Esta postagem (a sexta) faz parte do dossier intitulado "O ódio é um espelho" sobre as simpatias do nazismo internacional com Beiras e BNG por terem-se negado a condenar o Holocausto*
João Guisan Seixas, escritor
Também por isso não deve estranhar tanto o facto de termos encontrado, num fio dessa malha, um conterrâneo. É um fio menor que sai daquela versão "gaddafista" do imperialismo euro-asiático de Dugin, o site islamo-chavista The Green Star. Porque ele nos oferecia, numa coluna à direita, ou mesmo à ultra-direita, uma ligação directa, ou mesmo ultra-directa, para um blog português intitulado Legio Victrix.
A "piscadela" do feixe ("fascio") ao lado da águia imperial, com o álibi do latim (como a fazer ver que se trata de saudades da Roma Imperial, quando se trata mais de admiração por uma Roma de há apenas 80 anos), indicam-nos que estamos claramente diante de um blog mais "neofascista" do que "neonazi". "Piscadela" que os conteúdos confirmam sobejamente.
A "piscadela" do feixe ("fascio") ao lado da águia imperial, com o álibi do latim (como a fazer ver que se trata de saudades da Roma Imperial, quando se trata mais de admiração por uma Roma de há apenas 80 anos), indicam-nos que estamos claramente diante de um blog mais "neofascista" do que "neonazi". "Piscadela" que os conteúdos confirmam sobejamente.
Entrei nele para ver se havia
alguma reacção à ignomínia perpetrada no Parlamento Galego. Não encontrei. Mas,
a pesquisar, topei inesperadamente um texto "made in Galicia". Trata-se de uma defesa acesa de Gaddafi, aquando da guerra
civil na Líbia, e contra a intervenção da OTAN. O texto acaba, nem mais nem
menos que a dizer que, face as pressões internacionais: "o que não
tem que fazer Muammar Gaddafi é convocar eleições livres, permitir a existência
de partidos e aplicar as receitas europeias ao seu país."
Assinam o texto Xosé Currás e Rafael Fernandes Veiga, que, a pesquisar um pouco mais, resultam ser dois empresários galegos com interesseseconómicos na Líbia de Gadaffi.
Que perfeita síntese de anti-liberalismo político e de
liberalismo económico!
Depois de tudo o visto, já quase que não provoca muita surpresa, encontrar um texto de um dos autores (ao que parece o principal e o ideólogo da dupla) Xosé Currás, também num meio nacionalista galego:
É uma espécie de carta aberta escrita na sequência da cisão do
BNG de que saiu a nova força de Beiras. E, curiosamente, nela Xosé Currás
manifesta ao mesmo tempo a sua adesão ao BNG (quer dizer à liderança da UPG do
BNG) e a sua admiração por Beiras, a defender precisamente a linha (a coligação
estratégica com Esquerda Unida) que acabaria por dar origem, meses depois, à
AGE.
Deveria causar arrepios constatar que "o autor de um texto publicado num meio neofascista"* a elogiar Gaddafi e a abjurar da democracia, seja também o autor de um texto publicado num meio nacionalista galego a elogiar Xosé Manuel Beiras e defender o seu projecto político.
* Utilizo este circunlóquio para não dizer "o colaborador de uma
página fascista" ou "um
fascista" directamente, porque, a ser honesto, não posso estar seguro em
100% de que essa participação tenha sido voluntária. Sempre pudera ter
acontecido que o texto tivesse sido copiado de outro lado sem conhecimento nem
consentimento do autor, e que da sua presença aí não caiba deduzir nenhuma
adscrição política. Vejo com tudo, bastante improvável. No final do mesmo
cita-se, de facto, uma fonte, mas a ligação não funciona, e quando se tenta
colocando-a na barra de direcções do navegador, aparece um aviso a dizer que
essa página não existe. De qualquer modo, o nome do blog, mesmo que fosse na
verde aquele onde foi originalmente colocado o texto, não deixa lugar a
dúvidas. O "irminsul" (ou "yrminsul" como se grafa também
em línguas germânicas) é um símbolo pertencente à iconografia mística do
esoterismo nazi. Era o símbolo que se colocava nas lápides dos SS mortos.
Então, neonazi ou neofascista, para mim pouca diferença faz. Se fizermos,
aliás, uma procura directa pelo título do artigo e o nome do seu autor
("contrainformação de combate", "Xosé Currás") aparecem apenas 6 ocorrências. As 2 mais antigas são ligações para a própria
Legio Victrix, outras duas para páginas esotéricas bastante dúbias (uma
inclusive que fala dos "illuminati") e as outras duas para um blog
que compila teorias conspiratórias. Todas 4 de datas posteriores à publicação
na página fascista, e todas 4 citam Legio Victrix como fonte. Não é possível
portanto que tenha havido "corta e cola", e o texto deveu ter sido
enviado directamente para o blog fascista. A língua utilizada revela, aliás,
ter sido escrita por um galego habituado à norma da RAG que tenta adaptar-se
(com desigual sucesso) à norma lusitana, não por um português que
"traduz" um texto galego. O que parece corroborar a impressão de que
o texto foi preparado propositadamente pelos autores para a sua publicação
nesta página.
Há estudos que analisam as relações sociais com os conceitos
da física de redes. Num cristal os átomos estão ordenados e quaisquer dois não
se relacionam assim tão facilmente mas através de uma estrutura. Quanto mais
facilmente se possam relacionar dois dados átomos, "menos cristalina"
e mais fluida é a estrutura do material estudado. Os átomos relacionam-se mais
livremente, e mais frequentemente, num líquido e logicamente muito mais num
gás. Acabámos de descobrir que, para chegar de Beiras a Dugin através de Xosé
Currás, só precisávamos, até há pouco, dous cliques de rato: um de "Praza
Pública" para "Legio Victrix", e outro de "Legio
Victrix" para "The Green Star". Dois graus de separação vêm a
equivaler à densidade de uma geleia, e mesmo uma geleia bastante fluida.
Agora, após ter-se tornado célebre no mundo da ultra-direita
pelo seu nojo a render homenagem às vítimas do Holocausto, a distância
informativa e informática entre Beiras e qualquer dos líderes neonazis antes mencionados, é já apenas
de um grau (digamos, em termos computacionais, de um "clique").
Parabéns. A sua relação com eles passou de geleia para plasma, o estado mais
fluido da matéria.
Como pudemos comprovar ao longo deste escrito existe uma
"tripla aliança", hoje em dia, entre uns colectivos aparentemente
dispares. De uma parte a confusa amálgama dos movimentos
"alternativos", radicais de esquerda, anti-sistema, entre os quais
pretendem situar-se Beiras e BNG. Da outra, o turvo sistema coloidal que formam
um integrismo islâmico que sempre foi além do religioso, e um pan-arabismo que
nunca conseguiu ser completamente laico. E em terceiro lugar o mundo, não menos
viscoso, do neonazismo, do neofascismo, dos ultra-nacionalismos, supremacismos,
e racismos de toda a classe.
Há apenas três bandeiras que unem todas essas forças. Uma a do
ódio a Israel. A outra, a que víamos no final do último testemunho: o ódio à
democracia (bom, à democracia que eles chamam de "liberal", mas não
se conhece, nem no espaço nem no tempo, nem no mundo nem na história, nenhuma
outra democracia autêntica que não seja essa). E por último o ódio ao processo
imparável da mundialização. Se na catequese nos ensinavam que os inimigos da alma
eram o demónio, o mundo e a carne, para estes os inimigos (à escolha: da
pátria, da raça ou da fé), também são três. No lugar do demónio deve estar a
democracia (que para algo tem "demo" na raiz). No lugar da carne, só
pode estar Israel. Não por nenhuma causa. Só por exclusão. Porque,
curiosamente, o único que não varia é "o mundo". O ódio aos Estados
Unidos podia ser um quarto elemento comum, se não fosse que nesse mercado de
ódios também entram também alguns "patriotas" e racistas americanos
(bom, também esse ódio pode que seja ainda mais acentuado no caso dos sulistas
do Ku Klux Klan, mas há também "nacional-socialistas" yankees).
O próprio Dugin reconhece esta aliança implícita num dos seus
textos mais didácticos: "Sobre Amigos e Inimigos": "Se és a favor da
hegemonia liberal global, és um inimigo. Se és contra, és um amigo. O primeiro
é inclinado a aceitar esta hegemonia: o outro anda na revolta!"
Irmandade que podemos ver "em carne e osso",
patenteada nesta imagem de uma manifestação (legal e publicitada pelos meios)
realizada no centro de Moscovo em solidariedade com Bachir El-Assad, em que
podemos ver, além das pequenas bandeiras russa e síria, outras maiores com o já
conhecido emblema "euro-asiático" (© Adolf Hitler, lembre-se) junto a
bandeiras do Hezbollah, bandeiras vermelhas e o símbolo da fouce e o martelo.
*Texto publicado originalmente na web da associaçom AGAI.
*Texto publicado originalmente na web da associaçom AGAI.
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