sexta-feira, 23 de maio de 2014

MAL PERDER

Josep-Lluis Carod-Rovira

A derrota dumha equipa de basquetebol espanhola perante o seu adversário israelita gerou umha vaga de insultos, ameaças e justificações do Holocausto de Hitler contra os Judeus, dumhas proporções impensáveis. Ninguém gosta de perder e todos e cada um de nós reagimos com satisfaçom quando esta circunstância se produzir em qualquer âmbito da nossa vida, pessoal ou coletiva. Ora bem, umha cousa é a insatisfaçom, a expressom emocional dum descontentamento, em quente, e umha outra som as palavras escritas ofensivas contra todo um povo ou coletivo humano determinado. Escrever requer um mínimo de reflexom e colocar preto sobre branco é manifestar a tua opiniom para que fique constância dela. Verba manent, nom sem razom, diziam os clássicos, porque as palavras ficam, sobretodo se som escritas e têm um carácter público, longe, portanto, das efusões de ira ou de afeto mais íntimas. Se por perder numha competiçom desportiva já se põem assim e te ameaçam com o extermínio frio, calculado e premeditado, apelando para abomináveis precedentes históricos, qual será a sua reaçom quando perdam, nom numha pista de basquetebol, mas nas urnas, democraticamente.
O Maccabi de Telavive ganhou a Euroliga de Basquetebol
Esta expressom desmedida de nacionalismo espanhol, própria dos que se acham superiores a outros grupos humanos, ajuda a entendermos o seu intestinal filonazismo, mas nom é apenas isso. Há muitos anos que acho que Espanha é, em termos gerais e salvando todas as numerosíssimas excepções, que felizmente existem, umha sociedade onde a cultura hegemónica é alérgica à diversidade, a qualquer diversidade que nom concorde com o modelo uniforme espanhol, seja qual for o âmbito: língua, cultura, naçom, religiom, bandeira, cor da pele, seleçom desportiva,... De facto, olhando para atrás, a experiência da inquisiçom é, entre outras cousas, umha das expressões mais besteiras desta alergia. Todos os que, do ponto de vista religioso, tivessem umhas convições que nom coincidissem coas oficiais e próprias do grupo maioritário, recebia as consequências e era encaminhado diretamente para o castigo público, em forma de humilhaçom, escárnio, tortura, morte na fogueira ou previamente enforcado. Sabem-no muito bem os descendentes daqueles que, séculos atrás, habitaram o solo da península ibérica e ilhas adjacentes e que o padeceram pola sua condiçom de muçulmanos, judeus ou protestantes. Portanto, todos os que nom se avinham a ser como eles, a serem diferentes deles, a ter uns riscos identificadores distintos dos que a eles os caracterizam, beberam azeite, e nom precisamente de oliveira.

Li nalgures que hoje, na Uniom Europeia, Espanha é o estado que encabeça o antissemitismo, a judeufobia, entre outras deficiências deploráveis onde figura também em primeiro lugar de forma destacada. O ódio espanhol aos Judeus, aos que expulsou dos seus territórios há mais de cinco séculos, é dumha intensidade notável e com base numha cheia de preconcebidos ancestrais e prejuízos herdados, característicos dum nível profundo de ignorância e desconhecimento da história. Há estados como a França onde o antissemitismo é perseguido com umha grande severidade, com as leis na mão. Mas, em Espanha, a falta de Judeus, os Catalães ocuparam o seu espaço como alvo preferido da sua xenofobia, desde os tempos de Quevedo até os nossos dias. Judeufobia e catalanofobia, no fundo, som atitudes à defensiva, próprias de quem desconhece todo o que caracteriza o outro e por isso é temido. No fundo, simples ignorância. Francamente, a reaçom de cérebro de mosquito que houve logo após a derrota perante um clube desportivo de Telavive nom é apenas a resposta natural e espontânea a umha adversidade desportiva, mas a expressom dum mal mais profundo e preocupante: a secular incapacidade espanhola para reconhecer a diferença, nom apenas a sua, mas a dos outros.

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