Iluminismo e emancipaçom
A esquerda judia tem as suas raízes
filosóficas no Iluminismo Judaico, ou Haskalá, movimento liderado por
pensadores como Moses Mendelsohn, bem como o apoio de muitos judeus europeus,
como Ludwig Börne, aos ideais republicanos na sequência da Revoluçom Francesa e
as guerras napoleônicas. Nos séculos XVIII e XIX alastrou por toda Europa um
movimento para a emancipaçom dos judeus fortemente associado com o surgimento
do liberalismo político, alicerçado nos princípios iluministas dos direitos e da
igualdade perante a lei. Muitos dos precursores do socialismo
moderno (Saint-Simon ou Robert Owen) defenderam a igualdade dos judeus,
considerando a emancipaçom dos Judeus como umha das pré-condições para a
libertaçom da humanidade.
Admitidos nas sociedades burguesas
da Europa ocidental, os judeus emancipam-se crescentemente da antiga condiçom
de povo-classe, rompem co o mundo do gueto e integram-se na moderna economia de
mercado. Já que nessa altura os liberais representavam a esquerda política, os
judeus emancipados, enquanto entraram na cultura política dos países onde moravam,
tornaram-se muito associados com partidos liberais. Assim, muitos judeus
apoiaram a Revoluçom Americana de 1776, a Revoluçom Francesa de 1789 e as
revoluções europeias de 1848.
Jean Czynsky, um refugiado polaco na
Inglaterra de origem judaica escreveu que a liberdade para a Polónia e a
emancipaçom dos judeus polacos eram conceitos polos que deviam lutar todos os
socialistas. Em março 1871 os judeus desempenham também um papel proeminente no
levante operário da Comuna de Paris.
Em 1896 um militar francês de origem
judaica, Alfred Dreyfus, vê-se injustamente acusado como espiom do Império
alemão. Ainda que extremadamente assimilado, a origem judaica dele foi
utilizada polos círculos reacionários antirrepublicanos e claricais franceses
como referência no seu julgamento. Destarte, o rumoroso caso serviu para que
esses grupos reocupassem espaços que pretendiam seus na política francesa.
O
mundo judeu viu-se profundamente abalado polo impacto da propaganda e das
manifestações antissemitas decorrentes do processo do Caso Dreyfus.
O surgimento dumha classe trabalhadora judaica
Na Europa Oriental, pola sua vez, o
antissemitismo era um elemento constitutivo das culturas eslavas. O Império
russo dos czares realizava pogroms, ataques organizados desde o poder contra a minoria
judaica nos quais eram cometidas toda sorte de violências. Levadas a cabo por
autênticos bandidos e desqualificados sociais, os pogroms constituiam-se umha
importante válvula de escape à opressom sofrida polo povo no regime czarista que,
assim, encontrou umha forma de desviar as atenções da classe trabalhadora para
um alvo que nom afetasse o status quo.
Na era da industrializaçom no final
do século XIX surgiu umha classe trabalhadora judaica nas cidades da Europa
Central e Oriental, mormente na Rússia, Bielorrúsia, Polónia, Ucrânia e
Lituânia.
Em 1897 também surgiu um movimento
operário judeu, Federaçom Geral de Operários Judeus da Rússia, Polônia e
Lituânia ou BUND Judeu, constituido em Vilna, Lituânia. Constituiu-se no primeiro partido marxista da
Rússia, o primeiro a desafiar as trevas do czarismo e o mais importante
elemento de divulgaçom do socialismo entre o proletariado judeu. Membro fundador do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), chegou a representar um terço da sua militância.
Diversas organizações anarquistas e
socialistas judias formaram-se e espalharam-se pola zona de Assentamento Judeu
do Império Russo (Pale).
Houve também um número significativo
de pessoas de origem judia e que nom se identificavam explicitamente como judias,
mas que foram muito ativas nas organizações, movimentos e partidos de tipo
anarquista, socialista e social-democrata e comunistas.
Todas estas forças democráticas e
socialistas combateram a manipulaçom ideológica antissemita do czarismo.
Consoante o sionismo cresceu como
movimento político, formaram-se partidos sionistas marxistas socialistas, como o
Poalei Sion de de Ber Borochov. Houve formas de esquerda nom sionista do
nacionalismo judeu, tais como o territorialismo (que exigia um lar nacional judeu,
mas nom necessariamente na Palestina), o autonomismo (que exigia direitos
nacionais nom-territoriais para os judeus em impérios multinacionais) e o
folkismo de Simon Dubnow (que defendia a
cultura judaica das massas de língua iídiche).
Consoante os judeus do Leste Europeu
emigraram para Ocidente (principalmente para os EUA) a partir da década de
1880, essas ideologias enraizaram nas crescentes comunidades judias, como a do
East End de Londres, o Pletzl de Paris, a de Lower East Side de Nova Iorque ou
em Buenos Aires.
Houve um ativo movimento anarquista
judeu em Londres cuja figura central foi, paradoxalmente, o pensador e escritor
alemão nom-judeu Rudolf Rocker.
O importante movimento socialista judeu
nos Estados Unidos, com o seu diário em língua iídiche (The Forward) e sindicatos
como a Uniom Internacional de Trabalhadoras de peças de Vestuário (ILGWU) ou as
Trabalhadoras Amalgamadas de Roupa da América (ACW). Figuras importantes nestes movimentos incluíam Rose Schneiderman, Abraham Cahan, Morris Winchevsky e David
Dubinsky.
No final do século XIX e início do XX,
período da II Internacional, os judeus desempenharam um papel importante nos
partidos social-democratas da Alemanha, Rússia, Áustria-Hungria e Polônia.
Na Alemanha, onde o SPD era a mais
forte das organizações socialistas europeias, em 1912 havia 12 judeus entre os
100 deputados social-democratas no Parlamento alemão. Nas condições após a
Primeira Guerra mundial, socialistas judeus ocuparam postos de governo nos
ministérios socialistas da Alemanha, Áustria, Hungria e Rússia.
O historiador Enzo Traverso usou o
termo "judaico-marxismo" para descrever as formas inovadoras de
marxismo associadas a estes socialistas judeus, cujas posições variavam dum
forte cosmopolitismo hostil a todas as formas de nacionalismo (caso da Rosa
Luxemburgo e, em menor medida, de Leon Trotsky) para posições mais próximas do nacionalismo
cultural (como acontece com os austromarxistas ou os bundistas de Vladimir
Medem).
É provável que a maioria destas
figuras nom se considerassem parte explícita dumha esquerda judia, mas é
relevante o número significativo de pessoas de cultura judaica que foram ativos
nestes partidos e movimentos.
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