Esther Mucznik
“Morte aos judeus”, este grito que muitos acreditavam definitivamente enterrado, ouve-se de novo em manifestações na Europa contra a “ofensiva” de Israel em Gaza. Uma destas, que teve lugar recentemente em Haia, na Holanda, é mais um alerta dramático para uma realidade que muitos se recusam a enxergar. Permitida polo governo holandês, o que era para ser uma demonstraçom pacífica contra a atuaçom de Israel em Gaza, transformou-se numha manifestaçom de terror de centenas de adeptos do autoproclamado ISIS (Islamic State of Irak and the Levant). Arvorando as bandeiras negras do movimento terrorista, os participantes vociferaram slogans como “Morte aos Judeus” e outros apelando à morte e ao combate contra o Ocidente e especificamente contra os EUA.
Aparentemente os holandeses terám ficado muito “chocados” com o sucedido e apelado à demissom do presidente da câmara que autorizou o desfile. Mas o problema é bem mais grave e recorrente. Setenta anos depois do final da Segunda Guerra Mundial voltam a ouvir-se slogans como “Fora com os judeus”, “Permitido aos cães, nom aos judeus”, “Degolar os judeus” ou, novas versões como “Hamas, Hamas, Judeus para o gás”…. Ataques a sinagogas, a comércios judaicos e a indivíduos, incluindo crianças, sucedem-se num crescendo assustador. Muitos judeus acabam por esconder sob um neutro boné a kipá com que normalmente cobrem a cabeça, ou os fios que usam com a estrela de David.
O problema é que todas estas agressões verbais e físicas som levadas a cabo com relativa boa consciência: afinal nom tem nada a ver com os judeus em si mesmo, claro, trata-se tam-só de punir os apoiantes desse “Israel assassino”. Ouvem-se argumentos tais como: “se quiserem impedir a vaga de anti-semitismo deixem de apoiar Israel…” Na cosmopolita e multicultural Inglaterra, a direçom do London’s Tricycle Theatre que tem albergado ao longo dos últimos oito anos o Festival do filme judaico, impôs aos seus organizadores o corte de relações com a Embaixada de Israel, que o subsidia numa quantia ínfima, como condiçom para continuar a hospedar o festival. Segundo o Guardian, que num excelente editorial do passado dia 8 de agosto critica severamente a decisom do teatro, o Festival já anda à procura de outra casa mais acolhedora… Os argumentos do Guardian som lógicos: uma embaixada, nom é apenas o representante dumha política, mas também dum Estado e dum povo. E para a direçom do Festival, como para a esmagadora maioria dos judeus, muito mais importante do que subsídios ou até festivais, é a indestrutível ligaçom com o povo e com o país que hoje faz parte da sua identidade. E aí nom há chantagem que resulte… cousa que aparentemente a direçom do teatro nom entende.
Mas há uma outra questom de âmbito mais geral: justifica-se que, num Estado de direito, as pessoas nom possam apoiar e defender as suas opiniões politicas ou religiosas – sejam elas quais forem e por qualquer meio, nom violento, – sem serem molestadas? É evidente que nom. Num Estado democrático, o direito à expressom livre das opiniões individuais e coletivas, desde que de forma nom violenta, tem de ser salvaguardado e protegido polas instituições e polos próprios concidadãos. Nom pode ser ameaçado, nem coagido por receio de represálias, venham elas de onde vierem. E é isso que está em questom: devido em grande parte ao laxismo reinante, à cegueira mandriona, à impunidade do extremismo violento islâmico-esquerdista que grassa em numerosos países europeus, o contrato social que sustenta as sociedades ocidentais está a romper-se, tal como está a desmoronar-se a coesom social em torno dos valores que as moldaram.
A forma como a “comunidade internacional” tem lidado com Israel –o único Estado do Médio-Oriente que respeita os valores que aquela afirma defender-, e neste caso concreto com a guerra atual, é disso um claro exemplo: o ênfase desproporcionado centrado na “ofensiva israelita”, omitindo ou branqueando o papel do Hamas e da Jihad Islâmica; a desproporçom entre as demonstrações de ódio contra Israel e os ténues protestos contra a sorte dos Yazidis enterrados vivos, dos cristãos perseguidos e expulsos do Iraque, dos Bahai reprimidos no Irám e dos próprios muçulmanos trucidados na Síria…; a parcialidade desproporcionada de grande parte da informaçom, quase sempre centrada nos números e nom nas origens, nem nas causas… tudo isto é um bálsamo para a violência anti-Israel, anti-sionista e anti-judaica. Mais umha vez, muitos judeus olham para além das suas fronteiras. Desta vez, têm para onde ir. Mas cada judeu que sai forçado do país que como cidadão ajudou a construir é mais umha derrota de uma certa ideia de Europa e umha vitória da ideologia fanática violenta e intolerante que nos cerca cada vez mais.
Artigo de opiniom publicado no jornal PÚBLICO.
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