Eis a história do massacre e perseguições sofridas pola família Zbarsky-Kuper de médicos judeus que viveram na cidade de Ponte Vedra antes do golpe militar de 1936.
Em 1928 Sofia Kuper Hornstein, irmã de Simeón Kuper de Vigo, chega à cidade de Ponte Vedra, onde o seu marido, Abraham Zbarsky Geller (Avrun Klva Elewitch Zbarsky) (Lodz, 1882), gerenciava umha clínica odontológica desde 1925 na Praça da Ferraria (daquela chamada da Constituiçom) com licença do ministério espanhol de Instruçom Pública.
O casal Zbarsky-Kuper tinha dous filhos: Elias (Odessa, 1906) e Jacobo (Lodz, 1914).
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Família Zbarsky-Kuper: 1 Elias - 4 Abraham Zbarsky - 5 Sofia Kuper - 6 Jacobo |
Abraham solicita a cidadania espanhola em 1929, mas, apesar de acompanhar o pedido com recomendações, entre as quais vultos locais da Unión Patriótica (o partido de Miguel Primo de Rivera), nom a consegue.
No exercício livre da profissom Zbarsky deparou-se, como outros médicos judeus na Galiza, com a oposiçom dos odontologistas nativos e das autoridades, contrários a conceder-lhe as habilitações. Assim sendo, em 1931 desata-se umha ofensiva contra ele por parte dos colegiados de Ponte Vedra, comandada por Celso Lópes Branco e Luis Fontaínha. Estes dous dirigentes da ordem de odontologistas solicitam esclarecimentos oficiais sobre a duraçom da licença de Zbarsky, pois nela nom consta validade, a diferença do que acontecia noutros casos semelhantes. Abraham defende-se com umha carta aos colegas com a intençom de que se "repare nos procedimentos que contra mim se abriram por parte dos senhores Fontaínha e Branco. Venho trabalhando profissionalmente nesta capital desde o ano 1925 sem que se tenha produzido contra mim qualquer queixa, e teve sempre cordiais relações com todos os colegas odontologistas, aos que respeito e considero. Deles recebi em todo momento provas de afeto, polo que estou reconhecido".
Na carta lembra que tem licença do governo, concedida a 23 de junho de 1925, prévio inquérito favorável do Conselho de Instruçom Pública, “sem fixaçom nem limite de tempo”. Logo a seguir o Ministério de Instruçom Pública e Belas Artes abre um expediente informativo, resolvendo a 4/8/1931 que a licença dele seria temporária. No entanto, considerando todo um complexo de circunstâncias, e para nom causar danos irreparáveis ao senhor Zbarsky, com base em razões de "equidade e humanos princípios de hospitalidade", já que nom está em condições de regressar à sua pátria nem de se retirar, fixa um novo prazo de validade de cinco anos a partir da data da resoluçom.
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Abaham Zbarsky |
Em 12 de julho de 1931, Abraham Zbarsky, filiado à Agrupaçom Socialista de Ponte Vedra, assiste como delegado ao Congresso Extraordinário do PSOE. Aliás, engajado socialmente, também participou em várias iniciativas culturais, sendo diretivo da Sociedade Filarmónica de Ponte Vedra.
Em 1933 a clínica odontológica de A. Zbarsky desloca-se para o número 1 da Pr. Curros Henriques no prédio conhecido como de Armazéns Olmedo.
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Prédio dos Armazéns Olmedo na Pr. Curros Enríquez de Ponte Vendrá onde A. Zbarsky tinha a sua clínica em 1933 |
Em 1931 os irmãos Elias e Jacobo conseguem a cidadania espanhola. Odontologistas ambos, enquanto Elias, graduado na Universidade Central de Madrid, se estabelece em Ferrol; Jacobo, graduado na Universidade de Santiago de Compostela, trabalha em Vigo no gabinete do seu tio Simeón Kuper.
Elias Zbarsky trabalha como odontologista na cidade de Ferrol e contava entre os seus pacientes Pilar Bahamonde y Pardo de Andrade, mãe do general Francisco Franco Bahamonde. Em 1933 o Colégio de Odontologistas local pede que seja sancionado por quebrar o acordo de nom trabalhar para o exército.
Elías era um tipo culto, extrovertido e de talante liberal e relacionava-se com a alta sociedade galega. Em 10/9/1931, fruto do seu relacionamento com Dª (María) Emma Padín y Muñoz de la Espada (Redondela, 1906) nasce o seu filho Alejandro Zbarsky Padin.
A sua mulher era filha de Ernesto Padín Lorenzo (Redondela, 1877), um escritor e jornalista galego. Procurador e chefe de administraçom do Ministério de Fazenda em Madrid, fora secretário particular do deputado Francisco de Federico Martinez. Académico correspondente da Real Academia Galega (RAG), como poeta publicou em 1932 "Amores e dolores. Poesías gallegas" com prólogo de Ramón Otero Pedrayo.
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Ernesto Padin Lorenzo (c.1934) foi o avó e sogro de Elias Zbarsky |
Representando ao clube de Ferrol, Elias ganhou o Campeonato Galego organizado em 1934 pola Federaçom Galega de Xadrez na Corunha num torneo que juntou os melhores xadrezistas de Vigo e Corunha. Apesar de ganhar o campeonato de Vigo, nom pudo assistir ao Campeonato Galego de 1935 convocado para eleger o campeom da Galiza. Como grande afeiçoado ao futebol, Elias era um siareiro celtista, acompanhando ao clube Celta de Vigo nos seus deslocamentos.
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Jacobo Zbarsky |
Jacobo Zbarsky como o pai, militava no PSOE e era um tipo idealista e rebelde, engajado com os valores judaicos que de muito novo o ligaram ao socialismo e que sonhava com um mundo mais justo.
O golpe militar de 1936 em Ponte Vedra
As novas do golpe nazi-fascista da África chegam à cidade de Ponte Vedra nas últimas horas da sexta-feira 17 de julho de 1936. De Madrid, Bibiano Fernández Osorio Tafall, que fora presidente da câmara municipal da cidade (1931-34 e em 1936) e nessa altura subsecretário de interior (governaçom), encaminha instruções aos governadores civis para convocarem as lideranças políticas e sindicais e formar os Comités de Defensa da República (CDR) a fim de coordenar as distintas organizações da Frente Popular (FP) e com as autoridades.
Jacobo Zbarsky, nessa altura com 22 anos, era brigada de complemento do Exército da República. Por isso, desde que se inteirou do golpe militar, apresentou-se fardado no Governo Civil e, pistola em mão, exigiu que o governador civil, Gonzalo Acosta Pan (IR), entregasse armas à populaçom, mas ele recusou.
Na noitinha de 18 de julho constitui-se, ao igual que na maioria de localidades galegas, o CDR de Ponte Vedra com presença de representantes dos partidos Izquierda Republicana (IR), Unión Republicana (UR), Partido Galeguista (PG), PSOE, PCE e JSU. Tanto no Governo Civil quanto no Concelho organizam-se salas de curas para atender possíveis feridos, assumindo Abraham Zbarsky a sua direçom no Governo Civil lado a lado com o doutor Celestino Poza Pastrana.
No dia 19, domingo, perante a gravidade da situaçom organizam-se as Milícias Populares encargadas resistência contra os golpistas. Comandadas sob as ordens diretas de Jacobo Zbarsky, as milícias conformam-se segundo a designaçom realizada por Alexandre Bóveda, secretário de Organizaçom do PG, com filiados do PCE, PSOE e JSU. O objetivo das milícias antifascistas era defender o Governo Civil dos ataques dos militares sublevados que, por enquanto, estavam calmos nos quartéis.
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Alexandre Bóveda Iglesias (1903-36) |
Alexandre Bóveda foi um dos intelectuais galeguistas mais relevantes durante o período da Segunda República na Galiza, chegando a ser o secretário de Organizaçom do Partido Galeguista (PG)
A 20 de julho de 1936 foi detido após o golpe militar, acusado de traiçom e condenado a morte num julgamento celebrado a 13 de agosto desse mesmo ano. A sentença foi executada em 17 de agosto, e foi fuzilado no monte da Caeira, Poio. Está enterrado no campo-santo de San Amaro (Ponte Vedra).
Alexandre Bóveda é um dos mitos do galeguismo, para o qual se tornou em mártir pola defesa da liberdade e dos seus ideais. Na data da sua execuçom celebra-se atualmente o Dia da Galiza mártir.
E assim foi que por sugestom de Alexandre Bóveda, e com o apoio do Governo Civil, foram de imediato interceptados os serviços postais e a central telefónica, bem como requisadas armas e explosivos, encargando-se do primeiro Vítor Casas, antes de que os facciosos se apossaram deles.
Em 20 de julho as autoridades golpistas declaram o estado de guerra e logo a seguir os militares e guarda civil saem à rua. Dum hidroaviom da base naval de Marim que sobrevoa a cidade são lançadas proclamas pedindo à gente para regressar às casas, chegando a disparar contra a populaçom. Às 19:30h o general Iglesias, chefe local dos golpistas, chama ao governador para intima-lo a se entregar em 5 minutos. Entom produzem-se fortes discusões e ameaças contra o governador, tendo Jacobo Zbarsky umha das posturas mais exaltadas contra umha rendiçom iminente.
Às 19:40h o governador civil, acompanhado de A. Bóveda e outros, entregam-se ao capitão Sánchez Cantón e a Guarda de Assalto entrega as armas. Do quartel de artilharia Bóveda liga ao Concelho para que se rendessem os seus ocupantes. Após a rendiçom aos militares sublevados todos abandonam o Governo Civil, ficando em liberdade.
Apesar de a resistência de primeira hora ser efémera, o certo é que Bóveda e Casas organizaram, junto ao capitão de assalto Rico e Jacobo Zbarsky umha firme defesa da legalidade republicana. Desta realidade dariam boa conta os golpistas, detendo parte dos resistentes que tinham no Governo Civil o seu centro operativo.
Assim sendo, Jacobo Zbarsky é detido pola polícia na madrugada de 21 de julho acusado de encabeçar as milícias organizadas no Governo Civil. O pai dele, Abraham é detido na tarde de 21 de julho e encontram na casa duas armas antigas inúteis e umha pistola moderna para a que tinha licença.
O assassinato de Jacobo Zbarsky
Na causa sumaríssima deduzida Jacobo é acusado de "rebeliom militar". O conselho de guerra tem lugar a 7 de agosto, sendo acusado de fazer parte da formaçom de milícias para opor-se à sublevaçom, de agir como chefe das forças resistentes e de ter disparado com a sua pistola contra o hidroaviom da base de Marim. Logo a seguir o tribunal condena a Jacobo a pena de morte.
No polígono de tiro de artilharia, em Figueirido (Vila Boa), às 5:30h de 10 de agosto forma-se o piquete de artilheiros, companheiros de quartel do condenado, encargado de dar cumprimento à sentença. O condenado negou-se a receber os auxílios espirituais.
Antes de ser fuzilado deposita os seus pertences para que sejam entregues à sua mãe: um cinto, um pente, um relógio de pulso, um espelho, um moedeiro contendo 107,45 ptas e umha carta de despedida dos seus encaminhada à mãe:
Ponte Vedra, 9 de agosto de 1936
Meus caros: Cara mãe, perdoa-me este último grande desgosto que te dou. Dentro de 3 horas morrerei, tu bem sabes quanto te quero, porém, nom quis ver ninguém de vós pola derradeira vez, porque se assim o fizesse nom teria valor de encarar a minha sorte.
Os meus últimos pensamento serám em todos vós, sobretudo em ti, minha mãe.
Estou tranquilo, acho que esta tranquilidade acompanhar-me-á até o último momento.
Pensa, minha mãe, que se perdes um filho, por qualquer ideal mais justo. Eu posso sacrificar a minha vida, fica um outro filho e muita mais família que farão tudo o possivel para te consolar.
Beijos e abraços a todos queridos, sobretudo a ti, mãe.
O teu filho, que sempre te quis e quererá enquanto viver.
[Caeiro, Antonio e outros. ( 1995). Aillados. Vigo: Ir Indo.]
A imprensa nazionalista dos sublevados noticiou o fuzilamento com o seguinte manchete: "Um soviético julgado por opor-se ao Movimento".
O assassinato de Abraham Zbarsky
Por enquanto, ao pai dele, Abraham Zbarsky, os fascistas abrem-lhe umha causa militar (565/36) por posse de armas que é suspensa provisoriamente, mas devendo ficar detido como preso governativo primeiramente no cárcere da Normal e num dado momento no lazareto da Ilha de São Simom.
Durante a guerra civil o lazareto marítimo da ilha de São Simom tornou-se no pior centro penitenciário franquista. Na prática foi um autêntico campo de concentraçom no que até 1943 empilharam-se 6000 pessoas em terríveis e insalubres condições. Centos de presos morreram lá de fome, maus tratos ou nas "sacas" noturnas, apesar de os funcionários da prisom assegurarem-se de extorquir antes a boa parte dos fuzilados ou às suas famílias sob falsas promesas de libertaçom.
A 23 de dezembro de 1936 Abraham Zbarsky é transladado a Ponte Vedra para declarar na causa militar aberta contra ele. No seu depoimento, para além de negar todas as acusações e de recusar aquele tribunal ilegítimo, proclamou, mais umha vez, a injusta morte do seu filho Jacobo, mostrando a sua intençom de denunciar o caso do seu fuzilamento junto dos tribunais internacionais da Sociedade de Nações. Dias antes, a 2 de dezembro, um detido (que também seria fuzilado) delatara Abraham Zbarsky "como componentes da organizaçom sanguinária ao estilo da Tcheka russa e cuja finalidade era o extermínio de pessoas ordeiras da cidade".
Poucos dias depois, a 29 de dezembro, chegou à prisom de S. Simom a notificaçom do tribunal acusador sobre o translado para o cárcere de Ponte Caldelas de Abraham Zbarsky e mais dous presos (Ángel Agra Mondragón e Emilio Vilas Davila). Os presos deviam ser transladados ao cais de Santa Cristina de Cobres (Vila Boa) para serem ato contínuo apanhados pola guarda civil, mas quando a comitiva chegou a terra era noite e ninguém estava à espera. O oficial deu a ordem de voltar à ilha, mas Abraham negou-se. Pouco depois chegou um comando da guarda civil com ordens precisas. Abraham foi “paseado” junto com outros dous companheiros de martírio. Na manhã do dia 30 de dezembro de 1936 os seus corpos aparecem abandonados no cemitério de Santo Amaro de Ponte Vedra.
A versom oficial do assassinato do "russo", assinada a 30 de dezembro de 1936 com o cabeçalho "¡Viva España!", foi que Abraham aproveitou umha avaria do carro em que era transportado para tentar fugir polo que tiveram de disparar-lhe polas costas causando-lhe a morte, numha aplicaçom clássica da lei de fugas. Porém, parece que na realidade foi fuzilado no quartel da guarda civil de Ponte Vedra enquanto umha moto encendida evitava que se ouvissem os tiros (Evaristo Mosquera, "Catro anos a bordo dunha illa", A Nosa Terra, 2006)
Na causa 115/37 aberta contra 74 citadinos de Ponte Vedra por rebeliom militar, segundo um inquérito da guarda civil, datado a 4 de janeiro de 1937; isto é, posterior ao assassinato, Abraham Zbarsky Gelles figura com o nº1 como "comunista, membro da Junta do Socorro Vermelho, maçom e propagandista".
Além disso é acusado polos policiais de estar de maneira continuada no gabinete do governador em julho de 1936, assegurando que era ele quem podia influir mais eficazmente nos dirigentes da Frente Popular porque "os controlava, colaborando com eles na organizaçom da oposiçom ao exército". Afirmam também que a sua influência assentava no facto de ser "chefe dumha organizaçom Soviética e Judaica que possuía chorudos fundos (sic)", pois, polo seu cargo "facilitava subsídios aos mais proeminentes elementos da Frente Popular" e, destarte, "tinha-os ao seu serviço".
Com certeza, as imputações eram as mais graves que se podiam fazer naquela altura: comunista, maçom, chefe dumha organizaçom soviética e judia, componente dumha tcheka.. mas difíceis de provar mesmo num conselho de guerra como os que havia.
Encarcerada, Sofia Kuper cortou as veias logo depois de ouvir a notícia falsa que toda a família fora assassinada polos fascistas. Todavia, os sofrimentos dela nom acabam com as mortes do seu homem e do seu filho: depois de matar a Abraham os franquistas assaltaram a casa que a família tinha em Ponte Vedra pegando em todos os bens familiares que nela havia, incluído o material da clínica, fazendo com que ficasse na miséria económica mais absoluta.
Paralelamente é deduzida umha causa militar contra o outro filho, Elías Zbarsky, e contra o irmão de Sofía, Simeón, ambos dentistas. Porém, a consistência das acusações de espionagem era tão fraca que a autoridade aceitou a suspensom do processo, embora ficassem presos a disposiçom da autoridade governativa.
Quando foi libertado do carcere de Vigo em 1938 tentou pegar do seu filho Alejandro, mas as autoridades franquistas impediram-no.
A expulsom e exilo
Em agosto de 1938 os irmãos Simeon, Elisa e Sofia Kuper Horstein atravessam a fronteira de Irún-Hendaia, junto com Elias. O governo espanhol decidira a sua expulsom. Em 1939 estabelecem-se na URSS.
Por enquanto, em 27 de dezembro de 1940 o BOE publicava o édito da sentença emitida a 8/10/1940 polo qual o TRRP da Corunha impunha a sançom de "perda total dos bens" de Abraham Zbarsky, encaminhando a notificaçom aos seus herdeiros.
Na Uniom Soviética Elias Zbarsky trabalhou de intérprete e professor de espanhol na Komintern (Internacional Comunista) e mais tarde na Escola Superior de Diplomacia da Universidade Estatal de Lomonósov de Moscovo (atual Universidade Estatal de Moscovo), cidade onde casou pola segunda vez e onde nasceu a sua filha Natasha, que se dedicou à pintura.
Relativamente ao filho galego de Elias na QJ descobrimos que, em 19/10/1943, o BOE publicava umha resoluçom do julgado de primeira instância nº1 da Corunha de 27/9/1943 segundo a qual, a pedido de Ernesto Padín Lorenzo, em qualidade de avó e tutor legítimo do seu neto Alejandro Zbarsky Padin, de 12 anos de idade e com morada em Ferrol, solicita a "autorizaçom para que dito menino possa substituir o apelido Zbarsky, que lhe pertence polo seu pai falecido, polos de Padín y Muñoz de la Espada, que lhe pertencem pola sua mãe, por ser assim unânime e exclusivamente conhecido".
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Boris Zbarsky (1885-1954) era irmão de Abraham |
A vaga de antissemitismo que assombrou a URSS nos estertores do estalinismo nom poupou Elias, que perdeu o seu emprego. O motivo foi que era sobrinho de Boris Zbarsky (1885-1954), irmão do seu pai Abraham e um dos artífices do embalsamamento do corpo de Lenine em 1924, bem como da posterior conservaçom da múmia do líder bolchevique. Boris foi encarcerado em março de 1952, dentro da onda repressiva contra os cientistas de origem judaica e, embora libertado em 1953, após a morte de Estaline, nunca recuperou os cargos anteriores. Elías também nom recuperou o seu trabalho, devendo sobreviver como dentista na fábrica de automóveis Lijachov (ZIL).
No tocante a Maria Emma Padin, a mulher galega de Elias, na QJ localizamo-la em publicações do BOE (nº63 de 14/3/1959, nº243 de 10/10/1962 e nº87 de 12/4/1966) a trabalhar como funcionária do ministério de Fazenda como administrativa do cadastro na Direçom Geral de Impostos sobre o Rendimento. No tocante ao seu filho Alejandro Zbarsky Padin parece nom ter sido executada a mudança de apelidos, pois aparece com esse nome na relaçom dos concursantes (publicada no BOE nº207 de 26/7/1951) que deviam achegar "Certificados penales, provincial y local". Posteriormente, no BOE nº219 de 11/11/1980, está a trabalhar, como a sua mãe e avó, no Ministério da Fazenda como funcionário de carreira do corpo especial e inspetores financeiros e tributários na delegaçom de Barcelona.
Após a morte de Franco em 20 de novembro de 1975 Elias regressou em ocasiões a Espanha para se juntar com o seu filho Alejandro Zbarsky em Madrid.
À idade de 90 anos Elias Zbarsky finou na cidade de Moscovo em 1995.
A memória
A memória histórica do casal Kuper-Zbarsky, bem como o assassinato de Abraham e Jacobo foi recuperada nos trabalhos do historiador e escritor Xosé Álvarez Castro, que concentrou o seu labor de investigaçom na época da guerra civil na cidade de Ponte Vedra. Desde 2008 mantém ativo o blogue "Pontevedra nos anos do medo", a principal referência bibliográfica e inspiraçom para redigir esta postagem da QJ.
Fontes:
> Anos do medo de Xosé Álvarez Castro (blogue)
> Diario de un médico de guardia de David Simón-Lorda (blogue)
> Non des a esquecemento de Xosé Luis Bará (blogue)
> Pontevedra, catro días de xullo, Xosé Álvarez Castro
> Búscame en el ciclo de la vida, de Gabino Alonso e María Torres