terça-feira, 16 de agosto de 2016

ASPETOS DO CONSPIRACIONISMO ANTIJUDEU ORDINÁRIO NA FRANÇA

A seguir reproduz-se umha traduçom livre da terceira e última parte em que se dividiu neste blogue o artigo sobre umha aproximaçom histórica do mito da conspiraçom judia do filósofo e historiador das ideias Pierre-André Taguieff, publicada na ediçom de julho-agosto de 2016 da "Revue des Deux Mondes". Os aspetos do conspiracionismo antijudeu ordinário que o artigo desenvolve sobre a França poder-se-iam aplicar a qualquer um outro país europeu.


Na pesquisa de opiniom realizada polo Instituto Francês de Opiniom Pública (IFOP) para a Fundaçom para a Inovaçom Política (Fondapol) a partir de 26-30 setembro de 2014 (33), os resultados da temática conspiracionista som muito significativos:
  • 25% dos entrevistados acreditam que os Judeus têm demasiado poder na economia e finanças (43% de todos os muçulmanos); 
  • 22% que os Judeus têm muito poder nos meios de comunicaçom; 
  • 19% que os Judeus têm muito poder no campo da política (51% de todos os muçulmanos); 
  • 16% de que existe umha "conspiraçom sionista" (44% para todos os muçulmanos: 30% entre as que referiram ter "origem muçulmana", 42% dos "crentes muçulmanos" e 56% de "crentes e praticantes muçulmanos").
O sociólogo Eric Marlière destaca, entre os "jovens das cidades" com os que teve várias entrevistas, "umha simbiose entre sentimentos de injustiça e a existência dumha visom conspiracionista": "Esses jovens, pola sua condiçom de Árabes e de muçulmanos (principalmente), vêem-se como os "novos inimigos internos" face à minoria judia percebida como rica, dominante e manipuladora". (34) Se, em geral, a sociedade francesa lhes parece à vez fechada e hostil, eles parecem estar convencidos de que esta nom é apenas aberta para os Judeus, mas também controlada ou dirigida por eles. O "sionismo" é o nome que eles dam ao poder que domina o mundo. 

Um jovem solteiro de 26 anos vindo da imigraçom marroquina afirma o seguinte: "É eles que dominam. Eles detêm o mundo. Os Estados Unidos som obrigados a segui-los. Olha, eles atacam a Palestina e ninguém diz nada! O sionismo para mim, é isso, é a dominaçom dumha elite judia sobre outros povos". Um outro jovem da imigraçom tunisiana de 27 anos, de formaçom engenheiro, acusa "o ultra-liberalismo" e "o sionismo": "Se hoje dominam a mídia, os grandes financeiros, o ultraliberalismo que possui tudo e atrás acha-se o sionismo. Repare no número de Judeus (jeufs) em posições-chave na mídia, no Estado nas universidades". Um estudante de 26 anos saído da imigraçom argelina indigna-se: "Os sionistas, eles realmente controlam tudo sem nem sequer precisar se escondere!". Indignaçom que ecoa nas palavras de um homem de 33 anos de origem argelina, "Hoje eles já nom se escondem. O sionismo está a ganhar. Olhe, podemos falar nisso aqui numha cidade, mas na televisom, na rádio ou na imprensa você pode perder tudo! Eles dominam quase tudo!"
Segundo o conspiracionismo, o DAESH (ISIS) seria umha criaçom do
sionismo para cometer ataques terroristas sob falsa bandeira 
As histórias conspiracionistas permitem sintetizar estes temas de acusaçom e dar-lhes umha interpretaçom global, com base numha ideia simples: umha pequena minoria de poderosos (dominantes e exploradores) tira proveito da miséria da maioria ("nós", as vítimas da conspiraçom dos poderosos). É umha resposta padrom para a pergunta: "Quem se beneficia do crime? ".

A nova vulgata antijudia que parece ter-se estabelecido definitivamente na França e noutros países europeus pode resumir-se pola articulaçom de três características negativas atribuídas aos "Judeus" ou "sionistas":
  1. eles som "dominadores" no Ocidente ("Eles têm o dinheiro", "eles têm o poder", "eles dominam a America");
  2. eles som "racistas", particularmente no Próximo Oriente, onde eles se comportam "como nazistas" com os Palestinos;
  3. eles conspiram em todo o mundo: eles organizaram os ataques de 11 de setembro, empurram para a guerra e querem lançar umha guerra preventiva contra o Irã, eles estám por trás dos conflitos que rasgam os países árabes (nomeadamente através da manipulaçom do Estado Islâmico, simples espantalho), organizam ataques terroristas sob falsa bandeira para "lixar o Islám" (como os ataques de 7, 8 e 9 de janeiro e 13 de novembro de 2015), e, em geral, manipulam a política internacional .
Fonte: Site do CRIF.

NOTAS
33. Ifop/Fondapol, l’Antisémitisme dans l’opinion publique française. Nouveaux éclairages, novembre 2014, http://www.fondapol.org/wp-content/uploads/2014/11/CONF2press-Antisemitisme-DOC-6-web11h51.pdf.
34. Éric Marlière, La France nous a lâchés ! Le sentiment d’injustice chez les jeunes des cités, Fayard, 2008, p. 135.

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