segunda-feira, 28 de julho de 2014

AS GUERRAS DE PAVLOV

Jorge Rozemblum
Com a fase terrestre da Operaçom Margem Protetora que o exército israelita pôs em marcha para acabar com as ameaças à vida dos seus cidadãos polo grupo terrorista Hamás a partir de Gaza, desatam-se definitivamente os últimos resortes da maquinaria psicológica coletiva anti-israelita. Embora durante os primeiros dias mesmo as grandes agências noticiosas alertavam contra a falsificaçom de imagens "importadas" doutras guerras muito menos mediáticas (Síria, sem ir mais longe: quando se deu nas televisões as últimas imagens do massacre impune de quase 200 mil pessoas naquele país?), hoje a olhada internacional já pode reforçar a imagem estereotipada com material fresco.

Os estudos de psicologia mostram que a nossa percepçom depende em grande medida do que "esperemos" ver. Nom é tam importante o que desfilar diante das nossas meninas dos olhos, mas o condicionamento para detectar e identificar sinais já conhecidos. Assim sendo, por exemplo, qualquer um jornalista espanhol "sabe" de forma intuitiva que para começar umha reportagem sobre Israel (mesmo em tempos de paz), o mais direto ao cérebro réptil, ao centro das emoções incontroladas ou intuitivas, é colocar a imagem estereotipada dum soldado e um ortodoxo, se fosse possível combinados na mesma pessoa sobre um tanque que enfraqueça a figura dumha mulher árabe de olhada humilhada. Se nom há a mão, tira-se de hemeroteca.

Em tempos bélicos (custa utilizar aqui a palavra guerra pola sua conotaçom de confronto de estados, que nom é o caso, mas dum estado contra um grupo terrorista), porém, nem sequer é preciso apelar para estes preconcebidos. Basta a palavra mágica Israel para desencadear, como os reflexos condicionados ou condicionais que Ivan Pavlov estudou nos cães, a salivaçom de preconceitos e ódios ancestrais, nom apenas nas classes nom ilustradas nem nos mais dogmáticos de distintas religiões, mas na camada mais comum e anquilosada da mente coletiva europeia. Lá, como os espiões hipnotizados dos filmes de série B da Guerra Fria, esperam o chamado ou estímulo que faça com que abandonem as funções superiores da consciência e se mergulham no espírito da matilha e o linchamento.

Ontem derrubaram um aviom comercial malaio, mas foi na Ucrânia. Há três dias morreram dezenas num atentado no Afeganistám, hoje matam bebés na Síria, mas as imagens que veremos nom serám essas ou nom nos deixarám marca porque nom som as que "esperamos" ver. Estamos predispostos, preparados, treinados, programados (Como os cães do experimento de Pavlov) para responder a outra campainha: a que nos promete berros aterradores de dor, caixões abertos e sangrantes envoltos em bandeiras nas que predomina o verde do Islám. A que nos regala olhadas indiferentes dos supostos perpetradores e nos deixará dormir sem complexos depois de "comprovar" que por algo os perseguimos, expulsamos e calamos quando eram aniquilados sistematicamente.

Jorge Rozemblum é diretor de Rádio Sefarad

Texto traduzido para o galego-português por CAEIRO.

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