A resoluçom sobre o reconhecimento unilateral da Palestina, apresentada polo Partido Socialista, foi aprovada por 339 votos contra 151 e 16 abstenções. A proposta, de tipo simbólico, "convida" o governo francês a reconhecer oficialmente o Estado palestiniano "a fim de obter um arranjo definitivo do conflito".
A quase totalidade dos socialistas, o conjunto dos ecologistas e da Frente de esquerda, os dous terços dos radicais de esquerda e umha punhada de UMP (9) e da UDI (4) votaram em favor proposta, enquanto a grande maioria da UMP e metade da UDI votaram em contra. Entre as abstenções estám os dous representantes da FN. Até 48 deputados da UMP, 8 da UDI e 6 radicais de esquerda nom participaram na votaçom.
A seguir reproduz-se o bloco de notas de BHL, publicado esta semana em "Le Point", no que mostra, quam frívolo, vão e, acima de todo, contrário às exigências dumha paz justa é este voto. Que o voto que se acaba de produzir este meio-dia na Assembleia Nacional desvendasse, quase mecanicamente, a oposiçom entre a "direita" e a "esquerda" é ainda mais absurdo. Poucas vezes temos visto um debate tam complexo e trágico quanto reduzido a votos piedosos, proclamações vácuas e de boa consciência e análises sumárias. Dou a palavra a Bernard-Henri Lévy.
A quase totalidade dos socialistas, o conjunto dos ecologistas e da Frente de esquerda, os dous terços dos radicais de esquerda e umha punhada de UMP (9) e da UDI (4) votaram em favor proposta, enquanto a grande maioria da UMP e metade da UDI votaram em contra. Entre as abstenções estám os dous representantes da FN. Até 48 deputados da UMP, 8 da UDI e 6 radicais de esquerda nom participaram na votaçom.
A seguir reproduz-se o bloco de notas de BHL, publicado esta semana em "Le Point", no que mostra, quam frívolo, vão e, acima de todo, contrário às exigências dumha paz justa é este voto. Que o voto que se acaba de produzir este meio-dia na Assembleia Nacional desvendasse, quase mecanicamente, a oposiçom entre a "direita" e a "esquerda" é ainda mais absurdo. Poucas vezes temos visto um debate tam complexo e trágico quanto reduzido a votos piedosos, proclamações vácuas e de boa consciência e análises sumárias. Dou a palavra a Bernard-Henri Lévy.
O filósofo Bernard-Herni Lévy |
Eu sou um partidário, desde há quase cinquenta anos, da soluçom dos dous Estados. Mas eu acho que este "reconhecimento unilateral" da Palestina polo Parlamento francês é umha má ideia por tres razões:
1. O Hamas
A carta de princípios e o programa do Hamas.
O facto de o Hamas gerir um dos dous territórios constitutivos desse Estado que se quer reconhecer com grande barulho e sem demora, bem como o facto de aquele movimento ter por doutrina a necessária destruiçom de Israel.
Nom se reconhece, embora simbolicamente, um Estado cuja metade do governo pratica a negaçom do Outro.
Nom se reconhece, sobretudo simbolicamente, um governo cuja metade de ministros sonham com aniquilar o Estado vizinho.
Com certeza, abra-se a mão ao seu povo. Ajudemo-lo. Sustente-se e reforce-se à outra parte, a de Mahmud Abbas, e encoraje-se para quebrar a aliança contra natura que ele ateou. Mas a soluçom adia-se enquanto esta aliança nom se quebrar, enquanto o Hamas for umha parte desse Estado que se apressa a reconhecer e que na sua carta ordena todos os muçulmanos de "vier" até "por detrás de árvores e pedras" onde se "abriguem" para "matar" os "Judeus" (artigo 7 da carta) ou enquanto esta professar (artigo 13) que "as iniciativas" e "soluções pacíficas" existentes para "resolver o problema palestiniano", como o projeto francês de hoje, se acham em contradiçom com "a fé islâmica".
2. O momento
O avanço mundial do jihadismo.
E o facto de a sociedade política palestiniana se mostrar, por desgraça, para além do Hamas, de novo pouco certa sobre esta questom.
Eu nom falo em Mahmud Abbas que condenou o atentado que acaba de causar cinco mortos a 18 de novembro numha sinagoga de Jerusalém-Oeste.
Mas eu falo nos seus aliados da FPLP que o reivindicaram.
Eu falo na Jihad Islâmica e, também, do Hamás que o aprovaram.
E eu penso nesses milhares de jovens que, tam pronto conheceram a notícia, desceram à rua para lançar os foguetes e se regozijarem.
Talvez haverá um dia em que umha maioria de israelitas acredite que a menos má das proteções contra esta situaçom seja a separaçom a seco. Mas será a sua decisom; nom a dum Parlamento espanhol, inglês, sueco ou, agora, francês, a improvisar umha resoluçom desleixada, mal suportada e, acima de tudo, inconsistente.
Nom nos podemos horrorizar com as decapitações no Iraque e considerar negligenciáveis as mortes à faca ou ao machado em Israel.
Nom podemos rejeitar aqui a retórica da desculpa ("os jihadistas que partiram para a Síria estám completamente perdidos, vítimas do mal-estar social ...") e, lá, consentir ("o assassino é umha vítima humilhada da ocupaçom... ").
Nom podemos, da mão direita, reforçar o arsenal legislativo que permite na Europa combater a violência indiscriminada e, da esquerda, passar umha resoluçom que significa "eu entendo-te" aos que sonham com umha terceira intifada.
Haverá um estado em Gaza e Ramallah. É do interesse de Israel e é o direito dos Palestinianos. Mas a nossa ingerência no assunto apenas se justifica em pedir tantos esforços a umha parte e à outra (do CNA da África do Sul ao PKK curdo, passando polo Irgun de Begin, a história está cheia organizações terroristas que se moderaram) espera-se que os grupos palestinianos sigam a mesma rota, e é também por isso que precisamos que na França ajam os homens e mulheres de boa vontade.
3. Porque todo o problema acha-se lá
Qualquer observador honesto nom ignora que existe caminho a trilhar polas duas partes. Qualquer partidário da paz nom nega os erros som compartilhados, por um lado, entre os governos de Jerusalém que, de Rabin a Netanyahu, nunca renunciaram à política de assentamentos e, por outro, a liderança palestiniana que oscila entre a aceitaçom do facto israelita e a rejeiçom de qualquer presença judaica em terra árabe.
Mas é precisamente o que negam os partidários deste reconhecimento unilateral.
É muito exatamente o que esquecem quando vam por toda a parte a repetir que "já nom se pode mais" e que "é urgente que as cousas se mexam" ou que é preciso um "ato forte" que permita "pressionar" e "desbloquear a situaçom", e que apenas encontrem como "ato forte" a imposiçom a Netanyahu o seu Estado palestiniano nom negociado.
E o último reproche que se deve fazer é este: o seu razoamento pressupõe que apenas existe um bloqueio, o israelita, e um ator ao que é preciso pressionar, Israel, e que, no entanto, do lado palestiniano nom há nada a esperar, literalmente nada (nom se movam, nom tomem qualquer iniciativa, nom demandem sobretudo que seja declarada caduca, por exemplo, umha carta do Hamas que ressuma em cada alínea ódio aos Judeus e o desprezo do direito internacional).
O que nom se sabe o que provoca a hostilidade a Israel, o desprezo polos palestinianos ou, simplesmente, a leveza. Mas umha cousa é certa: sem responsabilidades partilhadas, nom haverá partilha da terra e, ao isentar umha das partes da sua missom histórica e política, acreditando querer a paz, na realidade, perpetua-se a guerra.
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