sexta-feira, 28 de junho de 2013

ESQUERDA JUDIA: DOS SOVIETES AO RADICALISMO (III)

Nos sovietes e contra o fascismo

Tal como aconteceu com a Revoluçom Americana de 1776, a Revoluçom Francesa de 1789 e a revoluçom alemã de 1848, muitos judeus em todo o mundo saudaram a revoluçom russa de 1917, celebrando a queda dum regime tam antissemita e acreditando que a nova ordem que viria a ser a URSS iria trazer melhorias na situaçom dos judeus naquelas terras. Graças ao trabalho político do bundismo, os judeus, após a revoluçom bolchevique foram reconhecidos como umha das nacionalidades da URSS. Os Batalhões Borochov, milícias judias vermelhas, após auxiliarem na derrota dos exércitos brancos e dos intervencionistas estrangeiros no sul da Rússia, propõem a continuidade da marcha rumo ao Próximo Oriente alvejando implantar um Estado socialista na Palestina, onde será reelaborada a cultura judia, retomando o hebraico e a Ásia como opçom histórica.


Um cartaz propaganda branco (anti-revolucionário) representando um demoníaco Leon Trotsky usando um pentagrama e sentado sobre umha pilha de esqueletos. A legenda diz "Paz e Liberdade na Rússia Soviética."

Muitos judeus envolveram-se em partidos comunistas, chegando a constituir umha grande proporçom da sua militância em muitos países, incluindo o Reino Unido e os EUA. Mesmo houve seções especificamente judias de muitos partidos comunistas, como o Yevsektsiya (יבסקציה) no seio do Partido Bolchevique. O regime comunista na Uniom Soviética implementou o que poderia ser caracterizado como umha política ambivalente em relaçom aos judeus e à cultura judaica, quer apoiando o seu desenvolvimento como umha cultura nacional (por exemplo, o patrocínio significativo da escolarizaçom em língua iídiche, a manutençom da estrutura partidária do Poalei Sion até 1928 e a criaçom dum território autônomo judeu em Birobidjan), quer promovendo expurgos antissemitas, entre os quais a trama dos médicos na URSS ou a eliminaçom dos dirigentes comunistas de origem judaica na Checoslováquia.

Entre 1918 e 1939, com o advento do fascismo em boa parte da Europa, muitos judeus reagiram tornando-se ativos na esquerda e, particularmente, nos partidos comunistas, na vanguarda do movimento revolucionário (comunismo de conselhos) e anti-fascista. Por exemplo, muitos voluntários judeus lutaram nas Brigadas Internacionais na Guerra Civil espanhola (por exemplo, na Brigada Abraham Lincoln norte-americana ou mesmo na companhia judia Naftali Botwin). Judeus e esquerdistas ingleses lutaram os fascistas britânicos de Oswald Mosley na Batalha de Cable Street (Londres). Este movimento de massa foi influenciado polo Comitê Antifascista Judeu (CAJ) na Uniom Soviética.


Solomon Mikhoels num encontro do CAJ
Nesse período alguns judeus ocuparam posições proeminentes nalguns países europeus, sendo esta circunstância exagerada polos antissemitas de toda a parte. Por exemplo, na Alemanha os nazisas sobrevaloraram propositadamente a influência dos judeus na República de Weimar ao abrigo da presença judia na esquerda social-democrata e comunista.

Nessa altura o estereótipo antissemita ou antijudaico, sob diferentes nomes pejorativos (Yid-Commie nos países anglossaxões, Yidish communiste ou judéo-bolchévisme na França, Żydokomuna na Polónia,...) acusavam os judeus de gerar o comunismo, identificando esta ideologia como parte dum complô judeu mais amplo que visa a tomada do poder mundial.


Cartaz de propaganda antissemita na Polónia visando identificar o
povo judeu com  o comunismo

Léon Blum foi primeiro-ministro da França eleito pola Frente Popular e socialistas judeus tiveram responsabilidades nos governos da Checoslováquia, Países Baixos e Reino Unido.


Apesar do contexto de crescimento do antissemitismo na Europa,
Léon Blum acede ao governo da França eleito pola Frente Popular.


Durante a Segunda Guerra Mundial, a esquerda judia desempenhou um importante papel na resistência ao nazismo. Por exemplo, bundistas e sionistas de esquerda foram fundamentais na Organizaçom de Combate Judia (Zydowska Organizacja Bojowa - ZOB) e no Levante do Gueto de Varsóvia.

Bandeira da Organizaçom de Combate Judia - ZOB


Judeus radicais na Europa Central e Ocidental


Bem como os movimentos enraizados na classe trabalhadora judaica, judeus de classe média relativamente assimilados na Europa Ocidental e Central começaram a procurar fontes de radicalismo na tradiçom judaica. 

Assim sendo, Martin Buber ligou o hassidismo com a filosofia anarquista; Gershom Scholem foi um anarquista e estudioso da cabala; Walter Benjamin foi igualmente influenciado polo marxismo e messianismo judaico; Gustav Landauer era um judeu religioso e um comunista libertário; Israël Jacob de Haan combinou o socialismo com o judaísmo ortodoxo (haredim), enquanto o esquerdista libertário Bernard Lazare tornou-se num judeu apaixonadamente sionista. Na República alemã de Weimar, Walther Rathenau foi uma figura de destaque do liberalismo judeu.

<<anterior

Sem comentários:

Enviar um comentário