sábado, 4 de maio de 2024

A GUERRA URBANA DE ISRAEL EM GAZA

 John Spencer

Israel fez mais para evitar baixas civis na guerra do que qualquer exército na história -acima e além do que o direito internacional exige- e mais do que os EUA fizeram nas suas guerras no Iraque e no Afeganistão, estabelecendo um padrão que será difícil e potencialmente problemático de cumprir. 

John Spencer, autor do texto, é especialista em guerra urbana
  

Aqui (novamente para todos os ‘especialistas’ nom tão especializados) estão muitas das medidas e passos que a IDF tomou:

1 - Evacuou civis para fora das cidades numha elevada percentagem (70-90%) antes de iniciar umha invasom terrestre total em ataques convencionais que procuram destruir as defesas inimigas. 

Os EUA nom fizeram isso na invasom do Iraque, Afeganistão, Panamá, na contra-ofensiva Tet do Vietnão (Hue), Guerra da Coreia (Seul), Filipinas (Manila), nem nos ataques durante as campanhas de contrainsurgência contra o ISIS, como a Batalha de 2016-2017. Mosul (civis inicialmente foram instruídos a ficar), 2017 Raqqa.

2 - Forneceu rotas seguras e umha zona humanitária para evacuaçom de civis. Apesar dos relatos das FDI a conduzir operações perto das rotas e da zona, Israel posicionou soldados das FDI ao longo da rota para proteger os civis, enquanto o Hamas impediu os civis de usar essas rotas, atacou civis nas rotas para incluir tiros e colocou lançadores de foguetes próximos à rota e zona.

3 - Usou mais do que apenas folhetos para notificar, localizar e encorajar os civis a evacuarem temporariamente as principais áreas de combate. Israel enviou mais de 7,2 milhões de panfletos, mas também fez mais de 79.000 telefonemas diretos, enviou mais de 13,7 milhões de mensagens de texto e deixou mais de 15 milhões de mensagens de voz pré-gravadas para notificar os civis de que precisavam de abandonar as principais áreas de combate. Os EUA nunca implementaram estas outras medidas electrónicas diretas, especialmente a essa escala, para atingir os civis.

4 - Conduziu pausas diárias de várias horas em todas as operações de combate durante as batalhas para permitir a evacuaçom dos civis, colocando as IDF sob ameaça direta de ataque para permitir que os civis passassem polas linhas amigas durante as batalhas. As IDF têm feito isso diariamente e durante meses, desde novembro. Os EUA nunca fizeram isso em grandes batalhas.

5 - Distribuíram os seus mapas militares. As FDI (pola primeira vez na história da guerra) distribuíram os seus mapas militares aos civis e usaram os seus mapas para se comunicarem diretamente com os civis, nom apenas para evacuaçom localizada, mas para notificar os civis onde as FDI estariam a operar no dia a dia. alertando sobre os locais que os civis deviam evitar. Esta informaçom também foi para o HAMAS, impedindo grande parte da capacidade das FDI de surpreender o HAMAS nas batalhas.

Mapas militares usados polas IDF foram divulados à populaçom de Gaza

6 - Implementou “roof knocks” (batidas no telhado). No início da guerra, as IDF empregaram a sua prática de telefonar e enviar mensagens de texto antes dum ataque aéreo, bem como bater no telhado, onde largavam pequenas munições no telhado dum edifício, notificando todos para evacuarem o prédio antes dum ataque. Nengum outro exército no mundo faz isso.

7 - Desenvolveu umha metodologia para monitorizar a presença civil em tempo real e utilizou essa metodologia para conduzir as operações. A Célula de Mitigaçom de Danos Civis das IDF (comandada por um General de 1ª Estrela) pode rastrejar a presença de civis em tempo real usando imagens de presença de telemóveis, satélite e drone e BDA rua por rua. Os dados criam códigos de cores dos mapas militares das FDI que restringem onde as FDI podem operar, conduzir ataques, etc.

8 - Consultores jurídicos colocados em níveis baixos (inferiores às operações padrom dos EUA) e diretamente no processo de seleçom de alvos. As FDI têm consultores jurídicos incorporados no processo de seleçom de alvos, umha etapa deliberada, e presente nos níveis de brigada e divisom.

9 - Imposiçom de restrições ao uso da força. Isto inclui alterar as regras de combate e liberar autoridade para ataques e operações durante umha batalha. Implementou medidas de controlo, como linhas e zonas de fogo restritas, ausência de áreas de fogo em objetos/edifícios protegidos e locais sensíveis (mais do que os requisitos legais) onde a conduçom dumha operaçom, entrada ou mesmo resposta ao fogo nalguns locais exigiria a aprovaçom do General-Chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel.

10 – Conduziu grandes operações de chamada onde as FDI cercam um local, como o Hospital Al-Nasser, mas também bairros inteiros (dezenas de milhares de pessoas) em Khan Yunis que são cercados e depois instruídos a evacuar através de posições das FDI (aumentando o risco para as FDI) e depois são utilizados grandes recursos de reconhecimento facial para identificar membros do HAMAS que tentam misturar-se com os civis evacuados que estão detidos sem ferir os civis.


Em vez de argumentar que as FDI nom tomaram todas as medidas  referidas acima, os críticos e especialistas escolhem as práticas ou alegam que isso nom importa porque as medidas das FDI nom foram eficazes com base numha dança kabuki de estatísticas mal podem encontrar/enquadrar e comparar a guerra em Gaza com batalhas isoladas que nom têm de longe o mesmo contexto. Mesmo assim, o problema é que as FDI têm sido eficazes.


As IDF evacuaram com sucesso mais de 850.000 civis de um milhom (85 a 90%) no norte de Gaza antes do início dos combates mais intensos. Na verdade, isto é consistente com muitas batalhas urbanas da Segunda Guerra Mundial e dos cercos modernos na história da guerra urbana, o que mostra que, independentemente do esforço, cerca de 10% das populações permanecem.

A proporçom das IDF de 1-1,5, se nom de 1-1 combatente-civil (algo focado exclusivamente polo mundo e polas pessoas que nom conhecem a história da guerra ou da guerra urbana) é melhor do que quaisquer batalhas, passadas ou modernas, na guerra urbana com contexto mesmo remotamente semelhante.

A estimativa do Ministério da Saúde de Gaza, controlada polo Hamas, de mais de 34.000 mortes de civis nom reconhece a morte de um único combatente do HAMAS nem quaisquer mortes devido à falha de disparo (20%) de milhares de foguetes do HAMAS ou de outros terroristas que caíram dentro de Gaza ou ao fogo amigo do HAMAS, as mortes de civis do HAMAS ou mortes por causas naturais. Supõe-se que sejam literalmente todas as mortes em Gaza desde 7 de outubro.

As IDF estimam que tenha matado cerca de 13.000 agentes do HAMAS. O bom senso subtrairia a estimativa das FDI de combatentes do HAMAS (13.000) do total de mortes em Gaza do Ministério da Saúde de Gaza do HAMAS (34.000) para obter 21.000 mortes de civis, de acordo com o HAMAS. Essa é umha proporçom de 1-1,5 ou 1-1,6. Mesmo o Ministério da Saúde de Gaza anunciou recentemente que nom conseguiu verificar mais de 11 mil das 34 mil mortes relatadas. Assim sendo, combinado com os exageros históricos do HAMAS, o rácio de combatentes/civis mortos é mais provavelmente de 1-1, o que seria historicamente baixo para guerras urbanas de alta intensidade.

Na Batalha de Mosul de 2016-17, as maiores batalhas urbanas desde a Segunda Guerra Mundial, a Força de Segurança Iraquiana liderada polos EUA matou 10.000 civis para destruir 4.000 terroristas do ISIS na cidade. Essa é uma proporçom de 1-2,5 combatentes por morte de civis. Na Batalha de Manila de 1945 (que tinha algumhas variáveis ​​semelhantes às de Gaza, como o elevado número de defensores, túneis e reféns), os militares americanos mataram 100.000 civis para destruir 17.000 defensores japoneses, ou seja, uma proporçom de 1-6 de combatentes-civis. A Segunda Batalha de Seul de 1950 (outra batalha com variáveis ​​semelhantes às batalhas em Gaza) as forças americanas provavelmente mataram dezenas de milhares (nom há registo de quantos morreram na batalha da cidade entre os 2 milhões de civis que morreram na guerra) para matar 7.000 inimigos norte-coreanos.

Mas as FDI também reduziram o já baixo rácio de vítimas entre combatentes e civis na guerra. O New York Times noticiou em janeiro que o número diário de mortes de civis caiu para mais de metade em dezembro e caiu quase dous terços em relaçom ao pico registado em janeiro. Quando visitei Khan Yunis, em fevereiro, as mortes de civis causadas polas acções das FDI na guerra eram muito baixas.

A verdade é que ninguém sabe quantos civis morreram em Gaza, especialmente o HAMAS. Nunca houve umha guerra/batalha, especialmente umha batalha urbana, onde alguém pudesse monitorar as mortes de civis numha base diária e especialmente nom até ao único dígito. É impossível. Um ano após a Batalha de Mosul de 2016-17, o governo iraquiano nom sabia quantos civis morreram na batalha, com estimativas de 11.000 a 40.000.


Israel nom criou um padrom-ouro na mitigaçom de danos civis na guerra. Isto implica que existe um padrom de vítimas civis em guerra que é aceitável ou nom; que zero mortes de civis na guerra é remotamente possível e deveria ser o objectivo; que existe umha proporçom definida entre combatentes e civis na guerra, independentemente do contexto ou das táticas do inimigo. Mas todas as evidências disponíveis mostram que Israel seguiu as leis da guerra, as obrigações legais, as melhores práticas na mitigaçom de danos civis e ainda encontrou umha forma de reduzir as vítimas civis para níveis historicamente baixos.


John Spencer é investigador da Cátedra de Estudos de Guerra Urbana no War Institute | Autor de "Compreendendo a Guerra Urbana"

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