sábado, 6 de julho de 2024

OS JUDEUS FRANCESES PERANTE A AMEAÇA DO VELHO E NOVO ANTISSEMITISMO

 O resultado da primeira volta das eleições legislativas francesas realizadas o passado domingo 30 de junho foi umha vitória clara da Reuniom Nacional (antigo Frente Nacional), polo facto de explorar a preservaçom da identidade nacional francesa face do comunitarismo e do 'islamo-esquerdismo'. Porém, ninguém deve esquecer as origens fascistas e a histórica fasquia antissemita desse movimento.

A Nova Frente Popular (NFP) é umha mistura de antissionistas, pró-palestinianos, esquerdismo abstrato e banal de caráter totalitário, como se viu nos discursos de Mélenchon na noite eleitoral, incitando a violência nas ruas e negando a legitimidade democrática do resultado.

Sobre a França inteira, os democratas em geral e os Judeus em particular pairam, -como noutras sociedades ocidentais abertas-, as ameaças dos totalitarismos emergentes ligados entre si. O confronto deve ser colocado nos justos termos.


A Nova Frente Popular constitui a primeira ameaça aos judeus franceses

Num manifesto divulgado a 5 de julho cerca dumha centena de personalidades, incluindo o historiador Georges Bensoussan, o filósofo Pierre-André Taguieff e o académico Pascal Perrineau, apelam a umha “barreira” à uniom da esquerda formada para as eleições legislativas. A França Insubmissa (LFI) fez do ódio antijudaico umha estratégia eleitoral, argumentam.

Desgostosos com a banalizaçom do antissemitismo, apelamos a umha barreira à Nova Frente Popular, umha coligaçom que acreditamos hoje constitui a principal ameaça aos judeus franceses e, de forma mais ampla, à França. Onde começar ?

Rima Hassan ao lado de J.L. Mélenchon na noite eleitoral de domingo 30 de junho

Recordemos, em primeiro lugar, que dentro da Nova Frente Popular é a LFI que será –de longe– o partido mais representado na Assembleia Nacional. LFI é um partido que fez do ódio antijudaico umha estratégia eleitoral. 

> Este partido, cujo deputado (David Guiraud) admite ter sido alimentado com vídeos de Alain Soral, nega sem entusiasmo as atrocidades de 7 de outubro, acusa Israel de colocar bebés palestinianos em fornos, permite-se referências antissemitas a “dragões celeses” que puxariam as cordas da sociedade. 

> Outro deputado (Aymeric Caron) afirma que os apoiantes de Israel nom pertencem “à mesma espécie” que ele e acredita que a violaçom dumha menina judia em Courbevoie foi excessivamente publicitada. 

> Mais umha (Ersilia Soudais) dá as boas-vindas triunfalmente a Salah Hammouri, terrorista da FPLP condenada por planear o assassinato de Ovadia Yossef, o ex-rabino-chefe de Israel, em Roissy.

> Outra (Danièle Obono) descreve o HAMAS como um “movimento de resistência”.

> Outro (Thomas Portes) acusa Israel de ter permitido voluntariamente que os seus cidadãos fossem massacrados em 7 de outubro para “justificar um genocídio dos palestinianos”. 

> Mais um (Clémence Guetté) recebe com grande alarde o intelectual sueco Andreas Malm, que diz ter vivido o ataque do HAMAS como um “júbilo” e confidencia: “Consumo estes vídeos (do pogrom, nota do editor) como umha droga. Eu injeto-os nas minhas veias. » 

> Umha eurodeputada (Rima Hassan) acusa o CRIF de ditar a política externa da França, descreve Israel como umha "monstruosidade" e escreve que o Estado Hebreu (que ela deseja ver apagado do mapa, "do rio ao mar" ) nom só viola prisioneiros palestinianos com cães, mas também rouba os seus órgãos. Notícias antissemitas falsas que, aliás, nom foram condenadas por nengum membro da Nova Frente Popular.


> Apologia ao terrorismo

LFI, este partido cujos membros cultivam umha obsessom nauseante pola minúscula democracia judaica –menor que a Normandia– mas cercada por regimes autoritários e islâmicos. Este partido, finalmente, do qual nengum membro se dignou a ir à grande marcha contra o antissemitismo em 12 de novembro de 2023 em Paris. E cujo líder, Jean-Luc Mélenchon, insinua que o ataque antissemita a Mohammed Merah teria sido umha conspiraçom (“Verão que, na última semana da campanha presidencial, teremos um incidente grave ou um homicídio. É que foi Merah em 2012"), descreve a comunidade judaica como "umha comunidade agressiva que dá sermões ao resto do país", atribui a derrota de Jeremy Corbyn no Reino Unido a acusações de antissemitismo feitas polo "rabino-chefe da Inglaterra e por várias redes de influência do Likud” e deplora os “arrogantes oukases dos comunitários do Crif. »


A Nova Frente Popular nom é LFI retorquirão alguns. É totalmente verdade. Na NFP, está também o Novo Partido Anticapitalista, que no dia 7 de outubro felicitou o HAMAS, recordando “o seu apoio aos palestinianos e aos meios de luta que eles escolheram para resistir” e concluindo o seu comunicado de imprensa com “Intifada! » (o NPA está atualmente a ser processado por defender o terrorismo). O seu líder, Philippe Poutou, qualificou-se para a segunda volta das eleições legislativas, sob a bandeira do NFP. 

Na Nova Frente Popular, está também a Jovem Guarda, um pequeno grupo violento liderado nomeadamente por Raphaël Arnault, acusado de ataques físicos a opositores políticos, que no dia 7 de outubro demonstrou a sua “solidariedade” à “resistência palestiniana”. Ele também se qualificou para o segundo turno das eleições legislativas, apoiado polo NFP. (Oito membros da Jovem Guarda são mesmo indiciados polo ataque violento a um adolescente judeu no metro de Paris, em 27 de maio.) 

Na Nova Frente Popular, há também o Partido Comunista, que apela incansavelmente à libertaçom de Marwan Barghouti, um terrorista palestino a cumprir pena de prisom perpétua polo assassinato a sangue frio de cinco israelitas. 

Quanto aos partidos da coligaçom supostamente mais moderados, como o Partido Socialista e os Verdes, provaram, através desta aliança, que o antissemitismo é um ponto de detalhe para eles.

> A aceleraçom dos fluxos migratórios

Acrescentemos, para concluir, que a complacência da NFP para com o islamismo levanta questões. O programa comum –com o qual todos os partidos que compõem a coligaçom concordaram– prevê nomeadamente a revogaçom das leis de Emmanuel Macron que permitem umha melhor luta contra o separatismo religioso, mas também a luta contra a “islamofobia” (o uso da palavra mantém conscientemente umha confusom entre a crítica a umha doutrina e o ódio às pessoas) e a significativa aceleraçom dos fluxos migratórios, umha aposta arriscada num momento em que a máquina de assimilaçom está estagnada. Lembre-se que 56% dos Judeus franceses acham que o islamismo representa a maior ameaça à sua segurança. O islamismo, que ceifou a vida a 273 franceses desde 2012 e põe em perigo os nossos valores republicanos, nom é obviamente umha ameaça apenas para os Judeus.


Apelamos, portanto, a erguer umha barreira à Nova Frente Popular, umha coligaçom cujo sucesso eleitoral nos faz temer o pior. Nom há mérito em condenar o antissemitismo do passado se nom formos implacáveis ​​perante o do presente, nom há mérito em formar umha frente republicana com grupos hostis aos valores republicanos.


A ameaça do antissemitismo do passado representada pola Reuniom Nacional

O partido Reuniom Nacional (RN) afirma ter limpo as suas fileiras e apresenta-se como um “escudo” para os Judeus face o crescente antissemitismo. Mas os comentários de vários candidatos legislativos contradizem esta versom.

Capa de Libération a denunciar o perfil antissemita da RN

Antes de mais, cabe lembrar que a Frente Nacional (organizaçom que deu lugar à RN) foi criada polo negacionista François Duprat, o SS Pierre Bousquet ou mesmo François Brigneau, antigo membro da Milice, organizaçom paramilitar que participou na caça aos Judeus sob Vichy. A FN é um partido ligado ao antissemitismo desde a sua criaçom. As múltiplas saídas antissemitas de Jean-Marie Le Pen atestam isso: o “detalhe”, o “crematório Durafour”, a “internacional judaica”...  

Hoje, Marine Le Pen afirma, no entanto, ter rompido com as ideias do pai. Quem chegou a descrever Alain Soral como um “escritor imenso” com “muito talento e escrita” acredita agora que a RN é “o único movimento político que é um escudo para proteger os nossos compatriotas de fé judaica”. Todos nós temos o direito de mudar, mas muitos candidatos às eleições legislativas antecipadas nom parecem estar na mesma sintonia. 

> A começar por Agnès Pageard, candidata no 10º distrito de Paris, apontada por Libération (doravante Libé) polas suas observações de antissemitismo desenfreado. Multiplicando referências a Céline, Coston e Ratier, Agnès Pageard difama “as nossas elites que sodomizam os seus próprios filhos”, nomeadamente “os Lang, Attali, Finkelkraut [sic], Duhamel, Kouchner, Fabius, Guigou, Cohn Bendit, BHL”. Fã da famosa pergunta “QUEM?” ", ela lamenta que "as pessoas estejam a rir umhas das outras em vez de procurarem os nossos [...] Soros, BHL, Attali que estão a nos arruinar, a colocar-nos na escravidom". E questiona: “Quem são a elite, aquelas que ficam a ocupar os aparelhos de TV? ». Ela também quer “a aboliçom das leis Pleven e Gayssot”. 

> Frédéric Boccaletti, figura do RN e candidato à reeleiçom no 7º distrito do Var, poderia ter subscrito essa mesma posiçom há alguns anos. Em 1997, este homem “corajoso” (segundo Égalité & Réconciliation) abriu a livraria Anthinéa em Toulon, umha homenagem a umha obra de Charles Maurras, na qual vendia livros negacionistas e antissemitas. Pierre Brochet, que é candidato do 11º distrito de franceses residentes no exterior, é auxiliado por Eric Miné. Este último foi, no final da década de 1990, o primeiro gestor da “Biblioteca Nacional”, especializada em escritos negacionistas.

> Candidata ao 1º distrito de Côtes-d’Armor, Françoise Billaud prestou, em 2021, umha homenagem a Pétain e saudou, no dia 8 de maio, a memória do padre colaboracionista Jean-Marie Perrot, segundo revela o Libé. Em meados de maio, ela compartilhou umha publicaçom com conotações antissemitas, fazendo de Emmanuel Macron o fantoche de Jacques Attali e George Soros. Ela também nom é a única a atacar o bilionário de origem húngara, alvo recorrente da complosfera antissemita

> Jean-Lin Lacapelle, candidato do RN no 5º distrito de Loiret, apelou em junho de 2023 para colocar “fora de perigo” as “organizações” do “Soros globalista e imigracionista”. A mesma história com Patrick Le Fur, candidato em Finistère.

> Em 2015, Pierre Gentillet, pró-Putin, candidato no 3º distrito de Cher, partilhou um artigo do Sputnik que tornava George Soros “o arquitecto do caos”. Dous anos antes, ele ironizou sobre os nomes de origem hebraica que Vincent Peillon dera aos filhos.

> Julien Odoul, figura midiática do RN e candidato no 3º distrito de Yonne, nom ataca Soros, mas sim Jacques Attali, outra figura odiada polos antissemitas. Ele descreve o escritor como “o homem mais representativo da casta globalista”. Em 2017, criticou-o por “acampar” em “aparelhos de televisom para divulgar a sua ideologia globalista e promover a preferência estrangeira”. Isto nom o impediu de ser nomeado porta-voz do RN por Marine Le Pen em 2021.

> Numha conta pessoal no Twitter (a sua conta de campanha foi criada em junho de 2024), Sebastien Laye, candidato no 10º distrito de Hauts-de-Seine, evoca a existência dum “lobby Rotschild”.

> O citado Patrick Le Fur, pola sua vez, utiliza comparações mais do que duvidosas. Em 2021, ele equiparou a situaçom dos nom vacinados durante a pandemia de Covid-19 ao destino dos Judeus sob a ocupaçom.

> Finalmente, terminemos com as revelações devastadoras de @streetpress que, aliás, faz um trabalho essencial na extrema direita, a respeito de Louis-Joseph Pecher, candidato inicialmente investido no 5º distrito de Meurthe-et-Moselle. Ele acha em particular que “o Islão estúpido sempre faz o jogo dos EUA, dos Judeus e do Mossad”, implica que os Judeus “faliram” a França e, respondendo a um tweet de Julien Dray, escreve: “Judeu que fala, boca que mente.” 

Então.

Fontes:

Tribune Juive

Victor Mottin

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