Carção é umha freguesia portuguesa do concelho de Vimioso, na regiom de Trás-os-Montes.
Os habitantes de Carção estám muito ligados ao comércio desde tempos muito antigos. Um grande número deles som descendentes de Judeus que se refugiaram no século XV nas aldeias raianas. A importância do legado judaico revela-se no símbolo da Junta de freguesia de Carção que tem no brasom umha mezuzá e umha menorá, o candelabro de sete braços, um dos mais antigos símbolos judaicos.
A partir do século XV e XVI iniciou-se o seu maior povoamento. Este facto ficou a dever-se à expulsom dos Judeus de Espanha polos reis católicos. Assim sendo, entraram em Portugal milhares de pessoas e, polo lado de Miranda do Douro, calcula-se que tenham entrado cerca de três mil. Inicialmente, fixaram-se num local chamado Prado das Cabanas, quatro quilómetros a leste de Vimioso, dispersando-se depois, pouco a pouco. Umha vez que Carção estava bem situada e tinha feira todos os meses, aqui chegaram muitas pessoas de origem judaica, trazendo com elas umha nova cultura e umha nova economia.
As tabernas e os talhos eram alguns dos negócios que pertenciam à comunidade judaica. As famílias de negociantes de Carção instalaram-se na zona da praça e os seus estabelecimentos não eram frequentados por lavradores.
A praça de Carção guarda memórias dos tempos de perseguiçom por parte da Inquisiçom, que condenou à fogueira cerca de 18 pessoas da aldeia. Destarte, para safar da morte, muitos Judeus converteram-se por fora, para mostrar que já eram cristãos, quando na realidade ainda viviam o verdadeiro espírito judaico. Este fenómeno é designado de “Marranismo”. Tudo leva a crer que os judeus usavam as alheiras, produto alimentar da zona, para mostrar que já eram cristãos, logo comiam carne de porco, quando, na realidade, eram feitas, apenas, de pão e aves.
Implantada mesmo no centro de Carção, hoje a “Taberna TAI” é um símbolo vivo dos tempos em que os Judeus dominavam o negócio na praça. O edifício centenário, que passou de geraçom em geraçom, foi recuperado segundo a traça original e, agora, acolhe pessoas de todos os estratos sociais. Aqui ouvem-se histórias dos tempos em que o cristianismo e o judaísmo dividiam a populaçom e, em tom de brincadeira, até se fazem comentários sobre as pessoas que ainda têm ar de judeus.
Os tempos passaram, as mentalidades mudaram e as práticas judaicas que ainda poderám existir fazem, apenas, parte da intimidade de cada um. A proprietária da taberna, Laura Tomé, de 57 anos, afirma que nom tem grandes memórias dos tempos áureos do judaísmo, mas sabe que a “Taberna TAI” foi umha das primeiras a surgir em Carção. “Este negócio já vinha do meu sogro, que pertenceu a uma família que tinha taberna e talho”, recorda ela.
“A aldeia estava dividida. Os judeus tinham os seus negócios na zona da praça, ao passo que os lavradores viviam no cimo do povo e só frequentavam os comércios e cafés da sua zona. Quando os lavradores desciam, o que, por norma, acontecia ao fim-de-semana, havia pancadaria”, recorda o presidente da Junta de Freguesia de Carção, Marcolino Fernandes. Com 76 anos, o autarca afirma que ainda viveu no tempo em que as rivalidades entre cristãos e judeus estavam bem vincadas. “Embora eu fosse lavrador, vivi sempre no meio dos Judeus. O meu pai esteve três anos em França e quando regressou comprou uma casa mesmo no centro da praça, o que para os judeus foi umha afronta. Por isso, desde pequeno que fui assistindo às rivalidades”, frisa o carçonense.
Para reivindicar as tradições e vestígios dos judeus, está em fase de conclusom um Museu dedicado às tradições judaicas. Promovido pola Associação Almocreve, este espaço vai ter dous pisos: um para exposições temporárias e outro dedicado ao judaismo. O museu fica mesmo no centro da praça de Carção, onde ainda se encontram outros vestígios judaicos.
Prédio do Museu Judaico de Carção |
“A questão dos cruciformes que há em várias casas, dizerem que realmente eram Judeus, o leom de Judá… as inscrições em hebraico que significam o número oito, depois a pedra lavrada onde tem lá o processo dum senhor que foi morto por partir umha cruz de cristo e isso está no Lago das Fontes, nas fontes tem lá a marcaçom de 1661 que foi a partir daí que houve o maior massacre na povoaçom…” disse Paulo López, o presidente de Almocreve.
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