Do latim pontem veteram (Ponte Velha), Ponte Vedra é umha cidade galega com cerca de 82.700 habitantes situada na beira do Rio Lerez e da Ria homónima.
A teor do foral concedido durante o reinado de Fernando II (1157-88), assistiu-se a umha reativaçom da atividade comercial, restaurando-se caminhos e pontes, repovoando-se de novo o local hoje ocupado pola cidade, depois de se ter assistido a um certo abandono na Alta Idade Média. Entre as concessões destacam-se o monopólio do fabrico do saim (gordura obtida ao prensar alguns peixes) na Galiza e da cura do peixe (nom da salga) em 1229, bem como a adjudicaçom do porto de carga e descarga da Galiza em 1452.
Existe constância da presença judaica na cidade de Ponte Vedra desde, no mínimo, 1304. Assim figura no documento de venda duns terrenos ao prior de Santo Domingos de Ponte Vedra, no que se refere a presença dum guardião ou custódio da Sinagoga da vila. Para que houvesse umha sinagoga estabelecida em Ponte Vedra nos inícios do século XIV, tinha de habitar um número de dez famílias, polo que é muito provável que a presença judaica na cidade se remontasse a meados do século XIII.
A Judiaria de Ponte Vedra possuía sinagoga e fossar (cemitério judaico) polo que cabe pensar que o seu tamanho e importância deveu de ter sido considerável no seu momento de esplendor. Há que levar em conta que durante a Idade Média a cidade pontevedresa era um importante centro comercial.
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Localizaçom da Judiaria de Ponte Vedra. GoogleEarth |
A localizaçom da Judiaria de Ponte Vedra estava entre o atual Parador de Turismo (casa do Barom) e a Igreja de Santa Maria, abrangendo as ruas Alta, da Amargura, Pratarias Velhas e Tristám de Montenegro.
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Ruas de âmbito judaico de Ponte Vedra. GoogleMaps |
A partir de 1560 assenta-se em Ponte Vedra umha comunidade de cristãos-novos vindos de Braga e Barcelos. Tratava-se dum grupo ativo de profissionais altamente qualificados, entre os quais, médicos, advogados e, mormente, mercadores. Entre os recém chegados figuram apelidos Pereira, Saraiva, Dinis, Chaves, Coronel, Nunes, Blandom, também presentes em Vigo, Redondela, Tui, Baiona ou Ribadávia.
A partir de 1604 a Inquisiçom impulsiona umha rusga em toda a Galiza contra o criptojudaismo, caindo o seu peso sobre os marranos de Ponte Vedra em 1619.
O ascenso social dos cristãos-novos de Ponte Vedra bem como o seu enriquecimento ao abrigo da suas atividades comerciais, suscita as desconfianças dumha decadente oligarquia local, que se achava com o monopólio do poder político (regedorias municipais). Altamente endividados, os cristãos-velhos viram-se forçados a vender privilégios, que som assumidos pola nova classe comercial. Nessa altura essas camadas tradicionais, temendo perder de vez os seus privilégios de linhagem, mobilizam a Inquisiçom para travar o ascenso social dos cristãos-novos, exigindo limpeza de sangue. Porém, os seus pedidos batem com a resistência da coroa, nom podendo os inquisidores intervir contra os criptojudeus. Umha real cédula de 1623 reabilita os condenados pontevedreses, permitindo a Marcial Saraiva Pereira exercer como regedor.
Os conversos teimaram na luta polo ascenso social, aproveitando a transigência do governo do Conde-Duque de Olivares, de triste memória noutros acontecimentos. De facto, Ventura Dinis chegará a ser um dos mais importantes banqueiros do rei, sendo honrado com o título de Marquês de Olivares. Ele irá subornar a Inquisiçom para remover os infames "sambenitos" da igreja de S. Bartolomeu.
Os referidos "sambenitos" eram um arma usada polo Santo Ofício para o escárnio público dos conversos. Nas igrejas das que eram fregueses, os pentenciados pola Inquisiçom colocava-se umha sorte de cartazes, os "sambenitos", nos que figurava o nome do réu, ficando a sua família incapacitada para o exercício de qualquer cargo público. No caso de Ponte Vedra era a igreja de S. Bartolomeu o ponto escolhido pola velha fidalguia para fazer escárnio público dos cristãos-novos.
Perante a falta de apoio da coroa o mesmo Concelho reage com medidas pontuais, entre as quais, denunciar as aspirações sociais dos cristãos-novos mostrando as suas origens ou condenas passadas. Assim sendo, numha data imprecisa da primeira metade do século XVII as autoridades locais decidem instalar um cruzeiro sobre o local do antigo cemitério judaico com o intuito de "limpar" o local. Posteriormente, com o triunfo das correntes liberais em meados do século XIX, esse cruzeiro seria removido do Lampão dos Judeus, colocando-se no Campelo de Santa Maria, onde atualmente se conserva.
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Campelo de Santa Maria com o cruzeiro noutrora colocado do cemitério judaico.
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Cruzeiro com a igreja de Santa Maria ao fundo. GoogleMaps |
Como no caso de Monte-Rei, a documentaçom sobre a presença judia é muito fraca. Porém, a existência duas laudas sepulcrais e, possivelmente, dum cemitério, ao que há que acrescentar as referências a vários Judeus vivendo na cidade som elementos suficientes para afirmar a existência dumha comunidade judaica.
Numha carta da pianista judia Marta Lehman de inícios do século XX, descreve-se a Judiaria de Ponte Vedra como umha das melhores conservadas da Europa. Porém, na atualidade pouco fica daquele importante bairro judeu.
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