Em 1470 os navegadores portugueses João de Santarém, Pedro Escobar e Edigel Campos descobrem as ilhas de São Tomé e Príncipe, um arquipélago localizado no Golfo da Guiné na África equatorial. Até entom estiveram desabitadas polo que era preciso povoar a nova colónia na que os portugueses recusavam fixar-se.
Mato na ilha de São Tomé |
Assim sendo, em carta datada de 29 de julho de 1493 o rei D. João II nomeou Álvaro de Caminha donatário da Ilha de São Tomé. Ele ocupar-se-ia da sua colonizaçom dum modo mais efectivo do que os seus antecessores, já que, para além de lhe conceder o privilégio especial de comprar escravos no continente e alguns degregados, foram-lhe entregues os filhos dos recém-batizados dos Judeus.
Pouco antes, em 1492, o reino de Portugal recebeu milhares de refugiados logo depois de ser decretada a expulsom dos Judeus dos reinos de Espanha. Esses refugiados tiveram de lidar com a esperteza de Dom João II, que vislumbrou umha oportunidade de tirar proveito dessa desgraça alheia: o rei instituiu a cobrança de dous escudos por cada refugiado para que pudessem permanecer em Portugal por oito meses. Como ao fim do prazo de permanência os Judeus nom conseguiram sair de Portugal, o rei ordenou que fossem vendidos como escravos.
Para as crianças com idades entre 2 e 10 anos desses refugiados o rei português reservou um outro destino: colonizar São Tomé. Destarte, no porto de Lisboa nom menos que 2000 crianças foram separadas e arrancadas à força dos seus pais e postas em barcos com rumo a São Tomé. Rabi Samuel Usque, judeu português relata isso no seu livro "Os Sofrimentos e Tribulações de Israel" (1553), referindo que quando os pais viram que a deportaçom era inevitável, eles passaram às crianças a importância de observar o judaismo; e alguns até casaram as suas crianças. Outras fontes contam o caso de mães que se jogaram com os seus filhos ao mar para evitar a separaçom.
Num ano, apenas 600 crianças permaneciam vivas. Com efeito, a ilha era um inferno, completamente deserta e para onde também foram levados escravos e criminosos. Usque relata dramaticamente como as crianças chegaram à ilha: "Quando essas crianças inocentes chegaram à selva de São Tomé, o que seria os seus túmulos, elas foram levadas à costa e deixadas ali sem compaixom. Quase todas foram engolidas polos grandes lagartos da ilha e os que ficaram, pois escaparam aos répteis, morreram de fome e abandono".
Os esforços dos pais aparentemente nom foram em vão, como relatam os rumores que chegaram ao Ofício da Inquisiçom em Lisboa de que em São Tomé e Príncipe os descendentes conservaram alguns costumes judaicos. O bispo nomeado a São Tomé e Príncipe em 1616, Pedro da Cunha Lobo, ficou atormentado com o problema. Em 1621 ele foi acordado por uma procissom, levantada para confrontá-los, e foi insultado tão sinceramente que em desgosto ele desistiu e pegou o primeiro navio de volta para Portugal. Porém, acha-se que essa presença judaica apagou-se de vez na altura do século XVIII.
Nos séculos XIX e XX houve um certo fluxo de judeus comerciantes de cacau e açúcar nas ilhas. Hoje desconhece-se a existência de Judeus nas ilhas mas ainda podem ser achados os descendentes das crianças escravizadas no perfil étnico dos são-tomenses. Alguns costumes judaicos permanecem, embora misturados com os valores e cultura da sociedade crioula.
Em 12 de julho de 1995, Dia Nacional da República Democrática de São Tomé e Príncipe, teve lugar umha Conferência Internacional para em lembrança das crianças judias portuguesas que foram deportadas para as ilhas no século XV.
Em 12 de julho de 1995, Dia Nacional da República Democrática de São Tomé e Príncipe, teve lugar umha Conferência Internacional para em lembrança das crianças judias portuguesas que foram deportadas para as ilhas no século XV.
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