O problema do novo antissemitismo é que nom se vê de forma algumha como antissemitismo. Os nazis assumiram um ódio absoluto ao judeu, um ódio essencial e incausal: odiavam o judeu porque era judeu. Enquanto os novos antissemitas, que odeiam os Judeus nom porque sejam judeus, mas porque suspeitam que são “sionistas”, negariam, com a mão no coraçom, que pratiquem o mínimo ódio. Por outras palavras, o novo antissemitismo é umha versom do ódio aos Judeus persuadida de ser um exercício de tolerância. O que torna o combate muito mais difícil.
Porque os seus arautos podem espalhar a propaganda do HAMAS (e agora do Hezbollah) ao ponto de exibir os seus símbolos (o famoso triângulo vermelho invertido), mas também estão a espalhar os mais antigos tropos antissemitas (do judeu que envenena os poços ao financeiro judeu), aplaudem os estudantes que expulsam os Judeus dumha sala de aula, usam a imagem soraliana dos “dragões celestiais” [forma enigmática de se referirem à dominaçom mundial dos Judeus referindo-se ao manga One Piece] para falar nos Judeus, fazem umha lista dos Judeus que consideram prejudiciais, falam em Israel como umha “entidade sionista”, vaiam umha associaçom de feministas determinadas a reconhecer a violaçom de mulheres judias, suspeitam que o Crif [grupo representativo da comunidade judaica] governa secretamente a França ou que Benjamin Haddad é “em prol das políticas de Netanyahu” simplesmente por ser judeu. Todos os líderes da esquerda radical LFI ficam indignados, alguns sinceramente, quando são acusados de antissemitismo. Podem validar um pogrom apresentando-o como um ato de “resistência” e adoptar, palavra por palavra, a retórica dumha organizaçom terrorista cujos estatutos exigem a eliminaçom de todos os Judeus, mas para que conste: eles nom são antissemitas! A prova? Nom gostam dos nazis e opõem-se firmemente às novas edições do Mein Kampf e aos panfletos de Céline. É um alívio.
Personagens do mangá de Eiichiro Oda são usados nas redes sociais para fazer discursos de ódio contra os Judeus. |
Como pode ser-se tão espetacularmente antissemita e ainda assim saber tão pouco sobre o assunto? Como pode odiar os Judeus sem se aperceber? Diferenciando entre o Judaísmo como “religiom” e o “sionismo” como “projeto colonial”. Por outras palavras, dizem, nom atacar os Judeus, mas atacar os “sionistas”... Nom interessa que sejam a mesma cousa. Como nos demos um bom motivo para estarmos zangados com eles, como nos convencemos de que os odiamos polo que fazem e nom polo que são, podemos divertir-nos sem nos sentirmos culpados por nada.
Manifestações atuais de antissionismo |
O “sionismo” é o álibi correto para um antissemitismo vergonhoso que persiste em apresentar-se como vítima da sua presa. Os novos antissemitas caçam os Judeus como os nazis caçavam as “baratas”, mas fazem-no em nome da luta dos oprimidos contra o opressor. Isso é maravilhoso. “O antissionismo é a descoberta milagrosa”, escreve Vladimir Jankélévitch, “a inesperada bonança providencial que reconcilia a esquerda anti-imperialista e a direita antissemita; o antissionismo dá permissom para ser democraticamente antissemita.” Em suma, se os sionistas nom existissem, os antissemitas inventariam-nos.
Editorial do filósofo na revista Franc-tireur
Traduçom livre do espanhol para o galego-português por CAEIRO
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