Os Valuros ou Baluros eram umha comunidade ou tribo de sacerdotes de origem pre-cristã procedentes da Valura ou Valúria, localizada na atual Terra Chã e que protagonizarom umha heresia que chegou aos séculos XVII e XVIII. Segundo a tradiçom provinham da cidade de Véria, assolagada por maldiçom divina sob a lagoa de Santa Cristina e dali espallaram-se polo resto de país e fundaram inúmeras Baloiras.
Localizaçom da Comarca da Terra Chã na Galiza |
Segundo António Reigosa, escritor, divulgador e investigador da mitologia popular e da literatura galega de tradiçom oral, os valuros tinham a consideraçom de seita ou povo maldito. Exerciam de curandeiros, feiticeiros, usurários, agoireiros, esmoleiros vagabundos, predicadores e santeiros, comerciantes da arte e do engano, chegando a suplantar ou concorrer com os cregos, polo que alguns bispos galegos decretaram excomunhões que fizeram com que se dispersassem e exercessem as suas artes secretamente.
Existem várias hipóteses sobre a sua localizaçom na atual comarca galega da Terra Chã. Para Vicente Risco a Terra de Valura abrangia desde Germar (Cospeito) até Ribeiras de Leia e desde Castro de Rei até Pino (Cospeito). Manuel Amor Meilán, segundo recolheu Risco, localiza-a no concelho de Cospeito, onde diz que esteve a palafita vila alagada de B(V)éria chegando à paróquia de Triabá em Castro de Rei e talvez algumha outra próxima. Eduardo Lence-Santar assigna-lhe à Valura umha extensom que abarcaria o concelho de Cospeito e algumhas paróquias de Castro de Rei, Pastoriça e Abadim.
Porém, segundo recolhe o escritor Xosé Otero Canto, a melhor aproximaçom seria a realizada por Manuel Navarrete e Ladrón de Guevara, bispo da diocese de Mondonhedo entre 1699 e 1705, quem, no seu livro de visitas do ano 1700 definiu para a área da Valura umha abrangência de até 42 freguesias na Terra Chã: 22 do arciprestado da Montanha, 9 no de Azúmara, 7 em Baroncelhe, 3 no de Parga e 1 no de Vilalva segundo a seguinte distribuiçom:
ARCIPRESTADO DA MONTANHA: Ansemar, (Castro de Rei), Barredo (anexo de Meda em Castro Verde), Bendia (Castro de Rei), Bestar (Cospeito), Oriçom (Castro de Rei), Damil (Begonte), Duancos (Castro de Rei), Duarria (Castro de Rei), Felmil (Begonte), Germar (Cospeito), Lamas (Cospeito), Ludrio (Castro de Rei), Meda (Castro Verde), Silva (Pol), Sobrada (Outeiro de Rei), Taboi (Outeiro de Rei), Triabá (Castro de Rei) e Viladonga (Castro de Rei).
ARCIPRESTADO DE AZÚMARA: Baltar (anexo de Pousada em Castro de Rei), Bazar (Castro de Rei),Castro de Rei (anexo de Azúmara), Justás (Cospeito), Santa Locaia (Castro de Rei), Moimenta (Cospeito), Outeiro (Castro de Rei), Pácios (anexo de Outeiro em Castro de Rei), e Prevesos (Castro de Rei).
ARCIPRESTADO DE BARONCELHE Aldixe (anexo de Baroncelhe em Abadim), Corbelhe (Vilalva), Cospeito, Santa Cristina (anexo de Cospeito), Goá (Cospeito), Momám (Cospeito) e Seixas (anexo de Pino em Cospeito).
ARCIPRESTADO DE PARGA: Gaibor (anexo de Ilhám em Begonte), Santa Locaia de Parga (anexo de S. Breixo de Parga em Guitiriz) e Saavedra (Begonte).
ARCIPRESTADO DE VILALVA: Xoibám (anexo de Trobo em Vilalva).
No século XVIII os bispados de Ourense, Tui e Mondonhedo condenaram as prácticas e abusos dos Valuros como usurpadores das funções e benefícios próprios dos clérigos. En 1750 Antonio Alejandro Sarmiento Sotomayor, bispo de Mondonhedo, deu Cartas Pastorais contra eles, sendo também citados no parágrafo 12 das Constituciones dadas em 1665 à diocese de Tui o bispo Fr. Juan de Villamar nos seguintes termos: "Deseando vivamente ocurrir a los gravisimos daños que en las almas sencillas ocasionan los questores que el vulgo llama Baluros, ya con predicación de milagros, revelaciones, profecías, promesas é indulgencias fingidas, oraciones y exorcismos supersticiosos, ya con engaño, amenaza y vanas descomuniones que fulminan para atemorizar á los rústicos y sacarles su dinero y alhajas, mandamos..."
Ao igual que Otero Canto, perguntamo-nos qual foi o mecanismo desatado e quem foi o responsável pola caracterizaçom dos Valuros como "raça" ou "povo" maldito, tirando a mesma conclussom que o autor da Ponte de Outeiro: como no caso do povo judeu, o carimbo de maldito aplicado aos Valuros foi obra da religiom cristã, "moi dada desde a antigüidade a maldicir persoas e pobos".
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