Nos últimos sete meses Israel tem vivido umha turbulência inédita na sua história. Já som 33 semanas ininterruptas de manifestações reunindo centenas de milhares semanalmente nas ruas do país. Jamais o país esteve tam dividido!
Tel Aviv, 33ª semana de protestos anti-Netanyahu | Noga Tarnopolsky |
Muitas análises e comentários têm sido publicados sobre a crise criada com a reforma do poder judicial promovida polo atual governo e novas reflexões podem ajudar a entender e qualificar o debate como as seguintes considerações de Jaume Renyer que a seguir reproduzimos no QJ.
"A primeira cousa a notar é que os protestos contra o projeto de reforma judicial promovido polo governo Netanyahu demonstram o profundo senso democrático dos manifestantes, que veem um perigo devido à separaçom de poderes e, ao mesmo tempo, também do governo, pronto a parar o processo parlamentar para negociar com a oposiçom. Todos juntos estám a demonstrar um elevado sentido de responsabilidade para evitar a fratura social e política dum Estado permanentemente sujeito a ameaças existenciais externas.
A segunda questom a considerar é que se trata essencialmente dumha disputa de identidade, Israel é o estado-naçom do povo judeu, sem que isso contradiga o facto de ser um estado democrático onde os direitos de outras comunidades étnicas som reconhecidos e os direitos religiosos. No seio do povo judeu israelita confrontam-se as elites cosmopolitas que querem transformá-lo num Estado multicultural supraidentitário e os setores populares identitários que se ressentem dum poder judiciário que corrige em favor do primeiro a primazia do parlamento.
O terceiro fator a ter em conta é que se trata dum debate fundamentalmente interno da comunidade judaica em que intervêm tangencialmente os representantes da comunidade árabe, largamente alheios aos princípios e valores em jogo.
Por fim, na quarta posiçom, o protesto nom é de forma algumha um sintoma da corrosom do sistema democrático israelita decorrente do conflito com os defensores da causa palestiniana, como afirmam as fontes antissionista. Israel nom é uma "democracia étnica", nem um sistema de dominaçom comparável ao espanhol, que por isso é falho. A maioria social e política judaica é a favor da paz com os palestinianos e fez repetidas ofertas nesse sentido que foram sistematicamente rejeitadas sem propostas alternativas até o momento".
Para o pensador Micah Goodman o contexto da atual crise seria umha combinaçom de ressentimentos passados com ansiedade do futuro. Dum lado, a populaçom oriunda de nações do Próximo Oriente [judeus mizrahi], que imigraram para o país logo após a independência (depois da expulsom dos seus países originários). Essa imigraçom foi recebida com preconceito polos pioneiros sionistas oriundos da Europa [judeus asquenazitas]. A sua cultura, tradições e costumes sofreram umha tentativa de apagamento que até hoje permanece na memória deste grupo.
Os nacionalistas da extrema direita ainda se recordam da remoçom dos assentamentos na Faixa de Gaza e o descaso com a sua recolocaçom em território israelita. Estes som os ressentidos que olham para o passado e buscam reparaçom e reconhecimento. Do outro lado, temos o grupo oriundo das famílias que fundaram o país. As suas ideias eram socialistas e de construçom dum país secular e exemplar com relaçom aos direitos humanos e à justiça social. Estes som os ansiosos com relaçom ao futuro de Israel que se apresenta por esta coalizom. Pode-se ainda acrescentar o setor ultraortodoxo, que cresceu e busca manter seus poderes e privilégios.
Para os apoiadores da reforma, a Suprema Corte, o único freio e contrapeso ao regime parlamentarista israelita alicerçado na maioria simples governante, nom representa a vontade da maioria da populaçom e os seus mecanismos para seleçom de novos membros garantem a perpetuidade do perfil do tribunal. A composiçom atual da sociedade civil israelita nom é a mesma da época de sua constituiçom. Entretanto, estes mecanismos impedem que a corte seja renovada e se torne mais representativa da populaçom que hoje compõe a maioria dos israelitas. Para esse grupo, sem a reforma, Israel estaria deixando de ser uma democracia.
A compreensom desse pano de fundo ajuda a entender o motivo dessa coalizom, que une partidos que reforçam estes ressentimentos, romper com a frágil convivência existente entre estes grupos antagônicos nas suas visões de mundo. Enquanto predominava um pacto social, onde cada lado, de certa maneira, respeitava o outro, a vida seguia. Mas isso foi por água abaixo com a ascensom da extrema direita que, com o apoio dos ultraortodoxos, quer impor os seus princípios e valores.
Essa ameaça mobilizou diversos setores da sociedade israelita, que durante anos mantinham-se à distância da política. Viviam o seu estilo de vida e apesar da revolta com os abusos da ocupaçom na Cisjordânia, da violência nas cidades árabes dentro de Israel, do monopólio dos ortodoxos sobre a religiom e a sua isençom do exército aceitavam essa convivência desigual. Agora, tudo mudou.
Assim sendo, os opositores da reforma judicial promovida polo governo Netanyahu entregam-se a pressões socioeconómicas, incluindo a retirada de fundos de investimento, dissidências das elites intelectuais e militares, que chegam a pôr em perigo a existência de Israel, polos Estados Unidos. Un facto alarmante para o país com umha vizinhança hostil e atenta a qualquer sinal de fraqueza do seu exército é a ameaça de os reservistas da Força Aérea israelita, a elite militar de Israel, a nom comparecer aos seus treinamentos.
Apesar disso, a democracia sobrevive a todas as ameaças proferidas no seu nome e celebradas por todos os meios de comunicaçom antissionistas do mundo, incluindo -obviamente- os nossos.
> Para mais informações conferir as reflexões de David Diesendruck, diretor do IBI, para a Revista Forum.
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