Páginas

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

ALGUMHAS REFLEXÕES SOBRE A REVOLTA DE ISRAEL EM MARCHA

 Nos últimos sete meses Israel tem vivido umha turbulência inédita na sua história. Já som 33 semanas ininterruptas de manifestações reunindo centenas de milhares semanalmente nas ruas do país. Jamais o país esteve tam dividido!

Tel Aviv, 33ª semana de protestos anti-Netanyahu | Noga Tarnopolsky

Muitas análises e comentários têm sido publicados sobre a crise criada com a reforma do poder judicial promovida polo atual governo e novas reflexões podem ajudar a entender e qualificar o debate como as seguintes considerações de Jaume Renyer que a seguir reproduzimos no QJ.

"A primeira cousa a notar é que os protestos contra o projeto de reforma judicial promovido polo governo Netanyahu demonstram o profundo senso democrático dos manifestantes, que veem um perigo devido à separaçom de poderes e, ao mesmo tempo, também do governo, pronto a parar o processo parlamentar para negociar com a oposiçom. Todos juntos estám a demonstrar um elevado sentido de responsabilidade para evitar a fratura social e política dum Estado permanentemente sujeito a ameaças existenciais externas.

A segunda questom a considerar é que se trata essencialmente dumha disputa de identidade, Israel é o estado-naçom do povo judeu, sem que isso contradiga o facto de ser um estado democrático onde os direitos de outras comunidades étnicas som reconhecidos e os direitos religiosos. No seio do povo judeu israelita confrontam-se as elites cosmopolitas que querem transformá-lo num Estado multicultural supraidentitário e os setores populares identitários que se ressentem dum poder judiciário que corrige em favor do primeiro a primazia do parlamento.

O terceiro fator a ter em conta é que se trata dum debate fundamentalmente interno da comunidade judaica em que intervêm tangencialmente os representantes da comunidade árabe, largamente alheios aos princípios e valores em jogo.

Por fim, na quarta posiçom, o protesto nom é de forma algumha um sintoma da corrosom do sistema democrático israelita decorrente do conflito com os defensores da causa palestiniana, como afirmam as fontes antissionista. Israel nom é uma "democracia étnica", nem um sistema de dominaçom comparável ao espanhol, que por isso é falho. A maioria social e política judaica é a favor da paz com os palestinianos e fez repetidas ofertas nesse sentido que foram sistematicamente rejeitadas sem propostas alternativas até o momento".

Para o pensador Micah Goodman o contexto da atual crise seria umha combinaçom de ressentimentos passados com ansiedade do futuro. Dum lado, a populaçom oriunda de nações do Próximo Oriente [judeus mizrahi], que imigraram para o país logo após a independência (depois da expulsom dos seus países originários). Essa imigraçom foi recebida com preconceito polos pioneiros sionistas oriundos da Europa [judeus asquenazitas]. A sua cultura, tradições e costumes sofreram umha tentativa de apagamento que até hoje permanece na memória deste grupo.

Os nacionalistas da extrema direita ainda se recordam da remoçom dos assentamentos na Faixa de Gaza e o descaso com a sua recolocaçom em território israelita. Estes som os ressentidos que olham para o passado e buscam reparaçom e reconhecimento. Do outro lado, temos o grupo oriundo das famílias que fundaram o país. As suas ideias eram socialistas e de construçom dum país secular e exemplar com relaçom aos direitos humanos e à justiça social. Estes som os ansiosos com relaçom ao futuro de Israel que se apresenta por esta coalizom. Pode-se ainda acrescentar o setor ultraortodoxo, que cresceu e busca manter seus poderes e privilégios.

Para os apoiadores da reforma, a Suprema Corte, o único freio e contrapeso ao regime parlamentarista israelita alicerçado na maioria simples governante, nom representa a vontade da maioria da populaçom e os seus mecanismos para seleçom de novos membros garantem a perpetuidade do perfil do tribunal. A composiçom atual da sociedade civil israelita nom é a mesma da época de sua constituiçom. Entretanto, estes mecanismos impedem que a corte seja renovada e se torne mais representativa da populaçom que hoje compõe a maioria dos israelitas. Para esse grupo, sem a reforma, Israel estaria deixando de ser uma democracia.

A compreensom desse pano de fundo ajuda a entender o motivo dessa coalizom, que une partidos que reforçam estes ressentimentos, romper com a frágil convivência existente entre estes grupos antagônicos nas suas visões de mundo. Enquanto predominava um pacto social, onde cada lado, de certa maneira, respeitava o outro, a vida seguia. Mas isso foi por água abaixo com a ascensom da extrema direita que, com o apoio dos ultraortodoxos, quer impor os seus princípios e valores.

Essa ameaça mobilizou diversos setores da sociedade israelita, que durante anos mantinham-se à distância da política. Viviam o seu estilo de vida e apesar da revolta com os abusos da ocupaçom na Cisjordânia, da violência nas cidades árabes dentro de Israel, do monopólio dos ortodoxos sobre a religiom e a sua isençom do exército aceitavam essa convivência desigual. Agora, tudo mudou.

Assim sendo, os opositores da reforma judicial promovida polo governo Netanyahu entregam-se a pressões socioeconómicas, incluindo a retirada de fundos de investimento, dissidências das elites intelectuais e militares, que chegam a pôr em perigo a existência de Israel, polos Estados Unidos. Un facto alarmante para o país com umha vizinhança hostil e atenta a qualquer sinal de fraqueza do seu exército é a ameaça de os reservistas da Força Aérea israelita, a elite militar de Israel, a nom comparecer aos seus treinamentos.

Apesar disso, a democracia sobrevive a todas as ameaças proferidas no seu nome e celebradas por todos os meios de comunicaçom antissionistas do mundo, incluindo -obviamente- os nossos.

> Para mais informações conferir as reflexões de David Diesendruck, diretor do IBI, para a Revista Forum.

Sem comentários:

Enviar um comentário