terça-feira, 15 de setembro de 2020

O QUE PRECISA SABER SOBRE GEORGE SOROS, O CENTRO DAS TEORIAS DA CONSPIRAÇOM

Ben Sales/JTA

Um colunista do Chicago Tribune foi despromovido após culpar Soros dos protestos e tumultos recentes nos EUA.

A certa altura, houve 500.000 tweets negativos sobre Soros em um dia.

E isso foi apenas nos últimos meses.

Soros, que fez 90 anos no mês passado, doou bilhões de dólares para umha série de causas progressistas, tornando-se um bicho-papão para os republicanos e conservadores nos Estados Unidos e em todo o mundo. Ele também tornou-se talvez o principal alvo daqueles que usaram Soros como um substituto para o antigo mito antissemita do rico financista judeu que puxa as cordas de políticos nos bastidores.

Mas as teorias da conspiraçom sobre Soros e seu controlo nom param em amadores da eterna teima. Nos últimos anos, assistimos a conspirações sobre Soros promovidas por figuras públicas como o presidente Donald Trump, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban e mesmo Yair Netanyahu, filho do primeiro-ministro israelita.

Eis alguns tópicos básicos sobre Soros, a sua filantropia, por que algumas pessoas nom gostam dele e às vezes passam a linha confusa entre crítica legítima e antissemitismo.

George Soros é um financista judeu húngaro-americano que sobreviveu ao Holocausto.

Soros é mais conhecido como um financista que ganhou bilhões com investimentos e especulaçom monetária, e um filantropo que tentou divulgar a sua visom dumha “sociedade aberta” liberal internacionalmente.

Nascido na Hungria em 1930 no seio dumha família judia, Soros tinha 13 anos quando o Holocausto ocorreu na sua cidade natal, Budapeste. Soros sobreviveu ao genocídio escondendo-se e mudando-se para Londres e depois para Nova York, onde iniciou umha carreira de sucesso em Wall Street como proprietário dum fundo de investimento. Nas finanças, ele é conhecido principalmente pola chamada Quarta-feira Negra, quando apostou com sucesso contra a libra esterlina em 1992.

O trabalho de Soros nas finanças é frequentemente citado em invectivas antissemitas contra ele, enquanto outra teoria da conspiraçom sobre ele postula falsamente que ele foi um colaborador dos nazistas em vez de uma criança sobrevivente. Para obter mais detalhes sobre essas teorias, consulte abaixo.

Soros investiu bilhões de dólares no financiamento de esforços pró-democracia, causas liberais em todo o mundo e grupos de esquerda em Israel.

Em 1979, Soros fundou a sua instituiçom de caridade, que se tornou a Open Society Foundation. Ele fez doações contra o apartheid na África do Sul. Mais tarde, doou para organizações na Hungria e em outras partes do bloco comunista, promovendo a democracia, a liberdade de expressom e o livre mercado. Ele fundou a Central European University na Hungria, umha escola bem conceituada, e ofereceu bolsas de estudo a estudantes promissores de países repressivos (incluindo Orban, o seu futuro inimigo).

Mais recentemente, Soros promoveu causas de esquerda nos Estados Unidos. A partir da eleiçom presidencial de 2004, ele tornou-se um dos principais financiadores dos políticos democratas - embora de forma algumha o maior. Na campanha de 2016, por exemplo, ele foi o 12º maior doador político para qualquer um dos partidos nos Estados Unidos, de acordo com o banco de dados OpenSecrets, e o quinto maior doador de Hillary Clinton. Este ano, até agora, ele é o 23º maior doador para qualquer um dos partidos do país.

Ele também financiou candidatos progressistas a procuradores distritais nos Estados Unidos, na esperança de promover a causa da reforma do sistema de justiça criminal e das políticas antidrogas depois de concluir que as autoridades americanas deveriam tratar o as drogodependências como umha doença, em vez dum crime.

Soros também fez doações para umha série de grupos de direitos humanos israelitas e palestinianos de esquerda que se opõem à ocupaçom israelita da Cisjordânia e, nalguns casos, endossam o movimento de boicote a Israel conhecido como BDS. Além disso, a partir de 2008, ele doou aproximadamente US $ 750.000 para J Street, o lobby liberal americano de Israel.

Os conservadores criticaram o ativismo de Soros por décadas e ele tem gerado polêmica entre os judeus americanos.

Por ser um notável filantropo progressista, Soros tornou-se umha bete noire para os conservadores. Assim como muitos liberais criticam Sheldon Adelson ou Charles Koch polas suas grandes doações aos republicanos, os conservadores chamaram a atençom das contribuições de Soros para os democratas.

Soros também recebeu críticas incisivas de líderes judeus americanos polas suas opiniões sobre os assuntos judaicos. Além da filantropia de sua fundaçom em prol de grupos israelitas de esquerda, Soros raramente faz doações para organizações judaicas, e ele está afastado do consenso judaico americano em questões centrais como Israel e  o antissemitismo.

Em 2007, Soros escreveu: “Nom sou um sionista, nem sou um judeu praticante, mas tenho umha grande simpatia polos meus companheiros judeus e umha profunda preocupaçom pola sobrevivência de Israel”. Nesse mesmo ensaio, ele criticou a "influência generalizada do Comitê de Assuntos Públicos de Israel," acusando o lobby pró-Israel de estar "estreitamente ligado aos neoconservadores" e "um defensor entusiasta da invasom do Iraque", alegando que o comportamento do grupo deu "algum crédito" à crença antissemita numha "todopoderosa conspiraçom sionista".

Quatro anos antes, ele falou numha reuniom da Rede de Fundadores Judaicos e disse que havia “um ressurgimento do antissemitismo na Europa e que as políticas da administraçom Bush e da administraçom [Ariel] Sharon [em Israel] contribuem para isso ”.

Os comentários de 2003 causaram indignaçom. Abraham Foxman, entom diretor nacional da Liga Anti-Difamaçom, chamou-os de "umha perceçom simplista, contraproducente, tendenciosa e preconceituosa do que está lá fora. É culpar a vítima por todos os males de Israel e do povo judeu. ”

Em 2008, quando o lobby liberal israelita J Street recebeu o apoio financeiro de Soros, o grupo nom revelou o seu envolvimento devido à polêmica gerada polo ativismo anterior de Soros, frisou o presidente da J Street, Jeremy Ben-Ami, em 2010.

“Era a sua opiniom que os ataques contra ele de certas partes da comunidade iriam minar o nosso apoio”, disse Ben-Ami à Agência Telegráfica Judaica na época. “Ele estava preocupado que o seu envolvimento fosse usado por outros para atacar o esforço.”

Ultimamente, muitas críticas a Soros soaram anti-semitas.

Nos últimos anos, as críticas a Soros voltaram-se cada vez mais para o antissemitismo, sugerindo que Soros faz esforços sombrios e conspiratórios para controlar as pessoas ou acusando-o, sem evidências, de ser a força oculta por trás de causas progressivas. As acusações invocam a conspiraçom judaica milenar sobre que os Judeus planejam umha conspiraçom internacional para governar secretamente o mundo através do dinheiro.

Em 2010, o comentarista de direita Glenn Beck transmitiu umha série de segmentos na Fox News acusando Soros de ser um “mestre de marionetes”. O presidente Donald Trump também se envolveu nesse tipo de mensagens, sugerindo sem evidências, por exemplo, que Soros estava a pagar os protestos contra o entom indicado à Suprema Corte, Brett Kavanaugh.

“O estereótipo mais antigo de antissemitismo é sobre Judeus e dinheiro”, disse Foxman. “Isso remonta a Jesus a ser vendido por 30 moedas de prata. Está aí, é profundo, é amplo, é universal. O que aconteceu nos últimos anos é que Soros tornou-se o espantalho desse estereótipo do judeu internacional. Ele tornou-se um ícone. ”

Às vezes, essas acusações vêm junto com memes que mostram o suposto controlo de Soros que invocam estereótipos antissemitas. Um, usado por Beck, mostra Soros com o cabo dumha marionete. Outra mostra Soros controlando pessoas com tentáculos de polvo.

Outra teoria da conspiraçom afirma falsamente que Soros foi um colaborador nazista. Na realidade, ele estava escondido sob um nome falso com um funcionário húngaro e umha vez foi levado junto com ele num levantamento de propriedades judias sob a ocupaçom nazista. Ele era uma criança na época e é um sobrevivente do Holocausto, nom um perpetrador.

Às vezes, é difícil dizer quando a crítica é legítima ou intolerante.

A distinçom entre a crítica legítima do ativismo de Soros e a invectiva antissemita nem sempre é clara. Oficiais republicanos provocaram reaçom de grupos progressistas, convocando Soros e outros doadores judeus para financiar campanhas democratas.

Os funcionários, o líder republicano da Câmara, Kevin McCarthy e a senadora Susan Collins (Maine) nom têm histórias de antissemitismo e nom identificaram os doadores como judeus. Os doadores em questom estám na verdade entre os principais financiadores das campanhas democratas. Mas os críticos dizem que as declarações invocam o estereótipo antissemita de Judeus ricos que usam o seu dinheiro para controlar políticos.

Em outubro de 2018, McCarthy twittou: “Nom podemos permitir que Soros, Steyer e Bloomberg COMPREM esta eleiçom!” Michael Bloomberg também é judeu e Tom Steyer é descendente de judeus. O tweet também exibiu umha foto granulada em preto e branco de Soros. Steyer e Bloomberg foram os dous principais doadores democratas na campanha de 2018, enquanto Soros foi o quinto maior, de acordo com o banco de dados de financiamento de campanhas OpenSecrets.

McCarthy deletou o tweet dias depois, porque veio dias antes dumha bomba ser enviada polos correios à casa de Soros. O legislador da Califórnia defendeu o tweet dizendo que "nom tinha nada a ver com a fé" e "tudo o que eu estava a apontar era o dinheiro que republicanos e democratas estavam a gastar para derrotar uns aos outros".

No mês passado, Collins deparou-se com umha questom semelhante quando acusou o líder democrata do Senado, Chuck Schumer, de Nova Iorque de estar "motivado polo poder", e convocou dous doadores para a campanha do seu oponente, Donald Sussman e George Soros. Sussman, Soros e Schumer som todos judeus.

“Se o senhor vai dizer que Soros contribuiu para umha determinada causa, sejam os direitos palestinianos ou a reforma da justiça criminal, isso nom é antissemita, é algo que está a acontecer”, disse Emily Tamkin, autora de “The Influence of Soros" , um livro recente sobre a filantropia de Soros e as teorias da conspiraçom sobre ele.

Mas quando Soros é acusado de cousas como sequestrar a democracia americana, segundo Tamkin, atravessa a linha para o antissemitismo.

Uma conspiração influenciada por Soros sobre a imigração levou à violência.

A obsessom da extrema direita com Soros parece ter-se acelerado com Orban, o líder nacionalista húngaro de direita que fez de Soros um alvo das suas campanhas. Orban culpou Soros por estimular refugiados a entrar no país e tomar medidas contra os seus projetos. Em 2018, o governo de Orban forçou a Universidade da Europa Central a saír da Hungria por meio dumha batalha judicial prolongada.

Em 2017, Orban colocou por  toda a Hungria imagens com o rosto sorridente de Soros que dizia: "Nom vamos permitir que Soros ria por último." As imagens estavam frequentemente desfiguradas com pichações anti-semitas, e foram condenados pola comunidade judaica húngara.

Para alguns da extrema direita nos Estados Unidos, Soros tornou-se a personificaçom dumha teoria da conspiraçom antissemita chamada da Grande Substituiçom, que acusa os Judeus de trazer imigrantes para países brancos a fim de enfraquecer e substituir os brancos.

No final de 2018, um homem obcecado em atacar os rivais políticos de Trump enviou a bomba para a casa de Soros. Dias depois, um atirador entrava numha sinagoga em Pittsburgh e matava 11 Judeus, culpando-os por trazer imigrantes para os Estados Unidos. Ele também demonizou Soros nas redes sociais.

Artigo de opiniom publicada em The Jerusalem Post 9/9/2020 | Traduçom livre para o galego-português por CAEIRO.

George Soros no planeta complotista:

>Soros financia o independentismo catalão


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