Por Josep Lluis Carod-Rovira
Partindo da avenida Jafa começa Ben Iehuda, a zona pedonal mais central de Jerusalém. Recebe o nome de Eliezer Itzak Perelman, en hebraico Ben Iehuda, nascido em janeiro de 1858 na povoaçom lituana de Luzhki. Pergunto-me se toda esta gente que agora se move atarefada, entrando e saindo das inúmeras lojas do local, a maioria turistas, sabem que Ben Iehuda é o protagonista dum milagre. Nom se me acorre umha palavra melhor para explicar o que o seu teimudo patriotismo conseguiu, remando contra o vento do derrotismo pesimista que o rodeava: tornar o hebraico de língua morta quotidiana no idioma nacional dum povo.
A partir dos três anos começou a estudar hebraico como medida indispensável para a sua formaçom religiosa, já que este idioma sobrevivera reduzido apenas ao uso litúrgico, como língua escrita, de interesse para os eruditos e os cabalistas. Com umha saúde sempre fraca, o pai do hebraico moderno foi estudar medicina em Paris e na França, aos 21 anos, num café do bulevar Montmartre, protagonizou a primeira conversaçom íntegra nesta língua, sobre temas contemporâneos, com um amigo também judeu.
Embarcouse, entom, nunha ofensiva pessoal para a resurreiçom da língua, às vezes com medidas drásticas que geravam incomodidade, mal-estar e, sobretodo, incompreensom, no seu ambiente. Persuadido de que os judeus nom seriam nunca um povo vivo se nom falavam hebraico no seu própio país, em 1881 voltou à terra dos seus antepassados para fazer realidade o seu sonho. Ao desembarcar no porto de Jafa, dirigiu-se em hebraico ao cambista de dinheiro, ao fundista e a um estivador, constatando todos juntos que a conversaçom si era possível. Desde entom, o seu entusiasmo já nom teve travagem.
Apenas com a base das 7.704 palavras que formam o vocabulário da Bíblia, dedicou-se em corpo e alma a dar vida a umha língua morta e já nunca mais abandonou nem a tarefa nem a esperança. Incorporou neologismos para designar umha realidade que nom tinha cabida no limitado repertório bíblico, a partir da influência de diferentes idiomas. Fundou o Conselho da Língua Hebraica (1890), precursor da Academia de língua Hebraica atual, e deixou um legado impressionante nos dezassete volumes do Dicionário completo do hebraico antigo e moderno. Concebeu todo um sistema de aprendizado e melloria do idioma pensado para as crianças, para os moradores no país e os que acabavam de chegar para fazer do hebraico a língua pública comum de coesom social e identidade civil.
O seu filho, Itamar Ben Avi, nascido em 1882 em Jerusalém, tornou-se na primeira criança de língua materna hebraica da história moderna, depois de quase dous mil anos de diáspora. Ben Iehuda morreu o dezembro de 1922, poucos días depois do reconhecimento, por parte dos britânicos, do hebraico como língua oficial dos judeus na sua terra ancestral.
Hoxe é a lingua pública comum em Israel, idioma oficial do estado, como também o é o árabe, e que acompanham ao inglês nos letreiros oficiais das ruas e locais públicos. Josep Pla resumia a funçom coesionadora do hebraico na frase "O hebraico contra Babel", perante o perigo dumha dispersom linguística capaz de provocar a incompreensom e a ausência dum referente linguístico público, comum, nacional, entre umha cidadania procedente dumha de muitos países de todos os continentes. O russo é hoje a terceira língua mais falada de Israel num caleidoscópio idiomático no que também está o espanhol, o ladino, o polaco, o lituano, o ucraniano, o português e o francês, entre outros, junto ao mítico iídiche.
A diferença da Irlanda, mas como a Albánia, Bulgária e Finlândia, a independência e a criaçom do estado próprio asseguraram a plenitude da sua língua nacional. As ulpanim -escolas de imersom à língua, à cultura e ao país para a populaçom adulta- garantem a continuidade. Penso nisto enquanto cai a tarde na formosa Jerusalém e um grupo de moços, entre os quais dous soldados de uniforme, dançam danças populares no meio de Ben Iehuda. Soa muito bem, a música.
J.L. Carod-Rovira foi presidente de ERC e Vice-presidente do Governo Catalám (2006-10)
Fonte: http://www.ara.cat/ara_premium/debat/Ben-Iehuda_0_415158493.html
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