sexta-feira, 6 de outubro de 2023

NEOFASCISMO NA ESQUERDA

 Recentemente, um fenômeno passou a chamar atençom dos estudiosos da extrema-direita: grupos neofascistas estão a ganhar espaço e legitimidade para disseminarem ideologias reacionárias em núcleos de esquerda.


Dando um passo atrás, é preciso explicar quem é Alexander Dugin. Trata-se de um pensador russo, pai da chamada "Quarta teoria política", amplamente lido polo alto comando do exército da Rússia, que propaga a ideia dum projeto imperialista e neofascista. Dugin dissemina a ideia da “aliança vermelha e marrom”.

Alexándr Gélievitch Dúgin


“Essa ideia é basicamente o ponto de entrada na esquerda, a partir de pautas ou de slogans que são remodelados e utilizados como forma de aceitaçom”, explica o pesquisador e filósofo Renato Levin-Borges, também conhecido como Judz, ao podcast “E eu com isso?”. 

As pautas defendidas por esses grupos são a soberania nacional, globalismo (que se enquadra em uma gramática neofascista) e a noçom de multipolaridade (mais dum polo de poder no mundo, sendo a Rússia um deles).

Dugin instrui os seus seguidores a entrarem nos grupos de esquerda para vender ideias tradicionalistas, conceito que está explicado detalhadamente no livro “Guerra contra a eternidade”, do pesquisador Benjamin Teitelbaum. Na obra, Teitelbaum entrevista Dugin, Olavo de Carvalho [considerado guru do presidente Jair Bolsonaro] de e Steve Banon [ideólogo do trumpismo], os três adeptos de ideias similares.


Para esse grupos, as pautas identitárias (a luta contra o racismo, contra a LGBTfobia, contra o antissemitismo) são ideias do “atlantismo”, que seriam representados polos Estados Unidos, portanto umha ferramenta de dominaçom norte-americana. As minorias são difamadas sob a justificativa de que a luta por representatividade acaba com a coesom do povo.

Eventualmente, o assunto chega nas ONGs, que financiam essas pautas. É quando nomes como “Open Society” e “George Soros” aparecem – e aqui, começa o discurso antissemita, de que os Judeus financiam a destruiçom.

“Eles vendem o antissemitismo dum modo que não é tão escancarado”, diz Judz. “Dum lado, tem o ataque a Israel, e, por outro lado, Soros e as ONGs. Voltando ao clássico dos Protocolos dos Sábios de Sião.”

O que esses grupos fazem é reciclar ideias nazistas: “O fascismo remodula-se, ele muda as suas caras, mas o que ele vende no centro é sempre conservadorismo, reacionarismo, supremacismo branco, heteronormatividade e antissemitismo.”


E tudo isso existe no Brasil? Sim. O grupo mais conhecido no país é a Nova Resistência, que fez umha entrada no PDT, por exemplo. O líder dessa organizaçom é colunista do Brasil 247 e também fala ao Opera Mundi – dous portais que se dizem de esquerda. Nas redes sociais, este mesmo líder expressa ser um negacionista do Holocausto.

No Brasil, eles utilizam-se da figura de Getúlio Vargas: por um lado, trabalhista, por outro, adepto da ideologia fascista. Na Argentina, a proximidade é com Perón. “Esses grupos defendem-se como nacionalistas. Entom, quando eles são atacados, dizem que pensam ‘no bem do povo brasileiro’ e em ‘um país nom-subjugado’”, afirma Judz. 

Nos últimos tempos, nomes ligados a "Quarta teoria política" têm atingido o público progressista. E por que isso é ruim? A problemática de convidar essas pessoas é clara: nom se convida um nazista para falar de nazismo, mas um estudioso do tema; tampouco um racista para falar de racismo, mas um estudioso do tema.

Quando surgem as críticas polo convite, há quem argumente que o objetivo é debater e descontruir as ideias da aliança vermelho e marrom. No entanto, esse espaço conquistado permite que eles cheguem mais longe – e é isso que parte da esquerda tem feito, permitindo que discursos neofascistas sejam reverberados.

“O discurso opera transformações e capturas de afetos e ideias, entom, quando eu sou palanque para um sujeito que vai propagandear teorias racistas, fascistas, machistas, antiLGBTQIA+, eu estou a dar um megafone. Por mais que eu queira denunciar, essas palavras vão chegar em muita gente, que vai acabar por concordar.”

É preciso seguir vigilante: o Brasil tem aderido cada vez mais a ideias extremistas, os grupos neonazistas cresceram astronomicamente no país. Para impedir que o neofascismo seja disseminado, é preciso informar, nom legitimar.


NOTA DA QJ: Na Galiza essas ideias tolas som defendidas singularmente por Alberte Blanco, engenheiro, professor, escritor e político da UPG/BNG, quem em obras como "Geopolitica, pandemia e pós-capitalismo" (2021) ou nas páginas do jornal Nós Diario espalha essas teorias da conspiraçom entre a paróquia nacional-popular. Assim sendo, no último artigo de opiniom culpa as ONGs de George Soros de reatar o Conflito do Alto Carabaque.

É paradoxal que um "intelectual" do nacionalismo galego desse teor ataque George Soros, besta negra dos neofascistas e da extrema-direita espanholista, a quem acusam quer de colonizar Europa com imigrantes do Magrebe (teoria da Grande Substituiçom), quer de estar a financiar o movimento independentista da Catalunha.


Fonte: IBI Instituto Brasil-Israel


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