terça-feira, 30 de agosto de 2016

A VER NAVIOS...

Ficar a ver navios é umha expressom ou dizer popular da língua portuguesa que tem a sua origem na presença judaica. 

Em março 1492 foi determinado que os Judeus que nom se convertessem teriam de deixar os Reinos de Espanha até ao fim de julho. Centenas de milhares entom fixaram-se em Portugal. O casamento do rei D. Manuel com umha filha dos Reis Católicos em 1496, levou-o a aceitar a exigência espanhola de expulsar todos os Judeus residentes em Portugal que nom se convertessem ao catolicismo, num prazo que ia de janeiro a outubro de 1497. 

Porém, o rei Dom Manuel precisava dos Judeus portugueses, pois eram toda a classe média e toda a mão-de-obra, além da influência intelectual. Se Portugal os expulsasse logo como fez Espanha, o país passaria por umha crise terrível. Na realidade D. Manuel nom tinha qualquer interesse em expulsar a comunidade hebraica, que entom constituía um destacado elemento de progresso nos setores da economia e das profissões liberais. A sua esperança era que, retendo os Judeus no país (nessa altura por volta de 15% da populaçom), os seus descendentes pudessem eventualmente, como cristãos, atingir um maior grau de aculturaçom. 

Para obter os seus fins lançou mão de medidas extremamente drásticas, como ter ordenado que os filhos menores de 14 anos fossem tirados aos pais a fim de serem convertidos. Entom fingiu marcar umha data de expulsom na Páscoa e fechou todos os portos para que ninguém saisse. Quando chegou a data do embarque dos que se recusavam a aceitar o catolicismo, alegou que nom havia navios suficientes para os levar e determinou um batismo em massa dos que se tinham concentrado em Lisboa à espera de transporte para outros países. No dia marcado, estavam todos os judeus no porto esperando os navios que nom vieram. Todos foram convertidos e batizados à força, em pé. Daí a expressom: “ficaram a ver navios”. O rei entom declarou: nom há mais Judeus em Portugal, som todos cristãos (cristãos-novos). Muitos foram arrastados até a pia batismal polas barbas ou polos cabelos, outros preferiram cometer suicídio antes de renegar da sua cultura religiosa.

Posteriormente a expressom ligou-se aos Portugueses que ficavam a ver navios, na esperança de que um dia voltasse à pátria o rei Dom Sebastião, protagonista da batalha de Alcácer-Quibir, em Marrocos, em que tropas portuguesas foram derrotadas polos marroquinos em violento combate em 1578. Após o desaparecimento de Dom Sebastião na luta, difundiu-se a crença que um dia regressaria a Portugal, para levar o país de volta a umha época de conquistas. Multidões que frequentavam algum dos altos de Lisboa, confiantes no regresso do rei, ficavam a ver os navios que chegavam. Esta história originou o termo sebastianismo, tipo de messianismo à portuguesa que serve para indicar situaçom ou pessoa em cujo retorno se deposita a expetativa dumha naçom.

Hoje esta expressom é utilizada como expressom dumha expetativa frustrada, de espera por algo que nom vem ou, simplesmente, como sentimento de desilusom e deceçom.

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