A propósito das polêmicas palavras que proferiu o português António Guterres, Secretário-Geral da ONU, sobre as causas da extrema violência dos ataques do Hamas contra Israel na QJ reproduzimos a opiniom que a autora fez a 25 de outubro no X.
Helena Ferro de Gouveia |
As palavras devem ser pesadas na balança de ourives, sobretudo se quem as profere é o secretário geral das Nações Unidas.
O pilar fundacional europeu é o Nie Wieder, a nom repetiçom da hora mais sombria do século XX, a Shoah. Nom há crime, nem horror que se compare.
Israel existe no local onde existe porque antes de haver umha Palestina havia umha Judeia. A conquista da Judeia polos romanos está documentada.
Mas se nom quisermos recuar milénios basta-nos recuar ao século passado e à decisom da ONU de criar o Estado de Israel para acolher os que o mundo traiu (como traiu durante séculos com expulsões, perseguições, conversões forçadas e pogroms).
A queima de Judeus em fogueiras nom aconteceu só no período da inquisiçom ou no universo concentracionário nazi, aconteceu intelectualmente com o antissemitismo de esquerda (magistralmente explicado por Hannah Arendt em 'As Origens do Totalitarismo') que permanece até hoje e em nada difere do discurso de ódio do NDSAP.
Podia-se falar da relaçom entre os movimentos árabes e o comunismo ou da forma como os países árabes nunca aceitaram nem Israel, nem os Judeus. É sobejamente conhecido o encontro entre Hitler e o Mufti de Jerusalém.
Mas saltemos de novo tempo e usando a linha argumentativa de Guterres: a construçom do muro nom surgiu num vácuo, surgiu porque diariamente havia atentados bombistas em Israel (suicidas ou nom) e esfaqueamentos (e a decapitaçom de bebés nom é nova no terrorismo islâmico ) , Gaza nom surgiu num vácuo.
Isto justifica ou legítima os crimes cometidos polos governos israelitas contra os palestinianos ou a opressom? Dir-me-ão que não.
Esse é o ponto: nada justifica o massacre de 1400 pessoas a 7 de outubro. Nada justifica executar famílias, decepar-lhes mãos, nada justifica violar mulheres e crianças, nada justifica queimar vivas pessoas (de novo os Judeus queimados nas fogueiras do ódio, reais e das redes sociais).
Ainda os Judeus nom fizeram Kadisch a todas as vítimas (algumhas possivelmente nunca serão identificadas face à brutalidade da sua morte) e alguém com a responsabilidade de António Guterres fala em vácuo? Além da enorme falta de sensibilidade perante um trauma nacional abriu aqui um precedente perigoso de normalizaçom do Hamas (movimento terrorista islâmico) e da sua violência e incentiva outros movimentos terroristas a sentirem as ações legitimadas.
Esquecemos muito depressa Atocha, Londres, Paris, Berlim, Bruxelas, o atentado contra o Charlie Hebdo ou assassinato de Theo Van Gogh (afinal somos “umha cultura opressora” e portanto os afetados nom sugiram no vácuo, é isto nom é? )
Com isto importa dizer que o Direito Internacional -nomeadamente o poupar o máximo de vidas civis- deva ser cumprido chame-se o país Rússia ou Israel.
Helena Ferro de Gouveia é umha jornalista, comferencista e autora portuguesa. No decorrer do seu trabalho como jornalista relatou, entre outras coisas, da Malásia, Egito, Timor Leste, Moçambique, Guiné-Bissau, EUA e Israel. Em 2015 publicou o seu primeiro livro "Domadora de Camaleões", umha coletânea de crónicas, contos e poemas.
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