domingo, 31 de janeiro de 2021

A CUMPLICIDADE DA ESPANHA FRANQUISTA COM O HOLOCAUSTO

 O autor deste documento reproduzido e traduzido pola QUESTOM JUDAICA, o jornalista e pesquisador espanhol Eduardo Martín de Pozuelo, realizou umha pesquisa em 2004-05 sobre o franquismo nos arquivos nacionais dos EUA, Reino Unido, noutros dos Países Baixos e nalguns espanhóis. Na sequência desse trabalho foram publicados três livros: "Los secretos del franquismo", "La guerra ignorada" e "El franquismo, cómplice del Holocausto".

A Espanha Franquista, também Regime de Franco, Ditadura de Francisco Franco, Ditadura Franquista ou franquismo foi o regime político vigorante no Estado espanhol a partir do fim da guerra civil em 1939 até a sua morte em 1975, com base na liderança do Generalíssimo Francisco Franco Bahamonde, o Caudillo de Espanha. Também é chamado franquismo a ditadura e ideologia nacionalista espanhola que dirigiu o governo do Estado espanhol nesta época, também conhecida como nacional-catolicismo, com elementos do fascismo espanhol (falangismo), incluído o antissemitismo.

Francisco Paulino Hermenegildo Teódulo Franco Baamonde (1882-1975)

Segundo o autor, a partir do estudo da documentaçom referida podem-se tirar as seguintes conclusões:

1. A possibilidade cada vez mais certa de que Berlim encorajou e apoiou o golpe de 18 de julho de 1936.

2. Franco nom foi neutral (ele fez umha guerra diferente) e nazificou Espanha.

3. Franco foi cúmplice do Holocausto.

4. A salvaçom dos Judeus por parte espanhola em vários países europeus foi um trabalho individual e nom fruto dumha política de Estado espanhola.

5. As poucas ações espanholas de governo em prol dos Judeus coincidem sistematicamente com duras pressões aliadas que ameaçavam a "neutralidade" ou "nom beligerância" espanhola e, em suma, o regime de Franco. Nos casos registados em território espanhol o resgate foi da responsabilidade económica dos Judeus.

- Portanto, devemos distinguir os salvadores espanhóis conhecidos e desconhecidos das diretrizes que emanava de Franco.

- A perversa oferta de Hitler, pola qual Franco esteve em posiçom de salvar um número indeterminado de Judeus de toda a Europa, só pode ser explicada por umha nazificaçom muito profunda espanhola e pola intensa comunhom ideológica que existia entre os dous regimes.

- Neste ponto, deve-se acrescentar que Hitler queria a Península Ibérica para o controlo do Estreito e do Mediterrâneo, o que também explicaria o anterior apoio ao levante de 1936.

A oferta de salvação dos judeus para Franco: Nom há dúvidas sobre isso

Os salvadores: Desobedecem sempre o ministério espanhol: Miguel Giner, funcionário da alfândega de Les; Julio Palencia, Sanz Briz, Santaella, Rolland de Miota, Propper de Callejón, Romero Radigales e muitos mais.

A oferta de Hitler. Franco e o Holocausto

Entre 1942 e janeiro de 1943, aconteceram as negociações e os partes bilaterais secretos nos quais os nazistas ofertaram a Espanha as vidas dos Judeus de toda a Europa.

Escrito oficial. Resumo nazista

Em 28 de janeiro de 1943, o embaixador nazista em Madrid, Hans von Moltke, enviou um telegrama ao Ministério dos Negócios Estrangeiros do III Reich no qual ele indicava ter notificado ao Diretor Geral de Política Exterior do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José María Doussinague, que «a partir de 1 ° de abril [1943] aqueles Judeus [de nacionalidade espanhola] que estám nos territórios ocupados estarám sujeitos a todas as medidas em vigor contra todos os Judeus [deportados para campos de concentraçom]». O espanhol prometeu umha resposta do governo, embora ele acrescentou que, na sua opiniom "nom será permitida a entrada em Espanha dos Judeus de nacionalidade espanhola ». José María Doussinague, fora adido comercial da embaixada espanhola em Berlim no final da monarquia e em 19 e 22 de março de 1930 escrevera um relatório para o seu ministério intitulado "Sefarditismo econômico", com um tom e conotações racistas que hoje som percebidos como inaceitáveis.

Apenas duas semanas depois, o Reich notificou o governo espanhol que ou respondiam à sua oferta ou as "medidas gerais contra os Judeus [isto é, a sua aniquilaçom] também será aplicada aos Judeus espanhóis que residiam no Generalgouvernement [o território ocupado na Polónia], nos países bálticos e nos territórios orientais ocupados desde 1º de abril deste ano. "Peço informe ao Governo espanhol disso", indicaram ao seu embaixador em Madrid.

Ao nom receber resposta (oficial) espanhola, a 22 de fevereiro de 1943, a embaixada alemã em Madrid teimou novamente e, dous dias depois, o embaixador von Moltke enviou outro telegrama para Berlim para relatar os resultados dos seus esforços, consistentes numha nova recusa. O diretor-geral do departamento político do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Espanha, o Sr. Doussinague, disse: "O Governo espanhol decidiu nom permitir a volta a Espanha aos espanhóis de raça judia que vivem em territórios sob jurisdiçom alemã. O Governo espanhol acredita que é apropriado permitir que esses Judeus viajem para os seus países de origem, especialmente para a Turquia e Grécia. [A tolice dessa afirmaçom é que o primeiro país nom estava disposto a recebê-los e no segundo (Grécia) os Judeus sofreram umha dura perseguiçom]. O governo espanhol estaria disposto a conceder, nalguns casos, um visto de trânsito para Espanha para Judeus com visto de entrada para Portugal ou EUA. Se nom ocorrer esta circunstância, o Governo espanhol irá abandonar os Judeus de nacionalidade espanhola ao seu destino”.

A embaixada alemã (através do adido Hencke) retorquiu ao diretor-geral espanhol que, na opiniom da embaixada alemã, o governo alemão nom permitiria a saída para outros países de Judeus de nacionalidade espanhola. Também alertou que o governo espanhol só fora notificado por motivos de cortesia e para lhe dar a oportunidade de repatriar aqueles Judeus para a Espanha antes de 31 de março de 1943.

Poucos dias depois, embora a negativa categórica tenha sido mantida, Madrid fingiu mudar de atitude. Noutro telegrama, enviado em 17 de março polo embaixador Von Moltke a Berlim, dizia que "o Governo espanhol está agora inclinado a permitir a entrada em Espanha dum número limitado de cidadãos judeus da raça judia [...] No máximo som 100 pessoas ”.

Berlim insiste na forma de uma diretiva do Reich

Novamente, em 31 de março de 1943, os nazis ofereceram a Espanha e outros países amigos do Reich, por escrito, a possibilidade de fazer-se cargo dos "seus" judeus ("spanischer juden"). 

Os nazistas dizem que o Ministério dos Negócios Estrangeiros fixou 31 de março de 1943 como prazo final para repatriaçom de súditos judeus polos seus respectivos governos estrangeiros (cita nove países, incluindo Espanha, e anuncia umha diretriz para o seu tratamento pola Administraçom Central de Segurança do Reich).

Espanha pede quando nom há remédio

Um telegrama de 27 de dezembro de 1943 de Berlim para a sua embaixada em Madrid, referido a outro relacionado com a "Repatriaçom de Judeus espanhóis", informou que "a embaixada espanhola [em Berlim] tinha pedido oralmente a libertaçom dos Judeus espanhóis presos nos últimos dias na França” e também solicitou “o direito de sair livremente da Itália e da Grécia”, já que “finalmente, o governo espanhol decidiu recebê-los". Entom a chefia nazista para Assuntos Judaicos informou o seu embaixador em Madrid que “nom era possível deixar os Judeus saírem livremente da Itália e da Grécia”, remetendo-se às leis que já se aplicavam para as deportações.

Resposta dos nazis

O governo espanhol insistiu durante as negociações entre 1942 e fevereiro de 1943 que nom estava interessado nos Judeus espanhóis. Repetidamente, Espanha nom cumpriu o prazo acordado para a devoluçom. A autorizaçom geral de repatriaçom tinha sido modificada, de modo que agora seria necessário que Madrid emitisse umha autorizaçom de repatriamento individual em cada caso. A expediçom dos Judeus espanhóis de Tessalónica atrasou por vários meses, entom no final foi necessário encaminhá-los para um campo de alta segurança (Bergen-Belsen).

Resumo da situaçom

Autor: Eberhard von Thadden, ligaçom entre Von Ribbentrop (Ministro dos Negócios Estrangeiros) e Adolf Eichmann (responsável polas deportações). É um relatório secreto para a sua embaixada em Madrid. 27 de dezembro de 1943:

«O governo espanhol insistiu durante as negociações que houve entre 1942 e fevereiro de 1943 que nom estava interessado nos Judeus espanhóis. Mais tarde foi autorizada [por parte alemã] a repatriaçom de todos os Judeus espanhóis. Repetidas vezes, Espanha nom cumpriu o prazo acordado para o seu regresso. [...] Para os Judeus da parte ocupada da França, o prazo final para deixar o país era 10 de setembro. Em 9 de setembro, a embaixada de Espanha solicitou prorrogaçom por ter dúvidas sobre alguns assuntos. Umha prorrogaçom foi concedida até 10 de outubro e foi relatado que após esta data os Judeus espanhóis definitivamente seriam equiparados aos Judeus alemães. Nem antes nem depois do final do prazo houve reaçom de Espanha ou um pedido de prorrogaçom, de maneira que se supunha que nom deveria ter interesse em prosseguir a repatriaçom dos Judeus espanhóis. Apesar disso, e por cuidado, a expulsom dos Judeus espanhóis nom começou até o dia 16 de novembro. Explique inequivocamente a situaçom ao governo espanhol e enfatize que o Reich tentou o seu melhor para resolver o problema amigavelmente e evitar dificuldades. Fizemo-lo levando em consideraçom a nacionalidade espanhola [dos Judeus] apesar de que pode ser assumido que todos os judeus têm umha atitude anti-alemã.

«Se agora [palavras ilegíveis no telegrama devido à má conservaçom] a libertaçom de todos os Judeus nom vai ser mais possível, é de se esperar que o governo espanhol -dados os factos- mostre compreensom da situaçom. O Ministério dos Negócios Estrangeiros fará um esforço para organizar umha repatriaçom em grupo para Espanha de Judeus que ainda nom foram designados para um campo de trabalho. Para os Judeus já destinados a um campo a questom da repatriaçom pode ser reconsiderada quando a guerra acabar. "

Espanha pede bens

Os aliados encontraram em Berlim, no final da Segunda Guerra Mundial, as respostas espanholas a alguns escritos alemães. Umha delas, da embaixada espanhola em Berlim e com carimbo do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Espanha. Depois aparece a referência "D III 253 g, entrada: 25 de fevereiro de 1943" e a palavra "Lembrete". Diz assim: «O Ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol tomou conhecimento da embaixada alemã em Madrid que em 31 de março 1943 os Judeus espanhóis residindo na França, Bélgica e a Holanda nom terám mais o tratamento especial que tiveram até agora. […] A embaixada espanhola solicita ao Ministério dos Negócios Estrangeiros que intervenha junto das autoridades correspondentes para explicar que os bens dos Judeus espanhóis deixados ao sair da França, Bélgica e a Holanda serám administrados polos cônsules espanhóis ou representantes de Espanha e que devem ficar na sua posse por serem propriedade de súditos espanhóis e, portanto, serem um bem nacional da Espanha. "Berlim, 25 de fevereiro de 1943."

O caso de Tessalónica

O cônsul em Atenas, Sebastián Romero Radigales, lutou contra as deportações de Tessalônica e deparou com relatórios e mensagens contra ele de Berlim e Madrid, mas teimou tanto que conseguiu a salvaçom de cerca de 600 pessoas de Bergen-Belsen. Os nazistas tiveram o cuidado de fingir humanidade. Frisa o comando nazista: "Por favor, peço ao comando local [na Grécia] para providenciar transporte para Bergen-Belsen nom como de costume é feito, mas mantendo as formas para que umha eventual saída posterior dalgum judeu para a Espanha nom seja origem de propaganda negativa [literalmente, greuelpropaganda: que poderia ser traduzido como 'propaganda do terror ou da atrocidade'] ".

Um detalhe alarmante sobre os aliados

15 de junho de 1944. Mensagem secreta de Sir Harold Mac-Michael, Alto Comissário Britânico para o Protetorado da Palestina, para Anthony Eden, entom Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido. Na mensagem, diz Sir Harold, entre outras coisas: "Os nazistas esperam obter alguma graça dos olhos aliados para nom matar dois milhões de Judeus agora, pois acreditam que isso ajudará a esquecer que já mataram seis milhões de judeus”.


Fonte: "Perseguidos y salvados". Monografia editada em 2014 pola Deputaçom de Barcelona (Catalunha) sobre a fugida de refugiados judeus e alidados durante a Segunda Guerra Mundial através dos Pireneus.

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