No próximo dia 4 de setembro é celebrado o XVII Dia Europeu da Cultura Judaica. Nesta ocasiom, as atividades e eventos agendados estám ligados às línguas dos Judeus. Por este motivo, a seguir reproduz-se, na íntegra, um artigo sobre a Língua dos Judeus na Galiza de X. L. Méndez Ferrín, um dos escritores mais representativos da literatura galega contemporânea.
Xosé Luis Mendez Ferrin
Os Judeus da Galiza falavam a língua das cidades e vilas nas que moravam, ou seja, a galega. Os nomes pessoais dos varões eram bíblicos (Isaque, David, Abrahám) mas eles tinham a atençom de nomear as suas mulheres de jeito galego e meliorativo: Clara, Rica, Ouro, Alegria. No tocante aos nomes de família e alcunhas, parece que na sua maioria eram galegos (Mendes, Pereira, Espinhosa, Sanches). Certo que Peres é muito numeroso entre Judeus, também pode ter umha procedência hebraica coincidente com o patronímico galego. Podiam levar os nossos Judeus apelidos hebraicos ou de escura fasquia semítica (escura para mim); assim: Cohén, Benveniste (como o linguista) Mardochai (V. Risco dizia ser este o verdadeiro apelido de Marx), Calvasan. Chamam a atençom, polo carácter hebraico deliberado, os nomes de Ioseph Ibn Hayyim e de Moisés Ibn Zabarah, iluminador e calígrafo, respetivamente, da Torá ou Bíblia de Kennicott, ambos os dous artistas corunheses, que fazem ostentaçom da sua vizinhança galega.
X.L. Méndez Ferrín |
Os Judeus da Galiza falavam a língua das cidades e vilas nas que moravam, ou seja, a galega. Os nomes pessoais dos varões eram bíblicos (Isaque, David, Abrahám) mas eles tinham a atençom de nomear as suas mulheres de jeito galego e meliorativo: Clara, Rica, Ouro, Alegria. No tocante aos nomes de família e alcunhas, parece que na sua maioria eram galegos (Mendes, Pereira, Espinhosa, Sanches). Certo que Peres é muito numeroso entre Judeus, também pode ter umha procedência hebraica coincidente com o patronímico galego. Podiam levar os nossos Judeus apelidos hebraicos ou de escura fasquia semítica (escura para mim); assim: Cohén, Benveniste (como o linguista) Mardochai (V. Risco dizia ser este o verdadeiro apelido de Marx), Calvasan. Chamam a atençom, polo carácter hebraico deliberado, os nomes de Ioseph Ibn Hayyim e de Moisés Ibn Zabarah, iluminador e calígrafo, respetivamente, da Torá ou Bíblia de Kennicott, ambos os dous artistas corunheses, que fazem ostentaçom da sua vizinhança galega.
Seguiram falando galego os Judeus dispersados e expulsos de fins de século XV? –pergunta-me Lucia Pereira Espinosa. Vou-lle responder com unha hipótese.
Logo do édito de expulsom lançado pola intolerância dos bem chamados Reis Católicos en 1492, é fama que a maioria dos Judeus da Galiza passaram para Portugal. Gozariam do benefício dumha rede social de apoio nas judiarias daquele reino. Mas, poucos anos depois (1496-1497), o rei Dom Manoel ordenou a conversom obrigatória ou, alternativamente, o exilo de todos os Hebreus de Portugal.
Penso eu que os conversos e cristãos-novos que ficaram na Galiza foram-se confundindo com o resto da populaçom e nom parece que existissem verdadeiros núcleos criptojudaicos. Contodo, sabemos que um acusado de judaísmo foi queimado en auto-da-fé que se celebrou na Praça Maior de Madrid no final do século XVII e presidido por Carlos II. Esta vítima levaba o apelido muito galego de Carballo/Carvalho.
O contingente de Judeus galegos, Portugueses e Catalães que se assentou no Mediterrâneo Oriental foi absorvido linguisticamente polo contingente maioritario dos Judeus que falavam o castelhano. E conformou-se de tal modo a língua e a cultura sefardita: sobre a base dumha preponderância castelhana. Reproduziu-se nesta Diáspora, pois, o fenómeno da hegemonia e dominaçom castelhana na Península Ibérica sobre as línguas galega e catalã, e, aínda depois, da portuguesa.
Entendo que houve umha parcela de Judeus galegos e portugueses que enrraizaram nos Países Baixos. Nesse assentamento, a língua dos Judeus galegos e portugueses reunificou-se. Passar-se-ia, assim, para umha sorte de novo galego-portugués, neste caso sefardita. Tal lingua foi usada polas famílias de ascendência galega e portuguesa nos Países Baixos até a Idade Contemporânea muito avançada. Documentos en língua sefardita galego-portuguesa conservam-se em arquivos de Amsterdão, tenho entendido. O sefardita galego-portugués utilizou-se como lingua oral e escrita nos Países Baixos até a segunda metade do século XIX ou ainda mais adiante. Suponho que por esses tempos as nossas comunidades judias dos Países Baixos se achegariam ao asquenazismo e adoptariam como lingua própria o neerlandés. Nom conheço estudos nos que se esclareça o elemento galego deste galego-portugués dos Países Baixos nen que falem no elemento galego presente no judeo-castelhano sefartita.
E bem, tanto na Europa Ocidental como na Oriental e no N. da África, perdida a língua galega ou nom, os sefarditas de origem galega mantiveram muitos dos seus apelidos até os nossos días, aínda que seja nalguns casos difícil diferenciar o que é galego de aquilo que é português. Na Galiza orgulhamo-nos muito da possivel origem galega de certos sefarditas. Por exemplo: Francisco Sanches, teorizador extremo do cepticismo no século XVI; Baruch Spinosa (Espinhosa, suponho, na origem), filósofo revolucionário e único do século XVII; Pierre Mendès-France, o político perfeito do radicalismo pequeno-burguês.
Observaçom
Hoje os curiosos da história dos Judeus na Galiza podem aproveitar-se da leitura dumha obra muito documentada e compendiosa de Gloria de Antonio Rubio: Los judíos en Galicia (Fundación Barrié, Corunha 2006). Gostaríamos de precisar que os Hebreus que aparecem mencionados em dous documentos do ano 1044 que se incluem no Tombo de Cela Nova, sendo os primeiros de tal naçom que figuram localizados na Galiza, nom viveram, segundo a informaçom que chegou a nós, em Cela Nova. Mal aparecem localizados (nem sequer fixados) no vale do Arnoia e nas proximidades das aldeias de Fechas e Souto-Mel, como dependente dum feudal e para nada do abade de Cela Nova. Em 1044 Cela Nova nom era um núcleo urbano, mas só um convento. Em todo o caso, a vila de Alhariz acha-se a uns 12 quilómetros do teatro dos acontecimentos nos que se mencionam estes primeiros Judeus advertidos na documentaçom galega. E Alhariz sim que teve judiaria bem povoada e documentada anos mais tarde.
O artigo do autor foi publicado no jornal FARO DE VIGO a 29/12/2007.
O texto foi transcrito para a ortografia galego-portuguesa por CAEIRO.
O texto foi transcrito para a ortografia galego-portuguesa por CAEIRO.
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