sábado, 30 de janeiro de 2021

A NAZIFICAÇOM DE ESPANHA (1931-45)

Eduardo Martín de Pozuelo* 

Breve cronologia da aproximaçom espanhola dos postulados nacional-socialistas:

Segunda Republica espanola

- 12 de abril de 1931: É proclamada a República em Espanha, dando cabo do regime monarquista da primeira restauraçom borbónica. Formaçom dum governo de coaligaçom republicano-socialista. [Nota da QJ].

- Na primavera de 1933, Walter Zuchristian, um funcionário da Siemens em Madrid, foi nomeado chefe do Partido Nazista em Espanha. A 12 de junho no mesmo ano, Zuchristian escreveu uma carta para Friedhelm Burbach, enviado de Hitler em 1930 para a Península Ibérica com a ordem de aglutinar residentes alemães em Espanha e Portugal em torno da nova ideologia nazista e procurar amigos e alianças entre anticomunistas e católicos peninsulares de qualquer cor política. Julgue o que ele disse: «Estamos à espera da nossa oportunidade. Por enquanto continuamos ainda, preparando tudo para estarmos em condições de agir quando a oportunidade se apresentar. Tudo parece indicar que as pessoas estão cansadas de regime da esquerda e irá removê-lo em breve. Nom desespere, as nossas “Ogs” [seções locais nazistas por toda a Espanha] estám prontas para quando chegar esse momento".

- A ocasiom vem depois das eleições de novembro 1933, quando a CEDA (Confederaçom Espanhola de Direita Autônoma) é o partido com mais deputados no Congresso.

- 1934. Chegada de incógnito a Espanha do nazi Hans Hellermann, quem organiza clandestinamente, a partir de Barcelona, grande parte do aparelho nazista em Espanha. Depende diretamente de Himmler e nom dá conta das suas ações nem sequer à sua embaixada. A sua empresa de fachada sempre esteve em Barcelona e foi um centro clandestino de convulsom política e conexom com os golpistas.

- Após a vitória do CEDA, Zuchristian encaminhou umha carta circular ao grupos locais nazistas para ordenar o estabelecimento de ligações com os elementos mais extremistas da CEDA e o seu líder, José M. Gil Robles, que foi convidado para o congresso nazista de Nuremberg. Os nazistas ficaram satisfeitos com a boa sintonia da CEDA com militares como Goded ou Franco, artífices da repressom aos mineiros asturianos de outubro de 1934.

- Em 18 de novembro de 1934, Zuchristian observou: "Foram devidamente reprimidos."

- Desde entom, a presença nazista cresce com satisfaçom da seçom estrangeira do Partido Nacional Socialista: em novembro de 1934, tinham 22 escritórios de representaçom e em 1936, pouco antes do levante, já havia 163 ao longo Espanha. Destaco que nesta obra de expansom do nazismo clandestino em Espanha e a sua ligaçom aos golpistas teve um papel fundamental Hans Hellermann.

Marcha nazi-fascista pró-espanhola nas ruas de Vigo (Galiza)

- 1934/35. Criaçom em Barcelona do "Serviço de Controlo Portuário” de Hans Hellermann. O "Serviço" mascarava tribunais secretos da Gestapo controlados por Hellermann por ordem de Himmler. Eles "julgaram" alemães contrários ao nazismo e aos Judeus deportados. Assassinavam.

- 1935. Contatos entre Hitler e Franco segundo revelações do Conde Siegfried von Roedern (talvez errado nas datas).

- Em 8 de janeiro de 1936, os grupos nazistas em Espanha supõem a vitória da Frente Popular e ordenam em código, se for necessário, suspender as comunicações com os seus "clientes". Eric Schnaus: «Caso seja necessário suspender toda a correspondência receberá um telegrama dizendo "Contrato assinado. Juan”, de modo que quando o receber deve suspende todas as comunicações até novo aviso. Está carta deve ser destruída imediatamente”. Embora as cópias "espanholas" da mensagem anterior foram destruídas, conforme ordenado, apareceu a encaminhada a Berlim.

- 16 e 23 de fevereiro de 1936. Terceiras -e últimas– eleições gerais da Segunda República Espanhola. Ganha a Frente Popular (Front d'Esquerres na Catalunha e Valência), que, com mais de 60% dos deputados eleitos, agrupava PSOE, Esquerda Republicana (que incluía a ORGA), Uniom Republicana, ERC, PCE, Açom Catalá, POUM, Partido Sindicalista e outros. Manuel Azaña, Presidente da República.

- Em 27 de março de 1936, Eric Schnaus anuncia à Gestapo em Berlim que "coloca as seções da Espanha prontas para atacar".

- Berlim ordena agilizar contatos com setores políticos e militares contrários ao governo de Madrid ("os clientes").

- Nova circular de Schnaus aos líderes nazistas na Espanha: «Os relatórios sobre os nossos concorrentes mostram que os seus diretores estám divididos quanto ao novo método de fabricaçom [...] Por este motivo é de especial interesse para nós enviar instruções adequadas aos nossos agentes e aos nossos clientes para que estejam preparados para encarar qualquer situaçom".

- Schnaus confiou no hábil Hans Hellermann para servir os seus "clientes". Hellermann, enviado pessoalmente por Himmler em 1934, já realizara umha profunda atividade pró-nazista clandestina a partir dumha falsa empresa de importaçom e exportaçom na rua Avinyó.

- De 15 a 20 de maio de 1936. "Cimeira clandestina hispano-nazista” em Barcelona com a presença de 32 líderes locais do Partido Nazi. Foi liderada por Hellermann, entom chefe nazista para toda a Espanha. Agentes OSS (EUA) consideram esta "cimeira" a preparaçom do levante militar de 17-18 de julho. Os repetidos contatos de Hellermann com o capitám López Varela, ligaçom dos serviços secretos do General Mola (diretor do golpe). Contatos com a Uniom Militar Espanhola (UME), que assina documento que estabelece "a expulsom dos Judeus de Espanha".

- 23 de maio de 1936. Hellermann viaja a Berlim para relatar da situação militar espanhola. Informa sobre tropas, aviões de primeira linha, emigrantes, etc.

Golpe nazi-fascista e guerra civil espanhola

- 17 a 18 de julho de 1936. Levante militar contra a República. Incia-se a Guerra Civil.

- Entre 17 e 21 de julho de 1936, encontros confirmados entre Franco, Johannes Bernhardt e Adolf Langenheim, dous líderes nazistas estacionados no Marrocos. Carta de Franco a Hitler pedindo ajuda, que foi entregue no Festival de Bayreuth. Criaçom de sociedades de fachada nazistas em Espanha: Hisma (Hispano-Moroccan) e Sofindus, com Göring como artífice. Franco começa a falar, talvez diariamente, com Mussolini (Fonte: Boratto).

- 5 de agosto de 1936: Os militares nazi-fascistas revoltados nomeam o jornalista antissemita Juan Pujol Martínez como Chefe de Imprensa e Propaganda da Junta de Defesa Nacional de Burgos establecida polos golpistas. Desde 1931 fora diretor da publicaçom "Informaciones", principal órgão da propaganda nazista em Espanha que desde 1934 recebia importantes subsídios do regime nazista através da sua embaixada em Madrid. [Nota da QJ]

- Setembro de 1936. Os nazistas descrevem sérias dificuldades logísticas que colocam em risco a continuidade do levante e que resolvem "satisfatoriamente" para eles.

-20 de dezembro de 1936: Juan Pujol escreve um artigo na ediçom do jornal ABC de Sevilha intitulado "Cuando Israel manda" do que destaca o seguinte: 

"Contra quem estamos a lutar os espanhóis? Nom é apenas contra os nossos compatriotas marxistas, nem contra a borra de grandes cidades europeias, fauna de portos e arrabaldos fabris, piolheira dos slums e dos bairros malditos, nem contra a vasta e triste Rússia".

"Ou, melhor dito, nom é apenas contra todo isso. Empurrando estas hordas, alentando-as, comandando-as, esta o Comité Secreto Israelita que governa o povo judeu espalhado polo mundo, obstinado agora mais que nunca em dominá-lo".

"Na realidade, Espanha está em guerra contra a Judiaria universal, que já é dona da Rússia e que agora pretendia apossar-se do nosso país. Já que nom o pode lograr, vai deixá-lo assolado e empobrecido".

"E como é possível que a muitos pareça isto um tanto fantástico, algo assim como umha interpretaçom folhetinista do enorme drama que estamos a viver, convém que reparem em certas coincidências que, haverá que confessar, som, polo menos estranhas (...)".

"O número de Judeus, conscientes ou nom mas Judeus de raça, com todas as qualidades boas e ruins desse povo, com todos os seus apetites e todas as aptitudes demoledoras, e todos os instintos antipatrióticos, e todas as indiferenças territoriais e todo o sentido de tribo presta a emigrar, pegando nas riquezas do país em que provisoriamente campam, o número desses Judeus que operaram sobre Espanha, nom apenas estes últimos cinco anos, mas desde há muitos mais, dissimulados com religiom e nomes falsos, é enorme e a sua história está por escrever".

Em 1964 é condecorado com a Gran Cruz de Isabel la Católica como reconhecimento polos seus serviços. [Nota da QJ]

- 20 de março de 1937. Assinatura do pacto de amizade Alemanha-Espanha.

- De 8 a 23 de março de 1937, as camisas negras italianas som derrotadas na frente de Guadalajara. Mussolini considera isso umha vitória (Fonte: Boratto, piloto).

- 15 de abril de 1937. As notas (pesetas) fabricadas na Alemanha substituem na zona "nacional" as fabricadas até entom na Grã-Bretanha.

- 12 e 16 de julho. Reiteraçom e alargamento de acordos amizade com a Alemanha.

- 31 de julho de 1938. Acordo secreto policial germano-espanhol para a troca de detidos sem participaçom judicial, muito semelhante ao da Operaçom Condor (Contreras / Pinochet, 1973).

- 1 de abril de 1939. Fim da Guerra Civil Espanhola.

Segunda Guerra Mundial

- 1 de setembro de 1939. A Alemanha invade a Polónia. Começa a segunda Guerra Mundial.

- Junho de 1940. Franco escreve ao seu admirado Hitler.

- 15 de agosto de 1940. Franco escreve ao seu amigo Mussolini.

- 25 de agosto de 1940. Mussolini responde a Franco.

- 18 de setembro de 1940. O Führer escreve a Franco e encoraja-o a conquistar Gibraltar!

- 22 de setembro de 1940. Franco aceita de bom grau a reuniom de Hendaia.

- 27 de setembro de 1940. Pacto tripartido assinado em Berlim entre a Alemanha, Itália e Japom.

- 23 de outubro de 1940. Reuniom de Hendaia e visita de Himmler a Barcelona (onde estava Hellermann).

- 24 de outubro de 1940. Serrano Súñer envia umha nota na que se queixa da reuniom e pede a retificaçom do quinto ponto dos acordos. Franco sente-se moralmente derrotado em Hendaia, segundo se tira da nota de Serrano Súñer.

- 21 de novembro de 1940. Relatório de Otto Abetz, embaixador alemão em Paris, nomeado por Hitler com a patente de conselheiro político das autoridades militares alemãs na França ocupada, sobre o interesse mostrado polo embaixador Lequerica e o Ministro Serrano Súñer polos Judeus, especialmente pola administraçom dos seus ativos. Presentes Propper e Miotta.

- 6 de fevereiro de 1941. Hitler, zangado com Franco. Franco escreve e fala em "regateios" da parte de Hitler, que nom lhe dá a ajuda que precisa para entrar na guerra (qual é o seu desejo).

- 11 de fevereiro de 1941. Franco em Bordighera com Mussolini.

- 18 de março de 1941. Morre atropelado acidentalmente em Nova Iorque, o espiom nazista Ulrich von der Osten, que circulava com documentaçom espanhola em nome de Julio López Lido. Inicia-se a fase final da investigaçom que desmontou a rede de espiões nazistas em Nova Iorque de "Joe K", Kurt Frederick Ludwig, um agente alemão originário de Ohio, espiom que escrevia as suas mensagens para a Alemanha com tinta invisível diretamente para Himmler (Manuel Alonso) através de Espanha.

- 5 de maio de 1941. A Direçom Geral de Segurança (DGS) espanhola ordena a todos os governadores civis de todas as províncias que encaminhassem relatórios sobre os Judeus residentes em Espanha, quer nacionais, quer estrangeiros, a fim de elaborar umhas fichas para confecionar um Arquivo Judaico espanhol com independência de estas pessoas terem cometido um delito ou nom, vigilando particularmente a populaçom sefardita. [Nota da QJ].

- 10 a 16 de junho de 1941. Franco concorda com Hitler (por meio dos seus respectivos ministros Súñer e Ribbentrop) o envio para os Estados Unidos de 45 espiões nazistas e 30 espanhóis com documentaçom espanhola autêntica, mas falsificada. Noutras palavras, os nazistas alemães espionam os EUA sob a capa da "neutralidade" espanhola e com identidades espanholas.

Heinrich Himmler junto do ministro Ramón Serrano Súñez (à direita) em Madrid

- 20 de janeiro de 1942. Conferência de Wannsee.

- Setembro de 1942. O agente nazista Walter Giese chega a Espanha e se junta à KOSp, a grande organizaçom de guerra alemã instalada em Espanha, com sede num chalé da rua Juan Bravo de Madrid e dirigido polo comandante (entom capitám) Gustav Lenz.

- Outono de 1942. Os nazistas tentam instalar observaçom por infravermelho no Estreito para monitorar os navios aliados. Grã-Bretanha protesta, som removidos os infravermelhos, mas deixam observaçom visual, sem a interferência dos espanhóis. Operativo Bodden de Walter Fizia.

- Outubro de 1942. O agente nazista Karl Arnold muda-se para um apartamento na rua Lista, 76 (hoje Ortega y Gasset) em Madrid e monta a sua rede de contatos com a América do Sul, com uma fachada na rua Ayala.

- 27 de novembro de 1942. Os britânicos queixam-se a Franco da sua colaboraçom na sabotagem contra Gibraltar. Franco ignora-o.

- 10 de fevereiro de 1943. Franco (Gómez Jordana, anglófilo) assina em Salamanca em segredo total um pacto de ajuda mútua com a Alemanha que chocou os americanos quando o descobriram no final da Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos achavam que Franco nom assinara acordos com Hitler numha data tam avançada.

- 16 de fevereiro de 1943. O Arcebispo de Nova Iorque, Francis J. Spellman, visita Franco e escreve um relatório para o Departamento Estado em que nom dissimula a sua admiraçom polo “Caudillo” e a sua ditadura.

- 21 de fevereiro de 1943. Franco reitera a Hitler o seu compromisso para lutar contra os aliados.

- Outubro de 1943. Crise gravíssima da ditadura de Franco com os aliados, ao reconhecer o governo fantoche das Filipinas de José P. Laurel, graduado pola Universidade de Tóquio. Oposiçom à política americana.

- Dezembro de 1943. Walter Giese é promovido a chefe dos espiões na Galiza.

- 6 de janeiro de 1944. Franco "responde" umha carta que intercepta a Don Juan e mantém a sua recusa em retomar a monarquia nos termos democráticos que propõe.

- 25 de fevereiro de 1944. O serviço de inteligência do Reino Unido elabora um relatório-ultimato em que denuncia Franco polo seu colaboracionismo na sabotagem contra Gibraltar. Grã Bretanha denuncia o caso do Olterra. No entanto, militares espanhóis de Algeciras continuam a colaborar com os nazistas do KOSp lá destacados.

- Março de 1944. Espanha concede salvo-conduto para salvar Judeus húngaros (compensaçom pola crise nas Filipinas).

- 4 a 5 de junho de 1944. Um agente espanhol em Londres alerta o KOSp (organizaçom de guerra alemã na Espanha) do desembarque em Normandia (Fonte: W. Giese, que denuncia a Berlim ao colega que o informa).

- 6 de junho de 1944. Desembarque aliado do Dia D na Normandia. 

- 19 de setembro de 1944. Franco mostra-se favorável e amigável com os aliados em reuniom privada com o embaixador dos EUA (era Roosevelt).

- 15 de outubro de 1944. Relatórios de Roger Tur das reuniões nazis de Zaragoza. É estabelecida a designaçom 88 em substituiçom de HH.

- Os aliados apresentam um ultimato a Franco contra o Operativo Bodden (vigilância alemã no Estreito tolerada por Espanha: "Os mares som livres para ser observados").

- 2 de fevereiro de 1945. Pio XII recebe relatórios confidenciais de que em Yalta vai ser decidido, sem dúvida, o fim de Franco.

- 11 de fevereiro de 1945. A conferência de Yalta termina, sem decidir invadir Espanha.

- 19 de março de 1945. Nota secreta na qual é relatada a existência de padres na resistência anti-Franco com conhecimento do Vaticano.

- 19 de março de 1945. Manifesto de Lausanne, polo qual Don Juan exige que Franco deixe o poder e se estabeleça umha monarquia constitucional.

- 23 de abril de 1945. Aterra em Barcelona o aviom que transportava a família Petacci e duas mensagens misteriosas de Mussolini, umha para Serrano Súñer e outra para Franco.

- 24 de abril de 1945. Texto secreto que explica a existência dum "tesouro de Mussolini" em Espanha. (Fonte: governador Antonio Correa Véglison, reportando a David McKey, do consulado americano em Barcelona.)

- 28 de abril de 1945. Morte de Mussolini e Clara Petacci.

- 8 de maio de 1945. Fim da Segunda Guerra Mundial na Europa.

- 15 de agosto de 1945. O Japom capitula. Fim da Segunda Guerra Mundial.

O autor desta cronologia realizou umha pesquisa em 2004-05 sobre o franquismo nos arquivos nacionais dos EUA, Reino Unido, noutros dos Países Baixos e nalguns espanhóis. Na sequência desse trabalho foram publicados três livros: "Los secretos del franquismo", "La guerra ignorada" e "El franquismo, cómplice del Holocausto".

Fonte: "Perseguidos y salvados". Monografia editada em 2014 pola Deputaçom de Barcelona (Catalunha) sobre a fugida de refugiados judeus e alidados durante a Segunda Guerra Mundial através dos Pireneus.

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