Abraham Leon
Até o século XI, o sistema económico que prevaleceu na Europa Ocidental caracterizou-se pola ausência de produçom para a troca. As poucas cidades remanescentes da era romana, cumpriam principalmente funções administrativas e militares. Toda a produçom estava apenas destinada ao consumo local e as propriedades senhoriais eram autosuficientes, apenas entravam em contato com o resto do mundo através dos comerciantes judeus que se aventuraram nessas terras (1). O papel desempenhado polos europeus no comércio era passivo.
Mas com o tempo, a importaçãi de mercadorias orientais aumentou sempre interessando-se em produzir diretamente para a troca. O desenvolvimento comercial estimula assim a produçom interna. A produçom de valores de uso gradualmente dá lugar à produçom de valores de troca.
Todos os produtos indígenas nom som procurados no Oriente. A produçom de valores de troca desenvolve-se em primeiro lugar onde se reúnem diferentes condições para a produçom ou a extraçom de certas mercadorias especialmente no exterior, os produtos dos monopólios. Assim, a lã da Inglaterra, o pano de Flandres, o sal de Veneza, utensílios de cobre, etc. Nestes lugares especiais crescem rapidamente
"essas indústrias especializadas cujos produtos foram imediatamente sobrecarregados através do comércio para além dos lugares de origem”. (2)
De passivo, o comércio torna-se ativo. Os panos de Flandres, os tecidos de Florença partem à conquista do mundo inteiro. Sendo particularmente procurados, esses produtos som, assim, uma fonte de lucros enormes. Essa rápida acumulaçom de riqueza torna possível um desenvolvimento rápido da classe comerciante indígena. Assim, o sal foi nas mãos dos venezianos uma poderosa forma de se enriquecer e de submeter os povos. Desde o início fizeram nas suas lagoas o sal que era procurado por todos os povos do mar Adriático polo que a Veneza ganhou privilégios comerciais, favores e tratados. (3)
Enquanto a Europa vivia sob a economia natural, a iniciativa do tráfego comercial pertencia aos comerciantes vindos do Oriente, nomeadamente judeus. Apenas uns poucos vendedores ambulantes, alguns humildes fornecedores dos castelos de nobres e clérigos conseguiram destacar-se da massa humilde de servos pregados ao solo. Mas o desenvolvimento da produçom indígena torna possível a formaçom rápida de uma poderosa classe de comerciantes indígenas. Saídos dos artesãos, subordinam-os colocando a mão sobre a distribuiçom de matérias-primas (4). Ao contrário dos negócios realizado polos judeus, claramente separados da produçom, o comércio indígena basea-se principalmente na indústria.
Em toda a parte o desenvolvimento industrial caminha lado a lado com a expansom do comércio.
"Veneza tinha a vantagem de ser simultaneamente uma das cidades mais comerciais e industriais do mundo. As suas fábricas serviam admiravelmente aos seus comerciantes nas suas relações com o Oriente. Veneza e as cidades vizinhas foram preenchidas com as fábricas de todos os tipos". (5)
"Na Itália, como na Flandres, o comércio de terras, polo qual ele continua, resultou na atividade dos portos: Veneza, Pisa e Génova aqui; Bruges lá. Entom, por trás delas desenvolvem-se as cidades industriais: as cidades lombardas e Florença, por um lado; polo outro Gante, Ypres, Lille, Douai e, além disso, Valenciennes, Bruxelas".(6)
A indústria da lã tornou-se a base do tamanho e da prosperidade das cidades medievais. Os lençóis e os tecidos foram as mercadorias mais importantes das feiras da Idade Média (7). Assim surge a diferença fundamental entre o capitalismo medieval e o capitalismo moderno, o primeiro alicerçado numa enorme revoluçom nos meios de produçom, o segundo com base unicamente no desenvolvimento da produçom de valores de troca.
A evoluçom para a troca da economia medieval foi fatal para a posiçom dos judeus no comércio. O comerciante judeu, que importa especiarias na Europa e exporta escravos, é substituído por respeitáveis comerciantes cristãos aos que a indústria urbana fornece do alimento principal de seus negócios.
Esta classe nativa comercial choca violentamente com os judeus, que mantêm uma posiçom económica antiquada, herdada de um período anterior do desenvolvimento histórico.
O crescente conflito entre o comércio "cristão" e judaico reduz-se à oposiçom de dois regimes: o da economia de troca e o da economia natural. É o desenvolvimento económico do Ocidente que destruiu a funçom comercial dos judeus, com base no estado atrasado da produçom. (8)
O monopólio comercial dos judeus diminuiu a medida que se desenvolviam os povos cuja exploraçom o alimentava.
"Durante séculos, os judeus foram os guardiões dos negócios dos povos novos. Papel cuja utilidade estes ultimos nom desprezavam. Mas toda tutela torna-se incómoda quando se prolonga. Povos inteiros emancipam-se, como os homens, e nom sem luta, da tutela de outros povos. " (9)
Com o desenvolvimento da economia de troca na Europa, o crescimento das cidades e da indústria corporativa, os judeus foram gradualmente forçados a sair das situações económicas que ocupavam (10). Esse deslocamento é acompanhado por uma luta feroz da classe comercial indígena contra os judeus. As Cruzadas, que eram também a expressom da vontade das cidades comerciais para se abrir um caminho para o Oriente, proporcionar-lhes a oportunidade de violentas perseguições e massacres sangrentos contra os judeus. A partir desse momento a situaçom dos judeus nas cidades da Europa Ocidental está definitivamente comprometida.
Inicialmente, a transformaçom económica atinge apenas alguns grandes centros urbanos. Os domínios senhoriais som muito pouco afetados por essa mudança e o sistema feudal continuou a florescer lá. Por conseguinte, a carreira da riqueza judaica ainda nom está concluída. As propriedades senhriais também fornecem um importante campo de açom para os judeus. Mas agora, o capital judaico, principalmente comercial no período anterior, torna-se quase exclusivamente usurário. Já nom é o judeu que fornece mercadorias orientais ao senhor, mas por algum tempo, foi ele que adianta dinheiro as suas depesas. Se no período anterior, "judeu" era sinónimo de "comerciante", começa a se identificar cada vez mais como "usurário". (11)
Escusado será dizer que a alegaçom de que, como fazem a maioria dos historiadores, os judeus começaram a lidar com o crédito só depois da sua expulsom do comércio é um grande erro. O capital usurário é irmão do capital comercial. Nos países da Europa Oriental, onde nom houve eliminaçom dos judeus do comércio, encontramos, como veremos mais tarde, um número respeitável de usurários judeus (12). Na realidade, a expulsom dos judeus de comércio resultou no confinamento numa das profissões que exerciam antes.
O fato de que os judeus possuíram em épocas diferentes propriedades nom pode servir como argumento sério em favor da tese tradicional de historiadores judeus. Longe de ser uma prova da multiplicidade de ocupações de judeus, de propriedade judaica deve ser considerada como o fruto das suas operações usurárias e comerciais. (13)
Nos livros comerciais do judeu francês Heliot, do Franco-Condado, que viveu no início do século XIV, encontramos vinhas listadas entre as suas propriedades. Mas é claro dos seus livros que estas vinhas nom eram para Heliot a base de uma profissom agrícola: eram o produto de suas operações mercantis. Quando, em 1360, o rei da França convida novamente os judeus no seu território, o representante dos judeus, um certo Manassés, levantou a questom da proteçom real para as vinhas e os animais que passaram para as mãos dos judeus como penhores nom libertados. Em Espanha, na altura das grandes disputas teológicas entre judeus e cristãos, estes últimos culpam os judeus por se terem enriquecido através das suas operações “de usura. Eles levaram os campos e os animais ... Eles possuem os três quartos dos campos e terras de Espanha”. (14)
As propriedades nobres que passam às mãos dos judeus som uma ocorrência normal neste momento. Tal é o caso da aldeia de Střížov (Boêmia), que tendo pertencido a dois nobres foi atribuída em pagamento de dívidas para os judeus Fater e Merklin (1382). A aldeia de Zlamany Ujezd (Moravia) atribuída ao judeu Aron Hradic; a aldeia de Neverovo (Lituânia) atribuída ao judeu Levon Salomic, etc.
Enquanto a terra dos judeus era para eles um objeto de especulaçom, esta apenas teve um carácter extremamente precário, pois a classe feudal veio cedo a impor a proibiçom de se envolver os judeus nas propriedades imobiliárias.
Foi diferentemente onde se produziu uma verdadeira mudança económica e social, onde os judeus abandonaram os seus negócios para se tornarem em autênticos proprietários de terras. Cumpria que, tarde ou cedo, mudassem de religiom.
No início do século XV um judeu chamado Woltschko que se tornara proprietário de várias aldeias, o Rei da Polónia esforçava-se para o levar a "reconhecer a sua cegueira e se juntar à santa religiom cristã". Este fato é significativo porque os reis da Polónia protegiam com preocupaçom a religiom judaica. Nunca se lhe ocorreria que os comerciantes ou banqueiros judeus se convertessem ao Cristianismo. Mas um fazendeiro judeu na Idade Média era uma anomalia.
Isto é geralmente certo no que se refere ao usurário cristã.
Este problema nom tem, obviamente, nada em comum com as patetadas raciais. É claro que é completamente disparatado afirmar, como faz Sombart, que a usura é uma qualidade específica da "raça judaica". A usura desempenha, como vimos, um papel significativo na sociedade pré-capitalista, é quase tão antiga quanto a humanidade e tem sido praticado por todas as raças e nações. Basta recordar o papel predominante desempenhado polo usura nas sociedades grega e romana. (15)
Afirmar que os judeus praticavam a usura na sequência das suas disposições raciais, é invertir os dados da questom. Nom é a capacidade "inata" ou a ideologia de um grupo social que explica sua posiçom económica. É, ao contrário, a sua situaçom económica o que explica as suas capacidades e a sua ideologia. A sociedade medieval nom estava dividida em senhores e servos porque cada um desses grupos tinha originalmente disposições específicas para o papel económico que devia desempenhar. A ideologia e as capacidades de cada classe formam-se lentamente dependendo de suas posições económicas.
Passa-se o mesmo com os judeus. Nom é a sua disposiçom "inata" para o comércio que explica a sua posiçom económica, é a sua situaçom económica a sua disposiçom para comércio. Aliás, os judeus constituem um conglomerado racial muito diverso. Eles absorveram na sua história uma infinidade de elementos étnicos nom-semitas. Na Inglaterra, o "monopólio da usura trouxe tanta riqueza que houve casos de cristãos convertidos ao judaísmo para participar no monopólio do empréstimo judeu” (16). O judaísmo é tanto o resultado duma seleçom social, nom uma “raça com disposições inatas para o comércio”. Mas o primado do fator económico e social nom exclui, longe disso, a influência do fator psicológico.
Assim como é infantil ver na situaçom económica do judaísmo o resultado das "disposições dos judeus”, é tolice considerá-la o resultado das perseguições e proibições legais de se dedicarem a outras ocupações que o comércio ou a usura.
"Na vasta literatura sobre a vida económica dos judeus na Idade Média, diz-se que eles foram excluídos do início, do artesanato, do comércio de mercadorias e que eles foram proibidos de possuir bens imobiliários. Isto é apenas uma fábula. Na verdade, no século XII e o século XIII, vivem em quase todas as grandes cidades na Alemanha Ocidental, eles permanecerom entre os cristãos e eles desfrutaram os mesmos direitos civis que estes últimos ... Por um período em Colónia os judeus ainda possuíam o direito de obrigar um cristão que tinha um conflito com um judeu a comparecer perante os juízes judeus e a ser julgado segundo a lei hebraica... Também é errado afirmar que os judeus nom poderiam ser admitidos nas sociedades de ofício. Certamente, muitas corporações nom admitiam o que eles chamavam de "crianças judias" (Juden Kinder), como aprendizes, mas este nom era o caso de todas as corporações. A existência de ourives judeus, mesmo quando as regras da guilda se tornoram muito mais duras é prova disto. Havia certamente poucos ferreiros e carpinteiros judeus, entre os artesãos na Idade Média: os pais judeus que davam os seus filhos no aprendizado destes ofícios eram muito raros. Mesmo as corporrações que excluiam os judeus nom o faziam por animosidade religiosa ou ódio racial, mas porque as profissões de usurários e de vendedores ambulantes eram consideradas "desonestas". As sociedades excluiam os filhos de comerciantes, usurários e de vendedores ambulants judeus, assim como nom aceitavam no seu seio filhos de simples trabalhadores, barqueiros e ou tecelões de linho”. (17)
A sociedade feudal era essencialmente uma sociedade de castas. Ela queria que cada um "ficasse no seu lugar” (18). Ela combatia a usura dos cristão da mesma forma que tornava impossível para a burguesia ascender à nobreza ou que olhava com desprezo o nobre que se abaixava para a prática de um ofício ou fazer negócios.
Em 1462 é expulso da cidade de Nördlingen o Dr. Han Winter porque ele praticou a usura através de um judeu. Trinta anos depois, na mesma cidade, um burguês chamado Kinkel foi exposto no pelourinho e banido da cidade por ter praticado a "ocupaçom judaica". O sínodo de Bamberg, em 1491, ameaçou expulsar da comunidade cristã todo cristão que praticar a usura, sozinho ou através de judeus. Em 1487, na Silésia, foi decretado que qualquer cristão que tenha praticado a usura será posto à disposiçom do tribunal real e punido de maneira exemplar.
Enquanto o sistema feudal continua forte, a atitude da sociedade cristã em relaçom aos empréstimo a juro nom será alterada. Mas as profundas mudanças económicas que discutimos acima invertem o problema. O desenvolvimento industrial e comercial subiu à banca para um papel indispensável na economia. O banqueiro avança fundos para o comerciante ou o artesão, tornando-se um elemento essencial do desenvolvimento económico.
A tesouraria do usurário exerce no feudalismo o papel de uma reserva necessária, mas absolutamente improdutiva.
"As formas características -na produçom capitalista, estas formas som secundárias e nom determinam o carácter do capital produtivo do juro – sob as que opera o capital usurário no período pré-capitalistas som duas: a usura é tomada quer sob os empréstimos aos grandes, geralmente proprietários que dissipam a sua riqueza, quer em empréstimos aos pequenos produtores, proprietários dos seus instrumentos de trabalho, quer dizer, aos artesãos eprincipalmente aos camponeses que na época representavam a classe mais importante. " (19)
O usurário empresta aos senhores feudais e aos reis para os seus luxos e as suas despesas de guerra. Ele presta aos agricultores e artesãos para ajudá-los a pagar os impostos, taxas, etc. O dinheiro emprestado polo usurário nom cria mais-valia, apenas lhe permite apossar-se duma parte do excedente já existente.
A funçom do banqueiro é diferente. Ele contribui diretamente para a produçom de mais-valia. Ele é produtivo. O banqueiro financia as grandes empresas comerciais e da industriais. Enquanto o crédito é essencialmente um crédito ao consumo na época feudal, torna-se um crédito de produçom e circulaçom no momento do desenvolvimento comercial e industrial.
Há portanto uma diferença essencial entre o usurário e o banqueiro. O primeiro é o órgão do crédito no período feudal, enquanto o segundo é o órgão de crédito no momento da economia cambista. Ignorar esta distinçom básica leva quase todos os historiadores em erro. Eles nom vêem nenhuma diferença entre o banqueiro da antiguidade, o banqueiro judeu da Inglaterra no século XI e Rothschild ou mesmo Fugger.
"Newman diz que a diferença entre o usurário e o banqueiro é que o primeiro empresta ao pobre e o segundo ao rico. Ele nom viu que nom se trata simplesmente de uma questom de ricos e pobres, mas da diferença entre dois modos sociais de produçom e entre as estruturas sociais que lhes correspondem. " (20)
Evidentemente, essa distinçom torna-se especialmente visível na época capitalista propriamente dita. Mas
"já, nas formas anteriores, o comerciante, com o credor, as mesmas relações que o capitalista moderno, e esta relaçom nom escapou à atençom de universidades católicas. As universidades de Alcalá, Salamanca, Ingolstadt, Freiburg-en-Breisgau, de Mainz, Colónia e Trier reconheceurom, uma após a outra, a legitimidade do juro do dinheiro adiantado para o comércio”. (21)
Conforme o desenvolvimento económico continua, a banca ganhou posições cada vez mais fortes, enquanto o usurário judeu perdeu mais terreno. Já nom se acha nas prósperas cidades comerciais da Flandres, porque
"Os judeus, ao contrário dos lombardos, apenas praticavam a taxa de juro e nom desempenhavam o papel de intermediários nos negócios”.(22)
Após a sua eliminaçom do comércio, processo que culmina na Europa Ocidental no século XIII, os judeus ainda desenvolvem os negócios de usura nas áreas ainda nom afetadas pola economia cambista.
Na Inglaterra da época do rei Henrique II (segunda metade do século XII), os judeus já estão metidos na usura. Eles som geralmente muito ricos e sua clientela é constituída por grandes proprietários. O mais famoso desses banqueiros judeus foi um certo Aaron de Lincoln, muito ativo no final do século XII. O rei Henrique II devia-lhe 100.000£, uma soma equivalente ao orçamento anual do reino da Inglaterra naquela época.
Com taxas de juros extremamente elevadas - que variava entre 43 e 86% - uma massa de terras da nobreza caiu nas mãos de usurários judeus. Mas eles tinham poderosos sócios e... exigentes. Se os reis da Inglaterra apoiavam que o negócios dos judeus, foi porque para eles era uma importante fonte de renda. Todos os empréstimos contraidos com os os judeus foram registrados no Judaeorum scaccarium e eram tributados a uma taxa de 10% em proveito do fazenda real. Mas esta contribuiçom legal estava longe de ser suficiente para os reis. Qualquer desculpa era boa para desalojar os judeus e continuamente a usura exercida polos judeus ajudou a engrossar o fazenda real. Foi especialmente ruim para os judeus ter reis como devedores principais. Os herdeiros de Aaron de Lincoln perceberam isto quando na altura de 1187 o Rei da Inglaterra confiscou os bens do rico banqueiro.
A nobreza despossuída vingava-se organizando massacres de judeus. Em 1189 os judeus foram massacrados em Londres, Lincoln e Stamford. Um ano mais tarde, a nobreza, comandada por um Malebysse destruiu o Judaeorum scaccarium de York. Os tratados foram solenemente queimados. Os judeus, sitiados no castelo, mataram- se. Mas o rei continuou a proteger os judeus, mesmo após a sua morte ... Ele exige o pagamento, no seu proveito, dos montantes devidos aos judeus, já que os judeus eram os "escravos do seu fazenda". Empregados especiais som instruídos por ele para fazer uma lista exata de todos os débitos.
No início do século XIII o rei concedeu à nobreza inglesa a "Magna Carta" que traz algumas melhorias no regime dos empréstimos. No entanto, em 1262 e 1264, eclodiram novos distúrbios contra os judeus.
Em 1290 toda a populaçom judaica da Inglaterra, ou seja, quase 3.000 pessoas, foi expulsa e os seus bens confiscados. A situaçom económica dos judeus, muito mais numerosos na França (100.000) nom é significativamente diferente da dos judeus ingleses.
“No advento de Pilipe Augusto (1180) e nos primeiros anos de seu reinado, os hebreus eram ricos e muitos na França. Doutos rabinos tinham sido atraídos para a sinagoga de Paris a qual, na grande entrada do Papa Inocêncio em St. Denis em 1135, já figurara entre as corporações da capital à passagem do pontífice. Segundo o historiador Rigord eles tinham adquirido quase a metade de Paris... Nas aldeias, vilas e bairros e por toda a parte estenderam os seus credores. Muitos cristãos têm mesmo sido expropriados polos judeus por causa das dívidas". (23)
Especialmente no norte da França que os judeus estão envolvidos na usura. Na Provença no século XIII a participaçom dos judeus no comércio ainda é muito importante. Os judeus de Marselha mantinham relações comerciais com a Espanha, Norte de África, a Sicília e a Palestina. Eles tinham até mesmo navios e importavam, como os seus antepassados do período carolíngio, especiarias e escravos.
Mas som apenas os remanescentes de uma época passada. A usura parece ser, no século XIII, a principal funçom económica dos judeus da França. Em cada cidade, um advogado era nomeado para os negócios do empréstimo. A taxa de juros era de 43%. Até o estatuto de Melun (1230), que proíbe os judeus o empréstimo de penhores imobiliários, os principais clientes dos banqueiros judeus eram os príncipes e senhores. No início do século XII, o judeu Salomom de Dijon era credor dos maiores mosteiros da França. O Conde de Montpellier devia a um judeu chamado Bendet, a soma de 50.000 centavos. O Papa Inocêncio III, em carta ao Rei da França, expressou a sua indignaçom do facto de os judeus se terem apropriado de propriedade da igreja, apossando-se de terras e vinhedos.
Se a situaçom económica dos judeus na França foi como a dos judeus na Inglaterra, a sua situaçom política era diferente. O poder, muito mais fragmentado, entregou-nos nas mãos de uma multidom de príncipes e nobres. Os judeus estavam sujeitos a uma série de impostos e taxas que enriqueciam os poderosos. Diferentes métodos foram implementados para extrair o máximo dinheiro dos judeus. As arrestações em massa, os processos rituais, as expulsões, era tudo pretexto as grandesextorsões. Os reis da França expulsaram e acolheram repetidamente os judeus para confiscar as suas propriedades.
Desconhece-se exatamente a posiçom social e económica dos judeus na Espanha muçulmana. Todavia, nom há dúvida de que eles pertenciam às classes privilegiadas da populaçom.
"Chegando a Granada, escreveu um tal Abu Ishak de Elvira, eu vi que os judeus ocupam aqui posições de liderança. Eles partilharam a capital e a província. Em toda parte, estes amaldiçoados estão à frente da administraçom. Eles lidam com a cobrança de impostos e vivem no luxo enquanto os muçulmanos vestem trapos”.
Na Espanha cristã, em Castela, os judeus som banqueiros, cobradores de impostos e fornecedores do rei. A realeza protege-os porque fornecem um apoio económico e político. A taxa de juro, menor do que em outros países, era de 33% no início do século XII. Em muitas Cortes, a nobreza lutou para reduzir a taxa de juros, mas sempre bateu com a resistência dos reis. Apenas sob o reinado de Afonso IX que a nobreza consegue resultados neste domínio.
Uma situaçom semelhante criou-se em Aragom. Jehuda de Cavallera é um exemplo típico de um grande “capitalista” judeu do século XIII. Ele alugava o sal, cunhava moeda, fornecia o exército e tinha grandes terras e numerosos rebanhos. A sua fortuna permitiu a construçom de uma marinha para a guerra contra os árabes.
O atraso económico de Espanha tornou possível para os judeus preservar as suas posições comerciais mais do que na Inglaterra ou na França. Documentos do século XII referem as viajens que os judeus de Barcelona faziam para o Bósforo. Em 1105, o conde Bernard III concede um monopólio de importaçom de escravos sicilianos para três judeus, comerciantes e proprietários de barcos em Barcelona. Só no século XIV, quando o Barcelona vai ser "transformada em um grande armazém e numa enorme oficina” (24), é que os judeus som completamente expulsos do seu comércio. A sua situaçom agravou-se tanto que eles som obrigados a pagar impostos ao passar por esta cidade.
"Os infelizes israelitas, longe de serem comerciantes em Barcelona, entravam como uma mercadoria”.(25)
A usura judaica atingiu uma extensom em Aragom que ocorreram sérios movimentos contra os judeus entre a nobreza e a burguesia.
Na Alemanha, o período principalmente comercial estende-se até meados do século XIII. Os judeus estão conectados com a Alemanha, Hungria, Itália, Grécia e Bulgária. O comércio de escravos floresceu até ao século XII. Assim, recorda-se nas tarifas alfandegárias de Wallenstadt e de Koblenz que os comerciantes de escravos judeus devem pagar por cada escravo 4 dinares. Um documento de 1213 diz dos judeus de Laubach que "som extraordinariamente ricos e exercem um grande comércio com os venezianos, húngaros e croatas”.
A partir do século XIII a importância das cidades alemãs aumenta. Como em outros lugares, e polas mesmas razões, os judeus foram retirados do comércio e voltarom-se para a banca.
O centro de gravidade da usura judaica concentra-se na nobreza. Os atos de Nuremberga mostram que a dívida média contraída com os judeus ascende a 282 gulden para as pessoas da cidade e de 1672 para os nobres. É semelhante os 87 tratados de Ulmen que pertenciam a casas bancárias judaicas. Dos 17.302 gulden que representam, 90% som causados por nobres. Em 1344, o banqueiro judeu Fivelin empresta ao conde de Zweibrücken 1090£. O mesmo Fivelin, em colaboraçom com um certo Jacob Daniels, empresta em 1339 61.000 florins ao Rei inglês Eduardo III. (26)
Em 1451 o Imperador Federico III pediu ao papa Nicolás V um privilégio para os judeus, "para que eles possam viver na Áustria para emprestar ajuro para a maior comodidade da nobreza.” No século XIII, os judeus Lublin e Nzklo desenvolvem em Viena funções de “condes da tesouraria do duque austríaco (Comites camarae ducis austriae).
Mas este estado de coisas nom poderia continuar indefinidamente. A usura destruia lentamente o sistema feudal, arruinando todas as classes da populaçom sem a introduçom de uma nova economia para substituir a velha. Ao contrário do capital, a usura é essencialmente conservadora.
"A usura e o comércio exploravam um determinado modo de produçom que nom cria à que ficam alheios, a usura procura manter este processo intacto para perpetuar a sua exploraçom. A usura aglomera o dinheiro onde os meios de produçom estão dispersos. Ele nom altera o modo de produçom, mas apega-se a ele como uma parasita. Ele esgota-o, enerva-o e torna as condições de produçom a cada vez mais miseráveis... A usura explora, mas nom produz como o capital”.(27)
Apesar deste efeito destrutivo, a usura é essencial nos sistemas económicos atrasados. Mas torna-se uma das principais causas da estagnaçom económica, como é visto em vários países asiáticos.
Se a carga do usurário se torna cada vez mais insuportável na Europa Ocidental deve-se a que é incompatível com as novas formas económicas. A economia cambista entra na vida de rural. O desenvolvimento industrial e comercial das cidades produz o declínio sensível do antigo sistema feudal no campo. Um grande mercado abre-se aos produtos agrícolas, causando um declínio significativo nas velhas formas de escravidom, as taxas com base na economia natural.
"É somente nas áreas inacessíveis ou muito afastadas das grandes correntes comerciais que o feudalismo mantém a sua forma original. Em qualquer outro lugar, se nom desaparece, minimiza-se. Pode-se dizer que desde o início do século XIII, a classe camponesa na Europa Ocidental e Central tornou-se ou está-se tornando uma populaçom de camponeses livres". (28)
Em toda a Europa Ocidental e em parte da Europa Central, os séculos XII, XIII e XIV som a época do desenvolvimento da usura judaica. O desenvolvimento económico leva ao seu rápido declínio. A expulsom final dos judeus tem lugar no final do século XIII na Inglaterra, no final do século XIV na França e no final do século XV na Espanha. Estas datas refletem o ritmo diferente no desenvolvimento económico nesses países. O século XIII é a era do desenvolvimento económico na Inglaterra. É no século XV que
"os reinos espanhóis enriquecem-se e desenvolvem o seu comércio. O agro começa a se cobrir de ovelhas e a lã espanhola tornou-se, no comércio do norte, um rival da lã inglesa. As exportações aumentaram de forma significativa para os Países Baixos e a criaçom de ovinos começou a dar a aparência característica de Castela da que se enriquece nobreza. O ferro de Bilbau, o azeite, as laranjas e as romãs também estão sujeitos a um aumento do trânsito norte”.(29)
O feudalismo cede gradualmente o lugar ao regime cambista. Por conseguinte, o alcance da usura judaica diminui constantemente. Torna-se cada vez mais insuportável, porque cada vez é menos necessária. Quanto mais o dinheiro se tornar abundante devido ao intenso movimento de mercadorias, mais cruel se torna a luta contra uma funçom económica que já nom pode ser justificada economicamente que no tempo de imobilidade económica, quando o fazenda do usurário constituia a reserva essencial da sociedade.
Agora, os agricultores começaram a vender os seus produtos e pagar em dinheiro ao seu senhor. A nobreza, para satisfazer suas crescentes necessidades de luxo, tem interesse em liberar o campesinato, para substituir em toda a parte a renda-produto em renda-dinheiro.
"A transformaçom ao princípio localizada da renda-produto, logo mais ou menos nacional, em renda-dinheiro requer um desenvolvimento considerável do comércio, da indústria urbana, da produçom de mercadorias em geral, e, portanto, da circulaçom de dinheiro." (30)
A transformaçom de todas as classes da sociedade em produtores de valores de troca, em donos de dinheiro, leva-os, por unanimidade, contra a usura judia cujo carácter arcaico enfatiza o aspeto espoliador. A luta contra os judeus assume formas cada vez mais violentas. Era preciso que a realeza, protetora tradicional dos judeus, cedesse aos pedidos repetidos dos congressos da nobreza e da burguesia. Além disso, os próprios monarcas deviam tirar cada vez mais frequentemente dos cofres da burguesia, classe que em breve monopoliza a parte mais importantes dos bens mobiliários. Os judeus, enquantoc fonte de rendas, perdem cada vez mais interesse aos olhos dos reis (sem mencionar que a expulsom dos judeus foi sempre uma operaçom extremamente rentável).
É assim que os judeus foram expulsos progressivamente de todos os países ocidentais. É um êxodo dos países mais desenvolvidos para os países mais atrasados da Europa Oriental. A Polónia, mergulhada de cheio no caos feudal, tornou-se o principal refúgio dos judeus expulsos de outros países. Noutros países como a Alemanha ou a Itália, os judeus continuam nas regiões menos avançadas. Durante a viagem de Benjamim de Tudela, quase nom havia judeus nos centros comerciais como Pisa, Amalfi ou Gênova. Por contra, eram muito numerosos nas partes mais atrasadas da Itália. Mesmo nos Estados da Igreja, as condições para o comércio e a banca judia eram muito mais favoráveis do que nas ricas repúblicas comerciais de Veneza, Génova e Florença.
A economia de mercado expulsa assim os judeus dos seus últimos cantos. O Judeu "banqueiro da nobreza", já é bastante desconhecido na Europa Ocidental no final da Idade Média. Aqui e ali, as pequenas comunidades judaicas som capazes de permanecer em certas funções económicas subordinadas. Os "bancos judeus" som agora mais do que casa de penhores onde se empresa a miséria.
É a queda total. O judeu torna-se o pequeno usurário que empresta contra penhores de pouco valor para os pobres das cidades e do meio rural. E o que ele pode fazer com os penhores nom retirado? Deve vendê-los. O judeu torna-se o pequeno vendedor ambulante e no mascate. É o fim definitivo do seu antigo esplendor.
Entom começou a era dos guetos (31) e das piores perseguições e humilhações.
A imagem desses infelizes em rodela e fato, ridiculizados ao ter que pagar como animais taxas para a passagem polas cidades e pontes, desgraçados e deprimidos, incorpora-se por muito tempo na memória dos povos da Europa Ocidental e Central .
A relaçom dos judeus com outras classes da sociedade
A evoluçom da situaçom social e económica dos judeus teve uma influência decisiva nas relações que os ligava a outras classes sociais. Na época de seu auge comercial, eles foram protegidos com cuidado por reis e nobres. A suas relações com os camponeses nom som importantes. Por contras, as relações dos judeus com a burguesia foram hostis desde a sua entrada na cena da história.
Eliminado do Comércio, o "capital" judeu confinada-se apenas na usura. Esta nova situaçom resulta na mudança da atitude da nobreza e realeza a respeito dos judeus. Os senhores, obrigados a defender as suas propriedades ameaçadas, muitas vezes passam para uma luta implacável contra os usurários que os arruinam. Os reis continuam a "proteger os judeus", mas na realidade, aproveitam-se disso para sugar os recursos do país. Mas enquanto a economia cambista ainda nom penetrou no meio rural, a situaçom dos judeus é ainda relativamente suportável.
Somente quando o agro começa a se "capitalizar", quando senhores e camponeses começaram a conquistar um campo de atividade cada vez mais alargado, é que todas as classes da sociedade estão prontas a perseguir e expulsar os judeus . A vitória da economia baseada no dinheiro é também a falência do velho “homem do dinheiro”. Eliminados do seu papel de banqueiros para a nobreza, alguns judeus conseguem agarrar-se nos "buracos" da economia. Tornados donos das casas de penhores, os vendedores de roupa, usurários e vendedores ambulantes que levam uma vida miserável em guetos escuros, submetidos ao ódio e o desprezo do povo. A cada vez os judeus relacionam-se com os pobres, artesãos e camponeses. E muitas vezes a ira do povo, espoliado por reis e senhores e forçado a penhorar as suas últimas roupas nos judeus, volta-se contra os muros do gueto. Os nobres e ricos burgueses, que utilizam os judeus para explorar ainda mais o povo, usam estes motins para desapossar os "escravos do seu fazenda."
A) A realeza e os judeus
Quando o inimigo dos judeus, Gonzalo Matiguas, ofereceu ao rei de Castela, três milhões moedas de ouro se ele expulsar os judeus, o bispo Dom Gil respondeu:
"Os judeus som um tesouro para o rei, um verdadeiro tesouro! E você quer expulsá-los... Você nom é menor inimigo do rei que dos judeus ... "
Mais uma vez, em 1307, na sequência de uma resoluçom dos sacerdotes castelhanos contra a usura judaica, o rei proibe causar problemas aos judeus.
"Os judeus, diz um decreto a este respeito, pertencem ao rei, a quem eles pagam impostos e é por isso que é impossível aceitar qualquer limitaçom da sua vida económica, pois isso prejudicaria o fazenda real. "
Na Polónia, a proteçom real aumentou neste momento de forma desconhecida. Assim, em 1504, o rei polonês Alexandre disse
"ele age com os judeus como convém a reis e poderosos que nom só se devem distinguir pola sua tolerância aos cristãos, mas também para os adeptos de outras religiões." (32)
Outro rei polonês, Casimiro Jagellon, disse o mesmo
"que ele faz o que lhe dita o princípio da tolerância imposta pola lei divina."
A razom desta atitude nom é difícil de entender. Os judeus erão para os reis uma fonte de rendas muito valiosa. Por exemplo, em Espanha, som os financistas judeus, os irmãos Ravia, que ajudaram os reis de Castela a terminar felizmente a guerra contra os mouros. Outros banqueiros judeus apoiaram o monarca espanhol na sua luta contra a nobreza. Uma organizaçom fiscal especial, criada para arrecadar impostos judeus funcionava em vários países. Na Inglaterra, o scaccarium judeorum permitia registrar todos os negócios dos judeus e é através dele que se realizava a cobrança dos seus credores. Estava dirigido por um conselho de sete membros, três judeus, dois cristãos e dois funcionários do rei. Cada operaçom de crédito era lucrativo em 10% para a fazenda real.
Escusado será dizer que a realeza nom podia contentar-se com uma quota tão pequena. Assim, as medidas adequadas, tais como confiscações extraordinárias, surgiram pola falta de impostos normais.
Legalmente, os judeus erão os Kammerknechte, os escravos da fazenda real, e nos países onde o poder político estava muito fragmentado, os escravos da fazenda dos senhores.
Encher os cofres dos poderosos, converteu-se na sua razom de ser. (33)
Nas leis anglo-saxões dizia-se: "Ipsi Judaei e Regis sunt omnia sua", ou seja, os judeus e todos os seus bens pertencem ao rei. As leis dos reinos do norte de Espanha exprimem-se da mesma forma:
"Os judeus som escravos do rei e pertencem para sempre à fazenda real. " (34)
O sistema era muito simples. Os judeus desapossavam os senhores e os reis esfolavam os judeus. Mas, para poder os esfolar, era preciso que estivessem lá. Por isso os reis protegiam os judeus e estimulavam os seus negócios por todos os meios ao seu alcance.
Mas embora ao rei como representante do Estado lhe interessava proteger os judeus, nom se deve esquecer que ele também era um nobre, portanto um dos seus principais devedores.
Nessa funçom, ele obviamente estava tentado a pôr fim às suas empresas, que sempre era uma operaçom muito bem sucedida. Enquanto os desejos dos senhores de menor importância de se livrar da sua dívida e da sua cobiça erão bloqueados e contidos pola proteçom que a realeza concedia aos judeus, o "Grande Senhor-rei” nom tinha, obviamente, tais atrancos externos para superar. "Duas almas viviam assim no seu corpo”. Como rei, lutava contra as pretensões da nobreza e da burguesia e opunha-se aos massacres e à expulsom dos judeus, como o maior proprietário de terras, ele tinha o maior interesse nas perseguições contra os judeus.
Os meios que tinham os reis para "extrair" o dinheiro dos seus escravos judeus eram muito variados. Ao princípio houve detenções em massa. Prendiam os judeus sob qualquer pretexto e apenas os libertavam após pagarem somas consideráveis. Por este meio, em 1180, o rei da França Pilipe II Augusto extorquiu 15.000 marcos aos judeus. O conde Afonso de Poitiers "meteu em caixa” 20.000 libras.
Também se utilizavam outros meios. Eles acusaram os judeus enenevar os poços e usar o sangue dos cristãos nas suas cerimónias religiosas (processos rituais). Em 1321, os judeus na França foram multados em 150.000 libras polo envenenamento de poços.
Finalmente a operaçom de maior sucesso foi a de expulsar os judeus, confiscar os seus bens para os readmitir prévio pagamento de sumas formidáveis. Em 1182, Filipe Augusto expulsou todos os judeus do seu reino e confiscou todas as suas propriedades. Permite-lhes voltar quinze anos mais tarde a câmbio de pagar150.000 marcos por esta “caridade”. Novamente, em 1268, o Rei Luis IX de França determinou que todos os judeus deviam deixar a França e os seus tesouros foram confiscados. Logo depois, após negociações com os seus “servi camerae” a medida foi retirada por meio de prendas consideráveis.
Com a expulsom dos judeus em 1306 o rei francês Filipe o Belo tira um proveito de 228.460 libras, uma soma enorme para aqueles dias.
Convidados a voltar novamente em 1315, os judeus pagam por este novo favor 22.500 libras. Mas seis anos depois som obrigados a tomar novamente o caminho do exílio.
A história dos judeus da França e do Languedoc terminou em 1394 com a sua expulsom definitiva, acompanhada do epílogo habitual: o confisco de todos os seus bens.
Estes processos nom se limitam à França. Em 1379, os príncipes austríacos prendem todos os judeus que se acham sob a sua dependência para os libertar após o pagamento de grandes somas. Os mesmos príncipes tiraram proveito de uma revolta anti-judaica camponesa em 1387, fazendo pagar 16.000 marcos aos judeus.
A atitude dos reis e dos príncipes em relaçom aos judeus parece um pouco contraditória. Mas é o desenvolvimento económico que a determina em última instância. Onde os judeus têm um papel indispensável na vida económica, onde a economia cambista apenas se desenvolve ligeiramente, o interesse estatal obriga os reis a proteger os judeus, para os defender contra todos os seus inimigos. Na Polónia a monarquia aparece sempre como o seu protetor mais forte.
Nos países mais desenvolvidos, onde a usura é um anacronismo, os reis têm menos escrúpulos para roubar os judeus. Logo a única força financeira significativa será a da burguesia, com base no desenvolvimento da economia e os judeus vão perder o interesse nos olhos dos reis. Que som os "banqueiros judeus" financistas face financeiros como os Fugger ou os Médici? Eis o que diz Schipper a respeito da importància desses “banqueiros judeus"
"Quanto à importância do capital dos banqueiros judeus na Itália, apenas encontramos entre os capitalistas judeus duas duas famílias realmente ricas. Mas que representavam perante magnatas como os Médici que, por volta de 1440, tinham meio milhom de florins, ou Agostino Chigi, quem deixou em 1.520. 800.000 ducados!" (35)
Os banqueiros judeus apenas dispunham alguns milhares de florins.
Escusado será dizer que, nestas circunstâncias, os judeus eram irrelevantes para os reis. A era dos grandes magnatas judeus que apoiavam a monarquia contra os seus inimigos internos e externos foi definitivamente encerrada.
"O crescente custo da guerra, mais cara conforme mercenários e frota irá desempenhar um papel maior nela, impõe ao Estado e aos príncipes umas necessidades que os forçam a alimentar o seu tesouro com uma nova fonte. Portanto, há uma coisa a fazer: recorrer ao Terceiro Estado, ou seja, às cidades e pedir-lhes que abram a bolsa. " (36)
O declínio da situaçom económica dos judeus produto da "capitalizaçom" da economia resultou na perda da proteçom que tinham dado reis e príncipes. Os reis estão ativamente envolvidos na perseguiçom e pilhagem dos judeus.
B) A nobreza e os judeus
Na alta Idade Média os judeus erão indispensáveis para os nobres como os principais fornecedores de produtos orientais. Mais tarde, o nobre esbanjador, de vida, sem mesura, necessitava os judeus como reserva de dinheiro sempre pronta para satisfazer os seus caprichos. Para muitos senhores poderosos o judeu era, como para os reis, uma fonte de rendas significativas. Numa altura em que a autoridade real ainda nom se impuxera incontestavemlente à nobreza, surgem conflitos entre príncipes, senhores e reis pola posse de judeus. (37)
No século XII, fala-se muito do processo entre a Condessa Branca e rei Pilipe Augusto sobre o judeu Kresslin que fugira do território da Condessa a refugiar-se nas terras do rei.
Seguindo o exemplo dos reis, os barões apropriaram-se dos judeus. Quando listava os seus rendimentos, um barom disse "os meus judeus ", como ele disse: "as minhas terras". Este propriedade era, de fato, um bom negócio.
Thibaut, conde da Champagne, também estava convencido ao igual que o rei Filipe, da posse dos judeus que viviam nas suas propriedades. Eles concluem em 1198 um acordo polo qual prometeram um ao outro nom apossar-se dos judeus do outro. (38)
A prática das convenções sobre os judeus espalha-se rapidamente no século XIII. Em vez de recorrer a longos processos, os reis e príncipes engajam-se a devolver reciprocamente os outros judeus que se refugiaram nos seus territórios. Um acordo semelhante assinado em 1250 disse que tanto o rei e os príncipes conservam os seus direitos sobre os judeus "que som como escravos". (Judeu tamquarn proprius servus. ")
"Mais tarde, vemos os judeus de alguma forma colocados em leilom. Pilipe II comprou ao Conde de Valois, o seu irmão, todos os judeus do seu condado após ter um processo com ele cerca de 43 judeus cuja propriedade reclamava. Aliás, ele também compra um judeu de Rouen que trouxeram 300 libras por trimestre".(39)
"Dado que os príncipes eleitores têm o direito de explorar nos seus domínios todas as minas de ouro, prata, estanho e ferro assim como das minas de sal, também será permitida a posse de judeus".
Isso expressa uma "bula de ouro " do Imperador germánico no ano de 1356.
Logo as cidades alemãs, cada vez mais prósperas, disputam aos reis e príncipes o direito de possuir os judeus. Do mesmo jeito que entre a realeza e os príncipes, um acordo com as cidades permite que estas ganhem uma parte significativa dos lucros que trouxe a exploraçom dos judeus.
Escusado será dizer que todos aqueles que tiravam proveito da usura judaica eram contrários à conversom dos judeus ao cristianismo. É tão verdade que a religiom é um reflexo de uma funçom económica, que a passagem dos judeus ao cristianismo levou automaticamente ao abandono da sua profissom polos convertidos.
"As conferências provocadas polos novos convertidos trouxe se nom sempre a conviçom dos rabinos que apoiavam a discussom, polo menos a conversom violenta de um número de judeus. Tanto foi assim que os senhores e os próprios bispos, que polas conversrões perderam os seus judeus, viram-se privados dos ingressos polo qual várias vezes dirigirom as suas queixas ao rei. O bispo Palencia, na sequência de uma conferência causada por um judeu convertido, Jehuda Nosce -conferência que levara à conversom de muitos judeus- pediu ao rei para vir no seu auxílio dado que os seus recursos seriam consideravelmente reduzidos. "(40)
O rei Inglês Guilherme II, que mesmo concedeu aos judeus as rendas das sés episcopais vagas, obrigou aos judeus conversos a regressar ao judaísmo para nom perder os benefícios que tiravam deles.
Para evitar a conversom dos judeus outro rei inglês, Henrique II, decretou que os bens dos judeus que abraçassem o cristianismo seriam atribuídos à Coroa, para compensar a perda de lucros que os judeus causariam ao rei se nom se tivessem convertido.(41)
Isso mostra a ingenuidade dos nossos historiadores idealistas que pensavam que todos os esforços do cristianismo tendiam à conversom dos judeus e que acreditam que todos os sofrimentos dos judeus devem ser explicados pola resistência que opôs a estes esforços. Enquanto a funçom económica representada polo judaísmo foi necessária, houve oposiçom à sua assimilaçom religiosa. Somente quando o judaísmo se tornou economicamente supérfluo que teve de se assimilar ou desaparecer.
Naturalmente, apenas uma pequena parte da nobreza tirava proveito da usura judaica. Para a maioria dos senhores feudais, o judeu era uma causa direta da sua ruína. Para que o rei ou príncipe pudessem desapossar os judeus, era preciso que houvesse uma maioria de nobres endividados.
Forçados a entregar aos judeus uma mínima parte da mais-valia que extorquíam dos camponeses, era evidente que os nobres feudais tentassem recuperá-la na primeira oportunidade. O endividamento dos nobres com os usurários judeus foi a semente de conflitos sangrentos.
Em 1189, houve excessos anti-judaicos numa série de cidades inglesas: Londres, Lincoln, etc.
Um ano depois eclodiu a tragédia em York. Os cavaleiros devedores dos judeus dessa cidade, comandados por um certo Mallebidde, atacaram os judeus e o scaccarium judaeorum. As contas encontradas no scaccarium foram solenemente queimadas e os judeus refugiados no castelo forom submetidos a um cerco. O caso terminou com um um suicídio em massa dos judeus sitiados. O habitual epílogo nom falha: o rei passa na sua posse as dívidas dos suicidados porque os judeus eram escravos da sua fazenda. Os massacres anti-judaicos em Londres, que em 1264 vitimou 550 pessoas, também foram organizados por latifundiários envididados com os judeus. Aconteceu o mesmo em relaçom aos distúrbios anti-judaicos noutras cidades. Assim, em Cantuária, começou por atacar o scaccarium judaeorum
Em toda a Europa as assembleias da nobreza nom deixaram de protestar contra a usura judaica. As suas diversas reivindicações caracterizam melhor a posiçom dos feudais a face os judeus.
Na segunda metade do século XIII, as Cortes de Castela apresentam três pedidos para o rei
1. A regulamentaçom das operações de crédito judaicas e a limitaçom das taxas de juros exigidas polos usurários;
2. A proibiçom do direito hereditário de posse da terra para os judeus;
3. A reforma da administraçom financeira e a eliminaçom dos funcionários e ecónomos judeus.
Estas serão as reivindicações tradicionais da nobreza em todos os países europeus. O objetivo é limitar a quota da mais-valia que a nobreza estava forçada a entregar aos judeus, impedir que se tornassem proprietários de terras e que se apossassem do do aparelho do Estado.
Só no século XIV, a nobreza espanhola alcançou os primeiros resultados nesta área. Em 1328, o rei Afonso IX reduziu a taxa de juro para 25% e anula um quarto de todos os créditos dos judeus. Em 1371 houve uma nova amputaçom desses créditos. Repetidamente as Cortes de Aragom levantaram protestos sobre a alta taxa de juros pagas aos judeus, especialmente em 1235, 1241, 1283, 1292 e 1300.
As Cortes de Portugal em 1361 queixam-se que a usura judaica tornou-se um jugo cada vez mais difícil de suportar polo povo.
"Nos círculos da nobreza e dos ricos patrícios espanhóis, odiava-seos judeus por causa das suas funções estatais onde eles mostraram um instrumento servil da realeza e por causa das grandes rendas provenientes de impostos e taxas, através das quais magnatas judeus aumentavam sem cessar a sua fortuna ".(42)
Na Polónia, as pretensões da nobreza e do clero contra a usura judaica tornam-se cada vez mais prementes. Um congresso eclesiástico realizado em 1420 pediu ao rei medidas contra a "grande usura judaica”. Em 1423, Ladislau Jagellon aprova o "Estatuto da Warta" que proíbe os judeus os empréstimos hipotecários. Em 1454, o "Estatuto de Nieszawa" limita a validade dos créditos judaicos por três anos. O Sejm (dieta) da nobreza também consegue o acesso dos judeus aos empregos do Estado.
A nobreza polaca persegue os mesmos objetivos que a nobreza espanhola: limitaçom da taxa de juros, proteger as suas propriedades e a eliminaçom dos judeus dos empregos do Estado.
As razões políticas juntam-se às causas económicas da hostilidade sentida pola nobreza em relaçom aos judeus.
.
"Em 1469 as Cortes protestaram contra a admissom de judeus nos foros e na proteçom em torno dos reis. Os processos rituais e os massacres vêm apoiar a pressom exercida pola nobreza sobre a realeza. " (43)
Os judeus eram de fato fortes apoiantes do absolutismo real dirigido principalmente contra a nobreza. A mais-valia entregada polos nobres aos judeus ajudava a forjar as suas cadeias.
Os pequenos barões odiavam os judeus como credores, os grandes viam neles uma das grandes fontes financeiras nas quais apoiar a sa independência a respeito dos reis.
O apoio financeiro concedido polos judeus aos reis era indispensável na sua luta contra a nobreza e para se opor à crescente demanda das cidades. São eles principalmente os que permitiram que os reis tivessem caros exércitos de mercenários e que começam a substituir as hordas indisciplinadas de nobreza. Estes exércitos servem ao princípio à política exterior. Em Espanha, som em grande parte as finanças judaicas as que permitem a derrota dos árabes.
"Em 1233 o banqueiro judeu Jehouda Cavallera empresta ao rei aragonês uma grande soma que lhe permite equipar uma frota contra os árabes. Em 1276, Cavallerai recolhe fundos para um exército que lutou contra os árabes em Valência. (44)
.
Mas o que é mais grave aos olhos da nobreza e aumenta a lista de queixas é o apoio prestado polos judeus à realeza na sua luta contra o feudalismo.
Nós falamos dos irmãos Ravia que forneciam o exército real em dinheiro e as armas durante as guerras internas que o rei dirigiu contra os nobres revoltados na Catalunha. A nobreza nom poderia perdar isto aos judeus. Os irmãos Ravia caíram vítimas de assassinos e muitos dos seus sucessores.
Em termos gerais, a nobre luta da nobreza contra os judeus é muito menos radical do que a da burguesia. O conteúdo social diferente influi na intensidade e as formas de luta em cada classe. Enquanto o proprietário ainda precisa o usurário e apenas visa a limitar o âmbito das suas empresas, o burguês e mesmo o nobre aburguesado sentiu-no como uma barreira insuportável.
C) A burguesia e os judeus
O monopólio comercial dos judeus foi um dos maiores obstáculos que teve para superar a burguesia nascente. A destruiçom do domínio comercial dos judeus era um pré-requisito para o seu desenvolvimento.
Nom era uma luta entre dois grupos nacionais ou religiosos para a dominaçom do comércio, mas um choque de duas classes cada uma representando um sistema económico diferente. Neste caso a chamada concorrência chamada nacional reflete a transiçom da economia feudal para a economia cambiária. Os judeus dominavam o comércio na época em que
"os grandes proprietários compravam obras refinadas e objetos de luxo de grande preço contra as grandes quantidades de produtos brutos das suas terras”.(45)
O desenvolvimento industrial da Europa Ocidental terminaram com o seu monopólio. (46)
Na luta contra os judeus os comerciantes indígenas ergueram-se contra uma funçom económica ultrapassada que aparece cada vez mais como uma exploraçom insustentável do país polos estrangeiros.
As relações da classe dos comerciantes com os judeus, após a sua remoçom do comércio, passou por uma profunda mudança. O crédito judaico era essencialmente um crédito ao consumo. Os comerciantes nom recorrem aos banqueiros judeus para seus negócios. Grandes casas bancárias como os Medici, os Chigi, os Fugger crescem nas grandes cidades. Mais tarde, quando a economia cambista penetrou nas zonas rurais, os usurários judeus som repelidos pola ampla influência destes grandes bancos cristãos. Tal como o comércio pré-capitalista que economia cambista expulsa das cidades, o usurário é desalojado pola penetraçom do capitalista no domínio feudal.
Outra posiçom será a dos grandes comerciantes a respeito dos judeus quando estes, no declínio do seu papel económico, nom serão mais do que pequenos usurários que emprestam a pequenos artesãos e pequenos comerciantes.
O judeu já nom é neste momento um concorrente do rico comerciante ou banqueiro, interessa-lhe como uma lucrativa fonte de lucro e como um meio de enfraquecimento da classe trabalhadora com as que estava em combate permanente. Os grandes comerciantess competem agora polos judeus com os reis e nobres. Na Alemanha as cidades passam a uma ofensiva geral para se apossar dos lucros que procuravam os príncipes do "regalo” judeu.
O “regalo judaico” espalha-se cada vez mais a partir da segunda metade do século XIII. As cidades alemãs, já florescente nessa altura, também começam a reclamar uma parte. A sua obstinada luta contra os senhores feudais permitiu-lhes conquistar uma série de liberdades, como a independência dos tribunais ou o direito de administraçom. Agora, eles voltam a sua atençom para o "regalo" judaico tentando tirá-lo das mãos dos senhores e do imperador.
A cidade de Colónia em 1252 obteve do seu arcebispo o direito sobre um terço dos impostos cobrados aos judeus da cidade. O Bispo de Worms em 1293 permite que o conselho da cidade possa fazer tributar os judeus. (47)
O “regalo” judaico é conquistado por Mainz em 1259; por Ratisbona no final do século XIII, por Nuremberga em 1315, por Speyer em 1315, por Zurique em 1335, por Frankfurt em 1337; por Estrasburgo em 1338, etc.
A luta entre essas três forças: nobreza, imperador e cidades acabou em um compromisso no que os judeus devem suportar as despesas.
Eles vão pagar:
a) Ao Imperador:
- O imposto normal (em 1240 os judeus estavam a pagar um quinto).
- Uma moeda (pfenning) de ouro tinha que ser paga por todo judeu ou judia com mais de 20 florins.
b) À nobreza:
- O imposto anual.
- O imposto especial.
c) Às cidades:
- O imposto especial cujo montante é fixado para cada judeu no momento de receber a "carta de cidadania” (Burgerbrief).
Para além dos já mencionados, muitos impostos e encargos extraordinários vieram-se a acrescentar. Medidas semelhantes às que encontramos noutros países europeus foram utilizadas para extorquir os judeus tanto dinheiro quanto possível. As revoltas popularse e camponesas foram também uma oportunidade para fazer pagar aos judeus generosamente a sua proteçom.
O crescimento do poder das cidades aumentou o seu poder sobre os judeus.
"Em 1352, após autorizaçom do imperador à cidade de Speyer, os judeus que viviam entre nós, pertenciam-nos exclusivamente, serão a nossa propriedade em corpo e bens. "
Um acordo de 1352 previa que a cidade de Frankfurt devia pagar ao imperador a metade dos lucros que ela recebia de judeus. Em Nuremberga, a participaçom do imperador era de dois terços.
A luta de classes, cuja finalidade era a partilha dos lucros que trouxe a exploraçom dos judeus, muitas vezes voltou-se contra estes. “O bispo de Colónia, disse uma crónica desta cidade, sempre quis monopolizar os lucros do “regalo” judaico”. É por isso que os judeus foram expulsos desta cidade para sempre. Os judeus "dos imperadores" foram maltratados polos príncipes e os dos príncipes polos burgueses.
D) Relações dos judeus com os artesãos e camponeses
Conforme a usua se tornou a principal ocupaçom dos judeus, estes entrarom cada vez mais em contato com as massas popularese e essas relações pioraram de forma constante (48). Nom eram as necessidades de luxo levaram o camponês ou o artesão a pedir emprestado ao usurário judeu, mas a mais escuro angústia. Eles penhoraram os instrumentos de trabalho que lhe eram muitas vezes indispensável para a sua subsistência. Pode-se entender o ódio que devia experimentar o homem comum para o judeu em quem via a causa direta da sua ruína, sem reparar no imperador, no príncipe ou no rico burguês que enriqueceu graças à usura judaica. É na Alemanha, especialmente, onde a usura judaica teve a sua forma mais "popular", principalmente nos séculos XIV e XV, em que mais se tem manifestado o ódio contra os judeus, o ódio que leva aos massacres anti-judaicos e aos “incêndios dos judeus” (Judenbrand).
"Muitas perseguições antijudaicas durante a Idade Média e nas que se tratava em primeiro lugar aniquilar os traidores devem ser consideradas como formas medievais do que hoje chamamos de uma revoluçom social”.(49)
Os primeiros grandes motins contra os judeus tiveram lugar entre 1336 e 1338. Eles eram liderados polo estalajadeiro Cimberlin, o "rei dos pobres" e, da Alsácia, espalharam-se na Bavária, Áustria e Boêmia. Mas é durante os anos da "peste negra" entre 1348 e 1350 em que o fanatismo, juntado com o ódio, fez estragos terríveis.
"Em Estrasburgo são as corporações que pregam o extermínio dos judeus. Mas o conselho da cidade, na qual uma maioria patrícia que tira grandes lucros da usura, se recusa a aprovar. Burgueses como Conrad von Winterbourg, o rico Sturin e o rico artesão Schwarb, falam em favor dos judeus. As corporações nom abandonam por isto as suas reivindicações anti-judaicas. Finalmente, remete-se o assunto para uma conferência a ser realizada em 1343 e na que farão parte representantes da Igreja, da nobreza e das cidades. As reivindicações das corporações som apoiadas pola Igreja e os Cavaleiros, que querem se livrar das suas dívidas".(50)
Depois disso, os judeus som proibidos "e os incêndios de judeus espalham-se por toda a Alsácia”.
Em Mainz e Colónia, os patrícios tentaram proteger os judeus, mas foi dominado pola vaga popular. Uma crónica urbana de Augsburg narra o seguinte:
"Em 1384, os burgueses de Nedlingen, uma vez massacrados todos os judeus de Nedlingen, apossaram-se dos seus bens. Os devedores dos judeus, entre os quais o conde Etingen, foram liberados das suas dívidas. Forom devoltos ao conde os seus penhores e contas. Tudo isso foi feito pola malta contra a vontade do Conselho Urbano. "
As revoltas camponesas foram acompanhadas por massacres de judeus.
"Em 1431, os agricultores do Palatinado em armas marcharom contra Worms e exigiram ao consleho urbano que lhe entregasse os judeus, ja que eles arruinaram-nos e despojaram da sua última camisa. O conselho opusera-se a esses pedidos, já que foi ele quem mais beneficiou da usura judaica. Os senhores entraram em negociações com ele para obter a supressom dos juros acumulados sobre a pobreza dos camponeses. "
Os motins anti-judaicos na Catalunha e nas Baleares têm o mesmo carácter. Os camponeses que vivem na pobreza abjeta e altamente endividados aos judeus por causa do peso dos impostos, revoltam-se para se libertar das suas dívidas. Eles queimam os registos judiciários.
NOTAS
(1) « O domínio debe ter em si todo o que é preciso à vida. Debe, tanto como possível, nom comprar nada fora e nom realizar trocas. Ele é para si próprio apenas um pequeño mundo e debe bastar-se a si próprio » Fustel de Coulanges, Histoire des Institutions politiques de l'ancienne France, Paris, 1888-1892, tomo IV, p. 45.
(2) Henri Pirenne, Anciennes Démocraties des Pays-Bas, p. 114.
« Os couros ou os lençois flamengos parecem ter tido umha reputaçom merecida, de ter suparado a estreita muralla do mercado urbano. » M. Ansiaux, Traité d'Economie politique, p. 276.
(3) G. B. Depping, Histoire du commerce entre l'Europe et le Levant, p. 182.
(4) Nos tecedores de leçois, que travalham às vezes para mercados longíquos, os mercadores diferenciam-se da massa dos artesãos: os mercadores de lençois. H. Sée Esquisse d'une histoire économique et sociale de la France, p. 102.
(5) G. B. Depping, op. cit., p. 184.
(6) Henri Pirenne, Histoire de l'Europe, p.166.
(7) M. Weber, Wirtschaftsgeschichte, Munique e Lipzígia, 1923, p. 142.
(8) W. Roscher dit: « Quanto mais se eleva a cultura económica geral, mais piora a situaçom dos judeus.»
(9) W. Roscher, op. cit., p. 129.
« A lei segundo a qual o desenvolvimento autónomo do capital comercial é em razom inversa do desenvolvimento da produçom capitalista verifica-se mais claramente nos povos cujo comercio era um comércio de intermediários. » Karl Marx, Le Capital, livro III, p. 360 (ed. allemã, Berlim, 1953); t. 1, p. 337 (trad. fr., Paris, 1957).
(10) A. Schulte, na sua Geschichte des mittelalterlichen Handels und Verkehrs zwischen Westdeutschland und Italien, Lipzígia 1900, defende que os judeus nunca tentaram ligar-se com os artezazo como faziam os empreiteiros cristãos e, ao perder a sua posiçom comercial, tiverom que dedicr-se ao crédito. Este comentário é muito importante. Mostra o cerne do problema: a ligaçom do comércio cristão com a indústria e a falta desta ligaçom por parte do comércio judaico.
(11) Num estudo consagrado aos judeus dumha cidade alemã, Halberstadt, Max Köhler diz que « a partir do s. XIII, a profissom mais importante dos judeus de Halberstadt parece ser a usura.» Max Köhler, Beiträge zur neueren jüdischen Wirtschaftsgeschichte Die Juden in Halberstadt und Umgebung bis zur Emanzipation, Berlim, 1927.
M. Cunow diz no seu Allgemeine Wirtschaftsgeschichte (tomo III, p. 45). « A pesar do facto das condições económicas da nobreza se agravarem, os seus jogos militares, as suar orgias, as suas festas, os seus magníficos torneios, nom paravam de crescer no século XIV. Os cavaleiros pobres consideravam que era o seu dever participar nelas. Como careciam dos meios pecuniários para isto, endividaram-se nos judeus cuja principal ocupaçom era o empréstimo a juro... ».
(12) O exemplo da Polónia prova a puerilidade do esquema habitual dos historiadores judaicos que pretendem explicar a funçom comercial ou usurária dos judeus nas perseguições. Quem proibira aos judeus da Polónia tornar-se agricultores ou artesãos ? Muito antes das primeiras tentativas das cidades polacas de lutar contra os judeus, todo o comércio e toda a banca deste país achva-se já nas suas mãos.
(13) Esta conceiçom falsa dos historiadores judaicos acha som na afirmaçom segundo a qual os judeus deverom abandonar a sua « profissom agrícola » na sequência de interdições legais. « É falso pensar que estava proibido aos judeus possuir terras. Seja onde for, nas cidades medievais, os judeus faziam os seus negócios e estám em posse das suas próprias casas. Eles possuem igualmente terrenos no território da cidade. A dizer verdade, nom parece que eles tenham cultivado estes terrenos. Quando umha terra passava às suas mãos como penhor, esforçavam-se por vendê-la. Nom é porque lhes estava proibido de as possuir, mas simplesmente porque eles nom o desejavam. Achamos amiudamente nos registos, vinhas e pomares pertencentes a judeus. Os produtos destas terras podiam ser facilmente vendidos. » H. Cunow, Allgemeine Wirtschaftsgeschichte, tomo III, p. 110.
(14) I. Schipper, Yidishe Geschikhte (Wirtschaftsgeschikhte). « Os judeus formavam umha classe social muito poderoso polas riquezas conseguidas na indústria, o comércio e especialmente nas operações bancárias. » R. Ballester, Histoire d'Espagne, trad. fr., Paris, 1938, p. 154.
(15) « Vemos, nas cartas de Cicerom, que o virtuoso Brutus prestava o seu dinheiro em Chipre a 48 por cento. » A. Smith, The Wealth ot Nations, t. I, p. 84 (ed. Everyman's Library).
(16) L. Brentano, Eine Geschichte der wirtschaftlichen Entwicklung Englands.
(17) H. Cunow, Allgemeine Wirschaftsgeschichte, tomo III, p. 74.
(18) Se é pueril crer que a sociedade feudal, cujo princípio era que « cada quem fica no seu lugar », tivesse transformado os « agriculttores judeus » em comerciantes, é evidente, de resto, que as interdições legais, fruto das condições económicas, desempenharam um certo papel no confinamento dos judeus no tráfico, sobretodo nos períodos em que, na sequência das mudanças económicas, a situaçom tradicional dos judeus estava comprometida. Assim, por exemplo, Federico o Grande nom era favorável a que os judeus exercessem profissões manuais. Ele queria « que cada qual ficasse na sua profissom, o que ajudou os judeus para o exercício do comércio e que deixou as outras profissões aos cristãos ».
(19) Karl Marx, Le Capital, livro III, p. 642 (ed. allemã, Berlim, 1953); t. 2, p. 254 (trad. francesa, Paris, Ed. sociais, 1959).
(20) Karl Marx, Le Capital, livro III, p. 642 (ed. al., Berlim, 1953), t. 2, p. 254 (trad. fr., Paris, 1959).
(21) Karl Marx, Le Capital, livro III, p. 641 (ed. al., Berlim, 1953); t. 2, p. 253 (trad. fr., Paris, 1959).
« A la même époque, le fameux théologien Medina, développant une donnée qui est d'ailleurs dans saint Thomas, reconnaît le jeu de l'offre et de la demande comme un mode naturel de détermination du juste prix. Le « Trinus Contractus », cette merveille d'analyse juridique qui justifie la perception d'un intérêt dans les prêts d'affaires où l'argent est réellement employé comme capital, est admis alors par les canonistes, italiens et espagnols, plus éclairés que ceux de France, ou plutôt placés dans un milieu social plus avancé. » Claudio Jannet, Les grandes époques de l'histoire économique jusqu'à la fin du XVI° siècle, p. 284.
(22) Henri Pirenne, Histoire de Belgique, Bruxelas, 1900-1932.
(23) G. B. Depping, op. cit., pp. 13.
(24) Henri Pirenne, Les villes du Moyen Age.
(25) G. B. Depping, op. cit.,p. 233.
(26) Bücher diz o que segue no seu livro Die Bevölkerung von Frankfurt im 14. und 15. Jahrhundert, Tübingen, 1886 (citado por H. Cunow, op. cit., III, p. 46) : « Entre os devedores dos judeus de Francoforte, acha-se representada a maior parte da nobreza de Wettereau, du Pfalz, de Odenwald, etc. O arcebispado de Mayence devia assim dinheiro aos judeus. É sobretodo a nobreza a que estava endividada. Havia poucos cavaleiros nas redondezas de Francoforte cujos papeis de crédito e penhores nom se achassem no bairro judaico. Alguns burgueses de Francoforte e das cidades vizinhas contrairam também « dívidas judaicas », (como se exprime a este repeito o relatório do conselho urbano), mas a grande parte dos 279 papeis de crédito das que se ocupara o conselho urbano atingiam os nobres.»
(27) Karl Marx, Le Capital, livro III, p. 658, 644, ed. al., Berlim, 1953); t. 2, pp. 269, 256 (trad. fr., Paris, 1959).
(28) Henri Pirenne, Histoire de l'Europe, p. 171.
(29) Henri Pirenne, Histoire de l'Europe, p. 384.
(30) Karl Marx, Le Capital, livro III, p. 848 (ed. al., Berlim, 1953); t. 3, p. 177 (trad. fr., Paris, 1960).
« Esta mudança de costumes em taxas pecuniárias corresponde ao crsciento da riqueza mobiliária; o dinheiro torna-se no signo mais cómodo da riqueza e para avaliar as rendas das propriedade da terra, começa-se a preferi-la aos produtos naturais. Produziu-se umha evoluçom semelhante noutros pa´sies, notamente na Inglaterra, onde é ainda mais forte. » Henri Sée, Esquisse d'une histoire économique et sociale de la France.
(31) Contrariamente a umha conceiçom muito espalhada, o gueto é umha instituiçom muito recente. É apenas em 1462 que os judeus de Francoforte som encerrados num gueto. « Nom era umha questom da Idade Média. Ao contrário, os judeus podiam escolher a sua morada segundo os seus desejos e podiam achar-se em toda a cidade. » Kriegk, Geschichte und Lage der Frankfurter Juden, cité par H. Cunow, op. cit.
É preciso nom confundir os bairros judeus e guetos. Se os primeiros som conhecidos em diversas épocas da história judaica, os últimos constituem umha instituiçom nascida do período em que o judeu se tornou um « pequeno usurário ». Assim, na Polónia, o gueto constitui umha exceçom e nom umha regra. O que nom impediu a barbárie hitleriana de « reencaminnhar » os judeus polacos nos guetos.
(32) O princípio de tolerância religiosa defende, no final da Idade Média, mas um dos países mais atrasados da Europa ! Nom é vergonhento para os historiadores idealistas que vem todo o problema judaico através do prisma das perseguições religiosas ?
(33) « Nos povos que têm pouco comércio e manufaturas, o soberano nom pode, nos casos extraordinários, tirar destes sujeitos qualquer ajuda considerável... Tanto neste país como em geral, tenta amassar um tesouro como a única fonte que haja para circunstâncias semelhantes. » Adam Smith, Wealth of Nations, cf. t. II, pp. 390, 393 (Everyman's Library).
É aos judeus « servi camerae » que incumbe a funçom de encher este tesouro.
(34) Umha interpretaçom alemã desta situaçom nom falta algum sabor: « Por gratitude para Flavio Josefo que curara o seu filho, o imperador Vespasiano decidiu proteger os judeus e Tito acolheu após a queda do segundo templo muitos judeus que escravizou. Desde este tempo, os judeus som escravos do Estado e é como tais que sevem ser considerados no Estado alemão porque os reis germânicos som os sucessores dos poderosos imperadores da Roma antiga.»
(35) Schipper, op. cit..
(36) Henri Pirenne, op. cit..
(37) « Era algo tam frutuoso e bom a explorar o judeu, que cada príncipe procurava a ter os mais possíveis. Havia judeus do rei e dos senhores.. Philippe le Bel, em 1299, comprou ao seu irmao, por 20.000 livras, todos os judeus do condado de Valois. » G. d'Avenel, Histoire économique de la propriété, tome I, p. 111.
(38) G. B. Depping, op. cit.
(39) Bédarride, op. cit..
(40) Bédarride, Les Juifs en France, en Italie et en Espagne, p. 207.
(41) L. Brentano, Eine Geschichte der wirtschaftlichen Entwicklung Englands: « Introduziu-se o costume de confiscar os bens dos judeus que abraçavam o cristianismo. Esta confsicaçom era umha espécie de direito de amortizar para o príncipe ou para os senhores as taxas que eles cobravam dos judeus e que perdiam quando estes abraçavam o cristianismo. »
Cf. igualmente Montesquieu, L'esprit des Lois, livro XXI, chap. 20.
(42) Schipper, op. cit..
(43) Por vezes os judeus passavam também à ofensiva. Em 1376, o banqueiro Jekl emprega bandas de mercenários contra os devedores nobres que recusaram o pagamento das suas dívidas. O seu filho engaja mercenários para lançar um ataque contra Nuremberg umha vez que o Conselho desta cidade lhe consfiscara as suas casas.
(44) Schipper, op. cit..
(45) « Os habitantes das cidades comerciantes, ao importar dos países mais ricos obras refinadas e objetos de luxo de grande preço, ofereceram um alimento à vaidade dos grandes proprietários que as compraram com diligência, através de grandes quantidades de produto bruto das suas terras. O comércio dumha grande parte da Europa neta época trocava o produto bruto do país em troca o produto manufaturados doutro país industrialmente mais avançado. » Adam Smith, Wealth of Nations, livro III, capítulo III (t. I, pp. 358 s., éd. Everyman's Library).
(46) « Enquanto as matérias primas foram o principal produto de exportaçom da Inglaterra, o comércio exterior acha-se nas mãos dos comerciantes estrangeiros e dos mercadores da época... Isto mudou conforme os inglesese puseram a transportar por si próprios as suas matérias primas, notamente a lã. Logo a seguir os comerciantes ingleses começaram a procurar mercados para dar saída às suas manufaturas » (os mercadores empreiteiros). L. Brentano, Eine Geschichte der Wirtschaftlichen Entwicklung Englands, II, p. 139.
(47) Schipper, op. cit.). A 7 março de 1456, o bispo Burckard penhora os judeus de Halberstadt por três anos ao conselho desta cidade (Dr. Max Köhler, Die Juden in Halberstadt und Umgebung bis zur Emanzipation, p. 3.
(48) « A usura aglutina o dinheiro onde os meios de produçom se esbanjam. Ela nom muda o modo de produçom, mas liga-se a ela parasitariamente; ela esgota-a e enerva-a, e torna a cada vez mais miseráveis as condições da produçom. Daí o ódio do povo pola usura. » Karl Marx, Le Capital, livro III, p. 644 (ed. al., Berlim, 1953); t. 2, p. 256 (trad. fr., Paris, 1959).
(49) W. Roscher, Die Juden im Mittelalter..
(50) A atitude da nobreza explica-se provavelmente polo facto de a rica burguesia ter-se apossado da « regalia » judaica e que, por consequente, os interesses dos cavaleiros concordavam com os das massas populares das cidades contra o patriciado.
Sem comentários:
Enviar um comentário