domingo, 28 de abril de 2013

O VETO DE BEIRAS E BNG E A TRIPLA ALIANÇA EXTREMA-ESQUERDA, ISLAMISMO E NEOFASCISMO


Esta postagem (a sexta) faz parte do dossier intitulado "O ódio é um espelho" sobre as simpatias do nazismo internacional com Beiras e BNG por terem-se negado a condenar o Holocausto*


João Guisan Seixas, escritor


Também por isso não deve estranhar tanto o facto de termos encontrado, num fio dessa malha, um conterrâneo. É um fio menor que sai daquela versão "gaddafista" do imperialismo euro-asiático de Dugin, o site islamo-chavista The Green Star. Porque ele nos oferecia, numa coluna à direita, ou mesmo à ultra-direita, uma ligação directa, ou mesmo ultra-directa, para um blog português intitulado Legio Victrix.

A "piscadela" do feixe ("fascio") ao lado da águia imperial, com o álibi do latim (como a fazer ver que se trata de saudades da Roma Imperial, quando se trata mais de admiração por uma Roma de há apenas 80 anos), indicam-nos que estamos claramente diante de um blog mais "neofascista" do que "neonazi". "Piscadela" que os conteúdos confirmam sobejamente. 

Entrei nele para ver se havia alguma reacção à ignomínia perpetrada no Parlamento Galego. Não encontrei. Mas, a pesquisar, topei inesperadamente um texto "made in Galicia". Trata-se de uma defesa acesa de Gaddafi, aquando da guerra civil na Líbia, e contra a intervenção da OTAN. O texto acaba, nem mais nem menos que a dizer que, face as pressões internacionais: "o que não tem que fazer Muammar Gaddafi é convocar eleições livres, permitir a existência de partidos e aplicar as receitas europeias ao seu país."

Assinam o texto Xosé Currás e Rafael Fernandes Veiga, que, a pesquisar um pouco mais, resultam ser dois empresários galegos com interesseseconómicos na Líbia de Gadaffi.

Que perfeita síntese de anti-liberalismo político e de liberalismo económico!  

Depois de tudo o visto, já quase que não provoca muita surpresa, encontrar um texto de um dos autores (ao que parece o principal e o ideólogo da dupla) Xosé Currás, também num meio nacionalista galego:

É uma espécie de carta aberta escrita na sequência da cisão do BNG de que saiu a nova força de Beiras. E, curiosamente, nela Xosé Currás manifesta ao mesmo tempo a sua adesão ao BNG (quer dizer à liderança da UPG do BNG) e a sua admiração por Beiras, a defender precisamente a linha (a coligação estratégica com Esquerda Unida) que acabaria por dar origem, meses depois, à AGE. 

Deveria causar arrepios constatar que "o autor de um texto publicado num meio neofascista"* a elogiar Gaddafi e a abjurar da democracia, seja também o autor de um texto publicado num meio nacionalista galego a elogiar Xosé Manuel Beiras e defender o seu projecto político.

* Utilizo este circunlóquio para não dizer "o colaborador de uma página fascista" ou  "um fascista" directamente, porque, a ser honesto, não posso estar seguro em 100% de que essa participação tenha sido voluntária. Sempre pudera ter acontecido que o texto tivesse sido copiado de outro lado sem conhecimento nem consentimento do autor, e que da sua presença aí não caiba deduzir nenhuma adscrição política. Vejo com tudo, bastante improvável. No final do mesmo cita-se, de facto, uma fonte, mas a ligação não funciona, e quando se tenta colocando-a na barra de direcções do navegador, aparece um aviso a dizer que essa página não existe. De qualquer modo, o nome do blog, mesmo que fosse na verde aquele onde foi originalmente colocado o texto, não deixa lugar a dúvidas. O "irminsul" (ou "yrminsul" como se grafa também em línguas germânicas) é um símbolo pertencente à iconografia mística do esoterismo nazi. Era o símbolo que se colocava nas lápides dos SS mortos. Então, neonazi ou neofascista, para mim pouca diferença faz. Se fizermos, aliás, uma procura directa pelo título do artigo e o nome do seu autor ("contrainformação de combate", "Xosé Currás") aparecem apenas 6 ocorrências. As 2 mais antigas são ligações para a própria Legio Victrix, outras duas para páginas esotéricas bastante dúbias (uma inclusive que fala dos "illuminati") e as outras duas para um blog que compila teorias conspiratórias. Todas 4 de datas posteriores à publicação na página fascista, e todas 4 citam Legio Victrix como fonte. Não é possível portanto que tenha havido "corta e cola", e o texto deveu ter sido enviado directamente para o blog fascista. A língua utilizada revela, aliás, ter sido escrita por um galego habituado à norma da RAG que tenta adaptar-se (com desigual sucesso) à norma lusitana, não por um português que "traduz" um texto galego. O que parece corroborar a impressão de que o texto foi preparado propositadamente pelos autores para a sua publicação nesta página.  


Há estudos que analisam as relações sociais com os conceitos da física de redes. Num cristal os átomos estão ordenados e quaisquer dois não se relacionam assim tão facilmente mas através de uma estrutura. Quanto mais facilmente se possam relacionar dois dados átomos, "menos cristalina" e mais fluida é a estrutura do material estudado. Os átomos relacionam-se mais livremente, e mais frequentemente, num líquido e logicamente muito mais num gás. Acabámos de descobrir que, para chegar de Beiras a Dugin através de Xosé Currás, só precisávamos, até há pouco, dous cliques de rato: um de "Praza Pública" para "Legio Victrix", e outro de "Legio Victrix" para "The Green Star". Dois graus de separação vêm a equivaler à densidade de uma geleia, e mesmo uma geleia bastante fluida. 

Agora, após ter-se tornado célebre no mundo da ultra-direita pelo seu nojo a render homenagem às vítimas do Holocausto, a distância informativa e informática entre Beiras e qualquer dos líderes neonazis antes mencionados, é já apenas de um grau (digamos, em termos computacionais, de um "clique"). Parabéns. A sua relação com eles passou de geleia para plasma, o estado mais fluido da matéria. 

Como pudemos comprovar ao longo deste escrito existe uma "tripla aliança", hoje em dia, entre uns colectivos aparentemente dispares. De uma parte a confusa amálgama dos movimentos "alternativos", radicais de esquerda, anti-sistema, entre os quais pretendem situar-se Beiras e BNG. Da outra, o turvo sistema coloidal que formam um integrismo islâmico que sempre foi além do religioso, e um pan-arabismo que nunca conseguiu ser completamente laico. E em terceiro lugar o mundo, não menos viscoso, do neonazismo, do neofascismo, dos ultra-nacionalismos, supremacismos, e racismos de toda a classe. 

Há apenas três bandeiras que unem todas essas forças. Uma a do ódio a Israel. A outra, a que víamos no final do último testemunho: o ódio à democracia (bom, à democracia que eles chamam de "liberal", mas não se conhece, nem no espaço nem no tempo, nem no mundo nem na história, nenhuma outra democracia autêntica que não seja essa). E por último o ódio ao processo imparável da mundialização. Se na catequese nos ensinavam que os inimigos da alma eram o demónio, o mundo e a carne, para estes os inimigos (à escolha: da pátria, da raça ou da fé), também são três. No lugar do demónio deve estar a democracia (que para algo tem "demo" na raiz). No lugar da carne, só pode estar Israel. Não por nenhuma causa. Só por exclusão. Porque, curiosamente, o único que não varia é "o mundo". O ódio aos Estados Unidos podia ser um quarto elemento comum, se não fosse que nesse mercado de ódios também entram também alguns "patriotas" e racistas americanos (bom, também esse ódio pode que seja ainda mais acentuado no caso dos sulistas do Ku Klux Klan, mas há também "nacional-socialistas" yankees).

O próprio Dugin reconhece esta aliança implícita num dos seus textos mais didácticos: "Sobre Amigos e Inimigos": "Se és a favor da hegemonia liberal global, és um inimigo. Se és contra, és um amigo. O primeiro é inclinado a aceitar esta hegemonia: o outro anda na revolta!" 

Irmandade que podemos ver "em carne e osso", patenteada nesta imagem de uma manifestação (legal e publicitada pelos meios) realizada no centro de Moscovo em solidariedade com Bachir El-Assad, em que podemos ver, além das pequenas bandeiras russa e síria, outras maiores com o já conhecido emblema "euro-asiático" (© Adolf Hitler, lembre-se) junto a bandeiras do Hezbollah, bandeiras vermelhas e o símbolo da fouce e o martelo.

*Texto publicado originalmente na web da associaçom AGAI.

Sem comentários:

Enviar um comentário