Bernard-Henri Lévy
Sinto muito de voltar a isto.
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Mas essas pessoas que vimos na última sexta-feira 25 de julho berrar os seus "Palestina vencerá" e "Israel assassino" onde estavam, no domingo precedente, quando se soube que os combates na Síria acabavam de fazer -num só fim de semana- aproximadamente 700 mortos que se acrescentam aos 150 mil que nom tiveram, ao longo de três anos, a honra dumha verdadeira manifestaçom em Paris?
Por que nom saíram às ruas quando, poucos dias antes, a muito informada Syrian Netword for Human Rights revelou que o exército de Damasco levou a cabo em 2014 polo menos 17 ataques com gás (enquanto era suposto que teria de destruir os seus estoques armas químicas) contra as áreas de Kafrzyta, Talmanas e Atshan?
Como é que nessa concentraçom de 25 de julho nom se ouviu um slogan, nem viram bandeiras relativas aos massacres que ocorreram ao mesmo tempo na regiom de Homs e que causaram em dous dias 720 novas mortes, apanhadas entre os dous fogos do regime de Bashar al-Assad e das tropas do "Estado islâmico" do Levante?
Estes "indignados" de um dia irám dizer que nom sabiam, que eles nom tinham as imagens desses mortos, que é o que faz mobilizar neste tempo. Difícil, porque eles, com certeza, tinham essas imagens. E a prova de que as tinham é que som estas, ou outras mais antigas, que os inspiradores das suas marchas utilizaram, como revelou, entre outros, a BBC, falseadas e despois retuiteadas sob o hasthtag GazaUnderAttack, fazendo acreditar que procediam de Gaza.
Irám protestar eles que marcharam "contra Hollande" e umha política de apoio a Israel que nom querem que seja feita "no seu nome"? Admitamo-lo. Em primeiro lugar, este jeito de fazer a política exterior com razões internas instrumentalizando umha grande causa para para se sentir bem e a baixo custo nunca foi o mais respeitoso com a situaçom das vítimas. Mas, acima de todo, o mesmo raciocínio nom deveria ter feito com que se saísse nom apenas dez vezes, mas cem vezes, às mesmas ruas para protestar contra umha nom-intervençom na Síria finalmente decidida, no nosso nome também, sob pressom, essa vez, norte-americana, polo mesmo François Hollande?
Dirám que é a desproporçom que choca? O desequilíbrio entre um exército poderoso e civis desarmados? Eu entendê-lo-ia melhor. Mas, também nom nesse caso se trata disso. Porque se esse fosse o motivo, se realmente se importassem com essas crianças palestinianas cuja morte é, de facto, a cada vez mais, umha abominaçom e um escândalo, também suplicariam aos comissários políticos do Hamas para deixar os porões dos hospitais onde eles enterraram os seus centros de comando, deslocar os lança-mísseis que eles instalaram as portas das escolas da ONU ou para ameaçar os pais que tentam abandonar as suas casas logo depois de os folhetos do exército israelita advertirem que o ataque está pronto. E logo, se essa fosse realmente a diligência, se esta preocupaçom com a desproporçom assimétrica fosse o resorte real da sua raiva, nom teriam eles o mesmo pensamento para umha outra impressionante desproporçom que tem lugar muito perto de Gaza: esses condenados entre os condenados, esses desarmados absolutos, como som as multidões cristãs de Mossul às que os "irmãos" do Hamas diziam na altura: "você tem umha escolha: arrumar as suas malas e abandonar a sua casa, nom por alguns dias, mas para sempre, ou perecer pola espada".
Nom.
A verdade é que essas pessoas da "geraçom de Gaza" que consideram estar na última vestir um keffiyeh feito na Palestina acham, no fundo, natural que os Árabes matem outros Árabes. A verdade é que eles nom têm nengumha espécie de objeçom a aprender, mesmo da boca dos responsáveis do Hamas (Institute for Palestine Studies, Vol. 41, No. 4), que a construçom dos túneis custou a vida, apenas no ano 2012, de 160 crianças palestinianas transformadas em pequenos escravos.
E a verdade é que a estes revoltados ocasionais que nunca vimos mobilizar-se em prol nem dos 300.000 Darfurenses massacrados no Sudám, nem dos 200.000 Chechenos que Putin massacrou, segundo a sua própria e elegante fórmula de "rezudir a migalhas até o último terrorista", nem dos Bosniacos sitiados e bombardeados durante três anos na indiferença quase geral, a indignaçom apenas surge quando se tratar dum exército de maioria judia que se pode desafiar e condenar.
Bem, eu sinto muito, sim.
Mas estes duas formas de medir é muito odiosa.
Pretender colocar o título de campeões do humanismo contemporâneo a este acoplamento inaudito vermelho-marrom de amigos de Olivier Besancenot e, segundo os testemunhos concordantes (Le Monde, 26 de julho), os defensores da Alain Soral reagrupados no coletivo Firm Gaza é impressionante.
E para alguém que, como eu, exige desde há quase meio século a criaçom de um Estado palestiniano lado a lado dum Israel plenamente reconhecido; por um homem que, do plano de Geneve à fundaçom de JCall, está ligado a todas as iniciativas que vam no senso do que eu chamo de "paz seca", existe nesta barulheira algo desanimador.
Que existe nas fileiras destes manifestantes homens e mulheres sinceros, eu nom tenho nengumha dúvida. Mas, por favor, que eles pensem duas vezes antes de se deixar manipular e sugar por lutadores cujo motor nom é a solidariedade, mas o ódio, e cuja agenda real nom é "paz na Palestina", mas a "Morte a Israel" e, às vezes, infelizmente, "Morte aos Judeus".
Traduzido para a versom galega da língua portuguesa por CAEIRO.
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