqui e Agora). Formulado por V. Medem, defende que o futuro do povo judeu desenvolveria-se melhor nos mesmos lugares em que vivira no passado e onde criara e desenvolvera a cultura iídiche. Convertido numha marca do movimento, o partido começou a se configurar como o guardiám da cultura iídiche, lutando contra o que percebia umha miragem irresponsável de concentrar todos os Judeus numha pátria nacional na Palestina e contra as tentativas de cultivar a cultura hebraica na Polónia a despeito da cultura iídiche original (5). O Bund prosseguiu a sua implacável oposiçom ao sionismo e aos religiosos ortodoxos, mas a diferença da sua política do período anterior, colaborou nalguns domínios com outros partidos judaicos operários. Mais de umha ocasiom concorreu às eleições locais com a esquerda sionista, nomeadamente o Poalei Sion. Devagar o Bund foi modificando a sua atitude a respeito de questões como as festas tradicionais judaicas ou o ensino da história judaica.
Numha conceiçom de partido-comunidade, nesta primeira etapa o Bund pom em marcha diferentes organizações de caráter setorial para estimular o crescimento do partido. Em 1919 constitui a organizaçom juvenil Zukuft (O Futuro) com o objetivo recrutar novos membros. Dentre as suas atividades destaca a organizaçom de acampamentos de verão, clubes de teatro e de tipo cultural (6). Aliás, a começos de 1920 constitui-se a Organizaçom de Mulheres Trabalhadoras Judaicas (YAF), para atender a assuntos importantes das mulheres trabalhadoras (nomeadamente à educaçom infantil, relações domésticas, economia familar ou planeamento natalício) (7). A participaçom igualitária na atividade revolucionária que caraterizara o Bund a inícios do século, foi realizada por ativistas como Sarah Shvaber e Dina Blond com um trabalho organizativo e propagandístico focalizado na mulher. Outras mulheres destacadas, como Bela Sahpiro e Sonya Novgorodski, centrarom-se no desenvolvimento de atividades educativas e culturais para as mulheres jovens.
A influência do Bund é notável nos sindicatos judaicos que contavam com muitos mais militantes que o próprio partido. A finais da Primeira Guerra mundial tam só em Varsóvia mais de 15.000 trabalhadores judeus agrupavam-se em 15 sindicatos diferentes. Umha das funções do Bund no período 1921-22 é a organizaçom de sindicatos judaicos com posições próprias face o resto da esquerda. Para Wiktor Adler, máximo líder do Bund e dirigente do sindicalismo judaico, as necessidades do operariado judaico diferiam das do operariado polaco. Segundo ele, o sindicalismo judaico alicerça-se sobre bases mais amplas que as dumha simples organizaçom profissional centrada nos assuntos laborais. Os sindicatos judaicos haviam de centrar-se no ensino, atividades culturais e de apoio social (8).
Em abril de 1920 tem lugar em Cracóvia o I Congresso (o da Unificaçom) do Bund polaco no qual se produz a convergência na mesma organizaçom do Partido Social Democrata Judaico da Galícia (9). Durante o Congresso surgiu um debate sobre se o partido se devia aderir à Internacional Comunista (IC) recém constituída. Alguns queriam se aderer ao Comintern e aceitavam 19 dos 21 pontos de Zinoviev. V. Medem opom-se firmemente, alegando que o bolchevismo apenas era um movimento golpista bem sucedido que nom se podia aceitar. Porém, a maioria aprovou umha resoluçom que solicitava o ingresso na IC (10), o que fai com que alguns destacados bundistas históricos se sintam isolados no movimento e optem finalmente por emigrar (V. Medem, A. Litwak). Outros (P. Rosenthal) formarom um efêmero Bund Social-Democrata.
Em junho de 1921 o Bund é o principal partido, junto com o Poalei Sion de Esquerda que participa na constituiçom da CISHO (Organizaçom Central das Escolas de Iídiche). Com presença em 44 localidades trata-se dumha rede escolar na que o iídiche é a língua veicular do ensino dirigido aos filhos da classe trabalhadora. Os programas académicos eram avançados para o seu tempo: ensino misto, democrático (conselho de pais e supervisom sindical), secular e socialista (11).
A racha comunista
No seu II Congresso (Danzig, dezembro de 1921) as três fações enfrontam-se novamente. O setor pró-comunista (constituido como corrente Kombund), partidário da adesom incondicional na IC, é derrotado. Perante a intransigência do Comintern, que demandava a dissoluçom do Bund, a recusa dos chefes históricos e a rutura com a social-democracia, a maioria rejeita as 21 condições de Zinoviev. Mesmo a façom de esquerda, comandada por Joseph Lestschinsky (Chmutner), receiava desta medida se punha em risco a unidade do partido (12)
Em janeiro de 1922 o Kombund polaco (25% da militância total) rompe com o partido e constitui o Bund Comunista da Polónia (Kombund). Em Lodz, este setor arrasta 50% dos bundistas. A seguir da racha, o Bund e o Kombund começarom umha batalha política polo controle dos sindicatos judaicos. Importantes líderes sindicais setoriais aderem-se ao Kombund (13). Entom, em 1923 o Bund de Vilnius integra-se finalmente no Bund polaco.
A consolidaçom
Nas eleições gerais de 1922 os candidatos bundistas recebem 87.000 votos. Porém, a dispersom do voto em vários distritos, faz com que o Bund nom consiga nengum mandato no Sejm (parlamento polaco). Alguns bundistas candidataram-se nas listas do PPS sem ser eleitos.
Quando em dezembro de 1924 se reúne em Varsóvia o III Congresso, o Bund é umha organizaçom jovem com 81,3% da militância menor de 40 anos e com apenas 5,3% nascidos em território russo. O Bund decide alargar a sua esfera de atividades com o objeto de se converter numha alternativa política atrativa dumha ampla variedade de setores judaicos. No plano eleitoral, na medida em que a sua dependência do seu parceiro maior, o PPS, estava a mirrar os seus avanços, a direçom do partido decidiu que em futuras eleições se candidataria como um partido socialista judaico independente. Aliás, o setor de esquerda receia do PPS por causa do seu «nacionalismo e reformismo» e a sua política de formar umha frente de centro-esquerda com os partidos agrários nom socialistas.
Igualmente, se até entom os princípios socialistas impediram a participaçom do Bund nas instituições nacionais judaicas tradicionais, em 1924 decide participar pola primeira vez nas eleições para as Assembleias Comunitárias Judaicas (Kehilla). A questom da participaçom nos Conselhos das Assembleias Comunitárias Judaicas nom era umha bagatela já que estas instituições tradicionais eram percebidas polo partido como umha instituiçom anacrónica, cujo fim era suprir serviços religiosos, enterros, a educaçom tradicional judaica e, finalmente, contribuir para que a populaçom judaica nom se integrasse no resto da populaçom. Porém, a diferença dos antigos Conselhos de Sábios (Qahal), o conselho da Kehilla moderna era eleito como umha cámara municipal com listas de candidatos apresentados polos partidos judaicos.
Em 1926 o Bund promove várias organizações de caráter setorial:
- SKIF (Uniom de Crianças Socialistas), destinada ao proselitismo infantil.
- Morgenshtern: Organizaçom desportiva para promover os «deportos proletários» entre os trabalhadores e os seus filhos.
- Sanatório Medem establecido como centro para crianças tuberculosas e de medicina infantil. Por trás desta iniciativa está a preocupaçom pola situaçom do estado de pobreza absoluta no que se acha da juventude judaica que, sem possibilidade de integraçom na vida económica, começa a ser vítima da tuberculose.
Após a aplicaçom desde começos dos anos 1920 polas autoridades polacas de várias discriminações laborais antijudaicas, em 1925 o Sejm decide denegar os judeus a venda de cigarros e tabaco, sendo despedidos vários milhares de empregados judeus das empresas tabaqueiras. Entom o Bund criou um «Escritório para o Direito ao Trabalho» para exigir a supressom da legislaçom que discriminava os operários judeus e apelar à igualdade de direitos laborais. No Congresso para o Direito ao Trabalho que se reúne em Varsóvia, 70% dos 600 delegados sindicais pertencem ao Bund.
Os comunistas, determinados a tomar o controle do movimento sindical e de eliminar o Bund como rival, convertem-se numha ameaça externa. Para garantir a segurança do Partido e dos seus militantes, o Bund decide criar umha milícia própria comandada por B. Goldstein. Apesar das dúvidas iniciais, o partido nom podia ficar indiferente enquanto os outros partidos faziam todo o possível para atrair o proletariado judaico. Já que a existência dumha milícia poderia suscitar confrontos violentos, tanto com outros grupos operários judaicos quanto com a polícia polaca, ficou proibido todo recurso a um exceso de violência (14).
Na altura do seu IV Congresso (janeiro de 1929, em Varsóvia), o Bund estava numha encrucilhada a respeito da definiçom da sua relaçom com o resto do socialismo europeu. Umha vez que recusara unir-se à Comintern, surgiu um intenso debate interno entre os seus setores sobre a possibilidade de se aderir à Internacional Socialista e Trabalhista (IS). Enquanto uns argumentavam que a Internacional operava num marco reformador nom revolucionário, outros consideravam que esta agremiaçom tam ampla, cujos membros iam do trabalhismo británico para o SDP alemám, seria incapaz de curvar o fascismo europeu. Outros líderes bundistas como Henryk Erlich e Wiktor Alter defendiam que o Bund seria incapaz de sobreviver por muito tempo se ficava afastado desse marco político internacional.
Finalmente, no seu V Congresso de junho de 1930 celebrado em Lodz, o Bund decidiu, por umha pequena maioria, filiar-se à IS. Em julho de 1931 enviava a sua primeira delegaçom ao Congresso da IS em Viena onde tivo o status de representante oficial dos trabalhadores judaicos da Polónia. No seu seio fixo parte da asa esquerda. Com a adoçom desta decisom punha-se fim ao confronto interno entre as fações, contribuindo para a sua estabilizaçom como partido e para a melhora das suas relações com o PPS. A partir de entom o entendimento entre os dous partidos refleteria-se na sua cooperaçom em várias eleições locais e nos atos do Primeiro de Maio.
Em 1931 o Bund boicota as eleições à Kehilla em protesto pola introduçom polo governo polaco do chamado «parágrafo 20» no regulamento destes organismos para favorecer os seus aliados agudistas (ortodoxos). Doravante umha comissom eleitoral da Kehilla poderia rejeitar candidatos contrários ao partido Agudat Israel que nom fossem considerados muito religiosos. No outono de 1933 o partido realizou um chamado aos polacos para boicotar as mercadorias alemás como medida de protesto contra o regime de Hitler.
Durante o seu VI Congresso (fevereiro 1935, em Varsóvia), Y. Leszczynski, um dos líderes da asa esquerda do Bund Polaco, referiu-se ao neutralismo como «umha via para atirar a assimilaçom que deveria ser combatida com um ativo esforço nacional-cultural de conteúdo socialista». O Bund decide-se a encabeçar e organizar a luta contra o antissemitismo mobilizando a opiniom pública com atos de protesto maciço, paros de trabalhadores e manifestações.
Num quadro de crise e de desemprego crônico torna-se impossível para os judeus mudar-se para outras ocupações, produzindo um engarrafamento nas profissões que incrementam sem cessar a violência antissemita (15). Os governos dos latifundiários e dos grandes capitalistas que se sucederom após a morte de Pilsudski (16) em maio de 1935, naturalmente, com a aprovaçom da maioria da opiniom pública, tentam organizar a vaga antijudaica e assim desviar as massas do seu verdadeiro inimigo. «Resolver a questom judaica» torna-se para eles sinónimo da soluçom da questom social. Para abrir caminho às «forças nacionais», o Estado organiza uma luta sistemática para «desjudaizar» todas as profissões. Os meios de «polonizar» o comércio na Polónia vam do boicote simples das lojas de judeus, a sua exclusom da administraçom e empresas públicas, a nom contrataçom de médicos ou de advogados para os pogromos e incêndios. Eis, por exemplo, o «boletim de vitória», publicado em 1936 no jornal do governo Ilustrowany Kurjer Codzienny: «160 posições de comércio polaco foram conquistadas durante os primeiros meses deste ano no distrito de Radom. Em total, em vários distritos, 2.500 posições foram conquistadas polo comércio polaco».
O artesanato judaico nom foi tratado com delicadeza polo governo polaco. O boicote, os elevados impostos, mesmo a imposiçom de exames de polaco (muitos artesãos judeus desconheciam esta língua) contribuem para expulsar os artesãos judeus. Privados de subsídios de desemprego, o proletariado artesanal é um dos setores mais carenciados. Os salários dos trabalhadores judeus são muito baixos e as condições de vida terríveis (jornadas de de trabalho até 18 horas).
As universidades constituem o terreno preferido da luta antissemita. A burguesia polaca fixo todos os esforços para proibir o acesso dos judeus a profissões inteletuais. As universidades polacas tornaram-se palco de autênticos pogromos, de defenestrações, etc. Muito antes das estrelas de David de Hitler, a burguesia polaca introduziu as bancadas-gueto nas Universidades. Discretas medidas «legais», mas nom menos eficazes, tornarom o acesso praticamente impossível da juventude judaica para as universidades, cujas condições de vida ancestrais desenvolveram altamente as suas faculdades inteletuais. A percentagem de estudantes judeus na Polónia diminuiu de 20,4% em 1928 para 7,5% em 1937.
Em 9 de março de 1936 tem lugar em Przytyz, vila próxima a Radom com 90% de populaçom judaica, um pogromo que causa a morte e 3 pessoas e ferindo outras 60. Oito dias depois, o CC do Bund convoca umha greve geral de meia jornada que paralisa os negócios judaicos em Varsóvia, Bialystok, Czestochowa, Vilna, Cracóvia, Lwow, Lublim e Lodz. Em certa medida, a organizaçom e a iniciativa desta greve constitui umha espécie de teste para o partido. O chamado a umha açom de protesto à que se unirom também outros círculos políticos judaicos opostos ao Bund, como os sionistas (17) e os religiosos, contou também com um amplo apoio dos sindicatos polacos. O sucesso na convocatória tornou o Bund no principal representante dos Judeus da Polónia. Após a greve o Bund constitui umha frente junto o PPS de luta contra a violência antissemita que invade a Polónia (18). O governo polaco confiscou a propaganda e proibiu a celebraçom dumha Conferência prevista contra o Antissemitismo convocada polo Bund.
Conforme o Bund estende a sua açom no domínio dos assuntos judaicos, mais se afirma na sua identidade nacional judaica e mais se afasta da ideologia internacionalista e universalista dos seus primeiros anos. Os assuntos que atingem à comunidade nacional judaica (ensino, organizaçom dos trabalhadores, cultura judaica e luta contra o antissemitismo) ganharom peso na atividade do Bund até ocupar um lugar preminente. De forma rápida, a finais dos anos 1930, a milícia de defesa do partido enfronta-se aos antissemitas polacos e aos militantes da extrema direita que protagonizam atos violentos antijudaicos.
Nas eleições ao Conselhos Municipais e Assembleias das Comunidades Judaicas celebradas em 1936 o Bund converte-se no primeiro partido da comunidade judaica. O Bund é a força mais votada (28,4%) na Kehilla de Varsóvia, triplicando a sua representaçom a respeito de 1924 (15 mandatos). Apesar destes sucessos eleitorais no Kehilla os bundistas nom puderom impor o seu critério nos poderes públicos pola hostilidade e intolerância das outras formações políticas e religiosas judaicas. Nas eleições municipais celebradas na cidade de Lodz, após ter revisado a sua estratégia política e ter concorrido em solitário, o Bund obtém igualmente um sucesso político significativo. A partir de entom deixaria de ser um partido satélite dos socialistas polacos para ser considerado um aliado político em pé de igualdade do PPS.
Em 1937 o governo polaco aprova umha lei que proibe os sacrifícios rituais realizados na celebraçom das festas religiosas judaicas. O Bund, que considera esta medida como umha forma de incitar o antissemitismo, condena abertamente esta medida. A milícia bundista organiza grupos de autodefesa para parar os ataques contra as mulheres e crianças nos parques e para evitar os assaltos contra os estudantes judaicos nos campus universitários.
Por considerar que também fomentavam o antissemitismo, em 1938 o Bund condenou os apelos à evacuaçom imediata dos judeus da Polónia realizados polo líder da direita sionista, V. Jabotinsky. Nisso os sionistas concordavam com os antissemitas, e por isso o governo polaco financiou a sua campanha. Paradoxalmente, sensível ao perigo que ameaçava a judaria na Europa, Jabotinsky foi capaz de avaliar o potencial genocida burbulhante do antissemitismo.
Em novembro de 1937 tem lugar em Varsóvia o VII Congresso do Bund que prepara os seus sucessos eleitorais. Nas eleições municipais polacas de dezembro de 1938 e janeiro de 1939, o Bund recebeu o apoio dum amplo segmento do voto judaico. Em 89 cidades, um terço elegeu maiorias bundistas. Em Varsóvia, o Bund ganhou o 61,7% dos votos (17 dos 20 lugares do conselho municipal ganhados polos partidos judaicos) e o 57,4% em Lodz (11 dos 17 mandatos obtidos polos partidos judaicos). Nessa altura o Bund e o PPS iniciarom umha cooperaçom que, sem chegar a listas conjuntas, realizarom apelos recíprocos de voto para a outra lista alí onde só um dos dous partidos de esquerda se apresentasse. Esta aliança fai possível umha vitória da esquerda na maioria de grandes cidades: Varsóvia, Łódź, Lwow (na altura polaca), Piotrkow, Cracóvia, Bialystok, Grodno e Vilnius (na altura polaca).
Após este sucesso eleitoral, o Bund esperava obter um grande sucesso nas eleições parlamentares previstas em setembro de 1939. Até entom o Bund nom conseguira eleger nengum representante no Parlamento polaco devido à sua negativa a participar em acordos eleitorais com outros partidos judaicos e a sua rejeiçom aos partidos de outras minorias polacas (nomeadamente ucranianos, bielo-russos, alemaos) que travaram alianças com os outros partidos judaicos (19). Aliás, o seu parceiro potencial, o PPS, apesar de ter umha atitude abertamente hostil ao antissemitismo, era reácio a aparecer como um partido pró-judaico diante da opiniom pública.
Porém as eleições gerais de 1939 nunca chegarom a ter lugar pola invasom nazi-soviética de 1 de setembro (20). Dias antes, o partido assinava umha declaraçom junto à esquerda polaca apelando o povo a lutar contra o nazismo.
A Segunda Guerra mundial
Após a ocupaçom alemá da Polónia o Bund iniciou um amplo leque de atividades. A liderança veterana do partido abandonou Varsóvia na grande vaga de emigraçom de ativistas políticos, sendo substituída por umha nova geraçom procedente do Zukunft. O principal líder deste grupo era Avraham Blum (1905-43) que chegara a Varsóvia desde Vilnius em 1929. Este grupo evitou a completa desintegraçom do partido. O Bund organiza os primeiros movimentos clandestinos que desempenharom um papel importante tanto na resistência armada das populações judaicas contra os nazistas como na realizaçom de atividades educativas e políticas para a mocidade no gueto de Varsóvia. O Bund mantivo um contato constante com a clandestinidade polaca, líderes políticos ocidentais e com o governo polaco no exilo.
Em 1941, quando grande parte dos membros do CC que abandonarom Polónia chega aos EUA, a missom do Bund em Nova Iorque converte-se no principal centro da atividade política da organizaçom. O Bund estabeleceu contato com as organizações de trabalhadores judaicos e coletou dinheiro para ajudar os seus membros que estavam atrapados na Polónia e na URSS.
A ocupaçom alemá da Polónia durante a Segunda Guerra mundial foi umha tragédia para os Judeus: forom assassinados 3 dos 3,474 milhões de Judeus existentes nas fronteiras polacas anteriores à partilha. O extermínio sistemático dos Judeus começou em 1942 e estendeu-se até o fim da guerra. Nos seis campos de extermínio (Auschwitz, Chelmno, Belzec, Majdanek, Sobibor e Treblinka) criados pola Alemanha no Governo Geral da Polónia forom exterminados mais de 2,5 milhões de Judeus da Europa. Muitos outros morrerom vítimas da fome e das privações nos guetos.
A importância da rede clandestina do Bund na Polónia fixo-se patente a começos de 1942 quando ativistas do gueto receberom informações do genocídio na Polónia e Lituánia. Com a ajuda da resistência polaca, em maio desse ano foi remetido a Londres um reporte detalhado realizado por Leon Feiner, a principal ligaçom do Bund com a resistência polaca. Este informe, o primeiro dumha série de informações, foi transmitido ao Governo polaco no exilo e a outros no Reino Unido e EUA.
Em dezembro 1942 o Bund é cofundador, junto os comunistas e outras organizações judaicas (Poalei Sion, Hashomer Hatzaïr, Hehaloutz e Dror), da Organizaçom Judaica de Combate (ZOB) que comandou o Levante do Gueto de Varsóvia de 19 de abril a 16 de maio de 1943. A ZOB também faz parte do Movimento de resistência polaca Exército Interior (Armia Krajowa) que lutou contra os nazis no Levante de Varsóvia em 1944. Na liderança da ZOB destaca o papel do bundista Marek Edelman.
Em março de 1942 Samuel Zygelbojm, membro do CC do Bund desde 1924, é enviado de Nova Iorque para Londres como representante do Bund no Conselho Nacional do governo polaco no exilo em Londres. Ele suicidou-se em 11 de maio de 1943 para protestar contra a indiferença dos governos aliados e do governo polaco no exilo face o extermínio dos Judeus. Foi substituido por Emanuel Scherer. Se bem o Bund estava representado no governo polaco no exilo, o Conselho Nacional Polaco sediado na Polónia rejeitou a sua presença.
Nos territórios ocupados polos soviéticos muitos judeus celebrarom a nova situaçom na medida em que se punha fim ao antissemitismo oficial do regime polaco (forom suprimidas as cotas oficiais que impediam o seu acesso ao ensino e ao emprego) e safava-os da ocupaçom nazista. Porém, os bundistas forom liquidados: em plena guerra Estaline ordena a execuçom de dous dos principais líderes bundistas (Wiktor Alter e Henryk Erlich) executados em Moscovo em dezembro de 1941 acusados de serem agentes da Alemanha nazista.
Dos mais de 3 milhões de Judeus existentes na Polónia antes da guerra, apenas 50.000 sobrevivem à Segunda Guerra mundial. Afinal o sionismo prevaleceu sobre o bundismo nom porque a maioria de judeus polacos considerassem superior a sua ideologia, mas porque a base humana do Bund fora exterminada, junto como resto da comunidade judaica da Polónia polos nazistas.
Após a catástrofe
Por volta do fim da Segunda Guerra mundial o Bund, que conta entre 2500-3000 militantes, tenta reorganizar-se com a esperança num desenvolvimento democrático na Polónia. A sua direçom ficou integrada por Michal Schuldenfrei (Presidente), Shloyme Herschenhorn (Vice-presidente) e Salo Fiszgrun (Secretário Geral). O partido tinha entidades locais em Varsóvia, Lodz e Cracóvia e esforça-se em estabelecer várias cooperativas de produçom. Junto com os comunistas, o Bund promoveu o estabelecimento de Judeus polacos sobreviventes nas zonas da Silésia que pertenceram à Alemanha. Após a guerra prosseguirom as atividades antissemitas (21) e em Lodz (principal centro da populaçom judaica na Polónia de pós-guerra) o Bund conservou umha estrutura militar de autodefesa.
O Bund participa nas últimas eleições legislativas de janeiro de 1947 numha candidatura comum com o PPS obtendo o único mandato de deputado da sua história na Polónia, ocupado por Michal Shuldenfrei (membro do Conselho Nacional de Estado desde 1944) assim como lugares nos conselhos municipais. Em 1948 ao redor de 400 militantes bundistas, desiludidos com o estalinismo, abandonam ilegalmente Polónia rumo a Israel. Em 16 de janeiro de 1949 o Bund, ao igual que todos os partidos nom comunistas, autodissolve-se «voluntariamente» para se juntar ao Partido Unificado dos Trabalhadores Polacos, partido único no período 1949-89.
Finalmente, o passado 2 de outubro de 2009 morria em Varsóvia Marek Edeman, o último dos bundistas. Ele comandara o Levante do Gueto de Varsóvia e era o último sobrevivente dessa revolta. Durante os anos 1970 destacara-se como colaborador do Comité de Defesa dos Trabalhadores e doutros grupos políticos opostos ao regime comunista (primórdios do sindicato Solidariedade).
NOTAS
(1) A atividade socialista judaica na Roménia inicia-se na década de 1890. A sua primeira organizaçom, Lumina, fundou-se em 1893 e fazia parte da organizaçom de trabalhadores de língua iídiche. Em 1922 os bundistas da Bucovina, que pertenceram ao Partido Social-Democrata Judaico na Áustria-Hungria, decidem propor sua unificaçom com os socialistas judaicos da Bessarabia (que até entom pertencera ao Império russo) e da Ruménia. O Bund da Roménia constituiu-se formalmente em Janeiro de 1923 numha conferência em Cernăuţi. Pouco depois constitui-se umha organizaçom de apoio nos EUA. Durante o período de entre-guerras o Bund da Roménia foi umha das organizações que representava a comunidade judaica romena. A sua máxima implantaçom estivo na Bucovina e Bessarábia, onde os trabalhadores judaicos de língua iídiche era mais numeroso. Neste último território o partido contava com representaçom na kehilla de Quichinau e umha grande influència no movimento de escolas em iídiche. Na Bucovina o Bund estava subordinado ao movimento autonista judaico do Partido Popular Nacional Judaico. Nas eleições ao senado de 1922 alguns líderes bundistas (Leon Gheller) candidatarom-se com o Partido Social-Democrata Rumeno e em 1928 outro antigo bundista (Litman Ghelerter) liderizou a cosntituiçom do Partido Socialista dos Trabalhadores da Roménia. A partir da entrada das tropas soviéticas em 1940 e da Segunda Guerra mundial, o partido deixou de operar
(2) Incluindo Yekutiel Noyakh Portnoi, Wiktor Szulman, Lazar Epstein, Khayim Meyer Wassar e Emanuel Nowogrodzki.
(3) A guerra polaco-ucraniana (1918-19) permite a incorporaçom à Polónia da Galícia. O resultado da guerra russo-polaca (1919-21) foi a anexaçom ao novo Estado polaco da regiom de Vilnius e dos territórios ocidentais da Bielo-rússia e Ucránia (antiga província russa de Volínia). Também ficam incorporados os territórios alemaos da Prússia Ocidental (Poznan) e o corredor de Gdánsk (Danzig).
(4) Em Novembro de 1917 tem lugar a Declaraçom Balfour que reconhece um Lar Nacional Judaico na Palestina.
(5) O censo polaco de 1931 revelou que a imensa maioria dos Judeus (79%) designava o iídiche como a sua língua materna e apenas um 12% declarava o polaco como primeira língua.
(6) Em 1939 agrupavam até 12.000 jovens. Para lutar contra o antissemitismo, umha racha do Tsukunft denominada Tsukunft-Shturem, converte-se num grupo para-militar de autodefesa.
(7) Na altura dos anos 1930, o YAF conta com umha rede de centros de dia para as crianças das mulheres trabalhadoras.
(8) O seu crescimento foi espetacular: passou de sete sindicatos, com 205 ramos e 46.000 membros a finais de 1921 para 14 sindicatos, 498 ramos e 99.000 membros a finais de 1939.
(9) A Galícia era umha antiga regiom polaca de elevada presença judaica (11,1% em 1900) que fora ocupada polo Império Austro-Húngaro nas partilhas da Polónia no século XVIII. Em 1905, como racha do Partido Social-Democrata Polaco da Galícia (PSDPG), surge o Partido Social Democrata Judaico da Galícia (PSDJG). Situado na órbita do Bund russo, o seu principal teórico e dirigente foi H. Grossman. Rejeitado pola social-democracia austro-húngara, foi a principal organizaçom dos trabalhadores judeus da Galícia até o cesamento da sua atividade por causa da Primeira Guerra mundial. Em 1916 reconstituira-se em Cracóvia, incrementando a sua organizaçom nas localidades galicianas.
(10) Nesta decisom acha-se o motivo polo que o Bund de Vilnius, dividido nas mesmas tendências que o resto do Bund russo, rejeita integrar-se no Bund Polaco alegando que deixara de ser umha organizaçom social-democrata.
(11) O seu desenvolvimento foi espetacular: em 1925 a rede abrange 91 escolas primárias (16.364 alunos) e 3 escolas secundárias (780 alunos). No curso 1928-29, 24.000 alunos assistem às 45 creches, 114 escolas elementais, 52 escolas noturnas, 3 escolas secundárias e um centro de formaçom do professorado. Se bem a populaçom escolar desce para 15.000 em 1935, o sistema escolar continuou a manter um alto nível académico destacando-se na ediçom de livros de texto e publicações escolares.
(12) A esse cônclave assistem 140 delegados que representam 9500 membros. Os feudos do partido acham-se em Varsóvia (perto de 2.000 aderentes), Lodz (1700 aderentes) e Lublim (1400 aderentes).
(13) Ao pouco da racha, em Setembro de 1922 os militantes do Kombund aderem-se diretamente ao Partido Comunista da Polónia (PCP). Antes da sua fusom, o Kombund sofreu a derrotas nas eleições sindicais em Lodz e Cracóvia. O PCP estabeleceu um Escritório Central Judaico.
(14) Em Junho de 1927 o ataque violento dum grupo de comunistas judaicos causa vários feridos numha junta dum sindicato bundista.
(15) Se bem os alfaiates e sapateiros eram os tradicionais ofícios judaicos, os Judeus constituiam 56% dos médicos, 43% do professorado, 33% dos advogados e 22% dos jornalistas.
(16) A Polónia conhecera um regime de transiçom entre 1819-26, depois umha semiditadura de Pilsudski de 1926-35 no qual as tendencias mais radicais dos partidos da direita antissemita polaca foraom freadas. A partir entom e até a Segunda Guerra mundial, inspirado em parte polo sucesso nazista na Alemanha, a Polónia vive um regime semi-fascista (República dos Coroneis) que promoveu umha política antissemita.
(17) Esse ano o Bund rejeitara participar no Congresso Mundial Judaico dominado polos sionistas.
(18) Entre 1935 e 1937 as atividades pogromistas abatem 79 Judeus e firem uns 500.
(19) As outras organizações judaicas (sionistas, os ortodoxos de Agudat Israel ou os liberais laicos nom sionistas do Folkspartei) contarom com representaçom no Sejm a teor da cooperaçom com partidos doutras minorias (como a aliança eleitoral Bloco de Minorias Nacionais) ou formando candidaturas judaicas.
(20) A vergonhosa aliança russo-alemá (pacto Molotov-Ribbentrop), supom a partilha da Polónia. Amplas regiões da Polónia ocidental forom anexadas polo III Reich, a URSS anexou-se a Ucránia e Bielo-rússia ocidental e o resto do território (Varsóvia, Lublim, Radom e Cracóvia) organizarom-no num Governo Geral sob administraçom alemá. Com as partilhas, 61,2% dos Judeus da Polónia acharom-se sob a ocupaçom alemá e 38,8% nas áreas polacas anexadas pola URSS. Em 1939-40 os territórios anexados pola URSS acolhem 300.000 refugiados judeus polacos.
(21) Em 4 de Julho de 1946 tem lugar o Pogromo de Kielce, quando 37 Judeus forom massacrados e mais de 80 feridos entre 200 sobreviventes do Holocausto que voltaram às suas casas após a Segunda Guerra munidal. A importância deste pogromo radica do fato de ter acontecido 14 meses após o fim da Segunda Guerra mundial e da derrota nazista.
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