Ayre Mekel
Na semana passada vimos umha vaga sem precedentes de atividade diplomática que culminou com umha cimeira dos líderes israelita, grego e chipriota em Nicósia. Para Israel, este é um acordo win-win, que cria um novo bloco geopolítico no Mediterrâneo oriental em que as relações mais estreitas com a Grécia e Chipre contrarrestam até certo ponto a Turquia. O acordo também tem algum significado militar e de segurança.
Cimeira grego-israelita de Nicósia a 28 de janeiro de 2016. Foto: AP |
Na terça-feira o ministro da Defesa israelita Moshe Ya'alon efetuou umha visita oficial a Atenas como convidado do seu homólogo grego Panos Kammenos. Na quarta-feira, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e vários colegas de gabinete reuniram-se em Jerusalém com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, e com umha dúzia de membros do seu governo. Na quinta-feira, os líderes dos três países reuniram-se em Nicósia.
A visita de Ya'alon à Grécia serviu para acompanhar a intensa cooperaçom em matéria de defesa entre os dous Estados nos últimos anos, consistente principalmente na realizaçom de manobras conjuntas da força aérea e marinha. Desde 2014 um adido das Forças de Defesa de Israel está postado em Atenas, com a responsabilidade também para o Chipre.
Numha declaraçom na conferência de imprensa com o ministro da Defesa grego, Ya'alon disse que a Turquia apoia o terrorismo e compra petróleo da organizaçom Estado Islâmico. Na conclusom da cimeira de Nicósia, que Netanyahu qualificou de histórica, Netanyahu, Tsipras e o presidente chipriota Nicos Anastasiades emitiram umha declaraçom conjunta dizendo que sua cooperaçom nom era exclusiva, deixando claro que a Turquia poder-se-ia juntar ao grupo. Os líderes da Grécia e do Chipre salientaram que a cooperaçom nom é dirigida contra qualquer um outro estado, insinuando Turquia.
A sombra turca pairou sobre todas as reuniões da semana passada. Os relatórios respeitantes à existência de negociações de Israel com a Turquia para alcançar um acordo de reconciliaçom, com o incentivo dos Estados Unidos, empurrou os gregos e chipriotas para alargar a sua cooperaçom com Israel. Embora a Grécia afirme que as suas relações com a Turquia sejam normais e apesar de as conversações entre os líderes turcos e gregos do Chipre para tentar resolver a crise de 40 anos, Atenas e Nicósia ainda vêem a Turquia como um potencial inimigo.
A Grécia acusa à Turquia da movimentaçom deliberada de massas de refugiados árabes para o seu território a fim de a prejudicar, e o Chipre ainda está parcialmente sob ocupaçom turca desde 1974.
A política de Tsipras em relaçom a Israel é surpreendente e impressionante. Tsipras, cujo partido esquerdista Syriza era muito crítico de Israel, está a levar a cabo umha política centrista tanto dentro da Grécia quanto em assuntos externos. De facto, ele continua a melhorar as relações do seu país com Israel iniciadas em 2010.
Desde que as relações começaram a melhorar, a Grécia temia que umha reconciliaçom israelo-turca seria às suas expensas. Israel está a fazer esforços para dissipar esse medo. Tsipras quer provar que a Grécia tem o seu próprio estatuto no Mediterrâneo oriental e mesmo anunciou o seu desejo de ajudar a resolver o conflito israelita-palestiniano.
A Grécia está preparada para ajudar Israel nas instituições da Uniom Europeia e, de facto, já provou isso quando recentemente [18 de janeiro] encabeçou os adversários [Chipre, Bulgária, Hungria e Roménia] para marcar os produtos feitos nos assentamentos da Cisjordânia.
Esta é umha guinada na política grega na UE. Até 2010, a Grécia foi um dos Estados menos amigos de Israel, ao lado de Portugal e da Irlanda. O Chipre apoia quase automaticamente as posições da Grécia, de modo que dá à Grécia um voto duplo nas instituições da UE. Umha outra vantagem israelita é que pode incentivar a Síria para ser mais flexível nas negociações com Israel sobre a normalizaçom das relações.
O Chipre, com certeza, tem a sua própria pontuaçom com a Turquia e também está interessado em demonstrar a sua independência aos turcos. Israel e Chipre têm laços militares próximos, que começaram a ser forjados há alguns anos durante o mandato do Presidente Comunista Demetris Christofias. Esta política está a ser confirmada polo conservador Anastasiades.
A declaraçom conjunta em Nicósia após a cimeira tripartida disse que a cooperaçom dos estados iria concentrar-se em sete áreas: energia, turismo, investigaçom e tecnologia, ambiente, água, migraçom e combate ao terrorismo. Também se decidiu examinar o relançamento do projeto do gasoduto East Med, que poderia encaminhar gás natural de Israel para a Europa via Chipre e Grécia.
Esta última questom está longe de ser concluída. Israel desconhece quanto gás terá, se será capaz de exportá-lo, a quem e como. Houve conversações com a Grécia e o Chipre sobre este assunto durante vários anos sem alcançar resultados reais. Deitar um gasoduto é possível, mas é tecnicamente muito complicado e vai custar vários milhares de milhões de dólares. Empresas turcas também estám interessadas no gás israelita, criando mais um incentivo para a Grécia e Chipre avançar nesta área.
A via terrestre mais direta seria através da Turquia, mas Israel quer evitá-la. |
O autor, embaixador de Israel na Grécia entre 2010-14, é pesquisador associado sênior do Centro de Estudos Estratégicos Begin-Sadat da Universidade Bar-Ilan.
Postagem elaborada a partir de informações do jornal Haaretz, traduzidas para o galego-português por CAEIRO.
Sem comentários:
Enviar um comentário