quarta-feira, 22 de maio de 2013

A POLÍTICA DA URSS E DOS EUA NA FUNDAÇOM DE ISRAEL: 1947 (I)


7 de fevereiro
O governo britânico anuncia que vai terminar o seu mandato na Palestina. 

Com efeito, a multiplicaçom de fatores de pressom sobre a administraçom colonial britânica na Palestina, com a insistência do governo americano para a imigraçom de 100 mil judeus, inaceitável para os britânicos diante da já delicada situaçom com os árabes, a nova política americana, os ataques e sabotagens das organizações sionistas armadas às suas instalações e o aumento da imigraçom ilegal, levaram a esta decisom da Gram Bretanha.

14 de fevereiro
O governo britânico anuncia que irá encaminhar o problema do futuro da Palestina às Nações Unidas para que fossem formuladas "recomendações relativas ao futuro Governo da Palestina".

Nesta altura, todos os países árabes que estiveram sob ocupaçom colonial já eram independentes, com exceçom da Palestina: o Iraque (Mesopotâmia) conquistou a sua independência em 1932, o Líbano em 1943, a Síria em 1944 e o Reino da Jordânia (Transjordânia) em 1946.

Logo que a Gram Bretanha anunciou a transferência do problema palestiniano para a ONU, a Organizaçom Sionista Mundial (OSM) solicitou aos EUA que assumissem a defesa das aspirações nacionais judias, utilizando-se, para isso, a rede de apoios que constituíra anteriormente junto a numerosos membros do Congresso e Senado americanos.

Nesta altura o movimento sionista modificou um pouco o seu discurso, abandonando temporariamente a reivindicaçom explícita por um Estado judeu, para a substituir por outra que enfatizava o "cumprimento do Mandato", isto é a Declaraçom de Balfour, e o apoio às "aspirações nacionais dos judeus". Antes do tratamento pola ONU da questom palestiniana, diplomatas soviéticos em Washington e Nova Iorque solicitaram informaçom e material às organizações judias americanas e sionistas.


12 de março
Harry S. Truman pronuncia diante do Congresso Nacional um violento discurso assumindo o compromisso de “defender o mundo livre contra a ameaça comunista”. Desta maneira estava lançada a Doutrina Truman e iniciada a Guerra Fria que propagou para todo o mundo o forte antagonismo entre os blocos capitalista e comunista.

Logo a seguir o Secretário de Estado, George Catlett Marshall anuncia a disposiçom dos EUA de efetiva colaboraçom financeira para a recuperaçom da economia dos países europeus, propondo a concessom de créditos para a Grécia e a Turquia a fim de sustentar governos pró-ocidentais.

Março
Num memorando elaborado polo departamento de Próximo Oriente da delegaçom soviética na ONU, a URSS nom prevê a criaçom dum Estado judeu, mas “umha única Palestina independente e democrática que assegurasse que os povos que a habitam disfrutassem dos mesmos direitos nacionais e democráticos”. 

Noutras palavras, a URSS defende a soluçom do Estado binacional, que era rejeitada polos sionistas, salvo os palestinos judeus comunistas, o Hashomer Hatsair e alguns vultos. Os palestinianos árabes comunistas também eram em favor da coexistência com os judeus num único estado, mas rejeitavam o poder compartilhado num quadro binacional.

Moscovo confiava na soluçom de tutela da ONU, já que "nem os árabes, nem os judeus irám concordar". Nos dias anteriores ao discurso de Andrei Gromyko, o embaixador soviético da URSS no Conselho de Segurança, a posiçom soviética nom se alterou, mesmo na questom da imigraçom. Segundo a doutrina soviética, a questom judaica na Europa nom pode ser resolvida pola imigraçom para a Palestina, mas "apenas com a completa erradicaçom de todas as raízes do fascismo e a democratizaçom plena dos países da Europa Ocidental ".

2 de abril
O governo britânico envia para a Assembleia Geral das Nações Unidas um relatório da sua administraçom da Palestina sob o mandato da Liga das Nações, pedindo à Assembleia Geral para fazer recomendações sobre o futuro governo da Palestina.

28 de abril
Inauguraçom em Nova Iorque do primeiro período de Sessões Especiais da Assembleia Geral da ONU para examinar a questom da Palestina, tendo como presidente o brasileiro Oswaldo Aranha. O seu propósito é constituir um Comité Especial para preparar a questom e apresentá-la, alguns meses mais tarde, nas sessões regulares da Assembleia.

O embaixador soviético na ONU, Andrei Gromyko, que recebera novas instruções de Moscovo para preparar o seu discurso, na sua intervençom assume completamente umha nova linha. Considerando que durante a Segunda Guerra mundial "o povo judeu experimentou desastre e sofrimento sem precedentes, deve-se levar em conta as necessidades dum povo que experimentou tal sofrimento". Gromyko disse que se devem valorizar duas soluções diferentes: primeiro, a criaçom de um estado binacional ou, segundo, a partiçom da Palestina se o primeiro se mostrar inviável em vista da deterioraçom das relações judaico-árabes.

3 de maio
A delegaçom soviética apoia a demanda da Agência Judaica de ser ouvida na Assembleia da ONU como representante da populaçom judia da Palestina.

13-14 de maio
Inicia-se o debate no seio da Assembleia Geral da ONU para o estabelecimento dum Comité Especial Sobre a Palestina (UNSCOP).

A Primeira Comissom, presidida polo canadiano Lester Pearson, tinha a incumbência de definir a composiçom da Comissom Especial das Nações Unidas para a Palestina (UNSCOP) e o seu mandato, para os quais havia propostas bastante diferentes. A Arábia Saudita, Egito, Iraque, Líbano e a Síria tentaram em conjunto conduzir a agenda das discusões para o tema da independência da Palestina. Solicitavam que fosse estabelecido na agenda o tema "A terminaçom do Mandato na Palestina e a declaraçom da sua independência", sob o argumento de que tendo a Sociedade das Nações reconhecido a independência provisória dos Mandatos da Classe tipo A, e sendo a Palestina a única naçom ainda sob tutela, as Nações Unidas nom podiam demorar o exame desse tema. As comissões árabes justificaram o pedido expondo os títulos jurídicos conquistados polos palestinos através da correspondência Husayn-McMahon e do texto constitutivo do Sistema de Mandatos do Pacto da Sociedade das Nações.

Um outro aspecto central das discusões sobre a Comissom, era vincular ou nom o problema dos refugiados judeus da Segunda Guerra mundial ao problema palestiniano. O representante sírio reafirmou a posiçom árabe baseando-se numha das resoluções relativas aos refugiados e pessoas desalojadas da Europa: "A organizaçom criada para ocupar-se dos refugiados já está estabelecida e desempenha o seu trabalho. Essa é a organizaçom que deve ocupar-se do restabelecimento ou repatriaçom dos refugiados da Europa, e nom a comissom especial que se criará aqui [...] Os árabes da Palestina nom som responsáveis de forma algumha pola perseguiçom dos judeus na Europa. Essa perseguiçom é condenada por todo o mundo e os árabes figuram entre os que simpatizam com os judeus perseguidos. Nom obstante, nom se pode dizer que a soluçom desse problema incumbe à Palestina, país pequeno que já recebeu um número suficiente desses refugiados e outros desde 1920. Qualquer delegaçom que deseje demonstrar simpatia possui no seu país mais espaço do que o que existe na Palestina e dispõe de maiores facilidades para receber esses refugiados e prestar ajuda".

Nese sentido, no dia 14 o representante soviético dá um dos discursos mais surpreendentes da história da diplomacia da URSS. O representante dum regime de ideologia absolutamente antissionista faz um discurso, que poderia ter sido feito por um brilhante defensor da causa sionista. Além disso, este apparatchik da burocracia soviética descreve a situaçom dos judeus na Europa dumha forma altamente emocional:

“Durante a última guerra, o povo judeu sofreu excepcional tristeza e sofrimento. Sem qualquer exagero, essa tristeza e sofrimento som indescritíveis. É difícil expressá-los nas estatísticas secas sobre as vítimas judias dos agressores fascistas. Os judeus em territórios onde os hitleristas dominaram foram submetidos a quase completa aniquilaçom física. [...] Um grande número de judeus sobreviventes da Europa foram privados dos seus países, as suas casas e seus meios de existência. Centenas de milhares de judeus estám a vagar em vários países da Europa, em busca de meios de existência e em busca de abrigo. Um grande número deles estám em campos de deslocados e ainda continuam a sofrer de grandes privações”.

Entom, Gromyko explicou por que o povo judeu tinha o direito de estabelecer o seu próprio Estado: “A experiência do passado, particularmente durante a Segunda Guerra mundial, mostra que nengum estado da Europa Ocidental foi capaz de prover assistência adequada para o povo judeu na defesa de seus direitos e a sua própria existência da violência dos hitleristas e os seus aliados. Este é um facto desagradável, mas, infelizmente, como todos os outros fatos, deve-se admitir. [Este fato] (...) explica as aspirações dos judeus para estabelecer o seu próprio Estado. Seria injusto nom levar isso em consideraçom e negar o direito do povo judeu a realizar esta aspiraçom".

Assim, Gromyko expôs a posiçom soviética sobre a Palestina: a criaçom dum Estado árabe-judeu democrático ou a partiçom da Palestina em dous estados independentes. Embora, oficialmente a URSS nom era em favor da partiçom, o discurso do Gromyko foi um movimento inesperadamente radical. O diplomata soviético e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros usou tais expressões como "povo judeu" negado por Lenine e Estaline desde o início do POSDR.

Finalmente, embora as manifestações em contrário, decidiu-se excluir dos debates da UNSCOP o tema da independência da Palestina, tomando o seu lugar a discusom sobre um Estado árabe-judeu ou a divisom em dous Estados, um árabe, outro judeu. O problema dos refugiados judeus acabou vinculando-se à questom palestiniana. Foi umha vitória importante para os sionistas. 

Os representantes árabes protestaram fortemente e impugnaram a competência da Assembleia Geral para decidir o futuro da Palestina, alegando que, mesmo após a promoçom da imigraçom em massa de judeus, a populaçom árabe da Palestina ainda representava a significativa maioria de 70% e, por isso, tinha direito à independência e à determinar, por conta própria, a sua constituiçom política.

Líderes sionistas como Abba Eban saudam a nova orientaçom soviética: "Tal posiçom foi umha oportunidade incrível, num momento todos os nossos planos em discussom na ONU foram completamente alterados". Mas eles nom têm qualquer garantia quanto ao facto de a URSS iria realmente defender finalmente para a partiçom.

15 de maio
Depois dos debates, aprova-se a constituiçom da UNSCOP (Resoluçom 106), formada por onze estados (Canadá, Checoslováquia, Guatemala, Países Baixos, Peru, Suécia, Uruguai, Índica, Irám e Jugoslávia).

Logo do debate na ONU, David Ben Gurion considerou a compra de armamento como umha prioridade absoluta da comunidade judia da Palestina e ordenou aos agentes do Hagana para comprar equipamentos militares a fim de preparar as forças judias para a guerra.

Fontes
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