terça-feira, 16 de setembro de 2014

AUMENTO DAS AÇÕES ANTISSEMITAS NA EUROPA

Slogans antissemitas nalgumhas manifestações pró-palestinianas como nom se ouviam há décadas, violência contra sinagogas e lojas de produtos kosher, ameaças de morte, ataques a Judeus,... Aconteceu na França, Alemanha, ou Reino Unido. A ofensiva de Israel em Gaza originou a ações antissemitas nalguns países europeus, a maioria levadas a cabo por franjas extremistas de populações de origem árabe ou muçulmana.
Manife neonazi na Alemanha. O slogan compara os bombardeamentos israelitas
sobre Gaza com os realizados polos Aliados na Segunda Guerra mundial.

Alemanha

A chanceler alemã, Angela Merkel, coincidindo com a Jornada Europeia da Cultura Judaica, esteve presente no 14 de setembro numha concentraçom em Berlim convocada para denunciar o aumento do antissemitismo na Europa. “Quem atacar alguém por usar uma kipá está a atacar-nos a todos. Quem destruir um túmulo judeu está a prejudicar a nossa cultura. Quem atacar uma sinagoga está a atacar as fundações da nossa sociedade livre”, afirmou.

A manifestaçom, convocada polo Conselho Central de Judeus na Alemanha aconteceu num lugar simbólico, frente à Porta de Brandemburgo e a poucas centenas de metros do Memorial do Holocausto, e juntou milhares de pessoas (5.000 segundo a polícia), entre elas Merkel, o Presidente alemão, Joachim Gauck, ministros e representantes de quase todas as tendências políticas. Todos juntos para repudiar as dezenas de ataques que nos últimos meses visaram diretamente Judeus na Alemanha, mas também em França, Itália e Reino Unido. Crimes de ódio que já existiam mas que se agravaram com a ofensiva, neste verão, do Exército israelita contra a Faixa de Gaza em resposta ao disparo maciço de rockets contra o seu território polos grupos militantes islamistas palestinos que operam nesse território.

Em muitas manifestações de apoio aos palestinianos na Alemanha foram gritados palavras de ordem antissemitas, embora, ao contrário de França, os protestos tenham terminado sem violência. Certo é que os incidentes se têm repetido nas ruas: em julho bombas incendiárias foram lançadas contra umha sinagoga na cidade de Wuppertal e um homem que usava kipá (solidéu) foi espancado numha rua de Berlim. Só nesse mês, as autoridades alemãs registaram 131 ataques antissemitas (entre grafitis escritos nas paredes a insultos a Judeus), num aumento que acompanha o de outros países. “Que haja pessoas na Alemanha que som ameaçadas ou insultadas por causa da sua aparência judia ou pelo seu apoio a Israel é um escândalo que nom podemos aceitar”, afirmou a chanceler, dizendo que o país, pelo seu passado recente, “tem o dever nacional e cívico de combater o antissemitismo”.  

Dos mais de 500.000 Judeus que viviam na Alemanha em 1933, ano em que Adolf Hitler subiu ao poder, restavam apenas 15.000 quando em 1950 voltaram a ser feitos censos. Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, a Alemanha ofereceu aos Judeus dos países da ex-URSS a possibilidade de se instalarem no país e som já hoje 200.000 os que ali vivem, a terceira maior comunidade judaica na Europa, depois da França e do Reino Unido. Merkel afirmou que o renascimento da comunidade judaica na Alemanha “é algo parecido a um milagre” e disse sentir-se “magoada quando ouve que há pais que se perguntam se será seguro criar aqui os seus filhos”.

Na Alemanha, um imã dumha mesquita de Berlim apelou à “destruiçom dos judeus sionistas”, pedindo que fossem “mortos, até ao último”, segundo um vídeo divulgado polo diário hebraico Ha’aretz. Em manifestações pró-palestinianas ouviram-se slogans antissemitas, como “gaseiem os Judeus”, conta a agência norte-americana Associated Press.

Na imprensa alemã também surgiram relatos de slogans ofensivos e violentos, como “judeu, porco cobarde”. O jornal Tagesspiegel nom hesitou em escrever que “desde que a época dos nazis não se ouviam palavras antissemitas ditas tam abertamente como nas manifestações de jovens árabes contra o conflito em Gaza”. Ditas em frente da polícia que, criticava o jornal, “não fez nada”. Ainda em Berlim, um turista israelita que passava perto da manifestaçom foi arrastado por um pequeno grupo, mas salvo pela polícia.

“Nunca nas nossas vidas pensámos na possibilidade de que este antissemitismo tam primário se ouvisse nas ruas da Alemanha”, reagiu Dieter Graumann, presidente do Conselho Central Judaico do país. No caso alemão, um estudo recente mostrou que a maioria (60%) das mensagens de ódio antissemitas enviadas por email ao organismo vinham de alemães com formaçom, incluindo professores universitários (muitos nem hesitavam em usar contas de email em que eram facilmente identificados), e que apenas 3% vinham de extremistas ou neonazis.

França 

Igualmente, segundo o Conselho Representativo das Instituições Judaicas a França (CRIF), as ações antissemitas duplicaram-se nos primeiro sete meses do ano na França. Num comunicado feito público no passado dia 12 de setembro com dados fornecidos polo Serviço de Proteçom da Comunidade Judaica (SPCJ) referindo fontes do Ministério do Interior, o CRIF frisou que se produziram 527 atos (ações ou ameaças) antissemitas entre o 1 de janeiro e 31 de julho de 2014 contra os 276 no mesmo periodo do ano anterior. A França é o país onde vive a maior comunidade judaica a seguir aos EUA e Israel (500 mil pessoas).

Bernard Cazeneuve, o ministro socialista francês do Interior, confirmou este aumento, frisando que "os atos antissemitas estám em aumento significativo desde o início do ano. Temos constatado com os representantes da comunidade judaica, com a que estamos em diálogo permanente. O governo está determinado a combater estes pequenos ódios que corroe a República do interior. No mês de maio decidi o reforço da proteçom de todos os locais de culto. [...] Para que nengum ato racista ou antissemita fique impune, solicitei em julho aos prefeitos de recorrerem sistematicamente ao artigo 40, permitindo-lhes colocar perante a justiça todo ato desta natureza que seja do seu conhecimento sem necessidade de presentaçom de queixa. Já  utilizamos esta alavanca várias vezes recentemente polos atos antissemitas detetados em Marselha e Toulouse, por exemplo, mas também relativamente aos atos islamofobos em Poitiers".

Noutro comunicado postado na sua página de Facebook, o SPCJ, organismo comunitário que peneira o acesso às sinagogas, precisa que as ações antissemitas (violências, atentados ou tentativas de atentados, incêndios, degradações e vandalismo) aumentaram em maior proporçom (126%) do que as ameaças (gestos, correios, inscrições, panfletos,...) que cresceram em 79%.

Segundo este organismo houve dous momentos de pico de ações antissemitas. O primeiro, em janeiro, coincidindo com o "caso Dieudonné"; o segundo, no mês de julho, durante a manifestaçom "Dia de Cólera" e correspondente às manifes anti-israelitas violentas organizadas na França. "Um clima de insegurança para a Comunidade judaica instalou-se fortemente depois das inúmeras violências antissemitas que visaram pessoas, sinagogas e escolas da comunidade judaica durante este período", refere o documento.


As manifes pró-palestinianas/anti-Israel na França foram muito violentas.
PHILIPPE WOJAZER/REUTERS
Com efeito, as tiradas abertamente antissemitas do comediante Dieudonné, personagem ligado à extrema direita, tem alcançado grande sucesso. Aliás na França reside a maior comunidade muçulmana da Europa (entre 3,5 - 5 milhões) e é vista como umha caixa de ressonância do que se passa no Próximo Oriente. Mas representantes da comunidade judaica pediram que nom se repliquem as hostilidades. “O conflito em Gaza acontece no Proximo Oriente, e nós somos os Judeus de França, nom queremos importar este conflito”, disse Laura Nhari, porta-voz do conselho representativo das Instituições Judaicas de França, ao New York Times. 

Na sequência das manifestações anti-israelitas deste verão, em Sarcelles, subúrbio de Paris conhecido como “pequena Jerusalém”, foram atacadas umha farmácia dum judeu e uma loja de produtos kosher, para além do rasto de destruiçom deixado pola violência da manifestaçom proibida polo Ministério do Interior (vidros de carros partidos, etc.) “As pessoas ficaram atordoadas, a comunidade judaica tem medo”, disse o presidente da câmara, François Pupponi. Os políticos franceses estabeleceram a diferença. “Protestos contra Israel som legítimos”, disse o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve. “Quando se ameaçam sinagogas e quando se incendeiam mercearias porque o dono é judeu, isso som atos antissemitas, isso é intolerável”, sublinhou. Na zona de Paris foram atacadas já oito sinagogas nas últimas duas semanas do mês de julho.

A França tem especiais preocupações com o antissemitismo, com a Frente Nacional a ter obtido vitórias consecutivas nas eleições municipais, regionais e europeias. Apesar da estratégia de “normalizaçom” de Marine Le Pen, esta por vezes tem sido comprometida polo pai, Jean Marie, que ainda recentemente sugeriu “fazer uma fornada” com críticos do partido de extrema-direita.

Informações tiradas do jornal PÚBLICO (Portugal) e de LE MONDE (França).

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