Francesc Albardaner
É sabido e reiterado que se Cristovão Colombo pôde fazer a sua primeira viagem ao Novo Mundo foi graças à decisom e ao impulso de Lluís de Santàngel, que, deixando de lado raciocínios teológicos ou geográficos, baseado unicamente na economia e investimentos de risco, deu total apoio ao projeto colombiano. A outra figura da corte de Fernando o Católico que apoiou Colombo foi o tesoureiro geral da Coroa de Aragom, Gabriel Sánchez. Tanto um como outro eram membros de famílias de conversos de origem aragonesa, mas também estabelecidos em Valência. Assim sendo, o irmão do tesoureiro e o seu tenente-general, Alfonso Sánchez, morava em Valência e era o chefe dumha empresa comercial muito poderosa que enviava os seus navios de Alexandria para Bristol e Galway. Nom admira, portanto, que das três cartas enviadas por Colombo desde Lisboa nas quais anunciava o sucesso da sua expediçom ao Novo Mundo, duas fossem encaminhadas a Lluís de Santàngel e Gabriel Sánchez e a terceira, logicamente, aos reis católicos.
Estudos do ADN permitiram desvendar a identidade de Cristovão Colombo |
Seguindo a teoria do Cristoforo Colombo genovês, que impedia um conhecimento prévio do descobridor com esses personagens em fases anteriores da sua vida, o apoio recebido por Colombo por esses judeus-conversos seria simplesmente umha aposta arriscada dos dous súditos de Fernando o Católico com base em critérios estritamente comerciais e geopolíticos do momento.
Mas se aceitarmos a nossa teoria de que a família Colom residia em Valência e frequentava os ambientes dos judeus conversos no mundo da arte da seda valenciana, o apoio de Santàngel e da família Sánchez poderia ter-se baseado em ligações mais antigas entre estas personagens, mesmo familiares.
A chave de tudo está na personalidade da mãe dos irmãos Colom. Quem foi na realidade a mãe de Cristovão Colombo? Tendo em conta tudo o apontado anteriormente e também polo referido mais adiante sobre aspetos muito importantes que definem umha cultura judaico-conversa do próprio Colombo, tudo aponta para o facto de a mãe de Colombo ser oriunda dumha família de judeus conversos valencianos, que tinham como ofício a arte e o comércio da seda. Portanto, o retrato robô da família Colombo, de acordo com a nossa nova teoria, é o seguinte relato:
Um jovem mestre genovês tecelão de seda ou veludo, originário da cidade de Gênova, ou melhor, da cidade de Savona, como o clã Gavoto, migra para a cidade de Valência por volta do ano de 1440 para exercer o seu ofício e logo depois casa com umha jovem dumha família de sedeiros valencianos judeu-conversos. Como existem em Valência várias linhagens de famílias judaico-conversas da linhagem Colombo, a linhagem genovesa Colombo do nosso jovem marido é rapidamente alterada para a forma mais curta e mais conhecida de Colom. O mesmo aconteceu com os Gavoto de Savona que muito rapidamente ficaram conhecidos como Gavot em Valência.
Mas temos que admitir que a linhagem da mãe judia de Cristóvão Colombo é completamente desconhecida. Escolha o leitor entre os apelidos dos judeus-conversos valencianos e sedeiros o sobrenome que mais lhe agradar entre as listas do recenseamento inquisitorial de conversos do ano de 1506 (1), já que qualquer um deles poderia ser da linhagem materna de Colombo. Muitas mulheres destas linhagens foram processadas pola nova Inquisiçom Castelhana e relaxadas, o que significa queimadas vivas. Nom queremos nem por um momento pensar que o principal motivo da ocultaçom do seu passado desejada por Colombo nom foi apenas o facto de ser filho dumha mãe judeu-conversa, mas também filho dumha mulher valenciana queimada viva por ser herege! Se isto fosse verdade, compreenderíamos agora a relutância do Vaticano em mostrar-nos os documentos relativos a Colombo, que sabemos estão guardados nos arquivos do Palazzo di San Callisto del Trastevere romano e que nom nos deixam ver!
Somente a partir da análise dos escritos de Cristovão Colombo, muitos autores (2) já presumiram que ele era descendente dumha família judia ou conversa. Nom podemos entrar, agora e aqui, na análise dos diferentes raciocínios que delatam a origem judaica de Colombo, mas destacaremos o facto da presença da expressom judaica "B'ezrat Hashem", escrita da direita para a esquerda, que foi encontrada na margem de treze cartas manuscritas enviadas por Colombo a seu filho e herdeiro Diego. Este facto incontestável, estudado por vários autores e especialmente por Nito Verdera (3), é a prova definitiva da ligaçom de Colombo ao mundo judaico.
Siglas "Beth-hai", equivalente a "Besrath hashem"(com o favor do Senhor) nas cartas de Cristovão Colom ao seu filho Diogo |
Seguindo a nossa nova teoria, o seu pai da Ligúria era cristão e o próprio Colombo comportava-se como um cristão de gema, mas nos seus escritos há sempre um desejo de superaçom, de síntese das duas religiões, a cristã e a judaica. Podemos mesmo dizer que Colombo procurava um sincretismo de todas as religiões, quando afirmou que:
“Digo que el Espíritu Santo obra por igual en cristianos, judíos, moros y en otros de toda secta.”
Considero esta frase muito importante, pois acho que apenas poderia ser dita por um homem que viveu desde a infância numha sociedade multicultural em que mouros, judeus e cristãos coexistiam, de forma mais ou menos pacífica, e pudesse ver na bondade das pessoas além da sua religiom ou crença. E nom era precisamente esta a situaçom do antigo Reino de Valência e, sobretudo, da sua capital em meados do século XV? Nom será esta a demonstraçom definitiva de que Colombo e os seus irmãos eram valencianos?
(1) Josep Maria Cruselles Gómez, Enric Cruselles Gómez, Josep Bordes García: “Conversos de la Ciudad de Valencia. El Censo Inquisitorial de 1506”. Institució Alfons el Magnànim. Estudis Universitaris 140. (2015).
(2) Como exemplo podemos citar: Simon Wiesenthal, “Operation Neue Welt. Judenvefolgung und Columbus-Reise”; Editions Robert Laffont, Paris 1991. / Sarah Leibovici: “Christophe Colomb Juif”; Editions Maisonneuve et Larose; Paris 1986.
(3) Nito Verdera: “Cristóbal Colón, originario de Ibiza y criptojudío”; Consell Insular d’Eivissa i Formentera, Conselleria de Cultura. Eivissa 1999.
Fonte: Portal de Francesc Albardaner
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