A primeira comunidade judaica de origem portuguesa na Antuérpia, local onde o rei D. Manuel fundara umha feitoria, fixou-se nesta cidade ao abrigo do salvo-conduto geral que o imperador Carlos V emitiu a 30 de março de 1526.
Em consequência, umha comunidade de cristãos-novos fixaram-se na Rua Nova ou Rua dos Judeus dessa cidade flamenga sob domínio espanhol, entre os quais ricos banqueiros e mercadores (a família Mendes-Nasi).
Em consequência, umha comunidade de cristãos-novos fixaram-se na Rua Nova ou Rua dos Judeus dessa cidade flamenga sob domínio espanhol, entre os quais ricos banqueiros e mercadores (a família Mendes-Nasi).
Apesar de depender de Espanha, umha monarquia católica, os cristãos-novos foram poupados das atividades da Inquisiçom, que nessa altura ainda nom fora autorizada em Flandres (Países Baixos do sul). No entanto nunca deixou de pairar a ameaça da perseguiçom sobre a comunidade, suspeita de judaizar ou de ajudar o movimento da Reforma. De facto, o próprio D. João III chegou a interceder pola libertaçom de Diogo Mendes, denunciado por judaizante, junto de Carlos V.
Entretanto, lá floreceram as famílias Ximenes e Rodrigues d'Évora entre um grupo importante de banqueiros que tiveram relações comerciais com as Índias Orientais e o Brasil. Entre estes Judeus portugueses desenvolveu um papel marcador os irmãos Francisco e Diogo Mendes, pertencentes à família Mendes-Nasi, tornando-se o segundo deles num dos mais importantes banqueiros, empresando dinheiro tanto ao rei de Portugal quanto ao imperador espanhol ou a Henrique VIII da Inglaterra. A companhia "Herdeiros de Francisco e Diogo Mendes" seria administrada, logo após a morte de Diogo em 1543, pola viúva de Francisco, Dona Gracia Mendes (Gracia Nasi) e o seu sobrinho João Miques (Joseph Nasi).
A enorme riqueza de Gracia Mendes permitiu-lhe influenciar a reis e papas com o intuito de proteger os cristãos-novos, estabelecendo, a partir de Antuérpia umha rede clandestina de fuga de Portugal. O transporte destes refugiados judeus era realizado secretamente nos navios de especiarias de propriedade ou operados pola companhia Mendes-Nasi que regularmente navegavam entre os portos de Lisboa e Antuérpia. Em Antuérpia Gracia Nasi e a sua equipa davam-lhe instruções e dinheiro para viajarem de coche ou a pé através dos Alpes até a cidade portuária de Veneza, onde eram feitos os arranjos para embarcar rumo para o Império otomano. Apesar de contar com umha rota de fuga cuidadosamente planejada, muitos refugiados morreram ao atravessar as montanhas dos Alpes.
Os Judeus portugueses também despontaram nas relações diplomáticas, destacando Diego Teixeira de Sampaio (Abrahão Senior) como cônsul e tesoureiro geral para o governo espanhol, bem como o seu filho Manuel Teixeira (Isaac Hayyim Senior), que o sucedeu como agente financeiro da rainha Cristina da Suecia. Manuel Teixeira foi um membro proeminente da Bolsa de Hamburgo e participou ativamente na transferência de subsidios europeus ocidentais para as cortes alemãs ou escandinavas.
Foi tal o prestígio deste refugiados portugueses de Antuérpia que Thomas Moro escolheu para a personagem principal da sua obra Utopia (1516), um velho e sábio marinheiro português fixado nessa cidade (Rafael Hitlodeu).
A comunidade judaico-portuguesa estabelecida em Antuérpia assistiu a umha progressiva degradaçom das suas condições de segurança e liberdade ao longo da década de trinta, sob a pressom das constantes iniciativas tuteladas pola regente, Maria de Hungria, e polo seu irmão, Carlos V. No final dessa década, ganha forma a intolerância religiosa dos espanhóis e acentua-se um largo movimento de transferência de pessoas e capitais para os estados italianos.
Esses fatores, combinados com as flutuações políticas e econômicas, influenciaram os soberanos espanhóis para reverem a sua atitude face os cristãos-novos em Flandres várias vezes. Assim sendo, apesar da oposiçom do município neerlandês, em 1543 foi decidida a expulsom da Antuérpia de todos os cristãos-novos, edital renovado em 1550. Estas perseguições fizeram com que Antuérpia se tornasse um local de passagem para outros territórios refúgio (nomeadamente França, Itália e terras turcas), sendo substituída, nos finais do século XVI, por Amsterdám. Em 1544 a família Mendes-Nasi ruma para a República de Veneza.
Apesar disto um grupo de famílias continuou a residir em Antuérpia sem direitos de domicílio. Neste período a populaçom dos Judeus da naçom portuguesa flutuou entre 102 famílias em 1572, 47 famílias em 1591 e 65 pessoas em 1666.
Após a Paz de Vestefália (1648), os cristãos-novos puderam reassentar em Antuérpia, e mesmo chegaram a estabelecer um modesto local de culto. Porém, a maioria apegou-se à comunidade hebraica de Amsterdám.
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